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3 O caminhar da pesquisa

3.5 Organização e análise dos dados

As pesquisas qualitativas, segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1998, p. 131), tem como principal característica o fato de seguirem a tradição „compreensiva‟ ou interpretativa e “[...] partem do pressuposto de que as pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e valores e que seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado”.

Para a análise de dados qualitativos um método bastante utilizado é o de análise de conteúdo. Esse método é compreendido como um conjunto de técnicas de pesquisa utilizado com o objetivo de busca do sentido ou dos sentidos de uma comunicação, verbal ou não-verbal.

A análise do conteúdo alcançou popularidade a partir de Laurence Bardin, em 1977, que ressalta a importância do rigor na utilização dessa metodologia, a necessidade de ultrapassar as incertezas para se descobrir o que é questionado. Ela exige do pesquisador disciplina, dedicação, paciência, rigor, ética, tempo, certo grau de intuição, imaginação e criatividade, principalmente na definição das categorias de análise.

Segundo Bardin (2008), o método da análise de conteúdo consiste em tratar

a informação a partir de um roteiro específico: 1) pré-análise – escolha dos documentos, formulação de hipóteses e objetivos da pesquisa; 2) exploração do material, aplicando técnicas específicas de acordo com os objetivos; e 3) tratamento dos resultados e interpretações.

Para cada fase há que se seguirem subfases, de acordo com a autora:

1) Pré-análise: nesta fase as entrevistas são transcritas e reunidas, constituindo o Corpus da pesquisa. Para isso é preciso observar algumas regras de: exaustividade – deve-se esgotar a totalidade da comunicação, não omitir nada; representatividade – a amostra deve representar o universo; homogeneidade – os dados devem referir-se ao mesmo tema, serem obtidos por técnicas iguais e colhidos por indivíduos semelhantes; pertinência – os documentos precisam adaptar-se ao conteúdo e objetivo da pesquisa; exclusividade – um elemento não deve ser classificado em mais de uma categoria.

Depois da transcrição das entrevistas são efetuadas várias leituras, com a finalidade de surgirem as primeiras hipóteses e o objetivo do trabalho. Hipótese é uma explicação antecipada do fenômeno observado, uma afirmação provisória, que se propõe verificar. O objetivo geral da pesquisa é sua finalidade maior, de acordo com o quadro teórico que embasa o conhecimento. Nem sempre as hipóteses são estabelecidas na pré-análise, o que pode ocorrer no decorrer da pesquisa. Depois, são escolhidos índices, que surgem das questões norteadoras ou das hipóteses. Os índices são organizados em indicadores. Os temas que se repetem com muita freqüência podem ser índices.

2) Exploração do material: É o momento da codificação – em que os dados brutos são transformados de forma organizada. A codificação compreende a escolha de unidades de registro, a seleção de regras de contagem e a escolha de categorias. A unidade de registro é a unidade de significação a codificar. Pode ser o tema, palavra ou frase. É aquela que se liberta naturalmente do texto analisado. Todas as palavras podem ser levadas em consideração como unidades de registro. Passa-se, então, à escolha de categorias. Na análise de conteúdo, as categorias são rubricas ou classes que reúnem um grupo de elementos (unidades de registro) em razão de características comuns. Para escolher categorias pode haver vários critérios: semântico (temas), sintático (verbos, adjetivos, pronomes), léxico (juntar pelo sentido das palavras, agrupar os sinônimos, os antônimos), expressivo (agrupar as perturbações da linguagem, da escrita). As categorias devem possuir certas qualidades: exclusão mútua – cada elemento só pode existir em uma categoria; homogeneidade – para definir uma categoria, é preciso haver só uma dimensão na análise; pertinência – as categorias devem dizer respeito às intenções do investigador, aos objetivos da pesquisa, às questões norteadoras, às características da mensagem etc.; objetividade e fidelidade – se as categorias forem bem definidas, se os índices e indicadores que determinam a entrada de um elemento numa categoria forem bem claros, não haverá distorções devido à subjetividade dos analistas.

3) Tratamento dos resultados e interpretações: respaldadas no referencial teórico. Durante a interpretação dos dados, é preciso voltar atentamente ao referencial teórico, pertinentes à investigação, pois eles dão o embasamento e as perspectivas significativas para o estudo. A relação entre os dados obtidos e a fundamentação teórica é que dará sentido à interpretação. As interpretações que levam às inferências serão sempre no sentido de buscar o que se esconde sob a aparente realidade, o que significa verdadeiramente o

discurso enunciado, o que querem dizer, em profundidade, certas afirmações, aparentemente superficiais.

3.5.1 Procedimentos utilizados

Após a realização das entrevistas, elas foram transcritas com a máxima fidelidade possível, dando origem a sete “protocolos” com tamanho variável, de sete a dezoito páginas e um total de setenta e nove páginas.

Com os dados compilados sob a forma de texto em protocolos, foram utilizados os procedimentos comuns de análise de conteúdo para o seu tratamento e análise. A cada entrevistado foi atribuído um código, para assegurar a confidencialidade, recebendo as seguintes denominações: GDE, GSME, C1, C2, P1, P2 e P3.

Após a transcrição de cada entrevista foi realizada uma escuta atenta corrigindo possíveis trocas de palavras no seu protocolo, conferindo assim sua fidelidade. Depois foi realizada uma leitura geral de cada protocolo colhendo impressões e orientações. Seguiram-se várias leituras de uma forma mais aprofundada, que permitiram destacar alguns temas e ideias centrais, ainda que provisórias, porém, consideradas nessa etapa como a essencialidade aparente no corpus escrito.

Desta forma, o texto das entrevistas foi recortado em unidades de registro, também denominadas de unidades de análise ou unidades de significado. Essas unidades de registro originaram-se, além das impressões e orientações suscitadas pelas leituras do

corpus, também dos objetivos da pesquisa. Esses dois enfoques, segundo Bardin, podem

coexistir de maneira complementar.

A seguir buscou-se agrupar as unidades de registro, de acordo com temas correlatos, ou seja, utilizando-se critérios semânticos, dando origem às categorias de análise.

Com vistas a refinar a análise dos dados, construíram-se subcategorias. Para a construção das subcategorias utilizou-se de destaques em cores na comunicação dos entrevistados que continham a aproximação de conteúdo, de forma a facilitar a sua localização. Após nova análise dos trechos de texto destacados emergiram as subcategorias.

Foi confeccionado em papel A3 um quadro com as unidades de registro, as categorias, as subcategorias, um campo para indicação das cores utilizadas, que facilitaram a localização das comunicações dos entrevistados nos protocolos dos dados e outro campo para observações. No campo “observações” foram feitas anotações que auxiliaram na análise dos dados.

Quadro 1 - Construção das categorias e subcategorias de análise

Categoria Subcategoria Unidades de Registro (tema)

Estrutura e desdobramentos da ACIEPE no âmbito da formação de professores

Concepção de ACIEPE na percepção das coordenadoras de ACIEPEs entrevistadas

- ACIEPE - Ensino - Pesquisa - Extensão

- Educação matemática - Agregação da formação inicial e

continuada Aspectos positivos e dificultadores

relativos à ACIEPE voltada à formação de professores

Possibilidades de inovações em processos de formação de professores por meio de ACIEPE

ACIEPE “Tecnologia Informática na formação e atuação de professores que ensinam matemática nos Anos Iniciais”

Motivações para cursar a ACIEPE Avaliação sobre a ACIEPE cursada Impactos da ACIEPE no desenvolvimento profissional e práticas pedagógicas do professor e no aprendizado dos alunos

Percepção dos entrevistados acerca da formação continuada de professores

Concepção de formação continuada de professores

- Formação

- Formação de professores - Formação inicial e continuada de professores

- Capacitação

- Aprimoramento profissional - Desenvolvimento profissional - Aprofundamento de conhecimentos - Tempo e espaço para formação de

professores - HTPC - HTPI - ATPC Modelos e modalidades de formação continuada de professores

(Des)Motivação para a oferta e a participação em processos de formação continuada de professores

Perspectivas almejadas quanto à formação continuada de professores

Percepção dos entrevistados acerca das necessidades formativas de professores Polivalentes

Procedimentos para diagnóstico e atendimento das necessidades formativas de professores polivalentes

- Necessidades formativas - Avaliações externas - Índices

- Resultados educacionais Necessidades formativas de professores

polivalentes

O profissional docente na atualidade na percepção dos entrevistados

Demanda de trabalho docente nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

- Carreira docente - Profissional docente - Profissão docente - Profissão desvalorizada - Evolução funcional - Categoria funcional - Atuação profissional - Reconhecimento - Desvalorização financeira - Professor polivalente - Falhas na atuação docente - Cobrança profissional Maiores dificuldades enfrentadas na

profissão

Mudanças almejadas na carreira docente

Interação Universidade-Secretaria de Educação-Escola em processos de formação continuada de professores no Município de São Carlos

Percepção dos entrevistados sobre ações da UFSCar na rede pública de ensino no âmbito da formação de professores

- Interação Universidade-Escola - Relação Universidade-Escola - Aproximação da Universidade com a

Escola

- Afinar relação Universidade-Escola - Parceria

- Convênio

- Núcleo de Formação de Professores Convênios institucionais visando processos

de formação continuada de professores

O quadro 1 será analisado, na seção 5, intitulada “Estudo reflexivo dos resultados: uma possibilidade de análise”, por meio de uma discussão a partir das categorias e subcategorias de análise elaboradas em uma relação com os entrevistados, o referencial teórico pesquisado durante esse trabalho e os objetivos da pesquisa.

Para a discussão dos dados, a partir das categorias e subcategorias elaboradas, foi efetuada uma leitura reflexiva dos resultados. Cada entrevista foi analisada individualmente e também comparada entre si. Os dados das entrevistas foram relacionados com o que se recolheu por meio da pesquisa bibliográfica e com os conhecimentos adquiridos durante todo o processo desse trabalho.

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