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Organização da disciplina Práticas Pedagógicas Programadas

CAPÍTULO 2 – O PERFIL DOS ALUNOS CONCLUINTES DO CURSO DE

2.2 Organização da disciplina Práticas Pedagógicas Programadas

O modelo de formação preconizado no projeto pedagógico do curso de Pedagogia baseia-se, para a formação prática dos alunos, no Programa de Residência Pedagógica e na disciplina Práticas Pedagógicas Programadas, desenvolvida nos

12 Pretende-se, posteriormente, criar condições para que também os residentes desenvolvam ações

quatro primeiros semestres do curso e organizada com o objetivo de propiciar experiências de aproximação ao campo educativo escolar e não-escolar por meio de pesquisas de campo, vivências exploratórias e de intervenção na comunidade e em instituições, sob orientação de um preceptor. A carga horária da disciplina é diferente, de acordo com cada semestre: a PPP I tem quarenta horas; a PPP II cinquenta horas; PPP III e IV sessenta horas. Estipula-se que 40% do tempo deve ser destinado a atividades teóricas e 60% do tempo a atividades práticas. Os objetivos gerais das disciplinas são possibilitar aos futuros professores:

 (...) espaço para a aprendizagem prática dos pedagogos em formação desde o início, tendo em vista a diversidade de trajetórias profissionais que são hoje possíveis em espaços escolares e não escolares;

 aprendizagens de convívio próximo para o trabalho coletivo: a co- responsabilidade na concepção, planejamento, execução, acompanhamento e avaliação das práticas; a mediação e resolução de conflitos, as habilidades necessárias para desenvolver relações interpessoais e com diferentes instituições e grupos - supervisionadas por um preceptor responsável pela coordenação do trabalho;

 contato com elementos concretos para a reflexão sobre o fenômeno educacional na sua complexidade;

 escolhas de aprofundamento temático, a partir de um rol de práticas propostas pelos preceptores em suas linhas de pesquisa (UNIFESP, 2010, p. 29).

A organização dessa disciplina é diferente das demais disciplinas frequentadas pelos alunos. Os docentes do curso oferecem um conjunto de linhas de pesquisa que são apresentadas para escolha dos estudantes subdivididos em grupos com até dez membros. O trabalho e atendimento a esses grupos são feitos de forma flexível, uma vez que não há um horário previsto na matriz curricular. Desse modo, os professores orientadores ajustam um cronograma semestral de encontros com duração de quatro ou duas horas cada um – e, neste caso, em dias diferentes da semana reservados ao longo do semestre e no horário de aula dos alunos – ou, então, estabelecem com os estudantes matriculados horários diferenciados de encontros. O protocolo de atuação apresentado a seguir reúne informações importantes quanto ao funcionamento dessas disciplinas.

Protocolo de atuação do Preceptor e carga horária didática envolvida por Grupo de PPP

Semestres Com coletivo de estudantes de Ações do Preceptor com cada Grupo de PPP

PPP

Com locais, instituições e pessoas envolvidos na PPP

Com Grupo de PPP (estud. da Linha)

Com a Equipe de PPP

1º mês Apresentação, pelo preceptor, de

sua linha de PPP nos dois turnos. (4 hs)

Eventuais visitas/contatos com outras instituições

(4hs)

1º encontro para conhecimento,

apresentação da Linha de PPP detalhada, planejamento das ações e cronograma de encontros

Reunião mensal (2hs) Total 8hs Reunião de Planejamento para balanço das atividades finais e das apresentações (4hs)

2º mês Encontros de acompanhamento

e supervisão

(2 encontros mês/2hs cada) 4hs (dia previsto para PPP ou dias alternativos)

3º mês Idem 4hs

4º mês* Idem 4hs

Final do semestre Correção, verificação, complementação. Avaliação dos produtos individuais e coletivos 4hs Apresentação Pública dos

produtos

Envio dos produtos ao coordenador da PPP para publicação no Observatório Virtual da Educação em Guarulhos. http://humanas.unifesp.br/observatorio

Total de CH de docente 36 horas para PPP I, 40 horas semestre para PPP II, III ou IV Média de 10hs mês/ 2hs semana

* PPP I dura três meses (abril/maio/junho), as demais possuem quatro meses, iniciando em março/agosto. Fonte: UNIFESP, 2010, p. 31.

Nas disciplinas de PPP há um coordenador que, junto dos preceptores, organiza as temáticas e linhas de pesquisa, acompanha o trabalho dos grupos e a apresentação pública dos produtos e resultados das pesquisas, avaliando as aprendizagens e registrando as demandas por novas temáticas. Os alunos são avaliados tanto individualmente por meio da observação e produção de cadernos de campo e portfólios, quanto coletivamente com o desenvolvimento de produto final (por exemplo, apresentações públicas).

Inicialmente adquiriu destaque na PPP a ideia de propiciar espaços para os estudantes do curso discutirem a educação em ambientes não escolares e vislumbrarem outras possibilidades de atuação do pedagogo, já que os ambientes escolares seriam objeto de preocupação da Residência Pedagógica. Entretanto, as linhas de pesquisa propostas privilegiaram tanto o estudo e reflexão dos fenômenos educativos na escola, quanto a discussão de práticas educativas em espaços tais como hospitais e Fundação Casa. Assim, se a expectativa inicial de determinados alunos era de que a PPP se constituísse em espaço privilegiado para a aprendizagem prática da docência, uma vez que no próprio projeto pedagógico assumia-se que “(...) as PPP foram concebidas como sucessivos exercícios de exame e de aprendizagem prática da docência e da gestão escolar a ser desenvolvida ao longo do curso e aperfeiçoada na Residência Pedagógica” (UNIFESP, 2010, p. 43), na operacionalização dessas disciplinas verificou-se que a formação prática deu-se na perspectiva de gerar aprendizagens relativas tanto ao trabalho do professor nas escolas, às políticas educacionais e seus impactos no cotidiano escolar, por exemplo, como ao trabalho do pedagogo em outras instituições sociais.

(...) Orientadas pelos propósitos dessa disciplina, as aprendizagens relativas à docência e à gestão do ato educativo ocorrem no contato com uma rede de profissionais e instituições que atuam em distintos espaços de educação escolar e não escolar, de educação complementar ou de atividades educativas disseminadas nas comunidades e instituições [...]. Espera-se que o acúmulo das experiências nas Práticas Pedagógicas Programadas e na Residência Pedagógica induza linhas de pesquisa de Iniciação Científica e possa envolver parte dos estudantes na co-responsabilidade de formação dos novos alunos e alunas, proporcionando a eles direta e indiretamente as competências necessárias à formação de educadores (UNIFESP, 2010, p. 43).

A organização das PPP oferecidas no período de 2007 a 2009 considerou as condições de implementação da proposta e seus possíveis ajustes, a necessidade de conhecer o perfil dos ingressantes e estabelecer contatos com diferentes instituições. Ações de observação, registro, reflexão, análise e produção de conhecimento sobre o

contexto no qual se situa a UNIFESP, além da aproximação a diferentes instâncias de atuação do pedagogo, como ONGs, UBS, e Hospital, foram desenvolvidas com o objetivo de planejar e pôr em ação atividades educativas.

No ano de 2007, a primeira experiência da disciplina envolveu vinte grupos de estudantes que, orientados por preceptores, fizeram um mapeamento dos recursos educacionais no município de Guarulhos. Gerou-se um banco de dados sobre as escolas, suas características de atendimento, bem como imagens dos espaços nos quais estavam localizadas. Já no segundo semestre desse mesmo ano, foram propostas oito linhas de pesquisa, cujos resultados alcançados foram divulgados em evento por meio da elaboração de pôsteres: Linha 1. Educação inclusiva – mapeamento das ações de educação inclusiva escolares em Guarulhos; Linha 2. Qualidade da escola pública na perspectiva da população atendida; Linha 3. Observatório Virtual da Educação em Guarulhos; Linha 4. Comunidade de aprendizagem - estudo do meio no bairro dos Pimentas; Linha 5. A (des)valorização da ação estatal nos bairros pobres da cidade de Guarulhos (1940-1990): lutas e argumentos populares por educação e saúde públicas; Linha 6. Política Educacional e Cultura Escolar: O impacto de políticas organizativas e curriculares no cotidiano das escolas estaduais no município de Guarulhos; Linha 7. Políticas igualitárias, relações de gênero e étnico-raciais nas escolas públicas de Guarulhos e Linha 8. Educação Básica e formação para o trabalho em Guarulhos. Um estudo de caso.

Relatos dos estudantes sobre essa experiência de trabalho apontam que foram importantes:

(...) a oportunidade de aproximação com os docentes para conhecê-los em razão de os grupos serem pequenos; o mesmo aconteceu com os colegas da turma, não apenas com os do grupo, em virtude de a pesquisa ser colaborativa; esta aproximação melhorou a relação entre os alunos e entre alunos e docentes durante as aulas, nas discussões dos textos em sala de aula; melhorou e ampliou a comunicação entre professores e alunos (encontros presenciais, e-mails, telefonemas) não apenas para tratar da PPP, contribuiu com a aprendizagem de vários temas e assuntos de interesse que não estão na pauta das disciplinas durante as aulas normais; criou oportunidade para o contato dos estudantes do turno diurno e noturno, apesar de algumas dificuldades; contribuiu para maior interação entre os estudantes fora do ambiente da universidade; contribuiu para conhecer a prática da pesquisa e suas dificuldades, além das diferenças nas práticas de cada docente e de cada grupo; houve a descoberta de dificuldades para relacionamento em grupo, para a partilha nas decisões e na realização de compromissos assumidos, além de situações de conflito que tiveram que ser enfrentadas; ensinou o compromisso com a pesquisa e a responsabilidade para desenvolver atividades “sozinhos”; ensinou a necessidade de tolerância para com colegas que possuem habilidades diferentes e a prática da colaboração (co-

responsabilidade); propiciou o contato com as escolas, com pessoas e instituições; ajudou a optar pelas linhas de PPP do 2º semestre (UNIFESP, 2010, p. 45).

Tais relatos evidenciam o potencial formativo dessa disciplina, contribuindo para a proposição de outras linhas de pesquisa para atendimento das demandas estudantis e ampliação de temáticas e áreas de interesse trabalhadas, em decorrência, também, do crescimento do corpo docente do curso. Sendo assim, as PPP que foram oferecidas para os alunos foram:

Permanências Inovações

Educação Inclusiva; Educ. e Saúde (classes hospit./ações de humaniz. em hospitais) Educ. de Jovens e Adultos; Trabalho docente (formação continuada e condições de trabalho); Histórias das escolas; Educação Infantil;

Políticas igualitárias (gênero); Qualidade em educação (indicadores);

Criança, educação e saúde; Form. docente e práticas de Reeducação (Fundação Casa); Políticas públicas e educação; Práticas de leitura e escrita;

Pobreza e educação. Bibliotecas escolares;

Educação não formal; Literatura e educação infantil; Educação profissional; Escuta de professores (Psicanálise);

Tecnologias e educação.

Outras possibilidades e demandas podem surgir a partir da articulação entre PPP e as RPs e em virtude das necessidades das escolas e dos interesses de formação dos futuros professores. Interessa, por fim, salientar que a organização da disciplina PPP e o Programa de Residência Pedagógica constituem pontos centrais no modelo de formação do curso de Pedagogia da UNIFESP, que pretende articular teoria e prática, a formação inicial e o exercício profissional qualificado da docência. Investigar as condições de preparo que alunos(as) concluintes desse curso manifestam para o ingresso na profissão docente torna-se, portanto, relevante para discutir os impactos e força desse modelo formativo e possíveis contribuições para o processo de profissionalização docente. É importante, do mesmo modo, conhecer quem são esses alunos, pois características de seus modos de pensar a profissão, de suas práticas culturais e sociais de existência influenciam e são condições para a expressão prática da atividade docente (GIMENO SACRISTÁN, 1995).