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Projeção para o início da profissão docente: expectativas e dificuldades antecipadas

CAPÍTULO 2 – O PERFIL DOS ALUNOS CONCLUINTES DO CURSO DE

3.2 Delineando os perfis das alunas concluintes de Pedagogia

3.2.2 Projeção para o início da profissão docente: expectativas e dificuldades antecipadas

Camila

Expectativas e dificuldades que antecipa para o início na profissão docente

- Tem muito medo e insegurança: “(...) Será que eu vou encarar, será que é isso o que eu quero? Eu tenho muita vontade de poder transformar, de alguma forma, essas crianças, de tornar sujeitos críticos, reflexivos. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho muito, muito receio da sala de aula e do que eu vou encontrar pela frente”.

- Há incertezas quanto às possibilidades de desempenhar bem a função docente e dúvidas relativas à permanência no magistério – “(...) Porque a escola é muito difícil; é muito difícil ser professor”.

- As preocupações principais são: o “certo despreparo”, a percepção de que “falta muita coisa, falta alfabetização, saber lidar com o outro, com a criança que não é o aluno ideal, é o aluno real”. Teoricamente, afirma se sentir preparada, mas para as questões da prática,“que é justamente assumir a posição de professor”, considera que ainda há muitos desafios a serem superados. Mesmo ressaltando aspectos positivos das experiências de Residência Pedagógica, entende que há uma diferença quando se passa da posição de aluno para a de professor, assumindo integralmente a responsabilidade e o controle de uma classe.

- Sente-se mais despreparada para iniciar o trabalho com crianças de 6 a 10 anos. Já com relação à EI considera que será mais fácil e se sente mais confortável para trabalhar: “(...) Porque com as crianças que eu mais me identifico, que eu consigo lidar melhor”. Mantém a crença de que “com os pequenos será mais tranquilo” e, em contrapartida, com alunos do EF a relação professor-aluno será mais agressiva ou complicada em virtude do período de desenvolvimento pelo qual estariam a passar estas crianças.

- Dificuldades mencionadas: a remuneração: “(...) Dependendo da remuneração que você quiser ter” pode ser difícil ingressar no mercado de trabalho.

- Planos profissionais: aprovação em concurso público para trabalhar em escolas públicas e garantir estabilidade e um salário mais condizente com aquele que pretende ter.

- Ajuda/auxílio profissional no início da carreira: os professores da universidade poderão ajudar, recomendando leituras e orientando quanto aos possíveis caminhos a serem seguidos.

Percepções sobre o que é o bom professor e quais as suas principais habilidades

- Tem domínio dos conteúdos específicos, sabe ensiná-los e avaliar corretamente a aprendizagem dos alunos.

- Habilidades: saber lidar com a diversidade, ser tranquilo e paciente e “saber separar o pessoal do profissional”.

Vanessa

Expectativas e dificuldades que antecipa para o início na profissão docente

- Tem muito medo e insegurança: dúvidas relativas à possiblidade de “dar conta” de desempenhar bem a função docente: “(...) Eu tenho um certo medo, um receio, mas por outro lado eu tenho até curiosidade... Eu fico nessa entre curiosidade e receio”.

- Dificuldade para “falar em público”, se expor frente às crianças e, sobretudo, alfabetizá-las: – “(...) Como será que eu vou me comportar na frente delas? Meu maior medo é cair numa sala de alfabetização porque, meu Deus, eu não tenho a mínima ideia de como alfabetizar uma criança. Eu fico muito temerosa porque eu não me sinto preparada pra alfabetizar”.

- Sente-se melhor preparada para iniciar seu trabalho com crianças da EI na faixa de quatro a cinco anos ou com crianças do EF, que não estejam na fase de alfabetização:“(...) Então, eu prefiro os maiores porque, assim, criança muito pequena é muito aquela coisa de cuidar, entendeu? Cuidar eu não tenho vontade. E com os grandes eu não vejo problema, meu medo é com alfabetização”.

- Dissociação entre o cuidar e o educar na EI. A crença de que o trabalho com as crianças maiores – 4º ou 5º ano do EF – será mais fácil: basta estudar os conteúdos e planejar as aulas para conseguir desempenhar a função docente: “(...) No EF exige mais de você se apropriar dos conteúdos mesmo, né? Mas isso aí é só estudar, não tem problema”.

- Dificuldade para ingressar no mercado de trabalho: é preciso estudar e passar em concurso; no setor privado torna-se mais difícil atuar em escolas reconhecidas, posto que se exige, frequentemente, experiência no magistério. Uma alternativa destacada é a possibilidade de trabalhar como professora eventual ou como OFA (Ocupante de Função Atividade), admitida em caráter temporário nas escolas estaduais, mas em razão das condições de trabalho (insegurança e a instabilidade do emprego), não deseja ingressar na docência nessas circunstâncias.

- Planos profissionais: exercer a docência na escola pública, quando conseguir passar em concurso. Enquanto isso não ocorrer, também pensa em procurar emprego em outras áreas: “(...) Se eu tiver desempregada, não tem essa de só escola, não. Se tiver alguma outra coisa e for vantajoso, eu vou... é normal”.

- Não identifica alguém que possa ajudá-la ou dar apoio, se precisar, em seu ingresso na profissão. - Expectativas quanto à transição de estudante para professora: espera conseguir um emprego no ensino assim que se formar. A mudança de papéis fará com que “sinta muita falta da universidade” e pretende dar continuidade à sua formação: “(...) Eu não me vejo fora da universidade enquanto eu estiver atuando”. A transição é vista como “normal”, pois já pressupõe que após a formação atuará na docência.

Percepções sobre o que é o bom professor e quais as suas principais habilidades

- Possui competência para combinar o conhecimento do conteúdo específico com o conhecimento do modo de ensiná-lo; tem sua prática orientada por determinados valores e por uma concepção de educação. Além disso, é preciso: “(...) O respeito pelo próximo, saber reconhecer a diferença dos alunos, não tratar todos como iguais... tem que ser um professor que nunca pare de estudar, entendeu? Que fica atualizado, que saiba enxergar as problemáticas na educação, saiba ver o que acontece, os conflitos. Então, formar é uma coisa de muita responsabilidade. E a gente não tá formando só pra ler e escrever, é pra vida... a criança vai ser um adulto futuramente e ela vai levar todos aqueles valores pra sua vida. Então, a gente tem que ter muito cuidado e saber o que vai falar em sala de aula. A palavra tem muito poder, logo mais nessa idade das crianças”.

- O bom professor possibilita uma formação intelectual por meio do processo de ensino e aprendizagem e também uma formação moral, no sentido de desenvolver um caráter condizente com aquilo que socialmente é valorizado e requerido pela sociedade moderna (VILLA SÁNCHEZ, 1988).

Ana Paula

Expectativas e dificuldades que antecipa para o início na profissão docente

- Tem boas expectativas: tem vontade e espera conseguir desempenhar bem a profissão. Por outro lado, afirma que: “(...) Tenho muito medo e insegurança porque eu não me formo com certeza de nada. Acho que vou ter essa certeza quando estiver na sala de aula e lidando com o que aparecer, utilizando os conhecimentos que aprendi aqui. Mas eu acho que no começo vai ser meio difícil...”.

- Maior receio: não conseguir ensinar os conteúdos e fazer com que os alunos aprendam: “(...) Esse é meu maior medo porque se eu não conseguir vou me sentir um pouco inútil”.

- Sente-se melhor preparada para iniciar seu trabalho com crianças da EI ou com crianças do EF, que não estejam na fase de alfabetização “(...) Essa fase mesmo é a que eu tenho mais insegurança. Se falassem pra mim: você pegou uma sala de segundo ano, então eu falaria: não sei o que fazer, porque eu não tenho muita base. Agora EI eu acho que é mais fácil porque são conhecimentos e atividades que a gente tem que passar, que eu to mais acostumada”.

- Ingresso no mercado de trabalho: como a conclusão do curso ocorreu em maio de 2013, afirmou que pode encontrar dificuldade para conseguir um emprego no meio do ano letivo. No entanto, já passou em boa colocação em concurso de Guarulhos para formação de cadastro reserva de professores. Aguarda ser chamada.

- Planos profissionais: exercer a docência. “(...) Vou mandar currículo pras escolas. Onde me pegarem, por mais que seja uma escola que eu não queira tanto, eu vou entrar porque eu acho que o importante é já começar a atuar, a praticar alguma coisa porque assim a gente aprende”.

- Não identifica muitas pessoas que possam ajudá-la ou dar apoio, se precisar, em seu ingresso na profissão: “(...) Nenhum conhecido meu é da área da educação. O máximo, se eu tiver alguma dúvida, uma pessoa que eu posso contar é a minha professora orientadora aqui da faculdade, mas eu acho que só ela”.

- Expectativas quanto à transição de estudante para professora: “(...) Eu não tenho nem noção de como vai ser... Acho que vai ser muito diferente, uma sensação única e que acontece de repente, vamos supor, de um mês pro outro, você deixa de ser aluno pra virar professor e só professor. É uma experiência diferente porque a gente vai trocar de papel, eu vou ser professora e, ao contrário das outras vezes, eu não vou ter ninguém pra me apoiar. Assim, vai ser um momento só meu” Profissão docente entendida de forma individual e solitária, e não como uma “rede coletiva de trabalho” constituindo “fator decisivo de socialização profissional e de afirmação de valores próprios da profissão docente” (NÓVOA, 1992, p. 26).

- Os sentimentos de ansiedade, de descoberta e vontade de exercer a profissão são moderados/contrabalançados em virtude dos desafios que antevê: “(...) Eu vou com muitas expectativas, mas também vou dando umas freadas pra não me frustrar muito, né? porque nunca a primeira vez é do jeito que a gente quer. A primeira turma, as crianças elas são quase as suas cobaias; você não sabe como agir, você testa de tudo com elas. Então, eu acho que essa transição de aluno pra professor vai ser de descoberta”.

- Dificuldades previstas: falta de experiência no magistério e salas lotadas com crianças em diferentes momentos do processo de aprendizagem são os desafios com os quais espera se defrontar no início da carreira docente.

Percepções sobre o que é o bom professor e quais as suas principais habilidades

- Possui competência para combinar o conhecimento do conteúdo específico com o conhecimento do modo de ensiná-lo. Também possui conhecimento relativo às características dos alunos: “(...) O bom professor entende que a sala é heterogênea, que as crianças têm várias dificuldades e que entendem de forma variada. Muitas vezes, você vai precisar voltar ao assunto, vai ter que dar outro tipo de exercício porque um aluno não se identificou, não conseguiu aprender”.

- Habilidades necessárias: paciência – “(...) porque se você não tiver paciência, você não consegue gostar do que faz” – saber lidar com pessoas, dedicação ao trabalho e disposição para estudar continuamente.