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Organizações representativas da classe profissional

1. Serviço Social: Identidade(s) e Projecto Profissional

1.3. A construção identitária do Serviço Social

1.3.3. Organizações representativas da classe profissional

A organização profissional dos assistentes sociais, em Portugal, tem como principal expressão a Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS), constituída em Janeiro de 1978, como associação sem fins lucrativos (BRANCO, 2009a: 75). Note-se que, como a

maioria das associações profissionais, esta rege-se pela lei geral, detendo um estatuto similar ao das associações de interesses mais difusos, como consumidores, ou de natureza cultural (RODRIGUES & CARVALHO, 2004: 285). Assim, e embora as associações profissionais possam ser “ouvidas ou chamadas pelo Estado”, como referem estas autoras (idem, ibidem), a APSS não foi chamada a participar na definição de funções dos assistentes sociais, constantes na CPP/2010, como atrás mencionado.

Saliente-se que a APSS tem vindo a desencadear um processo tendente à sua constituição como Ordem dos Assistentes Sociais, quer através da mobilização dos profissionais, quer junto das entidades competentes, como via para

salvaguarda do estatuto profissional dos Assistentes Sociais, reforço do seu poder de interlocução com os poderes públicos, instituições académicas e organizações da sociedade civil no campo das políticas sociais, diálogo horizontal com outras Ordens e Associações Profissionais e bem assim pela exigência de qualidade dos serviços que estes profissionais prestam (BRANCO, 1999: 5).

Trata-se de converter uma associação privada numa associação pública profissional (Ordem), formada pelos membros da profissão, com o fim de, por devolução de poderes do Estado, regular e disciplinar o exercício da respectiva actividade profissional, bem como a sua própria organização (SILVA, 1999: 58).

34 Considerado de interesse estratégico primordial para a organização e estatuto profissional dos assistentes sociais em Portugal (BRANCO, 2009a: 75), este processo, com início em 1997, tem sofrido múltiplas vicissitudes. O pedido de constituição da Ordem Profissional foi formalmente apresentado à Assembleia da República, em 2003, no entanto, o início de uma nova legislatura conduziu à necessidade de atualização do referido pedido. Entretanto, por iniciativa parlamentar, foi alterado o regime jurídico de criação, organização e funcionamento das associações públicas profissionais29, o que levou à necessidade de revisão de todo o dossiê já apresentado e formulação de novo pedido, o que ocorreu em Maio de 2013. Assim, decorridos mais de dez anos, é, ainda, um processo em curso.

Apesar de todo o caminho percorrido, a APSS enfrenta “importantes dificuldades no desenvolvimento da sua missão em face da baixa capacidade orgânica dos assistentes sociais portugueses e do seu frágil espírito associativo” (BRANCO, 2009a: 76).

Para além da APSS, regista-se a existência de outras associações de profissionais, designadamente de carácter científico e cultural, de que são exemplo a Associação de Investigação e Debate em Serviço Social (AIDSS) e o Centro Português de Investigação e História do Trabalho Social (CPIHTS) (BRANCO, 2009a: 76), ambas de âmbito nacional.

A AIDSS, fundada em 1992, tem a sua sede no Porto. Tem por objectivos a promoção e desenvolvimento do debate científico, o desenvolvimento das competências dos Assistentes Sociais e a divulgação da produção do conhecimento produzido no campo do Serviço Social e nas Ciências Sociais e Humanas. Relativamente a este último objectivo, destaca-se a publicação, desde 1994, da Revista Investigação e Debate, com periodicidade anual30.

O CPIHTS, fundado em 1993, tem sede em Lisboa e Coimbra. Apresenta como principais objectivos o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre a história do Serviço Social, dos problemas e das políticas sociais e da intervenção social na realidade portuguesa, bem como a divulgação científica nessas áreas(BRANCO, 2009a: 76).

Refira-se, ainda, uma outra associação de carácter científico de âmbito nacional, o

29 Com a publicação da Lei n.º 2/2013, de 10 de Janeiro.

30 Cf. sítio da associação, em linha (http://www.aidssp.com/?page_id=119), consultado em 18/10/2013.

35 CISSEI – Centro de Investigação em Serviço Social e Estudos Interdisciplinares, fundada em 2002, que contou com Maria Augusta Negreiros como membro fundador e figura de referência.

A nível sindical, a primeira organização foi criada em 1950, como organismo corporativo, subordinado ao Ministério das Corporações e Previdência Social (MARTINS,

2002:8).Segundo Alcina Martins,

a acção do sindicato nos anos 50 tem por base a realização de retiros – indicador da forte influência da Igreja Católica, reforçada em 1951 pela filiação do sindicato à União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS), seguindo as suas orientações – a organização de acções de aperfeiçoamento profissional e a publicação, de 1956 a 1962, de catorze números da primeira revista de Serviço Social Português, “Cadernos de Serviço Social – Boletim Trimestral das Trabalhadoras Sociais Portuguesas” (…). Nestes anos não existe qualquer iniciativa em prol da melhoria das condições de trabalho e de remuneração destas profissionais (MARTINS, 2002: 8).

Com a “abertura sindical” de 1969-70, as direcções do Sindicato dos Profissionais de Serviço Social, de 1970 a 74, integram ou são constituídas por profissionais, que “se apresentam como independentes do poder vigente” e iniciam

uma efectiva acção sindical, participando na contratação colectiva de trabalho e na regulamentação da profissão, em prol de um estatuto sócio-profissional que levasse ao reconhecimento do serviço social pela sociedade portuguesa, não pela “vocação”, “missão” e origem de classe das primeiras assistentes sociais, mas pelo exercício profissional, qualificado e socialmente útil (MARTINS, 2002: 8).

Neste sentido, em 1971, é parecer do Sindicato que a formação de serviço social seja integrada na Universidade e que os assistentes sociais já formados tenham acesso à licenciatura. Ao mesmo tempo, privilegia a informação, dinamização e debate entre assistentes sociais, combatendo o isolamento em que a maioria se encontrava (MARTINS, 2002:9). Alcina Martins, reportando-se ao Relatório e Contas de 1972 do referido sindicato, menciona a “ ‘falta de hábitos de análise do contexto sócio-político’, bem como a ‘inexistência de informação que estimule o seu desenvolvimento’ e ‘a inexistência de meios (incluindo as traduções de livros e revistas) que permitam ‘acompanhar’ a evolução do saber próprio e das ciências em que se apoia o Serviço Social’ ” (MARTINS,2002:9).

36 “demonstrando que já não era possível conceber o serviço social apenas sob um único olhar, o do regime”. Ganhou “a lista de assistentes sociais progressistas, que reforçava a política que vinha sendo desenvolvida pelo sindicato desde 1970”, contra a lista apoiada pelas “assistentes sociais conservadoras, que defendiam o proteccionismo das elites políticas” (MARTINS,2002:9-10).

Este Sindicato, cuja acção, nos últimos anos, se centrou, essencialmente, na contratação colectiva, em diferentes sectores de atividade profissional, bem como na participação na elaboração da legislação e regulamentação do trabalho, “veio a conhecer dificuldades de sustentação em face da existência de importantes organizações sindicais sectoriais que abrangem áreas relevantes de atividade dos assistentes sociais em Portugal” (BRANCO, 2009a: 76). Na sequência dessas dificuldades, em assembleia geral realizada em 12 de Outubro de 2010, foi deliberada a sua extinção voluntária31.

Mais recentemente, um grupo de profissionais entendeu criar o Sindicato Nacional dos Assistentes Sociais (SNAS)32.

Pensando nas instituições fulcrais do processo de profissionalização (REGO, 2004: 222) e depois de se ter analisado as implicações do Estado e das associações profissionais nesse processo, falta equacionar o papel das universidades. É o que se fará em seguida.