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2 ELEMENTOS DE ÉTICA, POLÍTICA E DIREITO NA CONTEMPORANEIDADE

3.1 A origem do conceito de justiça em Rawls

Rawls (2000) explica que, em Uma Teoria da Justiça, procurou generalizar e levar a uma ordem superior de abstração a doutrina do contrato social, com o intuito de mostrar que essa corrente teórica tinha, ela própria, as respostas às objeções que lhe foram impostas e que por muitos críticos teriam sido fatais a visão contratualista. É a partir desse objetivo que Rawls formula a concepção de justiça como equidade, julgando ser esta concepção moral tradicional a mais próxima das convicções de justiça defendidas pelo liberalismo social, constituindo assim a base ideal para as instituições de uma sociedade democrática.

O conceito de justiça postulado pelo autor procura resolver os conflitos gerados na sociedade pela distribuição de bens oriundos da cooperação social. Para Rawls (1981), a sociedade é um sistema de cooperação equitativo, tal como uma associação de indivíduos que, geralmente, agem de acordo com certas regras de conduta reconhecidas por eles como necessárias para que se estabeleçam as inter-relações humanas, tornando esta associação auto- suficiente. Mesmo caracterizando essa sociedade como uma reunião de cooperações com o intuito de se obter vantagens mútuas, contudo, Rawls adverte que ela é também marcada por conflitos e por interesses individuais.

Nessa perspectiva, insere-se a necessidade de princípios de justiça: “um conjunto de princípios é necessário para que haja uma opção entre os vários ajustes sociais o que, por sua vez, determinará a divisão de vantagens e assegurará um acordo para uma partilha correta” (RAWS, 1981, p. 28). Sob a ótica do autor, tais princípios devem resultar em justiça social, devendo determinar os direitos e deveres das instituições da sociedade e definir a distribuição apropriada dos benefícios e ônus gerados pela cooperação. O conceito de justiça de Rawls deriva, portanto, da concepção de sociedade enquanto um sistema de cooperação social, concepção esta que deve ser esclarecida sem que se perca de vista o papel especial dos princípios de justiça. Deve-se ter claro, também, que a estrutura básica da sociedade é o tema principal da justiça social apregoada pela teoria de Rawls.

Para Cortina (2009), a ótica desenvolvida por Rawls é de que, ao tematizar a estrutura básica da sociedade, se faz necessária uma revisão dos códigos jurídicos segundo o ponto de vista da justiça e da injustiça. Nessa perspectiva, Rawls procura, conforme indica a autora, posicionar-se diante da questão: “Como podemos dizer, nas sociedades democráticas, que um

código é justo, de modo que ele possa ser considerado criticamente legítimo” (CORTINA, 2009, p. 181). Ou seja, ele busca os critérios de validade que permitem distinguir entre um código jurídico justo e um injusto. Para tanto, segundo ela, o autor enfrenta as ideias do jusnaturalismo extremo ou moderado, do positivismo jurídico e também da fundamentação ética do direito. Nas palavras da autora:

[...] Rawls se distancia de todo tipo de jusnaturalismo – extremo ou moderado – que parta de princípios com conteúdo, intemporal e universalmente válidos; a autonomia é para Rawls [...] o prius indiscutível. [...] nosso autor tampouco se contenta com o positivismo jurídico, porque em torno do direito é possível discutir e raciocinar moralmente. Ele também não reduz a justificação ética à soma de liberdades dos membros fáticos das sociedades democráticas. Não é mera vontade do legislador nem são as vontades dos indivíduos reais que tornam justo – criticamente legítimo – um código jurídico, porque existem certos princípios e deveres que não podem se submeter ao arbítrio das vontades fáticas. Esses princípios e deveres, dotados de conteúdo, são resultado de quando se põe em prática um procedimento construtivo, cujos traços são dados pelas características formais da autonomia “em estado puro”. É nesse sentido que Rawls busca esclarecer [...] que princípios – com conteúdo – obteríamos a partir de semelhante procedimento e que deveres podem ser exigidos das pessoas, sem necessidade que elas tenham contraído nenhum compromisso fático. Os princípios constituirão o critério para examinar a estrutura básica da sociedade desde o ponto de vista da justiça. (CORTINA, 2009, p. 182).

A teoria de Rawls procura, portanto, instituir a necessidade procedimental de reconhecimento de alguns direitos básicos dos sujeitos que integram o sistema jurídico e, com isso, a possibilidade de que tais direitos sejam racionalmente justificados.

Diante disso, o objeto central de discussão na teoria da justiça de Rawls diz respeito às formas através dos quais se efetiva os direitos e os deveres fundamentais dos homens e suas expectativas de vida, bem como se define a distribuição dos benefícios da cooperação social, resultando disso o status/posição que cada um poderá assumir dentro da sociedade e a maneira como deverão agir. Segundo Rawls (1981), dentro da estrutura de qualquer sociedade existem desigualdades geradas pela forma como as instituições sociais favorecem certas posições sociais mais do que a outras, mesmo sabendo-se que os indivíduos têm à sua disposição posições diversas daquelas a que estão sujeitos desde o seu nascimento. Essas posições privilegiadas afetam as expectativas e oportunidades iniciais de vida de todos, atreladas às noções de mérito e merecimento. A estas desigualdades é que devem se aplicar os princípios da justiça social como forma de regular a constituição política e o sistema econômico e social.

A partir disso, Rawls formula sua Teoria da Justiça entendida como uma teoria do direito da sociedade civil, concebendo o conceito de justiça como equidade. A justiça como

equidade corresponde, assim, a uma concepção política de justiça que tenha como objetivo regular uma sociedade através da promoção de acordos de cooperação justos entre seus membros. Conforme Rawls (1981), uma sociedade capaz de sustentar este conceito de justiça caracteriza a sociedade bem-ordenada, na qual todos aceitam e conhecem os mesmos princípios de justiça, e as instituições sociais básicas, na maioria das vezes, não apenas atendem a esses princípios como também são reconhecidas por satisfazê-los.

Nessa perspectiva, Rawls propõe um modelo de instituição que deve fomentar e aplicar o valor da justiça a fim de minimizar as desigualdades sociais. Essa ideia de justiça deve ser pactuada antes das instituições, tornando-se dessa forma a base comum a permitir que indivíduos com objetivos e propósitos diversos estabeleçam relações de cooperações de modo que seja possível coordenação, eficiência e estabilidade social.

Em O liberalismo político, Rawls (2000) caracteriza a sociedade bem-ordenada associada à justiça como equidade como sendo aquela em que todos os cidadãos endossam essa concepção de justiça com base em uma doutrina filosófica emergente. Assim, os princípios de justiça como equidade estariam fundamentados por essa doutrina. A principal diferença entre a primeira formulação da teoria da justiça e esse segundo momento é precisamente o fato de Rawls considerar que, numa sociedade democrática, pode haver um pluralismo de doutrinas filosóficas, morais e religiosas abrangentes. Além disso, os cidadãos em geral não professam tais doutrinas nem hoje, nem num futuro previsível. Nesse sentido, o autor entende que o liberalismo político é a melhor via para justificar a adoção da justiça como equidade, uma vez que ele pressupõe a existência de tal pluralidade de doutrinas como resultado do exercício da razão humana dentro da estrutura das instituições livres de um regime democrático e institucional. Alem disso, uma doutrina abrangente e razoável, formulada sob a ótica do liberalismo, não pode rejeitar os princípios fundamentais da democracia.

Ancorado nesses pressupostos é que Rawls apresenta então a justiça como equidade como uma concepção política de justiça, diferentemente daquilo que seria uma doutrina abrangente e razoável. Tal diferença consiste principalmente no fato de que, por ser compartilhada por todos, a concepção política de justiça requer “uma base de justificação pública de ampla aceitação pelos cidadãos, no que diz respeito a questões políticas fundamentais” (RAWLS, 2000, p. 27), ao contrário das doutrinas, que necessitam apenas de

uma justificação não-pública, uma vez que restringem-se aos seus defensores. Para Rawls, cabe ao liberalismo político descobrir em que condições é possível haver essa base de justificação pública razoável no tocante a questão fundamentais.

Rawls justifica a utilização do termo razoável – e não do termo “correto” – na sua argumentação, tendo em vista que este se relaciona com um ponto de vista da concepção política que se liga aos princípios da razão prática, os quais conjugam as concepções de sociedade e de pessoa que ele adota, desembocando assim na ideia de um construtivismo político para a fundamentação da justiça como equidade:

Os princípios da justiça política são resultado de um procedimento adequado de construção no qual pessoas racionais (ou seus representantes), sujeitas a condições razoáveis, adotam esses princípios para regular a estrutura básica de toda a sociedade. Os princípios derivados de um procedimento adequado de construção, um procedimento que expresse corretamente os princípios e concepções indispensáveis da razão prática, são os que considero razoáveis. Os julgamentos para os quais esses princípios servem de base também são razoáveis. Quando os cidadãos compartilham uma concepção política razoável de justiça, dispõem de uma base sobre a qual a discussão pública de questões políticas fundamentais pode acontecer, resultando numa decisão razoável; não evidentemente, em todos os casos, mas esperamos que na maioria dos casos envolvendo fundamentos constitucionais e questões de justiça básica. (RAWLS, 2000, p. 28-29).

Tal perspectiva permite que a filosofia de Raws seja considerada como um “jusnaturalismo procedimental” (CORTINA, 2009). Sua justificação do direito está baseada na ideia de razoabilidade para formulação dos critérios de justiça, e não de princípios prévios.

Por outro lado, não se podem confundir os princípios de justiça das instituições dos princípios com os que se aplicam aos indivíduos, pois estes são distintos. A aplicação dos princípios nas instituições exige compreender que estas correspondem a

[...] um sistema público de regras que determinam ocupações e posições acompanhadas pelos seus respectivos direitos e deveres, poderes e imunidades, e semelhantes. Tais regras especificam certas formas de agir permitidas e outras proibidas; e encarregam-se quando ocorrem violações, das penalidades e defesas e assim por diante. (RAWLS, 1981, p. 63).

As instituições são entendidas pelo autor como realização de certas formas de pensamento e maneiras de agir de certas pessoas em terminado lugar e tempo, considerando que uma instituição existe sempre num certo tempo e lugar. Considerando ainda, que os princípios da justiça devem ser aplicados aos acordos sociais públicos – uma vez que eles só

podem ser escolhidos pelo fato de serem conhecidos pelo público. Como se pode depreender, o autor entende que as instituições correspondem a um sistema público de regras, sendo que “qualquer um que esteja engajado nesse sistema saberá se as regras e a sua própria participação nas atividades definidas pelas regras são o resultado de um acordo ou não” (RAWLS, 1981, p. 64). Portanto, qualquer pessoa que participe de uma instituição saberá quais os papéis lhe podem ser atribuídos e quais os que cabem aos outros. E somente quem participa da instituição é que conheceram as regras e poderão fazer regras para eles mesmos, desde que estas tenham por finalidade chegar a objetivos aceitos por todos e não atinjam outras pessoas. O autor ressalta que uma sociedade em boa ordem, efetivamente regulada por uma concepção de justiça compartilhada, prevê também uma compreensão pública para o que é justo ou injusto.

Segundo Rabelo Junior (2011), o conceito de justo, em Rawls, é construído com base no uso da razão e da vontade das pessoas que são pactuantes desse contrato. É desse modo que a Teoria da Justiça de Rawls liga-se a uma Teoria da Escolha Racional. “É como se cada pessoa tivesse que decidir através de um raciocínio racional, o que representa para ele o bem, isto é, um conjunto de objetivos que seja para ele uma meta racional que possa ser atingida”, (RAWLS, 1981, p. 33). Tal escolha deveria ser feita na situação hipotética de liberdade igual para todos, em uma posição inicial que corresponderia exatamente ao estado de natureza na teoria clássica do contrato social.

O objeto do contrato social engendrado inicialmente por Rawls corresponde aos princípios de justiça que são definidos para a estrutura básica da sociedade através de um consenso ou ajuste equitativo, entre pessoas livres e racionais, reunidas pelos mesmos interesses e sob o “véu da ignorância”, isto é, em uma situação em que todos estivessem numa posição de igualdade. Nessa situação,

[...] ninguém conhece sua posição na sociedade, nem a posição de sua classe, e nem mesmo seu status social ou a parte que lhe caberá dentro da distribuição do conjunto de bens e das capacidades naturais, ou de sua inteligência, força ou semelhante. [...] as partes não conhecem seus diferentes conceitos de bem, ou suas propensões psicológicas particulares. Os princípios de justiça são, desta forma, estabelecidos em total ignorância da posição específica de cada um. [...]

A partir do momento em que todos se posicionam da mesma forma, ninguém seria capaz de fazer uma escolha que favoreça sua própria posição particular, e os princípios de justiça seriam o resultado de um acordo ou barganha equitativa. (RAWLS, 1981, p. 33-34).

Sob o “véu da ignorância”, portanto, é que poderiam ser escolhidos princípios justos, uma vez que tal condição pressupõe que cada um não tenha conhecimento das circunstâncias pessoais distribuídas entre sujeitos participantes, incluindo condições financeiras, e consequente status social, bem como dotes naturais (físicos e mentais). Com esta condição atendida, não poderiam ser escolhidos ou mesmo propostos princípios de justiça que resultassem em benefícios de alguns em detrimento de outros, mas poderiam ser indicados valores genéricos que determinariam um estágio inicial onde todos poderiam adquirir o bem- estar. Deste modo, estando todos em situação semelhante, a escolha dos princípios de justiça seria o resultado de um consenso ou ajuste equitativo. O cenário de justiça social rawlsiana é desenhado, portanto, a partir de uma concepção política de justiça que exige uma condição de equidade entre as pessoas que estariam em uma posição original.

A concepção de justiça como equidade sustentada por princípios públicos é a base do que Rawls denominou teoria de contratos:

O mérito da terminologia do contrato é de levar a ideia de que princípios de justiça devem ser concebidos como princípios escolhidos por pessoas racionais, podendo então, desta forma, a conceituação de justiça ser explicada e justificada. [...] os princípios de justiça lidam com reivindicações conflitantes entre os ganhos de vantagens devido à cooperação social; eles se aplicam às relações entre várias pessoas ou grupos. [...] Desta forma, caso estes princípios se originem num acordo, todos os cidadãos terão conhecimento dos princípios que os outros seguem. É característico das teorias de contrato salientar a natureza pública dos princípios políticos. (RAWLS, 1981, p. 36-37).

Essa concepção de situação contratual retomada pelo autor conduz a princípios de justiça contrários ao utilitarismo e ao perfeccionismo, oferecendo, na sua visão, um meio consistente e útil para se estudar teorias éticas e demonstrar deduções implícitas. É a partir da teoria dos contratos que Rawls, em seu aspecto político e moral, faz um contraponto ao utilitarismo, principalmente de Benthan e Sidgwick. Essas doutrinas consideram justa uma sociedade na qual suas instituições sejam organizadas de tal forma que se tenha o maior saldo de satisfações, isto é, que se deva agir de tal forma que o maior benefício resulte para a maioria das pessoas, sem a preocupação, no entanto, com a maneira através da qual estes benefícios serão distribuídos entre todos os indivíduos, nem por quanto tempo serão beneficiados. Em qualquer caso, segundo Rawls (1981), a distribuição considerada correta por estas teorias requer o máximo de desempenho adotando-se como parâmetro o princípio de escolha racional de um só homem como se estes fossem de todos, ou seja, sem se importar em

fazer uma distinção mais profunda entre as pessoas de uma sociedade, constituindo-se o utilitarismo, portanto, uma ameaça às liberdades individuais.

Esse entendimento utilitarista de estender à toda a sociedade o princípio de escolha de uma só pessoa é um dos contrastes mais visíveis entre o utilitarismo e a teoria dos contratos para pensar justiça, já que esta última pressupõe que os princípios de escolha e de justiça sejam objetos de um acordo inicial. Além disso, enquanto o utilitarismo é uma teoria teleológica, a justiça como equidade é deontológica, pois não interpreta o direito como responsável por maximizar o bem. Conforme explica Rawsl (1981, p. 45-46):

A justiça como equidade é uma teoria deontológica de segunda forma. Caso se presuma que as pessoas na posição original escolhessem um princípio de liberdade igual para todos, as desigualdades econômicas e sociais restritas no interesse de todos, não há razão para se pensar que só as instituições iriam maximizar o bem. [...] É evidente que não seria impossível que o maior bem possível fosse produzido, mas seria apenas uma coincidência. A questão de se atingir um maior saldo positivo na balança de satisfações, nunca é levantada na justiça como equidade; este princípio máximo não é utilizado.

Ainda, no utilitarismo, a satisfação pode provir de qualquer desejo, isto é, não importa para que sejam; o que vale é que as instituições sejam organizadas de tal forma a obter a maior soma de satisfações. A questão que Rawls pontua é saber como estas satisfações irão afetar o bem-estar social.

Diferentemente do utilitarismo, a justiça como equidade pressupõe que as pessoas aceitem antecipadamente às instituições o princípio da liberdade igual para todos e sem conhecer suas finalidades mais específicas. Elas concordam de forma implícita em adaptar seus preceitos ao que os princípios da justiça requerem, ou seja, não tentam violar esses princípios. Estes, por sua vez, impõem limites sobre os desejos, determinando quais vontades têm valor, bem como restringem o que é considerado como o bem de uma pessoa. Noutros termos, Rawls (1981, p. 46-47) assinala que,

[...] na justiça como equidade, o conceito de direito vem antes do que for bom. Um sistema social justo determina um esboço dentro do qual os indivíduos deverão desenvolver seus próprios objetivos e isto fornecerá uma estrutura de direitos e oportunidades, de tal modo que o significado da satisfação dos desejos dentro dessa estrutura e o uso que virá a ser feito e, de tais finalidades, deverão ser buscados equitativamente.

Os interesses contrários aos princípios de justiça, portanto, não têm valor, de modo que se forem apresentados não terão mérito, não terão sucesso. Essa limitação de colocar o direito sobre o bem e sobre o que tiver caráter de maior valor moral é necessária e precisa ser levada em conta, também, pelas instituições que não devem gerar atitudes contrárias aos princípios de justiça, mantendo-se assim estáveis. Até porque, de acordo com Rawls (1981), o ideal moral da justiça como equidade tem suas raízes nos princípios fundamentais da teoria ética. A compreensão do conceito de justiça requer, assim, uma visão ampla e ao mesmo tempo centrada numa discussão ética histórica e social.

Rawls recorre a Aristóteles para fundamentar seu ideal de justiça, retomando o entendimento aristotélico de que as virtudes éticas estão inseridas no contexto de toda a sociedade. Com base no pensamento aristotélico, Rawls (apud ALMEIDA, 2011) sublinha haver uma contraposição entre o plano da interioridade moral (descrito por Aristóteles como as virtudes dianorréticas, ou seja, a virtude ética de cada um pautada na convicção) e o plano das convenções sociais (virtudes éticas vinculadas ao direito da pólis) garantidora do convívio social. Essa contraposição leva Rawls a defender que, para haver justiça, é necessário haver uma prática da moral no seio da sociedade, é preciso que seja cultivada uma ética fundamental entre os cidadãos, uma ética em busca da equidade.

Como bem salienta Guariglia (1993), a concepção de justiça elaborada por Rawls não