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Capítulo 1 O AMANHECER DO PÓS-GUERRA E A ELEIÇÃO DO

1.1 A BAHIA NOS ANOS 1960: VOTOS E VOTANTES

1.2.4 J ORNAL , R ÁDIO E T ELEVISÃO

A propaganda política utilizada nas eleições, na segunda metade do século XX, na Bahia, envolvia – além dos brindes e cartazes – a transmissão de comícios e pronunciamentos pelo rádio e a publicação de fotos e mensagens nos jornais. Esses eram os meios de comunicação disponíveis no interior do Estado, posto que a televisão, recém inaugurada, era acessível, apenas, aos moradores da capital.

Nos jornais, o candidato podia comprar espaços para a veiculação de textos preparados por ele mesmo ou por sua assessoria ou enviar as informações das suas campanhas às editorias que publicariam da maneira que considerassem apropriada.

Ênio Mendes de Carvalho13, candidato a Deputado Estadual, pelo

PSP, em 1962, e Secretário-Geral do PMDB, em 1986, ao comparar as duas campanhas, se refere à maneira simplificada como aconteciam as disputas, na década de 1960, em razão do poder desempenhado pelo chefe político. O acordo com o chefe local dispensava o candidato de percorrer o município buscando conquistar os votos. Nos municípios maiores e mais próximos da capital, segundo ele, já se notava a existência de outro tipo de relação do candidato com o eleitor:

[...] é uma coisa que sempre me chamava a atenção, diferente de cá, dos municípios vizinhos de Salvador onde havia maior liberdade e o nível de informação era maior. Não tenha dúvida disso. Próximo da capital, o contato com os meios de comunicação era bem maior. [...] a disseminação da informação quebra a importância desses coronéis. Ela cria um eleitorado independente que pode decidir uma eleição. (CARVALHO, 2007).

Por outro lado, Sampaio (1960) considera que, naquele momento, já se manifestavam, mesmo nos pequenos municípios, os sinais de que o uso da propaganda nas campanhas eleitorais era uma prática indispensável.

13 Em entrevista concedida à pesquisadora, em Salvador, no dia 2 de maio de 2007. Ênio Mendes de Carvalho participou das campanhas de Waldir Pires em 1962 e 1986. Na primeira, elegeu-se deputado estadual e, em 1986, sua participação deu-se na condição de Secretário Geral do PMDB.

Embora ressalte que as cidades de maior porte sejam “o seu ambiente predileto”, informa que “são raros os lugarejos onde não se notam os rastros de uma campanha, numa parede com letreiros pichados ou com retratos dos candidatos”. Para ele:

Quem, outrora, não imprimia boletins ou pregava cartazes nas paredes, nem desfraldava faixas ou mandava anunciar a candidatura pelo rádio e jornais, não pode, hoje, deixar de imitar os concorrentes que usam desses meios. (1960, p. 19).

No pleito de 1962, os candidatos que disputavam o Governo da Bahia utilizaram, amplamente, a publicação de notícias de suas campanhas nos jornais e a transmissão dos comícios pelas rádios. Assim, além do noticiário de responsabilidade das editorias, os jornais exibiam textos elaborados sob a responsabilidade dos candidatos. Guerra Lima, responsável, juntamente com Prisco Viana, pela redação das matérias de divulgação da campanha de Waldir Pires, relata:

Não eram anúncios... eram matérias políticas e reportagens. Eu viajava para o interior, fazia a cobertura dos comícios e, como naquela época não havia sistema de comunicação [...], telefone não funcionava, eu mandava as matérias por algum portador. Prisco [Viana], que ficava responsável pelo apoio básico na capital, mandava a matéria para o ‘Diário de Notícias’, para ‘A Tarde’, o ‘Jornal da Bahia’, o ‘Estado da Bahia’, que era dos Associados. No ‘Diário de Notícias’, Virgílio de Sá era o colunista político, eu era o repórter político que cobria a Assembléia Legislativa [...]. Então, no sentido de comunicação, ao contrário de 86, não tinha agência de publicidade. Naquela época, para você ter uma idéia: todo ano o governo publicava as mensagens de fim de ano... Cada jornalista recebia a mensagem da Secretaria a que dava cobertura... então, o Comitê de Imprensa do Gabinete do Governador, entregava a comissão... As comissões eram pagas a cada um desses jornalistas, porque, na época não tinha agência; ‘A Tarde’ recebia, O ‘Diário de Notícias’... não favorecia ninguém, porque era pela cobertura que se fazia e era impessoal... É estranho, mas não havia o sentido de propina... era o Comitê que distribuía, não tinha preferência... mandava para os órgãos de imprensa e os órgãos redistribuíam... (GUERRA LIMA, 2007).

A “TV Itapoan”, única emissora de televisão do Estado, havia sido inaugurada no dia 19 de novembro de 1960 levando o contexto eleitoral baiano a incluir-se no mundo, ainda novo, da comunicação de massas, que tinha, até então, o rádio como veículo predominante. A empresa, administrada à época por Odorico Tavares, integrava o conjunto de veículos de comunicação, os “Diários Associados”, de propriedade de Assis Chateaubriand, do qual faziam parte, além da “Rádio Sociedade da Bahia”, dois jornais impressos, o “Diário de Notícias” e o “Estado da Bahia”.

A presença dos candidatos na televisão se dava através de mensagens veiculadas em programas cujos horários eram pagos14 ou em

entrevistas e noticiosos com tempo de participação definido, arbitrariamente, pela direção dos “Diários Associados”.

Nas emissoras de rádio, vigorava o mesmo sistema: os partidos e candidatos podiam “comprar espaço” para veicular pronunciamentos ou, até mesmo, transmitir, ao vivo, a íntegra dos comícios de suas campanhas.

Tinham programas de entrevistas... Raimundo Reis fazia um programa... me parece... ‘A capital para o interior’, ou ‘Falando pelo interior. Era na Rádio Sociedade... Era o mecanismo da época... todos faziam. As rádios eram livres para transmitir política. [...] o comício era feito pelo locutor do partido e a Rádio transmitia... Aí, naquela época, você, que estava no interior, sabia que o PSD ia fazer um comício na capital... (GUERRA LIMA, 2007).

Waldir Pires era, nos primeiros momentos da campanha, o candidato que angariava a simpatia dos jornalistas encarregados dos assuntos da política na imprensa baiana. Entretanto, a divulgação dos eventos da campanha do PSD ocupava, quase que exclusivamente, os espaços comprados para veiculação dos textos elaborados por Antônio Guerra Lima, responsável por apurar as informações sobre a campanha acompanhando os comícios e viagens, e Prisco Viana, encarregado de comprar os espaços nos jornais e redigir as matérias, a partir do material enviado por Guerra Lima, posto que as direções dos jornais de destaque,

14 Em entrevista já referida, Guerra Lima lembra o programa de Hélio Ramos, candidato a deputado federal que veiculou, naquela eleição, programa televisivo, em horário pago.

naquele momento, em sua maioria, apoiavam a candidatura de Lomanto Júnior.

Vale destacar que o “Jornal da Bahia” é mencionado por Guerra Lima como o veículo que – por contar, em sua redação, com jornalistas ligados a grupos de esquerda e ao próprio PCB – abria maiores espaços aos fatos favoráveis à campanha oposicionista.

O trabalho dos jornalistas envolvia a superação dos obstáculos decorrentes da falta de condições que imperava num cenário em que as informações eram colhidas e as matérias redigidas sem os equipamentos hoje identificados como indispensáveis ao exercício da profissão. Guerra Lima, segundo ele próprio, “[...] fazia as anotações à mão e mandava para Prisco. Era caneta e papel. Não tinha estrutura nenhuma... Você tirava o telefone do gancho e duas ou três horas depois você telefonava...”