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Culturas políticas na Bahia: mutações em campanhas eleitorais

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Academic year: 2021

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(1)Universidade Federal da Bahia Faculdade de Comunicação Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade. MARIA AUGUSTA LIMA DE SOUZA. CULTURAS POLÍTICAS NA BAHIA: MUTAÇÕES EM CAMPANHAS ELEITORAIS. SALVADOR 2007.

(2) MARIA AUGUSTA LIMA DE SOUZA. CULTURAS POLÍTICAS NA BAHIA: MUTAÇÕES EM CAMPANHAS ELEITORAIS Dissertação apresentada ao Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Faculdade de Comunicação como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre.. Orientador: Prof. Dr. Antônio Albino Canelas Rubim. SALVADOR 2007.

(3) Revisão e formatação: Vanda Bastos. Ficha catalográfica: Jussana Barros Coelho. Biblioteca Central Reitor Macêdo Costa - UFBA S729 Souza, Maria Augusta Lima de. Culturas políticas na Bahia : mutações em campanhas eleitorais / Maria Augusta Lima de Souza. - 2007. 201 f. : il. Inclui anexos Orientador. : Prof. Dr. Antônio Albino Canelas Rubim. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, 2007. 1. Comunicação na política - Brasil. 2. Propaganda política. 3. Brasil - Política e governo 1964 - 1985. 4. Campanha eleitoral - Bahia - 1962. 5. Campanha eleitoral - Bahia - 1986. I. Rubim, Antônio Albino Canelas. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Comunicação. III. Título..

(4) A Geraldo Walter, que acreditava e vibrava com o seu trabalho e que muito me ensinou sobre paixão, seriedade e compromisso. Com saudade. A Elizete e Geraldo, como gratidão pelo estímulo e pela dedicação incansáveis. A Breno, a Diogo e aos sobrinhos, fontes das minhas maiores alegrias. A Waldir Pires, por sua crença na política..

(5) AGRADECIMENTOS Estou certa de que, por justiça, tenho que partilhar os créditos que este trabalho possa vir a angariar com a minha acolhedora família, com os meus amigos e os professores e colegas do Programa Multidisciplinar de PósGraduação em Cultura e Sociedade. Se tiveram paciência e generosidade para ajudar infinitamente, suportar os meus momentos de dificuldade e ainda foram capazes de não permitir que essas dificuldades me fizessem perder o passo, considero que merecem todos os méritos que aqui possam existir. Primeiramente, divido este possível merecimento com Clóvis Caribé. Não teria sequer iniciado esse percurso que ora concluo se não tivesse contado com o seu estímulo e incentivo num começo que me parecia insondável. Não só pelo desempenho acadêmico, mas pela forma solidária de agir, que inspirou uma prazerosa convivência, registro meus agradecimentos aos professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade. Agradeço, especialmente, aos colegas Sergio Sobreira, Silvio Tudela, Fernanda Capibaribe, Suzana Varjão e Claudia Vasconcelos; a Delmira e Ailton, da Secretaria do Programa; à Professora Linda Rubim e, destacadamente, ao mestre Milton Moura, autor de sábias e deliciosas aulas cujas lembranças me fazem ter vontade de recomeçar. A ausência de registros e arquivos das campanhas eleitorais que pesquisei poderia ter constituído uma dificuldade mas, ao contrário, deu lugar a nutridores e agradáveis diálogos em que a sabedoria e a memória dos entrevistados serviram de fonte e de farol. A Waldir Pires, agradeço a gentileza e a disponibilidade para contribuir e aproveito para homenagear sua capacidade de manter-se confiante na política como caminho de convivência e harmonia entre as pessoas. Ao ex-Governador Lomanto Júnior e seu filho Antônio Lomanto e ao ex-Deputado Federal Marcelo Cordeiro, registro meus agradecimentos pela maneira afável e cordial com que se dispuseram a atender-me. As conversas com Carlos Sarno, Giovani Almeida, Goia Midlej, Carlos Alberto Rodrigues, Luiz Alberto Souza e Aurélio Mendes de Carvalho trouxeram-me os dados e as informações sobre a campanha de 1986 e, mais que isso, valeram pela partilha de lembranças tão agradáveis quanto emocionantes. Luís Guilherme Pontes Tavares, Domingos Leonelli Neto, Ênio Mendes de Carvalho, Antônio Guerra Lima e Sydney Rezende deram-me o testemunho de quem fez grandes os acontecimentos a que me refiro. Além da memória dos fatos, me cederam suas análises claras e francas, aqui, pretensiosamente, incorporadas. Tive o privilégio de colaborações como as que vieram de Césio Oliveira, Renato Pinheiro e Pedro Formigli. E a disposição e sabedoria próprias da juventude,.

(6) que me apressei em tomar emprestado, de Vitor Firmo, Pedro Caribé, Manuela Pinho, Ramona, Caroline e Gabriel Souza. Ao Professor Antônio Guerreiro e a Domingos Leonelli Neto agradeço pela guarda dos livros a mim confiados. Às professoras Guaraci Adeodato de Souza e Teresa Bastos sou grata pelas incentivadoras lições. Ao professor Renato Silveira, pela honra que me concedeu ao aceitar avaliar e contribuir com esse estudo. Aos colegas da Procuradoria Jurídica da Assembléia Legislativa, desculpandome pelas eventuais ausências, agradeço pela ajuda e compreensão. Às amigas de sempre Soane Matos, Arlete Neiva, Nanci Uchoa, Andréa Lyra, Sandra Solai e Gabriela Lamego, envio beijos agradecidos pela fiel compreensão e tolerância. As sábias e pacientes opiniões e revisões de Maria Teresa Ribeiro, Solange Lamego e Vanda Bastos são responsáveis pelos créditos da redação e pelas correções do texto. Sem elas, cadeia vira cadeira e coisas assim. Antecipo as minhas desculpas se as alterações posteriores prejudicaram a cuidadosa revisão. Da mesma forma, foi essencial a colaboração de Maria Inês Souza que, junto com Beatriz e Mateus, cuidou da transcrição e edição das entrevistas e de Cristina Baumgarten, responsável pela tradução do resumo. A fidelidade do trabalho que realizaram foi garantia de confiança. O apoio constante de Breno, Diogo e Cinha foi alívio e conforto essenciais nos mais diversos sentidos, como a ajuda verdadeiramente multidisciplinar dispensada por André Peixinho que contribuiu, no conteúdo e no sentido, delicada e pedagogicamente. A Paulo Fábio, agradeço pela paciente e generosa contribuição. Sua disponível sabedoria, as sugestões de leitura, o empréstimo do seu arquivo de jornais e as observações sobre os caminhos da pesquisa e da dissertação foram ajuda sem medida. Ao professor Albino Rubim, orientador desse trabalho, sou grata pela confiança, pela generosidade e boa vontade que lhe fizeram emprestar seu nome, suas idéias e seu tempo para me ajudar a realizá-lo. Os resultados das suas lições ultrapassam o produto aqui apresentado. Por fim, também por justiça, cabe considerar-me a única responsável pelos equívocos aqui presentes. Podem ser creditados à minha pressa, à teimosia ou, até mesmo, à falta de persistência e paciência necessárias para a busca de melhores caminhos e de maior aprofundamento em alguns temas..

(7) RESUMO A utilização de novos métodos e estratégias comunicacionais no processo eleitoral de 1986 na Bahia, alterando a cultura política, é o tema deste estudo. As alterações havidas nos processos eleitorais proporcionaram a criação de mecanismos e estruturas que resultaram em um conjunto de novos padrões de operação das campanhas, iniciado no pleito de 1986. A forma de organização e de operação da campanha eleitoral de 1962 para o governo da Bahia e a maneira como foram utilizados os recursos da comunicação naquela conjuntura são os parâmetros de comparação utilizados em relação à campanha de 1986. Analisar as eleições ocorridas nas duas décadas que separam as campanhas referidas foi instrumental para a percepção das particularidades identificadas nos pleitos realizados à época dos governos militares, quando se verificou a permanência, pelo menos parcial, do calendário das eleições. Esse período foi também marcado pelas restrições às garantias e direitos democráticos e, no âmbito das telecomunicações, pelo avanço e expansão da infra-estrutura do sistema de comunicação no Brasil, com destaque para a televisão. Estes são os ingredientes analisados como determinantes para as modificações que se apresentam na disputa de 1986, quando a liberação da censura para a utilização do horário gratuito do Tribunal Eleitoral e a restauração democrática redefinem o cenário das eleições no país. O estudo detalhado das novas formas de operação das campanhas eleitorais adotadas na Bahia, pela candidatura de Waldir Pires em 1986, conformando novas culturas políticas, demonstrou que as estratégias de comunicação, quando formuladas a partir de estreita afinidade com as instâncias políticas, fazem dos instrumentos da comunicação ferramentas da política que podem ser utilizadas de maneira articulada e interdependente, mantendo preservados os espaços da política, dos partidos e dos políticos. Palavras-chave: Comunicação. Democracia. Política. Campanhas Eleitorais..

(8) RÉSUMÉ LES CULTURES POLITIQUES À BAHIA: LES MUTATIONS DANS LES CAMPAGNES ÉLECTORALES L’utilisation de nouvelles méthodes et stratégies de communication dans le processus électoral de Bahia de 1986, modifiant la culture politique, est le sujet de cette étude. Ces changements qui ont eu lieu dans les processus électoraux ont engendré la création de mécanismes et structures qui résultèrent dans un ensemble de nouvelles normes d’opération des campagnes, lancées lors de la campagne de 1986. La forme d'organisation et d’opération de la campagne électorale pour le gouvernement de Bahia de 1962 et la manière dont furent utilisées les ressources de la communication dans cette conjoncture sont les paramètres de comparaison utilisés par rapport à la campagne de 1986. Analyser les élections survenues au cours des deux décennies qui séparent les campagnes mentionnées fut instrumental pour la perception des particularités identifiées dans les processus réalisés á l’époque des gouvernements militaires, quand fut vérifiée la permanence, au moins partielle, du calendrier des élections. Cette période fut également marquée par les restrictions des garanties et droits démocratiques et, dans le contexte des télécommunications, par l’avancée et l’expansion de l’infrastructure du système de communication au Brésil, avec mention pour la télévision. Ces ingrédients sont analysés comme déterminants pour les modifications qui apparaissent dans la dispute de 1986, quand la levée de la censure pour l’utilisation de l’horaire électoral gratuit du Tribunal Électoral et la restauration démocratique redéfinissent le scénario des élections dans le pays. L’étude détaillée des nouvelles formes d’opération des campagnes électorales adoptées à Bahia, pour la candidature de Waldir Pires en 1986, conformant de nouvelles cultures politiques, a démontré que les stratégies de communication, lorsque formulées en affinité étroite avec les instances politiques, font des instruments des communicatoins des outils de politique qui peuvent être utilisés de manière articulée et interdépendante, tout en préservant les espaces de la politiques, des partis et des politiciens. Mots-clés: Communication. Démocratie. Politique. Campagnes Électorales ..

(9) LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Cartaz com foto do candidato da campanha de Waldir Pires para o Governo do Estado da Bahia em 1962 ………………… 52 Figura 2 – Adesivo dos anos 1970: “Brasil: ame-o ou deixe-o” …………. 65 Figura 3 – Adesivo aplicado em carro nos anos 1970 …………………….. 65 Figura 4 – 1984: Comício pró-Diretas reúne líderes políticos e artistas .............................................................................. 86 Figura 5 – Abril de 1984: Comício das Diretas na Candelária, no Rio de Janeiro .......................................................................... 86 Figura 6 – 1984: Comício da Praça da Sé, em São Paulo ...................... 86 Figura 7 – Cartaz com foto do candidato: Peça da campanha de Waldir Pires para o Governo do Estado da Bahia em 1986 .. 129 Figura 8 – Jornal da Mudança: Peça da campanha de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia em 1986 ............................ 141 Figura 9 – Cartaz: Peça da campanha de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia em 1986 ............................................. 144 Figura 10 – Bandeira: Peça da campanha de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia em 1986 .............................................. 144 Figura 11 – Toalha: Peça da campanha de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia em 1986 .............................................. 145 Figura 12 – Camisa: Peça da campanha de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia em 1986 ............................................. 146 Figura 13 – Viseira: Peça da campanha de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia em 1986 .............................................. 147 Figura 14 – Bottoms: Peças da campanha de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia em 1986 .............................................. 148 Figura 15 – Praguinhas: Peças da campanha de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia em 1986 ................................ 149 Figura 16 – Anúncio de página inteira de jornal: Peça da campanha de Waldir Pires para o Governo do Estado da Bahia em 1986 .................................................................................. 150 Figura 17 – Anúncio de meia página de jornal: Peça da campanha de Waldir Pires para o Governo do Estado da Bahia em 1986 .................................................................................. 151 Figura 18 – Anúncio de meia página de jornal: Peça da campanha de Waldir Pires para o Governo do Estado da Bahia em 1986 .................................................................................. 152.

(10) LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Proporção de domicílios com aparelhos de televisão por região – Brasil – 1960 ………………………………………………. 89 Quadro 2 – Proporção de domicílios com aparelhos de televisão por região – Brasil – 1970 ………………………………………………. 93 Quadro 3 – Proporção de domicílios com aparelhos de televisão por região – Brasil – 1980 ………………………………………………. 94 Quadro 4 – Evolução do número de aparelhos de televisão disponíveis nos domicílios brasileiros, por década – Brasil – 1960 a 1991 ……………………………………………………………………. 95.

(11) LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Resultados eleitorais a níveis federal e estadual – 1966, 1970 e 1974 ………………………………………………………….. 74 Tabela 2 – Resultados oficiais das eleições legislativas, de 1966 a 1978, para o total do país (em porcentagens) ………………… 82.

(12) LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS Abert ABI AC AERP AI AL ALN ALEF Arena BNDES CF CIE CNBB CODI CONTEL CPI Dentel DF DOI EC ECA EMC IBGE IBOPE Incra IPM LSN MDB MPAS MR-8 MTR OAB OBAN OSPB PCB PC do B PDC PDS. – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –. Associação Brasileira de Empresas de Rádio e TV Associação Brasileira de Imprensa Ato Complementar Assessoria Especial de Relações Públicas Ato Institucional Assembléia Legislativa Aliança Libertadora Nacional Aliança Eleitoral pela Família Aliança Renovadora Nacional Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Constituição Federal Centro de Informações do Exército Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Centro de Operações de Defesa Interna Conselho Nacional de Telecomunicações Comissão Parlamentar de Inquérito Departamento Nacional de Telecomunicações Distrito Federal Destacamento de Operações e Informações Emenda Constitucional Escola de Comunicação e Artes Educação Moral e Cívica Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Inquérito Policial Militar Lei de Segurança Nacional Movimento Democrático Brasileiro Ministério da Previdência e Assistência Social Movimento Revolucionário 8 de Outubro Movimento Trabalhista Renovador Ordem dos Advogados do Brasil Operação Bandeirantes Organização Social e Política no Brasil Partido Comunista Brasileiro Partido Comunista do Brasil Partido Democrata Cristão Partido Democrático Social.

(13) PDT PEC PF PFL PH PIB PL PMB PMDB PNB PP PR PRP PRT PSB PSC PSD PSP PST PT PTB PTN RMS SBT SNI Sudene TJ TRE TSE UDN UFBA UnB UPB. – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –. Partido Democrático Trabalhista Proposta de Emenda Constitucional Polícia Federal Partido da Frente Liberal Partido Humanista Produto Interno Bruto Partido Libertador Partido Municipalista Brasileiro Partido do Movimento Democrático Brasileiro Produto Nacional Bruto Partido Popular Partido Republicano Partido de Representação Popular Partido Republicano Trabalhista Partido Socialista Brasileiro Partido Social Cristão Partido Social Democrático Partido Social Progressista Partido Social Trabalhista Partido dos Trabalhadores Partido Trabalhista Brasileiro Partido Trabalhista Nacional Região Metropolitana de Salvador Sistema Brasileiro de Televisão Serviço Nacional de Informações Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste Tribunal de Justiça Tribunal Regional Eleitoral Tribunal Superior Eleitoral União Democrática Nacional Universidade Federal da Bahia Universidade de Brasília União dos Prefeitos da Bahia.

(14) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 15 Capítulo 1 O AMANHECER DO PÓS-GUERRA E A ELEIÇÃO DO GOVERNADOR DA BAHIA .............................……............. 23. 1.1. A BAHIA NOS ANOS 1960: VOTOS E VOTANTES ......................... 26. 1.2. 1962: ELEIÇÕES PARA O GOVERNO DO ESTADO …………..……. 28. 1.2.1. LOMANTO JÚNIOR AVANÇA SOBRE A UDN ...…................................. 28. 1.2.2. A OPOSIÇÃO ESCOLHE OS SEUS CANDIDATOS ............….................... 31. 1.2.3. A IGREJA CATÓLICA E O JORNAL A TARDE NAS ELEIÇÕES 1962 .............…………………...………………………..…............. 36. DE. 1.2.4 1.3. JORNAL, RÁDIO E TELEVISÃO .…………........................................... 42 AS CAMPANHAS ........................................................................... 45. 1.3.1. O PERCURSO DE LOMANTO JÚNIOR ...........….................................. 45. 1.2.2. A CAMPANHA DE WALDIR PIRES .....…............................................. 49. 1.3.3. CINCO POR CENTO ENTRE O CONTEÚDO E A FORMA .......................... 53. Capítulo 2 A COMUNICAÇÃO E A POLÍTICA: NA DITADURA E NA REDEMOCRATIZAÇÃO ............................................ 57 2.1 2.2 2.3. RECRUDESCIMENTO DA CENSURA E DA REPRESSÃO NO BRASIL GRANDE .................................................................... 60 NO COLÉGIO ELEITORAL, FORA DO REGIME, CANDIDATO, SÓ ANTI ....................................................................................... 69 OS GOVERNOS MILITARES, O PROJETO DE ABERTURA POLÍTICA E A LEI FALCÃO .......................................................... 72. 2.4. A VITÓRIA DO PROCESSO DE ABERTURA .................................. 78. 2.5. DA ERA DO RÁDIO À IDADE MÍDIA ............................................. 87. Capítulo 3 AS ELEIÇÕES E A COMUNICAÇÃO NO BRASIL DA NOVA REPÚBLICA ...................................................... 101 3.1 3.1.1 3.1.2 3.1.3. AS ELEIÇÕES DE 1986 NA BAHIA .............................................. 108 OS CANDIDATOS, OS PARTIDOS E A FORMAÇÃO DAS COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS ................................................................................ 109 JOSAPHAT MARINHO. O BRASIL INTEIRO CONHECE E TODO MUNDO FALA BEM ................................................................................... 116 WALDIR PIRES E A PROPOSTA DA MUDANÇA ..................................... 123.

(15) Capítulo 4 1986. O NOVO CAMINHO DAS ELEIÇÕES NO BRASIL .... 126 4.1. A CAMPANHA DE WALDIR PIRES PARA O GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA EM 1986 ...................................................... 186. 4.1.1. A COMUNICAÇÃO ......................................................................... 131. 4.1.2. A TELEVISÃO .............................................................................. 135. 4.1.3. O PROGRAMA DA MUDANÇA NO RÁDIO ............................................ 139. 4.1.4. O JORNAL DA MUDANÇA ................................................................ 140. 4.1.5. O MATERIAL PUBLICITÁRIO PRODUZIDO .......................................... 143. 4.1.6. OS JINGLES DA CAMPANHA ........................................................... 153. 4.2. A TRAJETÓRIA DA MENSAGEM DA MUDANÇA .......................... 155. 4.2.1. NA CAPITAL ................................................................................ 155. 4.2.1.1 4.2.2. Os Comícios em Salvador... ................................................ 159 ...e no Interior... ...................................................................... 163. 4.3. A “CAMPANHA DA MUDANÇA”: DIVISOR DE ÁGUAS? ................ 166. 4.4. O RESULTADO ............................................................................. 167. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 168 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 173 ANEXOS ............................................................................................... 182 ANEXO 1 RESULTADOS DA ELEIÇÃO ESTADUAL DE 1962 DIVULGADOS PELO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ... 183 ANEXO 2 CÂMARA DOS DEPUTADOS / TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE) – RESULTADO DAS ELEIÇÕES DE 15 DE NOVEMBRO DE 1986: Candidatos e Votos Obtidos ………….. 185 ANEXO 3 FOTOS – CAMPANHA DE WALDIR PIRES PARA O GOVERNO DO ESTADO EM 1986 ………………………………………….………. 193.

(16) INTRODUÇÃO É freqüente, na contemporaneidade, o debate sobre a intensidade das mudanças ocorridas na sociedade e sobre o papel desempenhado pelos meios de comunicação. Nesta discussão, desenham-se os contornos de uma sociedade globalizada e centrada no uso e aplicação de métodos de comunicação de massa. Na conformação social admitida nesse debate prevalecem as técnicas. de. comunicação,. informação,. entretenimento,. mobilização. e. indução da opinião pública. É o que se denomina era digital ou da informática, ambiente em que a mídia se “impõe e sobrepõe” penetrando no processo político e demarcando as suas circunstâncias e espaços. Como pontua Octávio Ianni ao tratar do que chamou Príncipe Eletrônico:. [...] as tecnologias eletrônicas, informáticas e cibernéticas impregnam crescente e generalizadamente todas as esferas da sociedade nacional e mundial; e de modo particularmente acentuado as estruturas de poder, as tecnoestruturas, os think-tanks, os lobbies, as organizações multilaterais e as corporações transnacionais, sem esquecer as corporações da mídia. (2000, p. 143).. A sociedade contemporânea, no entendimento do filósofo italiano Gianni Vattimo, nasce sob a clara e definidora influência dos meios de comunicação de massa, porém, não necessariamente, a transparência que deste fato decorre permite aos cidadãos uma maior capacidade de reflexão sobre seus destinos, apresentando, esta sociedade, em sua extrema complexidade, até, uma espécie de caos. Um tanto paradoxalmente, o autor credita à “sociedade transparente” a instalação de “um ideal de emancipação que tem antes na sua base a oscilação, a pluralidade, e por fim o desgaste do próprio princípio de realidade” (VATTIMO, 1992, p. 13). Essa perda de.

(17) 16 sentido de realidade é revelada, segundo o autor, tanto no âmbito do indivíduo como nas circunstâncias sociais e políticas. A partir dessa reflexão, Vattimo apresenta-nos um instigante questionamento: afinal, essa perda do sentido de realidade, se constitui em grande perda para o indivíduo? Em resposta à sua própria indagação, alerta para a possibilidade de considerarmos “essa experiência de oscilação do mundo pós-moderno como chance de um novo modo de ser (talvez: finalmente) humanos” (1992, p. 17). Para ele, a sociedade contemporânea nasce sob essa marcante influência, implicando numa complexidade tal que a suposta transparência não traz consigo uma maior “consciência de si”. Ao mesmo tempo, identifica o autor esse relativo caos que se instala como a possibilidade de recuperação das “esperanças de emancipação”, onde o ser − ao se constatar desprovido de seu sentido unitário, fixo e permanente − encontra-se diante da chance de construir um novo caminho para a sua existência. Adotando ponto de vista semelhante, Dominique Wolton trata do modo como a superinformação característica do mundo contemporâneo ocidental tende a imprimir no indivíduo a sensação de participar dos problemas essenciais, mesmo que, na realidade, este indivíduo se encontre sem possibilidade de ação. As mídias o informam sobre o que acontece, evitando o sentimento de isolamento e inserindo o cidadão no rol dos acontecimentos mundiais. Os indivíduos, sem os riscos da proximidade, que acarretaria possibilidades de tensões e contradições, concentram-se no debate e no deleite do acúmulo de informações. (2004, p. 244-245). Há, portanto, certa concordância entre esses estudiosos quanto aos efeitos provocados pelos meios de comunicação sobre o pensamento e o comportamento do homem contemporâneo. No indivíduo ou no âmbito coletivo, as relações sociais e pessoais, na atualidade, são exercidas, não somente, mas principalmente, através do trabalho mediador da moderna comunicação. Na política, são marcantes os efeitos das transformações havidas no cenário e na forma de atuação, impondo às suas instituições, ao cidadão.

(18) 17 e aos políticos a divisão do cenário com uma coadjuvante cada vez mais atuante, a comunicação. Entretanto, esse não é o único problema que atinge a dinâmica da política na sociedade contemporânea. As modificações na esfera política, sua visibilidade, cada vez maior e, ao mesmo tempo, o aumento da dificuldade de ação por parte dos indivíduos e de suas entidades de representação, também podem ser considerados fatores que agravam as dificuldades dos processos políticos. Em Dos meios às mediações, o autor espanhol Jesús MartinBarbero trata das dificuldades da política contemporânea diante dos efeitos da hipermidiatização que se desenvolveu nas últimas décadas, apontando o lugar estratégico ocupado pela mídia em nossa sociedade. Considera que esse processo transforma, entre outros cenários, o da política, provocando o que pode ser considerado como uma “situação de dissolução da realidade do político” nos seus padrões tradicionais, tornando-se elemento obrigatório nas discussões. sobre. as. novas. configurações. presentes. no. mundo. contemporâneo. (2003, p. 294). Ainda na abordagem dos efeitos da hipermidiatização sobre a política, Wolton destaca a contradição presenciada pelo cidadão, que vive entre a rapidez com que as informações chegam até ele e a lentidão ou a impossibilidade da ação política: o homem ocidental ampliou sua percepção do mundo sem, entretanto, ampliar sua capacidade de ação. Para ele, este é o ambiente em que se estabelece o fim das solidariedades coletivas, quando se acentua, no indivíduo, o sentimento de isolamento. O homem público, da mesma forma, tem seu espaço modificado pela ação do especialista da comunicação, que passa a atuar cada vez mais com maior alcance. Ao mesmo. tempo,. as. estruturas. militantes,. sindicais,. associativas,. comunitárias e políticas – que serviam de canais do exercício da cidadania – têm alteradas as suas significações, na sociedade contemporânea. Por outro lado, o autor destaca que não há democracia sem a presença dos recursos da comunicação, aí incluídas as mídias e as sondagens. Para ele, “a comunicação não é a perversão da democracia, é, antes, sua condição de funcionamento” (WOLTON, 2004, p. 197)..

(19) 18 Na abordagem dessa influência mútua, há entendimentos, como o de Octávio Ianni, que direcionam o olhar para o enfoque do que seria uma situação de “inversão” dos papéis, em que a comunicação leva a melhor sobre a política. Sob este ponto de vista, “a mídia subordina e absorve os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, os partidos políticos, sindicatos e outras entidades de representação social” (2000, p. 146). A partir dessa subordinação, estariam radicalmente alteradas as condições de realização da teoria e da prática política. Em lugar do líder capaz de reunir virtù e fortuna, descrito por Maquiavel, e do partido político que organiza e articula as demandas da sociedade através da conquista da hegemonia, apresentado por Gramsci, na era do domínio da comunicação, temos prevalecendo uma “entidade nebulosa e ativa”, o “príncipe eletrônico”, que expressa uma visão de mundo representativa dos blocos de poder que se articulam e predominam, seja em escala nacional, regional ou mundial. A ação da mídia “transforma mercadoria em ideologia, o mercado em democracia e o consumismo em cidadania, operando a formação de opiniões, sensações e preferências em mentes e corações” (IANNI, 2000, p. 146-149). Segundo esse entendimento, a mídia interfere na temática política, define a pauta, estabelece prioridades e exclui temas, implicando no risco de comprometimento do discurso e da ação política que passariam a estruturar-se a partir dos comandos da comunicação. Há, contudo, a justificar o presente estudo, uma outra nuance dessa complexa interação da comunicação com a política: uma ligação simbiótica. entre. ambas,. marcada. pela. interdependência. e. por. um. permanente embate. Há conflito e, ao mesmo tempo, entrelaçamento, numa tensão marcada por uma dinâmica alternância, que se apresenta, mesmo quando subentendida ou oculta. Assim, a questão ultrapassa a de identificar se, na cena sociopolítica, prevalece a política ou a comunicação. Fundamental é compreender essa ativa interação como objeto privilegiado de investigação pelas circunstâncias de conflito e complementaridade predominantes nesta relação de força existente entre as lógicas da informação, da opinião pública e da ação política. (RUBIM, 2000, p. 46)..

(20) 19 Quando se observa o perfil da comunicação em diversas disputas eleitorais recentes verifica-se que, enquanto se aprimoram os recursos técnicos e se amplia o uso dos instrumentos da comunicação e do marketing em geral, ganham menor relevo os elementos da política. Esta “irrelevância” da política face à comunicação é, porém, obra desta última, e/ou decorre de processos do domínio da própria política? Claro que está fora do alcance deste trabalho responder a esta pergunta, mas a sua simples formulação aconselha a analisar a comunicação sem lhe conferir, de saída – e intrinsecamente – um atributo neutralizador da política. A hipótese é que a neutralização não é “natural”, nem “necessária”. A própria idéia de representação que, no passado, identificava as classes sociais e os grupos e atores políticos, mostra-se hoje difusa (fala-se, hoje, em “crise da representação”), pois as estruturas sociais deixaram de manifestar-se de forma nítida. A diminuição da influência do conteúdo ideológico no discurso e na ação política e a falta de correspondência entre as estruturas sociais e os comportamentos políticos podem estar levando atores políticos a buscar a informação e a comunicação como elementos capazes de substituir as estruturas sociais e as possibilidades de expressão e manifestação da cidadania. Contudo, persisto na hipótese de que o deslocamento do espaço público – comícios, visitas e reuniões – para o espaço virtual não deve, necessariamente, implicar no deslocamento da política e dos partidos do centro da cena em que se desenrolam e são decididos os eventos da política. A partir desse posicionamento, os processos políticos e eleitorais poderiam seguir se constituindo em momentos de discussão e participação política e a comunicação, com seus agentes, técnicas e recursos, assumindo seu lugar como importante e poderosa ferramenta de divulgação e transmissão das idéias e propostas políticas. A memória do uso da comunicação na campanha de Waldir Pires, candidato vitorioso do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) ao Governo do Estado da Bahia, em 1986, despontou, em contraponto à maioria dos demais exemplos de campanha rememorados, como referência de um momento em que os pressupostos mencionados no parágrafo anterior.

(21) 20 ocorreram de forma privilegiada. A aposta é na idéia de que a comunicação e o marketing foram, naquela campanha, instrumentos de um processo político-eleitoral,. tendo. sido. utilizados. de. maneira. articulada. e. interdependente com a própria política, isto é, com os objetivos, interesses e conteúdo político dos discursos dos partidos e das candidaturas. E mais: que a estratégia de comunicação formulada a partir de uma estreita afinidade com as instâncias políticas e o novo formato organizacional utilizado na campanha, ao darem forma a uma proposta política que pretendia se contrapor ao modelo de governar vigente, inauguraram um conjunto de novos padrões de operação das campanhas eleitorais. Supõe-se, então, que esse novo modelo de planejar e realizar campanhas políticas – adotado, sobretudo, na Bahia, em meados da década de 1980 – com as novas configurações que dele se originaram, inclusive com a forte presença dos novos atores que agregam suas qualificações técnicas ao processo eleitoral de forma determinante, define novas formas de interação entre Política e Mídia. O meu interesse consistiu exatamente em analisar de que maneira esse novo modo de operação da comunicação política e todo o aparato que veio a ser inserido nas campanhas eleitorais contribuem na ampliação do alcance do discurso da candidatura sem refrear o conteúdo político. Na medida em que a análise da campanha de Waldir Pires para o Governo do Estado da Bahia, em 1986, mostrar que aquela campanha questiona, como um contra-exemplo, a idéia de que o avanço da comunicação necessariamente afoga a política, estará, a meu ver, justificada a escolha deste objeto de estudo e confirmada a hipótese de que a comunicação, além de contribuir na disseminação do discurso e das propostas do candidato, pode sim se constituir em instrumento de valorização da política, dos políticos e dos partidos. O fato de que o mesmo Waldir Pires já tivesse se candidatado, em 1962, ao mesmo cargo eletivo na Bahia, saindo derrotado, sugeriu um interessante parâmetro comparativo das duas campanhas, descontadas as diferenças de contexto. É que além dessas diferenças e das circunstâncias diversas de competição eleitoral apresentadas em cada um dos momentos,.

(22) 21 as duas campanhas do candidato foram, também, muito diferentes, do ponto de vista da comunicação. Também o fato de, apesar desses contrastes, o político Waldir Pires ter se mantido, em 1986, basicamente dentro do mesmo espectro políticoideológico em que se encontrava em 1962 – não havendo, assim, contradição de fundo entre os conteúdos políticos dos seus discursos, nos dois contextos –, permite recorrer à comparação para analisar o impacto dos novos meios e da nova estratégia de comunicação sobre os modos de realização das duas campanhas e avaliar até que ponto esses meios e estratégias determinaram o conteúdo do discurso e as prioridades políticas da campanha ou se apenas lhes proporcionaram nova forma de efetivação. O trabalho está organizado em quatro capítulos, iniciando-se pelo exame do cenário político e dos principais atores envolvidos na campanha eleitoral dos candidatos Waldir Pires e Lomanto Júnior ao Governo do Estado da Bahia, em 1962. A análise da forma de organização e de operação da campanha dos dois candidatos, da presença da comunicação e das maneiras utilizadas para propagação dos discursos foi utilizada como parâmetro de comparação em relação ao conjunto de definições conceituais e estruturais que o candidato Waldir Pires utilizou em sua campanha eleitoral em 1986, quando, representando o PMDB, venceu as eleições para o governo do Estado. As mudanças na conjuntura política ocorridas no Brasil por força da instalação do regime militar, em 1964, são observadas no segundo capítulo. Também a ampliação do sistema de telecomunicações promovida pelos governos militares e as formas peculiares de ocorrência das eleições entre os anos de 1965 e 1985 são abordadas como elementos de redefinição do contexto político brasileiro e como fatores de alteração no uso dos recursos de mídia nos processos políticos e eleitorais. O fim da ditadura e as novas relações que se apresentam no cenário político com a recuperação das liberdades democráticas e a restauração gradual do exercício da cidadania no Brasil, a partir do final da década de 1970, são, ainda, analisados nesse capítulo numa tentativa de demonstrar a estreita relação que se estabeleceu.

(23) 22 entre a restauração democrática e a ampliação do uso da comunicação na política. O exame das circunstâncias em que ocorreu a instalação da chamada “Nova República” e os principais fatos políticos que antecederam as eleições de 1986 mostra, no terceiro capítulo, de que modo a comunicação interferiu no desenrolar dos processos políticos que concorreram para o declínio do regime militar e o papel de crescente importância que os meios de comunicação já desempenhavam naquele momento. No capítulo quatro, é analisada a campanha eleitoral de Waldir Pires ao Governo do Estado da Bahia, em 1986, e as estruturas e formas de organização adotadas naquele pleito. A análise das peças publicitárias utilizadas na campanha e os depoimentos de políticos, publicitários e produtores apresentam um detalhado perfil do aparato de equipamentos usados pela equipe de profissionais envolvida no trabalho. O estudo dos conteúdos e dos roteiros dos comerciais e programas de rádio e televisão foi prejudicado em razão da inexistência de arquivos do material veiculado. Por outro lado, o elenco de peças gráficas é apresentado como elemento de ilustração da diversidade de cartazes, brindes e anúncios que foram produzidos obedecendo a um rigoroso padrão visual de identificação do conceito da candidatura. Por fim, apresento, a título de conclusão, os resultados das análises comparativas dos pleitos de 1962 e 1986, momentos em que a comunicação se situa, no campo da política, de maneira bastante diversa, em razão das diferentes realidades no plano do avanço tecnológico e da conjuntura política e social..

(24) Capítulo 1. O AMANHECER DO PÓS-GUERRA E A ELEIÇÃO DO GOVERNADOR DA BAHIA. O exame das campanhas dos dois principais candidatos ao Governo do Estado da Bahia nas eleições de 1962, Antônio Lomanto Júnior e Waldir Pires, procedido neste capítulo, serve a dois objetivos: primeiro, o de reunir elementos comparativos que fortaleçam, pelo contraste com a campanha de 1986, o argumento, desenvolvido nos capítulos seguintes, de que esta última campanha introduziu um novo padrão de comunicação política que, além de superar os estreitos limites institucionais e de mercado fixados durante o regime militar, o fez sob formas inéditas. O segundo objetivo é evidenciar a idéia – também desenvolvida nos próximos. capítulos. –. de. que. comunicação. e. estratégia. política,. influenciando-se mutuamente, são, em ambos os cenários, balizas do comportamento dos candidatos e dos discursos de suas campanhas. O fato de termos, entre as duas eleições, por um lado, conjunturas e regras díspares e diferenciados graus de tecnologia de comunicação e, por outro lado, a presença comum de Waldir Pires como candidato (derrotado em 1962, vitorioso em 1986) permite um tipo de comparação que distingue, na análise da campanha de 1986, o que foi, de fato, inovação da comunicação e o que foi adaptação desta à conjuntura política. Durante a campanha eleitoral de 1962, na Bahia, a comunicação política. teve. de. lidar. não. somente. com. limites. tecnológicos. e. de. planejamento, mas com um quadro de disputa no qual muitas ambigüidades.

(25) 24. envolviam as duas candidaturas e seus respectivos campos políticos, em contraste com a nitidez maniqueísta do contexto de 1986. A ambigüidade, num caso, e a nitidez, no outro, não resultavam apenas de aspectos da política estadual. Veremos que a política nacional influenciou a comunicação política de modo diferenciado, nos dois momentos. Do momento 1962, tratarei a seguir. O resultado da Convenção da União Democrática Nacional (UDN) na qual Jânio Quadros, com a ajuda do governador da Guanabara, Carlos Lacerda, obteve a legenda do partido para disputar a eleição presidencial de 1960 desfez os planos do governador baiano, Juracy Montenegro Magalhães de chegar à Presidência da República. Juracy Magalhães, personagem de destaque entre os quadros da UDN, assumiu a opção militar alcançando a patente de General. A política, entretanto, manteve-se como a ocupação central de sua vida pública desde que, após a “Revolução de 30”, com apenas 26 anos de idade, foi indicado, pelo Presidente Getúlio Vargas, interventor na Bahia, em setembro de 1931. Tornando-se vitorioso nas articulações com as forças políticas que resistiam à chegada de um interventor estranho à política local, aproximouse dos “coronéis” do interior, assegurando, assim, os apoios necessários para firmar a sua condição de líder da política estadual. Em 1933, fundou o Partido Social Democrático da Bahia (PSD), em cuja legenda, em 1935, foi reconduzido ao comando do Estado como governador eleito pela Assembléia Constituinte, em disputa na qual derrotou Octávio Mangabeira. Apoiou Vargas até 1937, quando renunciou ao governo da Bahia por discordar dos planos do Presidente de continuar no cargo após a conclusão do seu mandato. Reaproximou-se de Getúlio, no segundo governo, sendo nomeado presidente da Companhia Vale do Rio Doce e, logo depois, adido militar nos Estados Unidos. Em 1954, presidiu a Petrobrás e, neste mesmo ano, elegeu-se Senador representando a UDN baiana. Em 1958, após duas gestões do PSD na administração do Estado da Bahia, Juracy Magalhães, que havia apoiado Antônio Balbino, em 1954,.

(26) 25. derrotou José Pedreira de Freitas, candidato oficial do PSD e o dissidente do partido do governador, Tarcísio Vieira de Melo.1 Na avaliação do Governador da Bahia, as articulações que envolviam, em 1960, a sua pré-candidatura à Presidência contavam com fortes apoios, inclusive de lideranças do PSD, como o Presidente Juscelino Kubitschek que pretendia angariar o apoio da UDN para retornar ao poder, nas eleições de 1965. Para Juracy, seu nome representava uma opção natural na conjuntura favorável que se apresentava: o PSD estava no poder e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) já tivera Getúlio Vargas no exercício do cargo, por longos períodos. Era, portanto, a vez da UDN. Entretanto, Jânio Quadros, que havia deixado o governo de São Paulo para concorrer à convenção do partido, obteve – com a ajuda do governador da Guanabara, Carlos Lacerda – dois terços dos votos dos delegados udenistas, vencendo o “encontro da esperança com o desespero”, como definiu Afonso Arinos ao apresentar a candidatura do governador baiano. (GUEIROS, 1996, p. 296306). Apesar de ter alertado as lideranças da UDN sobre o que lhe parecia arriscado na instável figura do ex-governador paulista e de considerar-se traído pelo partido, Juracy Magalhães apoiou Jânio, na Bahia, contribuindo para a obtenção da extraordinária marca de 5 milhões 636 mil e 623 votos que o levou à Presidência, em 31 de janeiro de 1961. Após sete meses no exercício do cargo, o Presidente Jânio Quadros renunciou, gerando grave crise político-institucional. (JORNAL DO BRASIL, 1989, p. 65). A derrota na convenção udenista e, posteriormente, a renúncia do Presidente redefiniram, de maneira determinante, as perspectivas da trajetória do General Juracy, influenciando, conseqüentemente, os rumos das eleições baianas, em 1962, quando Juracy transmitiu o Governo da Bahia ao Presidente do Tribunal da Justiça, Adalício Coelho Nogueira, para. 1. Juracy Magalhães, 360.746 votos (48,71%); Pedreira de Freitas, 264.874 (35,76%); e Vieira de Melo, 114.962 (15,52%). (SAMPAIO, 1960, p. 55)..

(27) 26. concorrer na disputa por uma vaga para o Senado, representando o Estado da Guanabara, a convite do Governador Carlos Lacerda2.. 1.1. A BAHIA NOS ANOS 1960: VOTOS E VOTANTES. Em início dos anos sessenta, o Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontava uma população de 6 milhões e 234 mil baianos, sendo o eleitorado do Estado composto de 1 milhão, 206 mil e 453 eleitores, representando apenas 19,35% do total de habitantes. (BRASIL, 1964, v. 6). O perfil desse eleitorado, a origem e a importância das principais lideranças com influência política no período, as legendas partidárias com registro legal e as formas de utilização dos instrumentos de comunicação pelos candidatos e seus correligionários serão analisados aqui como pressupostos para um melhor entendimento da conjuntura em que se realizou a eleição para o Governo do Estado da Bahia, em outubro de 1962. Nelson de Souza Sampaio, em estudo elaborado sob o título “O diálogo democrático na Bahia” no qual busca, de maneira detalhada e abrangente, analisar o cenário em que se desenrolaram as decisões políticas e eleitorais, na segunda metade da década de 1950, no Estado da Bahia, observa a disparidade existente entre o contingente populacional e o número de eleitores, que é vista pelo autor como resultado do alto índice de analfabetismo vigente no Estado, naqueles anos. Em sua pesquisa, cita o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro como exemplos de estados com menor população do que a Bahia e que, entretanto, possuíam índices de eleitorado superiores àqueles verificados no censo baiano. (1960, p. 35). Ainda, a densidade eleitoral no interior da Bahia é constatada através dos resultados do pleito de 1958 que revelam a concentração do 2. Juracy Magalhães ficou em terceiro lugar na disputa. Ainda em 1962, declarou seu desencanto com a política e não voltou a participar de eleições. Em 1964, envolveu-se na conspiração que derrubou o governo de João Goulart. Com o General Castelo Branco no poder, foi embaixador brasileiro nos Estados Unidos e, também, ocupou os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores. Em 1986, na Bahia, manifestou seu apoio à chapa do PMDB na qual Waldir Pires concorreu ao Governo e seu filho, Jutahy Magalhães, ao Senado. Fixou residência no Rio de Janeiro, permanecendo distante da cena política. Faleceu em Salvador (BA), em maio de 2001, aos 96 anos. (Fundação Getúlio Vargas)..

(28) 27. eleitorado baiano no interior, onde foram depositados 82,85% dos votos daquele pleito, sendo que, em Salvador, encontravam-se apenas 17,15% dos baianos aptos a exercer o direito do voto. (SAMPAIO, 1960, p. 68). Da avaliação do quadro partidário, identifica-se que, apesar de amplo, três legendas concentravam o poder na Assembléia Legislativa (AL), reunindo dois terços da representação: o PSD detinha dezenove cadeiras, a UDN, doze, seguidos do Partido Republicano (PR), com dez deputados. Os sete demais partidos dividiam as dezenove cadeiras restantes3. Essa fragmentação – de um terço dos votos para o legislativo estadual distribuído em diversas legendas – é considerada por Sampaio como. um. fator. de. estímulo. ao. que. denominou. de. “favoritismo. administrativo”. Para ele, o governante, ao relacionar-se com as pequenas bancadas, criava facilidades para a composição de seu bloco parlamentar de apoio,. convertendo. a. múltipla. representação. em. instrumento. do. clientelismo. (SAMPAIO, 1960, p. 76-77). Da análise das inúmeras possibilidades de motivação para a decisão do voto, pode-se destacar os perfis definidos por Sampaio, que observa que a maior ou menor incidência de cada um dos tipos dependerá da região e da localização do eleitor na zona urbana ou na rural.. [Há] três tipos principais de eleitor na atual realidade brasileira: o eleitor indiferente, o tutelado e o independente. O primeiro não tem motivo algum para votar; o segundo adota passivamente um motivo alheio; o terceiro possui motivação própria. (SAMPAIO, 1960, p. 36, grifos nossos).. Sobre a configuração do sistema partidário, discorre Sampaio acerca da ausência do caráter ideológico como marca dos partidos políticos em funcionamento naqueles anos. O incipiente componente doutrinário dos partidos estaria, segundo ele, diretamente relacionado com a maioria de 3. Dos sessenta integrantes da Assembléia Legislativa da Bahia, dezenove deputados elegeram-se abrigados em partidos com pequenas bancadas: Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), quatro deputados; Partido Social Progressista (PSP), dois deputados; Partido Democrata Cristão (PDC), três deputados; Partido Libertador (PL), três deputados; Partido Social Trabalhista (PST), dois deputados; Partido de Representação Popular (PRP), dois deputados; e Partido Trabalhista Nacional (PTN), três deputados. (BRASIL/TSE, 1966, v. 4, p. 57)..

(29) 28. eleitores dos tipos indiferente e tutelado. Embora identifique uma “fraqueza do sentimento partidário”, o analista refere-se à existência de uma “espécie de tradição partidária”. Por fim, há registro da contaminação do “diálogo entre candidato e eleitor” por meio de diversas formas de falsificação como a compra de votos, a troca por emprego ou favores, além de alterações de atas e boletins. O estudo aponta, ainda, várias formas de violência e coação contra os eleitores, levados a votar nos candidatos indicados por seus patrões, além de roubo de urna de votação e de alteração nas contagens de votos nulos e válidos. (SAMPAIO, 1960, p. 45-52). Também os custos financeiros das campanhas estão no foco do exame do professor e ex-deputado, Nelson de Souza Sampaio. O uso do poder econômico, superando o prestígio e as articulações da política, assumindo relevo na definição das eleições, apresenta-se como fator significativo e, de acordo com as análises de Sampaio (1960) já despontava, àquela época, em movimento ascendente.. 1.2. 1962: ELEIÇÕES PARA O GOVERNO DO ESTADO. 1.2.1. LOMANTO JÚNIOR AVANÇA SOBRE A UDN. Na sucessão ao governo da Bahia, Juracy apoiou Antônio Lomanto Júnior. cuja. candidatura. fora. lançada. por. prefeitos. baianos,. seus. representados na Associação Brasileira de Municípios. Essa escolha, contudo,. não. simbolizava. a. opção. preferencial. do. Governador. que. desenvolveu esforços, sem êxito, para a obtenção do consenso das forças políticas em torno de um nome que as aglutinasse e que representasse a pretendida “pacificação” em prol dos interesses da Bahia. O prefeito da cidade de Jequié, Antônio Lomanto Júnior, valendose da sua influência como presidente da entidade que congregava os prefeitos do interior – ávidos por construírem um canal de expressão dos seus interesses, em um cenário político no qual prevaleciam personagens ligados a grupos já tradicionais nas disputas eleitorais do Estado –, lançou a sua pré-candidatura. Até chegar à definição, na Convenção da UDN, a luta.

(30) 29. para obter o apoio do Governador Juracy Magalhães e pela legenda partidária foram os primeiros desafios do jovem prefeito que apresenta, no relato a seguir4, a sua versão, de seus primeiros passos até a vitória nas eleições para o Governo do Estado, em outubro de 1962:. Meu líder era Aloísio de Carvalho Filho, da UDN; era meu grande amigo que me orientava e me inspirava. Mas o Partido, também, arranjou um candidato; queria ter um candidato. Havia vários nomes, entre eles, o meu querido amigo Josaphat. Aí eu fiquei numa situação difícil, só tinha o PRP que era o partido de Plínio Salgado. O deputado Cunha Bueno, meu compadre de São Paulo, conseguiu a legenda do PRP para mim, mas não tinha peso. Eu não teria condição de ganhar; aí então Clemens Sampaio, que era o presidente do PTB e meu amigo, de temperamento difícil, me chamou [...] havia vários nomes mas nenhum com maior destaque. Do PTB mesmo, não tinha; tinham vários nomes que o PTB apoiaria [...] O PTB estava, naquela época, unido com o PR, com o Manoel Novais. Os dois tinham se tornado aliados e tinham feito um compromisso: apoiariam, juntos, o mesmo candidato. Clemens, então, tomou a frente e disse: ‘Você, agora, é o candidato, por cima de tudo, no PTB. Quem manda na Bahia sou eu’; aí chamou o Manoel Novais, que também tinha vontade de ser candidato, e conquistou o apoio de Novais; aí eu fiquei fortíssimo. Fui ao Juracy, que era o Governador e líder da UDN. A princípio, ele disse que não ia me apoiar: ‘Eu tenho feito candidatos e depois eu me arrependo. Você é um menino, como é que um menino pode ser governador?’. Eu, então, lhe disse: ‘O senhor foi interventor da Bahia quando era garoto. Na sua dificuldade, eu vou ser a sua solução’. Então, o governador me disse: ‘Tem me acontecido muita bobagem, pode me acontecer mais esta’. (LOMANTO JÚNIOR, 2006).5. Lomanto tratou de ampliar os apoios às suas propostas e logrou resultado positivo tendo seu nome reforçado com o anúncio de que o PTB e o PR já teriam divulgado sua aprovação ao nome do candidato municipalista. O jornal “A Tarde”, de 2 de julho de 1962, à página 3, reportou a decisão dos udenistas: A UDN fixou-se no nome do candidato ao governo durante a própria convenção, ao receber dos Srs. Clemens Sampaio e Manoel Novais a comunicação de que PTB e PR apoiavam o Sr. 4 5. Entrevista concedida à pesquisadora em Salvador, em maio de 2006. A transcrição dos depoimentos obtidos em entrevistas realizadas pela pesquisadora serão representados neste trabalho sempre em itálico..

(31) 30 Lomanto Júnior e propunham a aceitação do mesmo pela UDN. Coordenado o nome do prefeito de Jequié, foram-lhe dados, na votação, 192 sufrágios. (A TARDE, 2 jul. 1962, p. 3). Em Tradição, autocracia e carisma: a política de Antônio Carlos Magalhães na modernização da Bahia (1954-1974), Paulo Fábio Dantas Neto traça os contornos da coligação articulada para dar sustentação à candidatura de Lomanto, que contava com a força dos prefeitos e da Associação Brasileira de Municípios e que passou a agregar, também, o apoio do Governador, reunindo. [...] partidos rivais nos planos nacional e local, o PTB e a UDN. Candidato comum de Juracy e Jango foi também apoiado pelo PR de Manoel Novais, por quase toda a tradição autonomista, ainda reunida no PL, e pelo pequeno PRP, legenda que abrigava ex-integralistas. (2006, p. 162-163).. O autor, nesta mesma análise, conclui que:. A amplitude da aliança lomantista media-se pela reunião de dois dos principais adversários de Balbino em 54 (o autonomismo e o PR) a seus dois maiores aliados de então, a UDN e o PTB. Daí ser ingênuo ter o lomantismo como mero fenômeno sertanejo. (DANTAS NETO, 2006, p. 163).6. O candidato, que anunciava o avanço do interior para a capital, além do apoio destas importantes forças políticas, contou com a decisiva adesão da Igreja Católica7 à sua candidatura, através da Aliança Eleitoral pela Família (ALEF) criada com a finalidade de orientar os votos dos fiéis, que difundia suas pregações em favor da candidatura do ex-prefeito. 6. 7. Chama-se aqui de tradição autonomista (da qual faziam parte políticos de perfis variados como Luís Viana Filho, Nestor Duarte, Josaphat Marinho e, no início de sua carreira, o próprio Lomanto Júnior) um campo político cujo esteio na área da comunicação era o Jornal A Tarde que já não se apresentava, nos anos 1960, sob esta denominação. Guardava, com variações, relação com o tradicional liberalismo da elite baiana que, durante os anos 1930, fez oposição a Getúlio Vargas e ao seu então delegado político no Estado, Juracy Magalhães. Os ex-governadores José Joaquim Seabra, Octávio Mangabeira e o jornalista Simões Filho (todos já falecidos à época das eleições de 1962) foram os líderes fundadores desse campo político. O arcebispo Dom Augusto, o Cardeal da Silva, dirigente ultra conservador da Igreja Católica na Bahia comandou o veto à candidatura de Waldir Pires. (A TARDE, 6 set. 1962)..

(32) 31. Lomanto iniciou sua vida pública aos 21 anos, na eleição para a Câmara Municipal de Jequié, em 1946, pelo Partido Libertador (PL). Governou a cidade por três gestões (1951–1954, 1959–1962 e 1993–1996) e exerceu mandato de Deputado Estadual entre 1955 e 1958. Em 1965, após ter aderido ao Golpe Militar de 1964, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), legenda pela qual se elegeu Deputado Federal, em 1970 e 1974, e Senador, nas eleições de 1978, quando derrotou Rômulo Almeida, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1986, filiado ao Partido da Frente Liberal (PFL), disputou a reeleição ao Senado, sendo derrotado, juntamente com Félix Mendonça, pelos candidatos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Jutahy Magalhães e Ruy Bacelar. Na eleição anterior, em 1982, seu nome havia sido lembrado pelo Deputado Luís Eduardo Magalhães para integrar a chapa do Partido da Democracia Social (PDS) em substituição ao candidato Clériston Andrade8, sendo vetado pelo então governador Antônio Carlos Magalhães.. 1.2.2. A OPOSIÇÃO ESCOLHE OS SEUS CANDIDATOS. Ainda em julho de 1962, o Deputado Federal Waldir Pires e o exGovernador Antônio Balbino foram indicados pelo PSD para representar o partido na disputa pelos cargos de Governador do Estado e de Senador da República. Waldir Pires havia liderado a bancada estadual de apoio ao governo de Antônio Balbino e conquistara a legenda do PSD representando as “forças políticas mais implantadas nos centros urbanos do Estado” (DANTAS NETO, 2006, p. 162). Sua candidatura não encontrava discordâncias entre as principais lideranças pessedistas, contudo, o Partido Democrata Cristão (PDC), o Partido Trabalhista Nacional (PTN) e o Partido Social Progressista 8. Faltando poucos dias para o pleito de 1982, Clériston Andrade, candidato do PDS ao governo do Estado morreu, em acidente aéreo. No depoimento concedido em maio de 2006, o ex-Governador Lomanto Júnior relatou a insistência do Deputado Luís Eduardo Magalhães na indicação do seu nome para compor a chapa do PDS e o veto do então governador, Antônio Carlos Magalhães, que optou pelo ex-Prefeito da cidade de Feira de Santana, João Durval Carneiro..

(33) 32. (PSP), partidos reunidos ao PSD para formar sua coligação, tinham pouca representatividade. Por outro lado, a candidatura de Waldir atraiu apoios de lideranças próximas ao PTB, partido pelo qual se elegera deputado estadual, em 1954, na mesma campanha em que seu líder, Antônio Balbino, derrotara Pedro Calmon, na disputa pelo Governo do Estado. Essa aproximação lhe assegurava a adesão de alguns setores trabalhistas e do sindicalismo, contrários às decisões da cúpula partidária de aliar-se ao Governador Juracy Magalhães e apoiar o candidato Lomanto Júnior. Se a disputa pelos apoios do Governador e da UDN foi motivo de discordâncias nas hostes udenistas e entre os aliados de Juracy, a definição do candidato da oposição não rendeu tantas dificuldades: o ex-Governador Balbino havia apresentado, publicamente, o nome de Waldir como alternativa, posicionando-se contra a proposta do Governador Juracy. O Deputado Federal Waldir Pires, por seu turno, desde o início, afirmava a sua discordância em relação à articulação pretendida pelo Governador Juracy, que conclamava todos a se unirem em nome da pacificação, que deveria salvar a Bahia das dificuldades que lhe impediam o desenvolvimento econômico. Disposto a assegurar a sua candidatura, Waldir, jovem deputado do PSD, com origem política no movimento estudantil, nas ações da campanha “O Petróleo é nosso”, com atuação próxima aos posicionamentos mais à esquerda, inaugurou seu Comitê e se manteve firme no propósito de conquistar os apoios necessários à obtenção da legenda do maior partido de oposição naquele momento. Mais de quarenta anos depois, Waldir Pires9 se refere ao apoio recebido pelos cardeais do PSD como resultado de certo descaso e até de subestimação do processo eleitoral que se avizinhava: Houve um momento em que ninguém queria ser candidato e foi assim que a minha candidatura se consolidou. [...] A minha candidatura era vista assim: ‘Deixem esse negócio aí, se der certo, ótimo, se não der, nós faremos de qualquer forma uma grande bancada’. Eu fui candidato a governador cedo, com 34 para 35 anos [...] foi uma campanha muito bonita porque era uma campanha que tinha o apoio do partido em que eu estava 9. Entrevista realizada em Salvador, em dois momentos: a primeira parte no dia 12 de fevereiro de 2006 e a segunda em 18 de março do mesmo ano..

(34) 33 filiado, o PSD, que tinha posições mais progressistas, em algumas áreas, posições mais conservadoras, em outras, mas era um partido que tinha uma vocação de sensibilidade com as questões da população e com as questões dos setores mais conservadores, com o campo. Eu tinha sempre feito uma ação política de esquerda que, de alguma forma, tinha um certo apoio das personalidades mais importantes do PSD, como o deputado Balbino, o Vieira de Melo e o Oliveira Brito. (PIRES, 2006).. Josaphat Marinho, que pertencia aos quadros do PL, contava com grande prestígio nas forças liberais e com o apoio do Governador Juracy até o dia da Convenção da UDN convocada para escolher o candidato ao governo do estado nas eleições de outubro de 1962. Todavia, a despeito desta condição, à primeira vista, privilegiada, sua candidatura foi preterida pelas lideranças udenistas e dos partidos aliados. O apoio de Manoel Novais, líder do PR, e de Clemens Sampaio, do PTB, ao ex-Prefeito de Jequié, Lomanto Júnior – que já contava com a adesão dos deputados Jutahy e Juracy Júnior, filhos do Governador, sacramentou a derrota da candidatura de Josaphat Marinho. Jornalista do “Diário de Notícias”, em 1962, Antônio Guerra Lima10 retrata o quadro político do período anterior à convenção referida:. A campanha, no começo, se desenrolava em torno de Waldir Pires e Josaphat Marinho, que foi Secretário da Fazenda e da Justiça de Juracy Magalhães. Juracy queria Josaphat Marinho como candidato ao governo [...] O candidato da UDN, até no dia da convenção, era Josaphat Marinho. Quando Josaphat Marinho estava pegando o paletó para vestir e ir agradecer a indicação dele na convenção, veio a notícia para que ele não fosse porque a convenção ia indicar Lomanto Júnior, cuja candidatura havia sido articulada por Jutahy e Juracyzinho, os dois irmãos. Aí foi uma coisa assim inusitada. Foi uma bomba [...]. (GUERRA LIMA, 2007).. O PL, partido ao qual era filiado o candidato preterido, ficou dividido entre as candidaturas de Lomanto Júnior e Waldir Pires.11 Após a. 10 11. Entrevista realizada em Salvador, em 9 de maio de 2007. Em votação realizada na casa do deputado Luís Viana, os membros do Diretório do PL destinaram nove votos ao candidato Lomanto Júnior e cinco votos a Waldir Pires. Houve, ainda, dois votos em branco e uma abstenção. (A TARDE, 31 jul. 1962, p. 3)..

Referências

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