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A O POSIÇÃO E SCOLHE OS SEUS C ANDIDATOS

Capítulo 1 O AMANHECER DO PÓS-GUERRA E A ELEIÇÃO DO

1.1 A BAHIA NOS ANOS 1960: VOTOS E VOTANTES

1.2.2 A O POSIÇÃO E SCOLHE OS SEUS C ANDIDATOS

Ainda em julho de 1962, o Deputado Federal Waldir Pires e o ex- Governador Antônio Balbino foram indicados pelo PSD para representar o partido na disputa pelos cargos de Governador do Estado e de Senador da República.

Waldir Pires havia liderado a bancada estadual de apoio ao governo de Antônio Balbino e conquistara a legenda do PSD representando as “forças políticas mais implantadas nos centros urbanos do Estado” (DANTAS NETO, 2006, p. 162). Sua candidatura não encontrava discordâncias entre as principais lideranças pessedistas, contudo, o Partido Democrata Cristão (PDC), o Partido Trabalhista Nacional (PTN) e o Partido Social Progressista

8 Faltando poucos dias para o pleito de 1982, Clériston Andrade, candidato do PDS ao governo do Estado morreu, em acidente aéreo. No depoimento concedido em maio de 2006, o ex-Governador Lomanto Júnior relatou a insistência do Deputado Luís Eduardo Magalhães na indicação do seu nome para compor a chapa do PDS e o veto do então governador, Antônio Carlos Magalhães, que optou pelo ex-Prefeito da cidade de Feira de Santana, João Durval Carneiro.

(PSP), partidos reunidos ao PSD para formar sua coligação, tinham pouca representatividade. Por outro lado, a candidatura de Waldir atraiu apoios de lideranças próximas ao PTB, partido pelo qual se elegera deputado estadual, em 1954, na mesma campanha em que seu líder, Antônio Balbino, derrotara Pedro Calmon, na disputa pelo Governo do Estado. Essa aproximação lhe assegurava a adesão de alguns setores trabalhistas e do sindicalismo, contrários às decisões da cúpula partidária de aliar-se ao Governador Juracy Magalhães e apoiar o candidato Lomanto Júnior.

Se a disputa pelos apoios do Governador e da UDN foi motivo de discordâncias nas hostes udenistas e entre os aliados de Juracy, a definição do candidato da oposição não rendeu tantas dificuldades: o ex-Governador Balbino havia apresentado, publicamente, o nome de Waldir como alternativa, posicionando-se contra a proposta do Governador Juracy.

O Deputado Federal Waldir Pires, por seu turno, desde o início, afirmava a sua discordância em relação à articulação pretendida pelo Governador Juracy, que conclamava todos a se unirem em nome da pacificação, que deveria salvar a Bahia das dificuldades que lhe impediam o desenvolvimento econômico. Disposto a assegurar a sua candidatura, Waldir, jovem deputado do PSD, com origem política no movimento estudantil, nas ações da campanha “O Petróleo é nosso”, com atuação próxima aos posicionamentos mais à esquerda, inaugurou seu Comitê e se manteve firme no propósito de conquistar os apoios necessários à obtenção da legenda do maior partido de oposição naquele momento. Mais de quarenta anos depois, Waldir Pires9 se refere ao apoio recebido pelos

cardeais do PSD como resultado de certo descaso e até de subestimação do processo eleitoral que se avizinhava:

Houve um momento em que ninguém queria ser candidato e foi assim que a minha candidatura se consolidou. [...] A minha candidatura era vista assim: ‘Deixem esse negócio aí, se der certo, ótimo, se não der, nós faremos de qualquer forma uma grande bancada’. Eu fui candidato a governador cedo, com 34 para 35 anos [...] foi uma campanha muito bonita porque era uma campanha que tinha o apoio do partido em que eu estava

9 Entrevista realizada em Salvador, em dois momentos: a primeira parte no dia 12 de fevereiro de 2006 e a segunda em 18 de março do mesmo ano.

filiado, o PSD, que tinha posições mais progressistas, em algumas áreas, posições mais conservadoras, em outras, mas era um partido que tinha uma vocação de sensibilidade com as questões da população e com as questões dos setores mais conservadores, com o campo. Eu tinha sempre feito uma ação política de esquerda que, de alguma forma, tinha um certo apoio das personalidades mais importantes do PSD, como o deputado Balbino, o Vieira de Melo e o Oliveira Brito. (PIRES, 2006).

Josaphat Marinho, que pertencia aos quadros do PL, contava com grande prestígio nas forças liberais e com o apoio do Governador Juracy até o dia da Convenção da UDN convocada para escolher o candidato ao governo do estado nas eleições de outubro de 1962. Todavia, a despeito desta condição, à primeira vista, privilegiada, sua candidatura foi preterida pelas lideranças udenistas e dos partidos aliados. O apoio de Manoel Novais, líder do PR, e de Clemens Sampaio, do PTB, ao ex-Prefeito de Jequié, Lomanto Júnior – que já contava com a adesão dos deputados Jutahy e Juracy Júnior, filhos do Governador, sacramentou a derrota da candidatura de Josaphat Marinho.

Jornalista do “Diário de Notícias”, em 1962, Antônio Guerra Lima10

retrata o quadro político do período anterior à convenção referida:

A campanha, no começo, se desenrolava em torno de Waldir Pires e Josaphat Marinho, que foi Secretário da Fazenda e da Justiça de Juracy Magalhães. Juracy queria Josaphat Marinho como candidato ao governo [...] O candidato da UDN, até no dia da convenção, era Josaphat Marinho. Quando Josaphat Marinho estava pegando o paletó para vestir e ir agradecer a indicação dele na convenção, veio a notícia para que ele não fosse porque a convenção ia indicar Lomanto Júnior, cuja candidatura havia sido articulada por Jutahy e Juracyzinho, os dois irmãos. Aí foi uma coisa assim inusitada. Foi uma bomba [...]. (GUERRA LIMA, 2007).

O PL, partido ao qual era filiado o candidato preterido, ficou dividido entre as candidaturas de Lomanto Júnior e Waldir Pires.11 Após a

10 Entrevista realizada em Salvador, em 9 de maio de 2007.

11 Em votação realizada na casa do deputado Luís Viana, os membros do Diretório do PL destinaram nove votos ao candidato Lomanto Júnior e cinco votos a Waldir Pires. Houve, ainda, dois votos em branco e uma abstenção. (A TARDE, 31 jul. 1962, p. 3).

homologação das candidaturas, Josaphat Marinho foi convidado por Waldir Pires para integrar a chapa da oposição, ao lado de Antônio Balbino, na disputa pelas duas vagas ao Senado da República. Em entrevista realizada em fevereiro de 2006, Waldir Pires relata:

Nessa ocasião, eu queria que Nestor Duarte fosse candidato ao Senado ao lado do Antônio Balbino, ex-governador, que era um dos candidatos. O Balbino, entretanto, tinha uma preferência por Luís Viana. Eu achava que o Nestor era a figura mais representativa dos novos tempos, muito mais avançado. Suas aulas foram muito marcantes para nós todos da minha geração. O Balbino, por sua vez, não tinha uma boa relação com o Nestor e, reciprocamente, não se sabia se o Nestor aceitaria ou não compor conosco. Balbino, mais pragmático, achava que se fosse o Luís Viana o partido viria mais facilmente para a minha candidatura, inclusive. Eu estava na linha das mudanças essenciais, influência do amanhecer do pós-guerra. Eu indaguei ao Balbino: ‘E Josaphat?’ E o Balbino desmanchou: ‘O Josaphat está bem!’. E ele me autorizou a dizer que o apoiava. [...] Saí dessa conversa, na rua da Faísca, onde Balbino morava, telefonei para o Josaphat, que me recebeu na sua casa. Ele tinha sido derrotado como candidato a governador da convenção, estava numa situação bastante fragilizada; foi então um convite honroso. Ele elegeu-se Senador na minha chapa. (PIRES, 2006).

Além dos dois candidatos, representantes dos principais partidos e grupos políticos do Estado, surgiu a candidatura de Aristóteles Góes que, sob a legenda do Movimento Trabalhista Renovador (MTR), pretendia atrair os apoios e votos dos dissidentes do PTB que buscaram esta opção como forma de se manterem afastados da candidatura de Lomanto, oficialmente apoiada pelo Partido.

Nos depoimentos colhidos dos dois candidatos que polarizaram as disputas no pleito de 1962, vê-se a discordância nas avaliações: ambos conferem, ao adversário, vantagens sempre não admitidas em sua própria campanha. Lomanto Júnior nega o apoio dos governos federal e estadual, embora a sua candidatura tivesse o adesão do PTB, partido de João Goulart, Presidente da República, e da UDN, cujo líder de maior destaque era o Governador Juracy Magalhães.

Na entrevista já referida, Waldir Pires justifica algumas das razões apontadas como responsáveis pelo resultado do pleito de 1962:

Eu não tinha o apoio do Governador, não tinha o apoio de Luiz Viana, do PL. Eu me lembro, por exemplo, que o Brizola esteve aqui na Bahia e foi a um ato público extraordinário da nossa campanha. O povo inteiro gritava por Brizola, Brizola, Waldir, Waldir! E o Brizola não pôde dar uma palavra porque o partido dele estava apoiando a candidatura de Lomanto, que tinha apoiado sempre todas as posições contrárias às do PTB. Desde a campanha de 55, com a chapa Juscelino/João Goulart, em Jequié, o Lomanto fez campanha contra eles.

A mesma coisa aconteceu em 1960: nesse ano, eu fui fazer a campanha do General Lott e Goulart; e o Lomanto, prefeito de Jequié, de novo impôs derrota à candidatura Lott e Goulart. Em 62, Lomanto se torna candidato com o apoio de Goulart.

O Lomanto era um candidato fácil para as urnas do interior; era o candidato de todas as grandes forças políticas e, por último, tinha a máquina do Governo Federal. O Manoel Novais, chefe do PR, era a figura mais importante do Estado, depois do Juraci – era líder de votos. Era o Juracy, na UDN, e o Manoel Novais, no PR. A rigor, Lomanto contava com todos os partidos, exceto o PSD, que tinha uma boa base política e o movimento de massa, e a juventude – por isso, eu ganho as eleições em todos as urnas de Salvador, em todos os bairros. Entretanto, essa margem de votos não permitiu ultrapassar a maioria que vivia no interior, embora o PSD tivesse uma boa presença no interior com os prefeitos, mas sem a máquina estadual e federal [...] O PSD tinha uma base nas oligarquias, mas tinha uma tradição de trabalhar com o apoio dos governos federal e estadual. O PSD tinha tradição de ser o partido do governo, tinha sido uma criação de Getúlio Vargas, tinha bases rurais. Além de tudo, vale incluir, também, que, por outro lado, a força dessa campanha não superou o problema da repulsa da Igreja, decisivo naquela ocasião. (PIRES, 2006).

O ex-governador Lomanto Júnior, por sua vez, avalia que a renovação proposta no discurso que fundamentava sua candidatura foi o fator que concorreu, de maneira determinante, para a sua vitória, diminuindo o peso da participação dos seus apoiadores:

O Presidente Goulart não apoiou ninguém, mas financiou Waldir, dizem que financiou... e financiou através do Oliveira Pinto; e não deu uma palavra a meu respeito [...] Ele ficou neutro mas, por debaixo do pano... Ele não podia apoiar Waldir como Presidente da República se o próprio partido dele tinha candidato [...] Ao meu lado, estavam, apenas, Manoel Novais,

Clemens Sampaio, Jorge Calmon. Juracy foi embora, Juracyzinho, que participou da campanha, faleceu nas vésperas de eu tomar posse, suicidou-se... [...] Clemente Mariani representava as elites, o poder econômico e o poder político – ele foi Senador, Ministro da Fazenda, era dono do Banco da Bahia, [...] Um dia, ele me perguntou, eu já governador, como eu consegui me eleger sem a sua participação. Até então, tudo passava por essa elite financeira, os baianos quatrocentões, os Magalhães da época, que não eram nem de Antônio Carlos nem de Juracy, era a S. A. Magalhães, a maior empresa da Bahia. Quem financiou minha campanha foram os amigos, o comércio, eu não tinha nem tesoureiro; meu cunhado, que foi presidente do banco do estado era quem às vezes organizava [...] Quem assumiu o governo foi o presidente do Tribunal de Justiça, porque Juracy foi para o Rio de Janeiro se candidatar ao senado. A minha eleição foi a confiança que eu criei no meio do povo e a vontade do interior de comandar um dia; eu incuti no povo de que o interior precisava comandar o país, ter força para resolver os seus problemas e concentrar-se na capital [...] Hoje, mudou tudo, aqui para nós, modéstia à parte, fui eu quem criou aquela situação, levantou uma situação nova, foi uma situação que nunca se tinha visto na Bahia, um menino, prefeito do interior enfrentar toda a Bahia, o Balbino forte, o Waldir forte, o Waldir era o candidato mais forte da época e o Balbino também tinha muita força, tanto é que se elegeu senador, fácil, o Balbino se dava comigo mas não gostava de mim. (LOMANTO JÚNIOR, 2006).