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2 JUIZ DE FORA E A IMIGRAÇÃO ALEMÃ, SÉCULOS XIX E

2.4 VIVENDO EM JUIZ DE FORA: OS IMIGRANTES

2.4.1 Os alemães

Os primeiros alemães que chegaram a Juiz de Fora para trabalhar na Estrada União e Indústria, em 1856, eram trabalhadores especializados, técnicos e artífices. Esses primeiros imigrantes foram contratados pela Cia. União e Indústria, cujo proprietário era Mariano Procópio (ARANTES, 2000).

Segundo Bastos (1991), Mariano Procópio, em viagem para o exterior a fim de complementar seus estudos, conheceu a técnica de construção de estradas pavimentadas e interessou-se pelas possibilidades que uma estrada nesse formato representaria, tendo em vista a expansão que um empreendimento desse porte poderia alcançar. Os primeiros imigrantes contratados para construir a estrada foram alocados na Villagem, que era uma vila de operários da Companhia.

Um segundo momento da imigração alemã para Juiz de Fora ocorreu em 1858, também empreendido por Mariano Procópio, que, pretendendo criar uma colônia agrícola na região, contratou alemães com o objetivo de produzir alimentos para abastecer o mercado interno. O contingente de imigrantes dessa vez aumenta bastante. Dezenas de famílias chegam à cidade para serem encaminhadas à colônia (ARANTES, 2000).

Neste ponto da pesquisa, interessa-nos abordar os espaços de sociabilidade criados por esses imigrantes no momento de sua chegada. Posteriormente, prosseguiremos com os desdobramentos da imigração alemã até alcançar o contexto de criação da Festa Alemã e de valorização do Pão

Festa: cultura e sociabilidade na América Portuguesa. São Paulo: EDUSP, 2001. v. 1 e 2;

SOIHET, Raquel. A subversão pelo riso: estudos sobre o carnaval carioca da Belle Époque ao tempo de Vargas. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998.

Alemão como símbolo desse grupo. Salientamos que ambos são os centros das reflexões propostas neste trabalho de pesquisa.

Evidencia-se que uma das primeiras preocupações dos imigrantes alemães foi manter a tradição religiosa, lembrando que, mesmo que a maior parte das famílias fosse constituída por católicos, esses se uniram aos luteranos em torno de um objetivo comum: buscar um lugar onde pudessem se reunir para expressar sua fé. Assim, construíram, em 1861, uma capela de oração, para católicos e luteranos, localizada em uma região denominada Boa Vista (STEHLING, 1979).

Segundo o autor, em 1869, dando continuidade ao anseio de celebrar os ritos religiosos, os colonos criaram, com o auxílio de Mariano Procópio e da Companhia União e Indústria, o Culto Católico de Mariano. Essa ação foi empreendida pela necessidade de se contratar um padre que pudesse se comunicar com os colonos, que tinham, no idioma, uma barreira que dificultava as celebrações religiosas. Para tal, foi trazido da Alemanha o frei Américo Hoffer de Prags.

Arantes (2000) afirma que, entre as associações beneficentes que amparavam os imigrantes em suas dificuldades, destaca-se a Sociedade Alemã de Beneficência, fundada na década de 1870, e, durante o período da Primeira Guerra Mundial, tornou-se Sociedade Beneficente Mariano Procópio, e a Sociedade Beneficente Brasileira Alemã, fundada em 1895. Tanto uma quanto a outra prestavam auxílio financeiro e assistencialista aos imigrantes nos momentos de funerais, viuvez, invalidez, desemprego, entre outros.

A Sociedade Alemã de Beneficência era formada pelos imigrantes que vieram para trabalhar na construção da estrada e promovia, além das funções assistencialistas, festas, bailes e leilões como forma de fortalecer os laços de solidariedade entre o grupo e os demais trabalhadores da cidade. Além disso, essas festas alimentavam os cofres da Sociedade (GASPARETTO JÚNIOR, 2013).

As associações, segundo o autor, tinham grande importância para os trabalhadores imigrantes. A Deutscher Kranken-Unterstützungs-Verein, ou Sociedade Alemã de Socorros Mútuos, foi a primeira sociedade de auxílio mútuo criada na cidade. Em 1872, Augusto Kremer, Nicolau Scoralick,

Frederico Dose, Júlio Waltemberg, João Hees, Valentin Mechler, Henrique Griese, Jacob Hees, George Becker e Henrique Locwenstein iniciaram os trabalhos de atendimento médico, farmacêutico e financeiro a seus associados. Nesse sentido, esse era um espaço de solidariedade dos imigrantes, que ali podiam encontrar apoio.

As cervejarias também eram espaços de lazer, pelo fato de possuírem parques, jardins, salões destinados à realização de bailes, espaços abertos para a promoção de jogos recreativos e brincadeiras que propiciavam o encontro de toda a sociedade. Entre elas, destacava-se a Cervejaria José Weiss, que, aos domingos, abria seus portões para a realização de piqueniques, jogos e brincadeiras ao ar livre (OLIVEIRA, 1991).

Ainda sobre os espaços de sociabilidades, destaca-se o Turnerchaft, Clube Ginástico, que foi fundado por alemães, descendentes dos colonos da Colônia Agrícola Dom Pedro II, e tinha em seu emblema quatro “efes” que significavam: franco, firme, forte e fiel. O espaço ocupado pelo clube era o parque da Cervejaria Stiebler. As famílias que se reuniam ali podiam de divertir, jogando boliche, patinando, exercitando-se em aparelhos de ginástica ou em outras atividades de lazer propiciadas pela cervejaria (STEHLING, 1979, p. 335).

O Kegel Club de Juiz de Fora era outra oportunidade de lazer dos descendentes alemães luteranos. A ideia inicial era criar um clube para jogar boliche, mas, devido ao número de frequentadores da pista de boliche, João Krambeck, Albino Klueger, Germano Zahnn, Cristiano Horn, Henrique Surerus Sobrinho, Oscar Surerus e Felipe Kaehler ampliaram as instalações do Kegel, e, ao mesmo espaço, foram agregados um bar, um salão para a realização de festas e uma pista de jogo. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Kegel passou a ser conhecido pelo nome de “Sociedade Esportiva Jogo da Bola” (STEHLING, 1979, p. 335).

Na década de 1960, foi criado o Grêmio Folclórico Teuto-Brasileiro, em Juiz de Fora. Sua função inicial era organizar o Primeiro Festival de Chope, que ocorreria, exatamente, dois anos mais tarde, em 1969. A preocupação dos descendentes, no momento de criação do Grêmio, era sanar as carências do bairro Borboleta, que enfrentava, naquele contexto, dificuldades que não

mereceram a atenção do Poder Público. Nesse sentido, o Grêmio foi fundado e os descendentes dos alemães, por meio dele, deram continuidade à manutenção de suas tradições, pois o festival deu origem à Festa Alemã, que reúne e celebra a identidade do grupo até hoje21.