• Nenhum resultado encontrado

2 JUIZ DE FORA E A IMIGRAÇÃO ALEMÃ, SÉCULOS XIX E

2.4 VIVENDO EM JUIZ DE FORA: OS IMIGRANTES

2.4.3 Os italianos

O número de imigrantes italianos que chegaram a Minas Gerais, no final do século XIX, é bastante significativo quando verificamos a necessidade premente de mão de obra alternativa ao braço escravo. Dos 49.873 imigrantes que passaram nesse período pela Hospedaria Horta Barbosa, 44.511 eram italianos. Segundo Oliveira (1991), a atração da mão de obra imigrante foi consequência da preocupação dos fazendeiros de Juiz de Fora com a produção cafeeira.

Cumpre assinalar que, em todo o Brasil, esta era a tendência: buscar alternativas para colonizar as terras devolutas e substituir o trabalho escravo. Diante do agravamento do quadro enfrentado pelos fazendeiros, em razão da Abolição, o Governo Imperial começa a subvencionar a vinda de imigrantes, em 1887, no sentido de amenizar o problema de mão de obra na lavoura. A autora afirma que a chegada dos imigrantes italianos era uma medida necessária, a fim de não se perder a produção cafeeira, que estava em crescimento na Zona da Mata mineira. Observa, ainda, que apenas um pequeno número desses imigrantes fixou-se na zona urbana da cidade.

Sendo assim, entre os anos de 1860 e 1879, já era possível encontrar imigrantes italianos trabalhando no centro da cidade. Observando o período destacado, concluímos que, antes mesmo da política oficial de subvenção à imigração de 1887, os italianos ocupavam alguns postos de trabalhos na área urbana: eram mascates, negociantes, trabalhavam em armarinhos e no

comércio de móveis, sapatos, entre outros. Após 1890, aumenta o número de italianos trabalhando na zona rural da cidade (CHRISTO, 2000). A autora esclarece que, diante do grande número de imigrantes que chegavam à cidade após a Abolição da escravatura, Bernardo Mascarenhas criou, em 1888, em Juiz de Fora, a Associação Promotora da Imigração. A iniciativa de Mascarenhas demonstra sua preocupação com a manutenção da mão de obra nas fazendas, a qual, a partir daquele momento, seria constituída por trabalhadores assalariados.

A Associação reunia barões e grandes fazendeiros, que, junto ao Governo Provincial, negociaram a entrada de mais de 30.000 imigrantes na região, sendo que a grande maioria desses imigrantes eram italianos. Mas, para garantir a chegada desse grande contingente de imigrantes, foi necessário construir, em Juiz de Fora, um local para que eles ficassem alojados até serem encaminhados aos locais de trabalho que iriam ocupar. Assim, em 1888, foi criada a Hospedaria Horta Barbosa, que ocupava as terras da fazenda da Tapera, doada por pelo Coronel Custódio Silveira Tristão (CHRISTO, 2000).

A autora pondera que a organização da Hospedaria ficava a cargo da Inspetoria Geral da Imigração, também criada em 1888, com o objetivo auxiliar imigrantes e fazendeiros nos momentos que precediam a contratação. No entanto, a Inspetoria durou apenas um ano, pois uma grande parte dos imigrantes que chegavam à Hospedaria de Juiz de Fora pretendia receber terras do governo para que pudessem trabalhar. A criação das sociedades de auxílio mútuo acompanhou o mesmo movimento da imigração italiana para a cidade. Portanto, em 1878, houve a criação da Società Operaria Italiana di

Mutuo Soccorso e di Mutua Istruzione, cujo presidente, Francesco Antonio

Brandi, era natural de Salermo.

A Società Italiana di Mutuo Soccorso e Beneficenza Umberto Primo foi

fundada em 1887, com objetivo de ajudar os imigrantes, garantindo auxílio no caso de doenças, de desemprego, em casos de funerais, auxílio às viúvas e filhos do associado, em caso de falecimento. Para além das atividades assistencialistas, a Sociedade Umberto Primo realizou bailes, festividades que celebravam a cultura italiana por meio da culinária e das canções, sempre

presentes nas festas e nos diversos momentos destinados ao lazer (CHRISTO, 2000).

Segundo a autora, a presença de uma elite de empresários e comerciantes nas associações italianas era comum. A criação da União Italiana

Benso Cavour é um exemplo dessa afirmativa, pois possuía, entre seus

associados, membros dissidentes da Società Italiana di Mutuo Soccorso e

Beneficenza Umberto Primo, demonstrando que as tensões estavam presentes

também nas organizações criadas para auxiliar o grupo. Acrescenta que, entre as preocupações dos fundadores dessa última organização, estava a questão da língua, pois a comunicação dentro da sociedade se dava em italiano. Além disso, o nacionalismo estava impresso nos nomes de ambas as associações: Umberto Primo, Benzo Cavour e Príncipe de Piemonte – formada em 1900, por dissidentes da Umberto Primo – significando uma homenagem àqueles que lutaram pela unificação italiana.

A música, o lazer e a fé foram fatores importantes na manutenção da sociabilidade italiana no contexto da imigração para Juiz de Fora. Entre os espaços de sociabilidades dos italianos, a Irmandade de São Roque agregou grande número de adeptos da fé católica, sendo construída uma capela para as celebrações em torno dessa fé. Essa Irmandade foi criada em agosto de 1902 e reunia um grupo de imigrantes em torno da devoção ao Santo nas celebrações religiosas ocorridas na capela, localizada no Morro da Gratidão, hoje, Morro da Glória. Nas festas, toda a sociedade era convidada para se divertir entre os leilões, o pau de sebo, as bandas de música, os jogos, a queima de fogos, os balões, entre outros. Essas festividades eram importantes espaços de integração social (FERENZINI, 2010).

Entre o final do século XIX e início do século XX, como desenvolvimento urbano da cidade de Juiz de Fora, verifica-se que os imigrantes italianos destacam-se como investidores no setor imobiliário. Segundo Miranda (1990), os italianos formam o grupo que participa, de alguma forma, na nova dinâmica econômica de Juiz de Fora. São ex-fazendeiros que migraram para a área urbana da cidade, fazendeiros que diversificavam seus investimentos entre a produção de café, a pecuária e as indústrias inauguradas na cidade e, por

último, os imigrantes alemães e portugueses, todos envolvidos em atividades econômicas no centro urbano da cidade.

Entre os espaços de sociabilidade dos imigrantes italianos, destaca-se a Casa d‟Itália, que foi inaugurada em 1939, tornando-se o local de concentração da elite italiana que migrou para a cidade. Sua construção refletia a identidade fascista do período, que priorizava monumentos erguidos em torno do nacionalismo. Raphael Arcuri foi responsável pelo projeto da construção em região nobre da cidade. A Casa d‟Itália está localizada até hoje na Avenida Rio Branco, principal avenida da cidade. E, embora tenha sido fechada durante a década de 1930, atualmente, é possível aprender italiano através da realização de cursos e desfrutar de um restaurante de culinária italiana. Por tudo isso, a Casa d‟ Itália é reconhecida como centro da cultura e tradições italianas em Juiz de Fora (CHRISTO, 2000).