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Os códigos e a linguagem visual 

Aspectos lingüístico­visuais dos mapas 

2.4  Os códigos e a linguagem visual 

O  conceito  de  códigos  e  convenções  adotado  nesta  pesquisa  fundamenta­se  no  conceito  estabelecido  por  Kostelnick  e  Hassett  (2003),  que  entendem  os  códigos  e  convenções como constituintes da linguagem visual. Segundo os autores, muitos artefatos  materializam  códigos  convencionais  que  se  desenvolvem  ao  longo  do  tempo  e  que  se  influenciam reciprocamente. Algumas formas de desenho, por exemplo, operam dentro de  um  universo  de  códigos  convencionais  que,  com  exposição  contínua,  mediam

profundamente  nossa  interpretação  de  linguagem  visual.  Então,  interpretamos  desenhos  com  nosso  conhecimento  acumulado  de  formas  convencionais  –  bibliotecas,  shoppings,  igrejas,  computadores,  televisões,  roupas,  carros,  arranha­céus  –  e  nos  apoiamos  nessas  experiências  para  interpretar  novas  formas  com  as  quais  nos  deparamos.  Desse  modo,  conforme  os  autores,  as  convenções  fornecem  o  “fio  que  une”  nossas  experiências  de  percepção criando a estrutura que enfatiza e torna o desenho uma linguagem coerente. 

Códigos  convencionais,  segundo  os  autores,  aparecem  em  todos  os  lugares  nos  quais  encontramos  desenhos:  papéis  de  parede,  ventiladores  de  teto,  pratos,  cadeiras,  mesas,  cortinas  e  molduras  ao  redor  de  portas  e  janelas.  Incluindo  os  mapas  nessa  perspectiva,  observa­se  que  podemos  encontrar  formas  de  desenho  nesse  gênero  visual  como, por exemplo, algum desenho que lembre ou represente uma igreja que seja diferente  do  código  convencional  comumente  utilizado para  este  fim.  Ou  seja,  já  existem  códigos  convencionais  que  nos  são  familiares,  mas  isso  não  exclui  a  possibilidade  de  surgirem  novos  códigos  ou  novas  formas  de  desenho  para  representarem  a  igreja  ou  outros  elementos,  desde  que  essas  novas  formas  sejam  semelhantes  às  já  utilizadas,  para  que  ocorra o reconhecimento da igreja por meio do novo código empregado. 

As  convenções  manifestam  as  ações  dos  seus  usuários:  os  desenhistas  conscientemente  desenvolvem  desenhos  que  são  interpretados  pelos  leitores.  Os  desenhistas  e  os  leitores  são  tipicamente  correlacionados por  necessidades  e  experiências  compartilhadas e, como resultado,  ligam­se por um conhecimento partilhado dos códigos  que  usam.  Infere­se,  então,  que  o  conhecimento  é  construído,  fazendo  com  que  sejam  criados e adquiridos uma herança cultural e um vocabulário visual. 

A  mutabilidade  das  convenções  também  se  apóia  nos  seus  atributos  mais  comentados:  seu  vocabulário  visual  é  adquirido  por  usuários  –  tanto  os  desenhistas  que  posicionam  códigos  convencionais  e  como  os  leitores  que  os  interpretam.  Usuários  relacionam­se  em  práticas  convencionais:  algumas  vezes  através  de  treino  formal  e,  em  outras  vezes,  por  meio  de  um  processo  informal  de  socialização,  até  que  convenções  tornam­se  hábitos  da  mente.  Uma  vez  aprendidas,  as  convenções  atuam  em  um  serviço  inestimável  para  usuários,  fornecendo  a  coesão  que  torna  a  linguagem  visual  familiar,  acessível  e  imitável.  Para  os  desenhistas,  as  convenções  fornecem  uma  abundância  de  formas  prontas  que  podem  ser  adaptadas  às  situações  específicas;  já  para  os  leitores,  as  convenções fornecem atalhos interpretativos para fazer sentido. 

“Códigos  convencionais  são  vulneráveis  porque  eles  são  construtos  sociais  que  dependem  de  grupos  de  usuários  que  os  aprendem  e  os  praticam”.  (KOSTELNICK  &

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HASSETT, 2003, p. 24). Como falantes de dialetos e línguas verbais, usuários de línguas  visuais  são  membros  de  comunidades  discursivas  que  compartilham  experiências  semelhantes, necessidades e expectativas. Tais comunidades estimulam a força social que  molda a matéria­prima de linguagem visual para códigos convencionais e possibilitam aos  membros posicionar, interpretar e sustentar esses códigos como parte da iniciativa coletiva.  Para  tais  autores,  embora  comunidades  discursivas  desempenhem  um  papel  poderoso  na  formação da linguagem visual, a definição e coesividade dessas comunidades variam tanto  quando variam os níveis de consenso entre suas convenções. 

A  forma  como  entramos  em  comunidades  discursivas  e  participamos  de  seus  códigos convencionais também varia consideravelmente. Cada pessoa no planeta pertence  a uma ou outra comunidade visual discursiva ou, o que é mais provável, a muitas delas; a  algumas nós pertencemos simplesmente por assimilar códigos convencionais sem muito ou  nenhum  treino  formal  ou  reflexão.  Por  meio  da  experiência  adquirida  com  a  utilização  desses  códigos  convencionais,  entendemos  a  linguagem  visual  de  jornais,  tabelas  de  horários  de  ônibus,  e  sites  da  Internet  e,  por  conseguinte,  entendemos,  também,  a  linguagem visual presente nos mapas. 

Quando nos deparamos com elementos visuais, nós os interpretamos,  e agimos de  acordo  com  nossas  interpretações.  Conforme  as  falhas  ou  sucessos  de  nossas  ações,  refinamos  nossas  interpretações,  aplicando  a  versão  refinada  no  próximo  contato  com  outros elementos visuais. Depois de repetidos encontros com essas formas convencionais,  nós as assimilamos, sem  termos passado por treinos formais ou sem  termos consultado o  código.  Adquirir  fluência  na  linguagem  visual  é  parte de  nossa  educação  silenciosa –  na  escola, no  trabalho,  na  vida  – que  é  largamente  solitária,  mesmo em  cursos de  educação  geral, destacam Kostelnick e Hassett (2003). 

As convenções codificadas nas disciplinas fornecem uma linguagem visual coesiva,  porque  os  membros  do  grupo  dividem  estruturas  interpretativas  que  resultam  de  conhecimentos  compartilhados.  Ou  seja,  na  opinião  dos  autores,  nós  somos  educados  ou  nos educamos para nos tornar fluentes visualmente em nossas disciplinas. Essa fluência é  adquirida com a inserção dessas linguagens em comunidades discursivas, fornecedoras de  experiência  no  uso de  linguagens  visuais  que,  por  sua  vez,  apresentam  muitos  dialetos  e  registros  que  podem  ser  moldados  por  comunidades  de  discurso  de  usuários  desses  dialetos.  Nós  habitamos  apenas  um  número  limitado  dessas  comunidades  que  circunscrevem nosso domínio de práticas convencionais culturais, conforme os autores.

Usuários  circulam  pelas  comunidades  que  oferecem  a  coesão  social  para  manter  práticas  convencionais.  Sem  essa  coesão,  as  convenções  param  de  existir.  Nem  todos  os  indivíduos  pertencentes  a  uma  dada  comunidade  discursiva  apóiam  o  uso  da  linguagem  visual  dominante:  alguns  membros  do  grupo  podem  usar  formas  alternativas  e  outros  podem inventar as suas próprias formas de linguagem. 

Como foi dito anteriormente, nossa preocupação nessa pesquisa é com os modos de  representação  da  informação  contida  nos  mapas  selecionados,  que  têm  caráter  estático  e  constituem­se de elementos pictoriais  e  verbais.  Nesse âmbito, observamos de que  forma  as  linhas,  texturas,  cores  e  palavras  são  utilizadas  para  dispor  a  informação  de  forma  coerente,  portadora  de  sentido,  além  de  observarmos  como  se  dão  o  processo  de  nomeações em mapas e o emprego de códigos e convenções nesse gênero visual.

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Capítulo III