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3.2 – Os colaboradores que vieram do reino Casa e família.

No processo de preparação para a assunção da diocese, D. Frei Manuel Coutinho teve tempo para se rodear de um conjunto de colaboradores da sua confiança, conforme se depreende dos lugares de grande proximidade que atribuiu a alguns deles, os quais lhe viriam a ser muito úteis na implantação do seu programa reformista. Os elementos desse grupo de pessoas são frequentemente classificados pelo prelado como sendo da sua “família”, ou seus “comensais”, o que significa que

ARM, APEF, doc. 184, Carta citatória de éditos do bispo do Funchal, D. José de Sousa de Castelo

Branco contra D. Pedro Alves da Cunha, governador e capitão general da Madeira, por este haver interferido na jurisdição eclesiástica em relação a um caso de sevícias e divórcio que corria os seus trâmites no Tribunal Eclesiástico, mf. 735, fl. 3.

57 integravam sua “casa”, termo que na altura designava um conjunto de pessoas agregadas sob o patrocínio de alguém que lhes era superior e de quem se consideravam familiares126. Os indivíduos que se identificarão a partir de agora não constituíam toda a

casa do bispo, que integraria, naturalmente, uma outra série de elementos que o serviriam em funções não eclesiásticas, mas que nunca aparecem referidos na documentação consultada, pelo que é impossível reconstituir com rigor a totalidade desse círculo de servidores127. De qualquer modo, aquilo que aqui importa analisar é a

composição da equipa que acompanhou o prelado na sua vinda para a Madeira e cujas funções se revelaram importantes para o cumprimento do programa reformista do prelado, pelo que se começará por ver as suas peças mais relevantes: o vigário-geral e o director espiritual.

A primeira função foi atribuída ao Dr. Bernardo Rodrigues Nogueira, um canonista que estudara em Coimbra e era natural da vila de Santa Marinha, no bispado de Coimbra, onde nascera a 2 de Abril de 1695. Era filho de Manuel Rodrigues Nogueira e de Maria Rodrigues que “contratavão em lans”, sendo a mãe considerada uma mulher “muito rica”, o que explica que o seu rendimento pessoal fosse avaliado por um comissário da Inquisição em “mais de 2000 cruzados, ou um conto de réis”, e tinha dois irmãos religiosos, um na Companhia de Jesus e outro na Ordem Terceira de

126 O conceito de “casa” era, em 1732, definido por um dicionário espanhol como correspondendo a “La

gente que vive en una casa debaxo del mando del señor dela”, acrescentando ainda que “ca família es dicha aquella en que viven mas de dos homes al mandamiento del señor”, o que permite, desde logo, concluir que a existência de laços de sangue não é requerida pelo conceito. Por outro lado, e segundo Nuno Monteiro “Na época histórica a que nos reportamos, a casarepresentava um valor fundamentalpara (quase) todas as elites sociais”, pelo que faz todo o sentido que um bispo, como elemento de uma das mais poderosas elites do reino, se fizesse acompanhar por um círculo de colaboradores que não só reforçavam o seu estatuto social como lhe prestavam serviços relevantes. A definição do Dicionário de

lengoa castellana foi recolhida em António Manuel Hespanha, que o cita em “Carne de uma só carne:

para uma compreensão dos fundamentos histórico-antroplógicos da família na época moderna”, em

Análise Social, vol. XXVIII, Lisboa: 1993, p. 967. Ver ainda, sobre estes conceitos, José Damião

Rodrigues, São Miguel no Século XVIII: casa, elites e poder, Ponta Delgada: ed. Instituto Cultural de Ponta Delgada, 2003, vol. II, pp. 541-543. A citação de Nuno Gonçalo Monteiro, por sua vez, encontra-se em “Casa e Linhagem: o Vocabulário aristocrático em Portugal nos Séculos XVII e XVIII”, em Penélope,

Fazer e desfazer a História, Lisboa: ed.Cosmos, 1993, nº 12, p. 50. Este último entendimento pode,

ainda, ser complementado por José Pedro Paiva, “Definir uma elite de poder: os bispos em Portugal (1495-1777)”, em Optima Pars, Elites Ibero-americanas do Antigo Regime, Nuno G.F. Monteiro, Pedro Cardim e Mafalda Soares da Cunha (org.), Lisboa: Empresa de Ciências Sociais, 2005, pp. 47-48.

127 Para se ter uma noção do número de servidores que podia chegar a pertencer a uma casa episcopal, ver

José Pedro Paiva, “Um príncipe na diocese de Évora: o governo episcopal do cardeal infante D. Afonso (1523-1540), em Revista de História da Sociedade e da Cultura, nº 7 (2007), p. 127-174, pp. 8-9, embora, obviamente, não se possa perder de vista que a referida casa pertencia a um príncipe real e não serve de modelo para outros bispos de extracções e dioceses bem mais modestas. Outro exemplo da constituição de uma casa episcopal está em M. Gonçalves da Costa, História do Bispado e cidade de Lamego…, vol. V, p. 41, onde se descreve a de D. Nuno Álvares Pereira de Melo.

58 S. Francisco128. Concluiu os estudos em Junho de 1719 e, em 1720, habilitou-se e foi

admitido a familiar do Santo Ofício, não sem que antes se tivesse averiguado da existência de um filho que tivera, enquanto secular, de uma criada de casa dos pais. O Tribunal investigou a pureza de sangue da mãe e após ter concluído que era cristã-velha considerou o assunto irrelevante, pelo que o jovem Bernardo passou a integrar os corpos da Inquisição. Em Julho de 1725, já depois de ordenado, propôs-se para o lugar de comissário do Santo Ofício, e os inquiridores que se ocupavam do processo registaram, a 26 de Julho daquele ano, que lhes constara “que vay com a occupação de Vigairo Geral do Bispo do Funchal e assim nos parece sera util naquella Ilha aver Comissário com a graduação de Vigário Geral”129. Ainda antes de obter o lugar de

comissário, a 9 de Julho, já tinha sido apresentado numa conesia da sé do Funchal que vagara por morte do último possuidor, e 15 de Agosto seguinte foi provido nas ocupações de provisor, vigário-geral, juiz dos resíduos e habilitações de genere, atendendo a que o bispo tinha muita confiança na sua “capacidade e letras”130. A prová-lo, o bispo

continuava a querer entregar-lhe outros cargos, pelo que apresentou ao rei uma proposta para o seu provimento no lugar de mestre-escola, a qual foi aceite a 2 de Novembro de 1726.

Esta nomeação desencadeou, no entanto, uma feroz oposição da câmara do Funchal que a impugnou, com recurso ao tribunal da Mesa de Consciência e Ordens, o que teve como consequência que o lugar só fosse efectivamente assumido em Junho de 1731131. A edilidade funchalense foi, de resto, um dos maiores inimigos do Dr.

Bernardo Rodrigues Nogueira, a quem eram endossadas grandes responsabilidades em acções do bispo como se vê pela opinião emitida numa questão que envolvia uma carta, a pedir a celebração de uma novena de preces, enviada pelo Senado ao prelado e que ficou sem resposta: “Nesta regeiçam da carta dizem que foi por concelho de seu Vigário Geral assistente de Caza e meza com o dito Illustrissimo por despique de que este senado embargasse a nomeaçam que nelle havia feito da dignidade de Mestre Escolla de que corre letigio no Tribunal da Meza de Consciencia (…)”132. Por razões do

seu ofício, estava no centro de todos os processos movidos pelo juízo eclesiástico, o que não podia deixar de lhe causar dissabores, e atrair inimigos e admiradores. Os seus

128 DGARQ, TSO, CG, Habilitações, Bernardo, mç. 5, proc. 76, fls. 1-4. 129 Op. cit., fl. n. n.

130

ARM, APEF, doc. 27, Registo Geral da Câmara Eclesiástica…, fls 60-61.

59 detractores consideravam-no “a voz e a vara do Illustrissimo Senhor Bispo”, mas também se registavam elogios à sua actuação como o que resulta de uma resposta que deu ao provedor da fazenda no âmbito de um processo: “Nesta resposta como em todas deste Ministro se deixa tão bem ver o seu talento: tinha letras e singulares virtudes; tinha constancia e fortaleza em seguir a rezão e defender a justiça; tinha pulso que não torceo carregando sobre elle hum tão bravo mar de contradições”133.

Mas a carreira do Dr. Bernardo Rodrigues Nogueira não se resumiu ao desempenho dos cargos referidos. Na Madeira, para além de, por diversas vezes, ter visitado o bispado, ainda foi provido no lugar de arcediago, a 28 de Fevereiro de 1732, e quando D. Frei Manuel Coutinho foi transferido para Lamego, em 1471, o vigário- geral acompanhou-o e naquela diocese, por impedimento do bispo, foi governador do bispado. Seguiu depois para o arcebispado de Braga, onde voltou a ser vigário-geral, antes de finalmente ter sido nomeado primeiro bispo da diocese de S. Paulo, lugar que assumiu em 1746134.

Quanto ao cargo de director espiritual, ele foi entregue ao Dr. Frei Bonifácio de Faria, companheiro do prelado na Ordem de Cristo. No registo da sua nomeação para o chantrado, em 15 de Abril de 1734, diz-se que era filósofo e teólogo, natural de Ourém, e que, por ordem de Sua Majestade, acompanhou D. Frei Manuel Coutinho para o Funchal “aonde tem assistido, meu comensal vai para nove annos, nos empregos de Examinador Synodal, e do mais clero para confessores e Pregadores, Juiz das justificações de genere, meu Confessor e Esmoller, Parocho da minha Família, e director della e de muitas outras almas”, e foi nomeado chantre “por parecer que melhor servirá no Coro e bem das Almas, e por ser filho da Ordem, pessoa hábil não obstante a condição de Regular”135. Apesar de breve, esta enumeração das funções de

Frei Bonifácio permite, no entanto, perceber a importância fundamental deste homem. Em primeiro lugar ele era o confessor e director espiritual tanto do bispo como da sua

132 ARM, CMF, Livro 1219, fl. 82v. 133

ARM, APEF, doc. 270, Memorias dos acontecimentos…, fls. 234-235 e 51.

134 Para a nomeação no arcediagado, ver ARM, APEF, doc. 219, Registo das Nomeações…, fl. 65v. Para

os restantes dados biográficos, Fortunato de Almeida, História da Igreja…, vol II, p. 715. Na altura em que o Dr. Bernardo R. Nogueira foi indigitado bispo de S. Paulo, o cabido da Sé do Funchal recebeu felicitações pela promoção de um dos seus antigos membros. O reitor do colégio dos jesuítas no Funchal, o p. José Lopes, considerava-o homem de “talentos singulares, que sempre respeitei”, e o custódio dos franciscanos, Frei João de São José, dizia que por aquela nomeação “vemos remunerados dignamente os relevantes méritos e singulares virtudes de tão qualificado e cabal sugeito”. DGARQ, Cabido da Sé do Funchal, mç. 9, docs. 51, e 52, com as felicitações referidas.

60 família, e esta condição é fundamental para se avaliar o seu peso e relevância. D. Frei Manuel Coutinho era jacobeu, como já se disse, e para os membros daquela corrente doutrinal a figura do director espiritual revestia-se de um enorme significado, pois implicava que a pessoa a ser dirigida “se entregue toda nas suas mãos propondo (…) de lhe obedecer em tudo o que não for contra Deus e de lhe guardar suma fidelidade assim na clareza de consciência como na observância dos seus conselhos”136. Ora, esta

circunstância que a segunda máxima da jacobeia, “Ter uma total sujeição e obediência cega ao director”, ainda tornava mais clara, outorgava ao mestre espiritual, que habitualmente era o confessor, uma pesada responsabilidade na medida em que, sendo- o de um bispo, os conselhos que desse poderiam influenciar decisivamente a condução dos destinos da diocese137.

A confiança que D. Frei Manuel Coutinho depositava no seu confrade levou-o a delegar-lhe as funções de examinador sinodal, ou seja, a integrar o júri que presidia aos concursos para provimento de benefícios e tinha a obrigação de seleccionar o candidato mais apto, e ainda a de escolher os mais capazes para pregar e confessar em todo o bispado. A atribuição do chantrado é outra atitude reveladora da alta consideração que o prelado nutria por Frei Bonifácio, pois, para o fazer, prescindiu de nomear para o cargo um seu irmão de sangue que se tinha manifestado interessado. Sobre o assunto dizem as Memorias dos acontecimentos… o seguinte:

“Não deixou de ter as suas contradições este provimento pelas muitas pessoas de destinção que da Corte o procuravão, entre as quais foy hum Irmão do mesmo Prelado, a quem elle amava e devia muito, mas vendo que pelos lugares que occupava no Reyno não podia rezidir no Chantrado, e vendo tambem a grande reforma de que necessitava o coro da sua Sée por não ter Chantre rezidente havia muitos annos, se despio da carne e do sangue, e fez o tal provimento no sobredito religiozo como pessoa a quem fiava inteyramente a reforma”138.

Eis aqui mais um aspecto em que D. Frei Manuel Coutinho agiu de forma absolutamente distinta da do seu antecessor que, como atrás se viu, tinha entregado o

136

Frei Francisco da Anunciação citado por António Pereira da Silva, A questão do sigilismo…, p. 132. Sobre a importância do director espiritual, ver ainda Evergton Sales de Souza, Jansénisme…, pp. 195- 199.

137

António Pereira da Silva, A questão do sigilismo…, p. 81.

61 lugar em questão ao seu irmão, Manuel Pinheiro que, retido por outros afazeres no reino, nunca chegou a vir à Madeira.

Ao Dr. Frei Bonifácio de Faria foram designadas outras missões, como as de visitador do convento das Capuchas, do da Encarnação e do Recolhimento do Bom Jesus da Ribeira, para o que o bispo lhe dava toda a jurisdição necessária “como se por nós fosse vizitado”, sendo, talvez, de realçar que todos estes estabelecimentos se situavam no Funchal, o que poderia indiciar que o prelado não lhe confiava serviços que o pudessem afastar da cidade e privá-lo do conforto espiritual que o confessor lhe prodigalizava139. De todas as atribuições que lhe entregaram se saiu bem Frei Bonifácio,

graças, naturalmente “a singular prudência com que manejava todas as occupações referidas; porque nascião as suas operações do santo temor de Deos que nelle reynava”140.

Para além destas duas figuras centrais, há ainda várias outras que D. Frei Manuel trouxe e que merecem ser referidas, nomeadamente as duas que colocou no lugar de escrivães da Câmara, o qual também implicava um estatuto de alta confiança. Este lugar foi sucessivamente ocupado por dois familiares do bispo, Pedro Rodrigues Malheiro, bacharel em cânones pela Universidade de Coimbra e natural de Miranda, e António Mendes de Almeida, com o mesmo título universitário e nascido no bispado de Coimbra. O primeiro, Pedro Malheiro, estava, em 1729, preso no aljube em Miranda, acusado de, depois de ser admitido nas habilitações que a seu requerimento se tinham tirado em Miranda, se ter ausentado para o Funchal e de, no regresso, declarar que vinha “ordenado de Menores, Epistola e Evangelho (…) sem Reverenda deste Bispado, nem Letras testemunháveis, sem sentença, habilitação e património (…) e sem que para a dita recepção ouvesse precedido diligencia alguma das muitas que neste bispado se devião fazer”, pelo que se remeteu o assunto para o Funchal, para esclarecimento. Na resposta, já assinada pelo seu sucessor, se informa que o suplicante era “familiar triennal” do bispo, irmão de um padre da Companhia, e dotado de bens suficientes que tinha herdado dos pais. Adiantava-se também que o suplicante desejava muito servir a Deus como sacerdote e que, na pressa do embarque para a Madeira, não tinha podido pedir as reverendas do seu bispado, mas que, pelo privilégio

139

Os registos da nomeação para visitador dos conventos e do recolhimento estão em ARM, APEF, doc. 27, Registo Geral da Câmara Eclesiástica…, fls. 158-158v e fl. 184.

62 “de triennal familiar (…) pode por Vossa Illustrissima ser ordenado (…) concorrendo a necessidade e utilidade da Igreja que neste Bispado [do Funchal] he bem notoria, assim pela falta de sacerdotes principalmente formados, como por ficar o supplicante mais condecorado em ordem a exercer a sua actual occupação de escrivão da Câmara”141.

Além disso, acrescentava-se, também lhe convinha ser ordenado para poder ser confessor das freiras capuchas, função que lhe foi confiada em 1728. O bispo do Funchal confirmou, depois, que, a 2 de Maio de 1728, lhe conferira a prima tonsura e quatro ordens menores, seguidas da ordem de subdiácono a 23 de Maio do mesmo ano, fazendo-o, finalmente, diácono a 28 de Setembro142.

Ignoram-se as razões que teve o Dr. Pedro Rodrigues Malheiro para abandonar o bispado, mas sabe-se que foi prontamente substituído pelo Dr. António Mendes de Almeida, a quem o bispo chama seu “comensal”, e que na Madeira iniciou uma carreira que o levou da recepção de ordens menores a 4 de Outubro de 1726, até uma conesia na Sé, recebida a 31 de Outubro de 1738143. Pelo meio, ficaram os desempenhos de

cargos de procurador da Mitra, promotor, e visitador do bispado, função em que se distinguiu, pois segundo as Memorias dos Acontecimentos…era “homem de Deos talhado para semelhante emprego, porque sabe unir a mansidão e brandura, com indeclinável rezão de justiça, e faz tudo com muyto acerto, porque dirige as suas acções o santo temor de Deos, o qual as purifica de toda a arrogância e vaidade”144.

Ainda antes de receber a prima tonsura tinha sido nomeado síndico do convento das Mercês, logo a 14 de Outubro de 1725, estando, portanto, intimamente ligado ao acontecimento que marcou o início do contencioso do bispo na diocese, como se verá.

Da casa do bispo fazia, ainda, parte o padre Filipe de Oliveira Maia, natural de Sesimbra, que foi mestre-de-cerimónias, procurador do bispo e das igrejas do bispado e provido num benefício na colegiada de São Pedro, contra o que a Câmara também se

140 ARM, APEF, doc. 270, Memorias dos acontecimentos…, fl. 44v

141 ADF, cx. 56 B, doc.avulso com a requisitória do bispado de Miranda contra Pedro Rodrigues

Malheiro, de 30 de Agosto de 1729. fl. 2v e fls. 6-6v.

142

Op. cit., fls. 7, 8v e 9.

143 Para a recepção das ordens ver ARM, APEF, doc. 207, Livro de matrícula dos Ordinandos (1684-

1743), mf. 707, fl. 60v. Para o provimento na conesia, ver ARM, APEF, doc. 27, Registo da Câmara Eclesiástica…, fls. 172-172v, e também o doc. 219, Registo de Nomeações…, fl. 75.

63 insurgiu violentamente, movendo-lhe um processo no tribunal da Mesa145. Resolvida a

questão a contento da Igreja, o padre Filipe foi depois nomeado meio-cónego em 15 de Abril de 1739 e, em 1741, acompanhou o bispo na saída para Lamego, onde é referido na função de escrivão da câmara146.

Outro elemento da equipa episcopal era o caudatário do bispo, Manuel Freire de Fraga, natural de Carnide que, ainda antes de receber ordens de Epístola, foi apresentado num benefício em Câmara de Lobos, a 26 de Abril de 1726, contra o que mais uma vez o Senado se rebelou, acusando o prelado de ter provido o primeiro benefício que vagara num seu familiar, “estranho a esta Ilha e natural do Reyno”, situação que se agravara por ter voltado a apresentá-lo em “outro beneficio de maiores emolumentos na Vila de Santa Cruz”147.

A completar a casa de D. Frei Manuel havia ainda o padre Manuel de Santa Maria das Neves, nascido em S. Miguel da Pedreira, perto de Tomar, capelão e mestre- de-cerimónias, que ocupou diversos benefícios, o padre Bernardino de Sena Ribeiro, bacharel em Cânones por Coimbra, o padre Silvestre Raimundo Pimentel, natural de Azeitão e o padre Manuel de Jesus, de Loulé, todos colocados em benefícios, quer da Madeira, quer do Porto Santo, onde aparentemente deram boa conta de si, pois não há qualquer referência a situações anómalas148.

Para o fim ficou a excepção que confirma a regra de bom comportamento que caracterizou o grupo de familiares do prelado. Em questão está o padre José Xavier da Fonseca, natural de Vila Franca de Xira que “por ser benemerito e de boa vida e costumes” foi colocado como beneficiado na colegiada de Câmara de Lobos, em 9 de Maio de 1732. Em Outubro de 1733, apresentou-se a um concurso para vigário de Nossa Senhora da Piedade no Porto Santo, e, depois de aprovado, mudou-se para a ilha vizinha149. E foi aí que as coisas começaram a correr mal. Alguns indícios de

comportamentos desviantes surgem em 1738, com uma ordem do bispo para que se

145 ADF, cx 56 A, doc. 27, Carta de sentença tirada para conservação do direito da Ordem de Cristo em

que foram partes a Câmara do Funchal e o Padre Filipe de Oliveira Maia, sobre a nomeação deste para