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Infelizmente no Brasil, ainda prevalece a postura de que a conclusão de um plano é o final de uma etapa, quando na realidade trata-se do início do processo. A implementação do plano pode ser traduzida pela execução de suas propostas, o que permitirá atingir as metas previstas no mesmo. Para que seja possível alcançar esse objetivo é necessário que, logo após a elaboração do plano, seja iniciado o processo de acompanhamento da sua implementação e respectivas adequações necessárias.

“Entre 1990 e 2004 foram desenvolvidos aproximadamente oitenta planos de bacia (no Brasil), porém, não se sabe qual o significado e a efetividade desses planos, quais medidas foram implementadas, ou quais melhorias aconteceram com sua implementação.” (WWF-Brasil e FÓRUM NACIONAL DE COMITÊS DE BACIAS, 2005, p.23)

Neves & Cordeiro Netto (2005a), avaliaram o potencial de implementação das proposições de um plano, denominado de Efetividade Extrínseca, para um conjunto de

vinte planos de bacias e relataram que 75% da amostra analisada apresentou valor inferior a 50% para esse indicador.

Um painel de engenheiros da American Society of Civil Engineering (ASCE) sugeriu onze regras básicas para um bom plano, apresentadas por Campos & Sousa (2003) dentre as quais destaca-se a seguinte: “O plano deve ser implementável politicamente, tecnicamente, financeiramente e legalmente”. Em geral, os aspectos técnicos e legais são observados na elaboração dos planos. Contudo, os aspectos políticos e financeiros também devem ser acordados na ocasião da elaboração do plano, sob pena de inviabilizarem sua implementação.

4.7.1 - Principais fatores intervenientes na implementação dos planos de recursos hídricos

A partir da revisão bibliográfica realizada, foram detectados alguns fatores intervenientes na implementação dos planos de recursos hídricos que serão apresentados e discutidos a seguir.

4.7.1.1 - O planejamento de recursos hídricos e o planejamento territorial

Setti et al. (2001) alertam para a necessidade da integração do planejamento de recursos hídricos com o planejamento do desenvolvimento econômico-social e suas intervenções nos planejamentos global, setorial e regional, bem como os inevitáveis reflexos na política de ordenamento do território.

Muñoz (2000) enumera os principais zoneamentos de abrangência nacional: Zoneamento Ecológico-Econômico, Zoneamento Agroecológico (art. 19 da Política Agrícola – Lei nº 8.171/91) e Zoneamento Costeiro, definido como instrumento do Plano Nacional de Gerenciamento de Áreas Litorâneas – Lei no 7.661/88, abordando a necessidade do relacionamento esses instrumentos do ordenamento territorial e os de gestão de recursos hídricos.

Lustosa (2004) entende que a Política Nacional de Recursos Hídricos estabelece que não é possível tratar da água sem tratar do território e que a Lei nº 9.433/97 institui as agências e os comitês como organismos de planejamento e gestão da unidade territorial. A respeito do assunto, a autora alerta que “o planejamento regional ligado ao novo modelo brasileiro de gestão de bacia hidrográfica, está exigindo a formação de novas práticas de planejamento territorial e a abertura de espaço para uma política de planejamento mais sustentável e integrado”.

A experiência da bacia do rio Jiquiriçá – BA é relatada por Lustosa (2004), aonde o Consórcio Intermunicipal do Vale do Jiquiriçá busca a elaboração dos Planos Diretores Urbanos de todos os seus municípios de forma integrada e dentro de um contexto regional, porém sem ter encontrado ainda o apoio das instituições que deveriam estar interessadas nesta ação. A referida autora cita:

“O pressuposto básico, para que esta interação se dê sem a perda das identidades e autonomias municipais, é a formação representativa do Comitê e a participação e discussão aberta na elaboração e gestão do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Região, entendendo que este não deve limitar-se às questões restritas da água mas de toda a dinâmica territorial que influencia direta ou indiretamente em sua qualidade e quantidade.” (LUSTOSA, 2004, p. 5)

Granziera (2001) admite que o plano de bacia hidrográfica é um instrumento indireto de zoneamento do uso e ocupação do solo, identificando uma superposição de competências sobre essa matéria, já que cabe ao município o ordenamento territorial, conforme determinação da CF.

“O conteúdo do plano, na forma como fixada no art. 7º da Lei nº 9.433/97, não só pode estabelecer indiretamente um zoneamento da bacia hidrográfica – por conter a definição das prioridades de outorga assim como as propostas para criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção de recursos hídricos - como pode, também, alterar o uso e ocupação do solo, ainda que esse tema seja de competência municipal.” (GRANZIERA, 2001, p. 145)

Esse aspecto evidencia a importância da participação dos municípios no sistema de gerenciamento de recursos hídricos, aonde deverão ser feitas as devidas negociações no âmbito dos comitês de bacia hidrográfica.

Almeida (1999) cita que os planos de bacia hidrográfica são “fundamentalmente instrumentos políticos, que determinam a ação da Administração na gestão de recursos hídricos e também as políticas setoriais e de ordenamento de território”.

Tucci (2006) cita a fragmentação das gestões federal, estadual e municipal como um desafio à gestão dos recursos hídricos, especialmente os urbanos. A gestão dos recursos hídricos é federal e estadual, mas o município legisla sobre o uso do solo e meio ambiente. As companhias de água e saneamento são, na sua maioria, estaduais. Os planos de bacias não incluem os planos de saneamento ambiental (água, esgoto,

drenagem e resíduo sólido) de cada cidade, exceção para uma bacia de região metropolitana.

4.7.1.2 - O plano como um processo dinâmico

A Resolução nº 17/01 do CNRH define com clareza em seu art. 7º que os planos de recursos hídricos devem ser “... de caráter dinâmico, de modo a permitir sua atualização, articulando-se com os planejamentos setoriais e regionais e definindo indicadores que permitam a sua avaliação contínua ...”

Veiga da Cunha et al., apud Setti et al. (2001) descrevem as etapas do planejamento de recursos hídricos, conforme apresentado na figura 4.10. A referida figura caracteriza o processo dinâmico do planejamento, com revisão e atualização contínua através dos dados recolhidos na última etapa – controle de implementação do plano escolhido – que propiciará o confronto da realidade com o que foi programado e, a partir daí, adequá-lo a nova realidade.

Fonte: SETTI et al. (2001)

Figura 4.10 – Etapas do planejamento dos recursos hídricos.

Conforme Lanna (2004) “planejar é um processo contínuo de tomada de decisões e suas adaptações a um futuro incerto”. A figura 4.11, apresentada por Lanna (2004), ilustra os meios onde o processo se desenvolve ao longo do tempo: o meio social e político, o meio técnico e o meio deliberativo.

DEFINIÇÃO DE NECESSIDADES