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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.6 OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS E O PROCESSO EDUCATIVO

Potencializar novas aprendizagens pressupõe logicamente ultrapassar os limites da educação tradicional. Vencer as barreiras da compartimentalização das disciplinas significa adotar posturas desafiadoras na formalidade do ambiente escolar. Propor um olharensejando em práticas educativas dialógicas e interativas, interdisciplinares significa sair do lugar comum e buscar ambientes favorecedores de tais práticas. Nesse lance, ganham fôlego os espaços não formais.

Trabalhar nesse âmbito requer do educador um alcance mais abrangente sobre a reflexão de sua práxis cotidiana. Levar para o contexto escolar as temáticas da Educação Ambiental também devem perpassar por ambientes que não sejam só a sala de aula.

É fundamental a diversificação dos ambientes de promoção de conhecimentos, aquisição de informações, construção e interação de identidades, propiciadores de praticas sócio-culturais mais plurais. Nesse sentido é fundamental promover o seu

dinamismo transformador a partir da afirmação de diferentes sistemas educativos além do escolar.

Candau (2005) também entende que a educação não deve ser restrita à instituição escolar, propõe que ela seja diversa, aplicada em diferentes locais, e tempos, em uma multiplicidade de linguagens devendo ser legalmente aceita e incentivada.

Trilla (2008) nos alerta, no entanto que não devemos ignorar a importância da instrução escolar, mas buscar em uma educação mais amplae mais eficiente,tal como a que acontece no decorrer da vida, inspiração para práticas de ensino mais diversas dentro da instituição escolar. Embora a instrução escolar nem sempre consiga atender a todas as necessidades e demandaseducacionais,segundo Afonso(2001), é importante precaver-nos para que o campo da educação não formal não seja construído com base na negação da escola.

Corroborando com essas idéias, Marandino (2009), destaca que as práticas educativas em espaços não formais são possibilidades de ampliação ao acesso da população à cultura científica, quanto a sua participação nela, quando são articuladas aos espaços formais de educação, daí a relevância da articulação entre esses espaços educativos. É neste viés que discutiremos a importância das atividades que ultrapassam os muros das instituições escolares.

Jaume Trilla (2008) nos faz lembrar que desde muito tempo já existiam atividades educacionais em espaços não formais, mas somente depois do século XX que o termo educação não formal passou a ser utilizado como expressão pedagógica. Sua popularização data dos fins da década de 1960, com a publicação da obra The world education crisis, de Coombs, em que se discutia sobre as necessidades de práticas educativas além daquelas desenvolvidas no ambiente escolar. Sendo assim ele denominou essa práticas indistintamente deeducação ―informal‖ e ―não-formal‖.

[...] a "educação formal" compreenderia o sistema educacional altamente institucionalizado cronologicamente graduado e hierarquicamente estruturado que vai dos primeiros anos da escola primária até os últimos da universidade; a "educação não-formal", toda atividade organizada, sistemática, educativa, realizada fora do marco do sistema oficial, para facilitar determinados tipos de aprendizagem a subgrupos específicos da população, tanto adultos como infantil; e a educação informal um processo

que dura a vida inteira [...] por meio das experiências diárias e de sua relação com o meio (COOMBS apud TRILLA, 2008, p. 32-33).

Segundo Trilla (2008), é neste contexto que ganham forças os espaços não formais de educação a partir da metade do século XX, como ambientes complementares aos espaços escolares, o seu surgimento está ligado a uma série de fatores sociais, econômicos e tecnológicos, geradores de novas necessidades educacionais que suscitaram novas práticas pedagógicas extraescolares. São alguns desses fatores: a necessidade de inclusão de um crescente grupo marginalizados ao sistema educacional tradicional (mulheres, minorias étnicas, adultos, idosos etc); mudanças no mundo do trabalho que demandaram novas formas de capacitação profissional; as transformações advindas da urbanização, das relações familiares e demais aspectos da vida cotidiana, que exigiram novas instituições capazes de dar conta de funções educativas que eram realizadas informalmente pelas famílias; o surgimento de novos aparatos tecnológicos que possibilitam aquisição de novos conhecimentos fora do ambiente escolar; a crescente sensibilização da sociedade para necessidade de ações educativas para setores da população em conflito, marginalizados, deficientes entre outros.

Por estarem intrinsecamente ligados às questões sociais, os conhecimentos construídos em espaços não formais contribuem para construção de uma sociedade mais comum, preparando os cidadãos para vida, com experiências para enfrentar os obstáculos do cotidiano de um mundo em transformação.

Do ponto de vista da aprendizagem, vale a pena considerar as diferenças nas vivências de espaço e de tempo, assim como o contato com objetos/ambientes/experiências em um estudo do meio. Essas oportunidades podem proporcionar contatos particulares com o conhecimento, não somente potencializando os processos de aprendizagem que ocorrem nos contextos escolares, mas também possibilitando a compreensão de outras formas de ensinar e aprender conteúdos (MARANDINO, SELLES; FERREIRA, 2012, p. 147-148).

Nesse aspecto, para compreendermos com clareza o que seria um espaço não formal, recorremos a Jacobucci (2008) que nos diz que duas categorias podem ser sugeridas para compreensão do que seria um espaço não formal de Educação: locais que são Instituições e locais que não são instituições. Diz-nos a autora que

Na categoria Instituições, podem ser incluídos os espaços que são regulamentados e que possuem equipe técnica responsável pelas atividades executadas, sendo o caso dos Museus, Centro de Ciências, Parques Ecológicos, Parques Zoobotânicos, Jardins Botânicos, Planetários, Instituições de Pesquisa, Aquários, Zoológicos, dentre outros. Já os ambientes naturais ou urbanos que não dispõem de estruturação institucional, mas onde é possível adotar práticas educativas, englobam a categoria não-instituições. Nessa categoria, podem ser incluídos teatro, parque, casa, rua, praça, terreno, cinema, praia, caverna, rio, lagoa, campo de futebol, dentre outros inúmeros espaços (JACOBUCCI, 2008, p.56-57).

Relacionando-se com essas ideias, Marandino, Selles e Ferreira (2012, p. 140) ao tratarem os espaços não formais, destacam:

Os termos ―viagem de campo‖, ―Trabalho de campo‖, ―estudo de campo‖ têm sido utilizados para designar uma modalidade específica de atividade extraescolar com maior deslocamento e com duração variada. Geralmente desenvolvido, durante o ano letivo, por meio de projetos que englobam várias áreas de conhecimento numa perspectiva multidisciplinar, o estudo do meio é cada vez mais realizado nas escolas. Por tratar-se de uma atividade que envolve diversas dimensões da escola na organização administrativa e pedagógica, implica não só uma série de desafios operacionais, mas também uma riqueza de possibilidades de aprendizagem.

Neste contexto, a instituição escolar que busca uma educação mais diversificada, plural, que dialogue com o real, rompendo com a continuidade de práticas unicamente tradicionais deverá superar os obstáculos históricos que limitam a realização de práticas inovadoras. A utilização de espaços não formais necessita de um trabalho em equipe, de uma ação coletiva que mobiliza o corpo administrativo, o pedagógico, os docentes e discentes, a comunidade escolar em geral, é uma ruptura com a rotina da instituição. O educador, ao propor essas práticas educativas, deverá demonstrar a sua importância cultural, social e pedagógica elucidando que essas atividades podem favorecer os estudantes em vários aspectos, no que tange ao processo de ensino e de aprendizagem, os quais perpassam dimensões cognitivas e afetivas. Ganhos de sociabilidade, aumento de autoestima, melhoria na capacidade de trabalho em grupo e no relacionamento entre professores e alunos, conquistas e formação de caráter, com responsabilidades e habilidades de liderança e de perseverança, tudo pode ser favorecido pelas aulas de campo em espaços não formais.