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OS EVENTOS E AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO QUE CONSTITUEM O

2 O PIBID NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FORMAÇÃO DE

5.1 OS EVENTOS E AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO QUE CONSTITUEM O

O fio condutor da análise ora posta são os processos formativos que se efetivam na escola e na universidade, através das atividades do subprojeto PIBID/Letras-Língua portuguesa, considerando tratar-se de uma prática diferenciada que busca o realinhamento da ação docente através da reflexão, possibilitada pela docência assistida e pelo trabalho colaborativo que o Programa proporciona. O que esta tese quer mostrar é que esses processos constituem os Letramentos que esses professores constroem, os quais se materializam em seus locais de trabalho.

As diferentes atividades que compõem a dinâmica desse subprojeto, como os encontros de planejamento, as reuniões de avaliação, as aulas ministradas em colaboração entre supervisores e EID, dentre outras, tipificam os eventos de letramento que vivenciam os supervisores, participantes desta pesquisa. Assim sendo, importa não apenas descrevê-los, mas também refletir sobre a sua importância para a compreensão do que acontece, nesse espaço, e como esse tipo de ação contribui para a otimização e as transformações que ocorrem na vivência pedagógica, desses professores. Para essa análise, selecionei uma das reuniões de avaliação observada (v. Fotografia 1), a qual foi considerada mais estruturada, de acordo com a sequenciação estabelecida para tal, em que os participantes conseguiram realizar o trabalho sem interferências1.

1 O termo “interferências”, nesse contexto, denota eventos da própria rotina da escola e da universidade que podem

Fotografia 1 - Reunião mensal de avaliação

Fonte: Registrada pela autora.

Os dados gerados nesses eventos, foram gravados em vídeo e analisados de acordo com as notas de campo. É mister enfatizar que as técnicas etnográficas de pesquisa têm sido recorrentes nos Estudos do Letramento, como se confirma em Street (1984, 1988, 2007, 2014), Barton e Hamilton (2004) Heath (1982, 1983), dentre outros. Nessa perspectiva, ao lançar um olhar investigativo sobre a reunião em discussão, procurei compreender como se estabelecem as interpretações que evidenciam os Letramentos que se constituem, nesse espaço de aprendizagem. Para Barton e Hamilton (2004), o letramento é social e se localiza nas interações mediadas pela escrita, tanto dentro quanto fora de contextos educativos. Assim, importa, nesta discussão, avaliar a situação investigada como um microcontexto, que influencia atitudes e impressões sobre essas atitudes, a partir de condições que são possibilitadas a esses professores, de acordo com as atividades que o Programa proporciona.

As reuniões mensais de avaliação, que acontecem no espaço da universidade, sempre iniciam pela leitura de um texto referente a aspectos da formação docente (v. Fotografia 2). A leitura é seguida de uma breve discussão sobre o tema abordado na leitura, como um preâmbulo para se encaminhar a avaliação das atividades realizadas pelo grupo, durante o mês. Nessa discussão inicial, a coordenadora tem a prioridade de fala, visto ser ela quem conduz a reunião, porém, faculta a palavra para quem desejar se pronunciar.

Fotografia 2 - Texto problematizador

Fonte: Registrado pela autora

Essa discussão do texto problematizador, que marca o início da reunião, pode ser analisada como um elemento impulsionador das reflexões que ali serão postas pelos supervisores. O espaço de aprendizagem proporcionado pelo PIBID é permeado por vozes que se associam para legitimar os processos interativos que então se desenvolvem e que contribuem para a constituição dos letramentos do professor, que ora se estuda. Assim, a pauta do dia é referendada por um discurso exterior que agrega os objetivos pretendidos pelos participantes, auxiliando-os na (re)significação que imprimem às ações realizadas, no contexto da escola, que serão avaliadas nesse espaço. O protagonismo dos participantes desse espaço dialógico toma forma a partir da problematização desencadeada pela leitura, a qual recorrem, na sequência dos trabalhos, como uma base de sustentação para validar as próprias afirmações.

Essas reuniões de avaliação que ora se discute constituem um evento de letramento com estrutura e finalidade definidas, conforme mostrado na Figura 4, que apresenta as etapas sucessivas de organização da reunião. Considerando essa ordem, o esquema sugere uma prescrição, um roteiro pré-determinado, com horário marcado para início, duração e término. O caráter institucional exige essa formulação a fim de demarcar e controlar a sua realização.

Figura 4 - Esquema de desenvolvimento da reunião de Avaliação

Fonte: Elaborado pela autora

A primeira e a segunda etapa são totalmente controladas pela coordenadora, a fim de que fique mais tempo disponível para a terceira etapa, visto essa demandar mais tempo para o seu desenvolvimento, configurada como a parte principal do evento, e ser o momento em que serão apresentadas e avaliadas as atividades realizadas durante o mês. Segue-se a sequência:

• Cada supervisor apresenta seu trabalho com o grupo de EID; • O supervisor conduz a apresentação, mas há intervenções rápidas e

pontuais do EID, quando necessário.

• Após as apresentações, segue-se uma sequência, considerada avaliativa mas, devido à exiguidade do tempo, não tem profundidade reflexiva. (NOTAS DE CAMPO DA TESE).

O que se evidencia na produção desse evento é que, na verdade, não é analítico como deveria ser uma reunião de avaliação, funciona mais como uma prestação de contas do trabalho realizado. No entanto, importa reconhecer que há relevância, sim, em sua organização e produção, pois orienta o pensamento do professor para que ele elabore argumentos para falar sobre o Programa em outras situações que, tanto pode ser uma conversa informal com colegas, nos intervalos de atividades, na escola ou na universidade, como também pode ser em um contexto que requeira a formulação de um texto mais elaborado, como o próprio texto escrito, ou seja, os artigos que eles produzem. Isso se evidencia também nas etapas da pesquisa – entrevista e roda de conversa –, como mostram os dados.

Como evento de letramento, a reunião de avaliação, no contexto do subprojeto PIBID/Letras-Língua portuguesa, apresenta todo o aparato burocrático que circunda a sua realização, como a vinculação institucional, o caráter formativo, o modelo de organização e a hierarquização dos papéis (coordenador, supervisor, EID). Barton e Hamilton (2004) discutem

os eventos de rotina que acontecem no interior das diferentes instituições como impulsionadores de pesquisas no campo do letramento. Considerando que os eventos de letramento referendam as ações que podem ser estabelecidas de forma sucessiva, como um continuum evolutivo que dá conta dos processos interativos que se realizam, nos espaços formativos, compreendo que as reflexões suscitadas pelos supervisores, a partir das compilações de suas atividades, para apresentação nas reuniões, dão forma ao que Street (1984, 2014) conceituou como práticas de letramento. Para o autor, as práticas de letramento referem- se à evolução dos significados que são construídos a partir dos eventos de letramento. Destaquei outro excerto das notas de campo:

Eles iniciam suas falas dirigindo-se aos EID, enfatizando a importância do PIBID para o futuro professor:

• Leda Ramos relaciona o PIBID a sua trajetória docente.

• José Lins falou para os EID aproveitarem o momento de estar na escola e ser acompanhado por um professor, com o apoio do PIBID. • Pedro Dias fala sobre a importância de desenvolver esses projetos

com a participação dos bolsistas.

• Lia Rocha cita Cesar Coll “tão importante quanto o que se ensina e aprende é como se ensina e se aprende”. (NOTAS DE CAMPO DA TESE).

É certo que a dinâmica da reunião não fluiu numa sequência dialógica, que oportunizasse aos participantes expressarem mutuamente as suas impressões sobre o trabalho que desenvolvem no PIBID, como já enfatizado, anteriormente. Mas é importante ressaltar que havia uma intencionalidade de mostrar que o Programa contribui. Isso evidenciou-se ao analisar a forma como cada um iniciou a sua fala, durante essa apresentação, na reunião. Não havia tempo para se estender, mas a mensagem precisaria ser deixada. Cada fala carrega em si um significado sobre o que cada atividade pode representar não apenas para ele, como professor, mas também para a formação do EID, sob sua responsabilidade. Essas construções discursivas estão carregadas de sentidos que eclodem dos contextos socioculturais em que se inserem, como discute Street (2014). Representam, assim, as transformações que fazem surgir novas práticas, novos letramentos.

5.2 OS LETRAMENTOS DO PROFESSOR EM SEU LOCAL DE TRABALHO: AS