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OS FALASHAS

O mundo se maravilhou mais uma vez com a extraordinária habilidade e genialidade militar mostradas pelo estado de Israel, ao resgatar milhares de judeus etíopes da fome que estava devastando a terra de Negus em 1984.

Sob a “Lei do Retorno” que dá a todo judeu o direito de pedir a cidadania israelense, um vasto número de imigrantes adentraram Israel. Dentre estes, algo em torno de cem mil sobreviventes dos campos de concentração nazistas. A “Operação Tapete Mágico” trouxe milhares de judeus do Iêmen e Marrocos, e mais cento e vinte mil vieram do Iraque durante a “Operação Ezra e Nehemiah”; mas não foi até fevereiro de 1980, quando a missão de resgate dos Falashas foi confiada à famosa e eficiente agência de inteligência israelense, a Mossad.

Em uma grande operação secreta, agentes israelenses rodearam dezenas de milhares destas pessoas e as levaram através das montanhas e desertos para o Sudão, no qual as fronteiras estavam preparadas para recebê-los, e aviões especialmente preparados iriam levá-los “nas asas da águia” até Zion, a terra prometida, Israel.

Quem eram estas pessoas? O que levou as autoridades israelenses a tomarem vastas e caras medidas guardadas em segredo e escondidas até de seu próprio povo?

Na Etiópia moderna vive um número de pessoas estimado em torno de vinte e três mil. Eles de fato são pessoas extraordinárias: pele negra mas com fortes traços judaicos. Na Etiópia eles são conhecidos como “Falashas” que significa estranho ou forasteiro.

Por muitos séculos a existência dos Falashas, ou “judeus negros” era desconhecida pelo mundo exterior. Todo o conhecimento sobre eles havia se perdido. Foi só no século XIX que eles foram redescobertos por missionários e antropologistas. Desde então, sua história tem sido cuidadosamente reconstruída e sua religião assiduamente estudada. Muitas conclusões surpreendentes foram tiradas, mas mistérios contraditórios ainda permanecem.

Os traços religiosos dos Falashas para com o serviço a Jeová são óbvios, e parece que em seu desenvolvimento religioso teve início muito tempo atrás, porque eles não conheciam nada sobre o Talmud, um corpo de escrituras que refletiu relativamente tarde no desenvolvimento dos pensamentos religiosos judaicos e na filosofia.

Os Falashas, os judeus da Etiópia, se chamam “Beta Israel” (Casa de Israel), e de acordo com suas tradições, eles se originaram dos nobres de Jerusalém que acompanharam Menyelek I (Davi II - o filho do Rei Salomão e de Makeda, a rainha de Sheba) quando ele voltou para seu país. Outra opinião afirma que eles são descendentes dos soldados

judeus que na antiguidade guardavam a fronteira sul do Egito. Finalmente, alguns acreditam que os Falashas são meramente um seguimento de uma população local que em algum ponto do passado se converteu ao judaísmo. Assim o mistério de sua origem ainda não foi totalmente decifrado. De acordo com teorias científicas, eles são de origem Hamltlc (Cushite) e pertencem à família Agau que já fez parte da população da Etiópia, isto antes do surgimento das tribos Semíticas, que vieram do sul da Arábia.

Crônicas etíopes mostram que o judaísmo foi difundido antes da conversão ao cristianismo da dinastia Aksum durante o século IV. Depois disso, aqueles que permaneceram fiéis ao judaísmo foram perseguidos e compelidos a se retirarem da região costeira para as montanhas ao norte do Lago Tana. Eles se concentraram nesta região e viveram sob uma pol´tica de independência, na qual eles eram seus próprios governantes.

Os Falashas tiveram um papel ativo na levantada das tribos Agau contra dinastia Aksum no século X. De acordo com as tradições etíopes, houve uma rainha judia conhecida como Judith (ou Esther) que liderou os rebeldes na deposição de Negus e incitou sua raiva contra os cristãos, suas igrejas e monastérios. Assim começou uma guerra esporádica entre cristãos, judeus e muçulmanos, com a eventual derrota dos Falashas pelo Negus Ishaq no começo do século XV. Mais tarde foi o Negus Yakob (1434-1468) que deu a ele mesmo o título de “exterminador dos judeus”, e seu filho Baeda Maryam (1468-1478) organizou o massacre dos Falashas. Paradoxalmente, crônicas etíopes louvam sua bravura e sua devoção à religião.

Apesar da perda maciça de vidas dentre os Falashas nestas guerras, os Falashas não foram completamente destruídos, então quando as tribos Agau novamente se ergueram em rebelião durante o reino de Negus Susenyos (1607-1632), os Falashas, sob a liderança de seu rei Gideon, participaram da revolta.

Entretanto, após Negus ter dominado os outros rebeldes ele direcionou todo o seu poder contra os Falashas, e ele conquistou seu forte. Homens, mulheres e crianças foram mortos.

O Negus então prometeu a permanência dos Falashas para que eles pudessem voltar para suas vilas, com a condição de que eles abaixassem suas armas. No entanto, depois de pouco tempo, Negus renegou sua promessa, e os presenteou com duas alternativas: a conversão ou a morte.

No grande massacre perpetrado contra aqueles que se recusaram a aceitar o batismo, Rei Gideon perdeu sua vida. Então muitos falashas foram vendidos como escravos, e a pena de morte foi decretada contra aqueles que continuaram a observar os costumes judaicos. Estes eventos marcaram o fim da independência Falasha. Até suas terras foram confiscadas, e eles foram compelidos a trabalhá-las como hóspedes.

No curso do tempo, eles foram permitidos a retornarem para sua antiga religião; e mesmo apesar de não haver guerras, desde então o sofrimento e a degradação eram o destino dos Falashas. Apesar disto, os Falashas mantiveram sua distinção, consideravam-se parte do povo judeu, tanto na origem como na fé.

Sua religião é baseada na bíblia, que eles possuem no idioma Geez na mesma tradução adotada pela igreja etíope; nela está incluído um número de livros apócrifos (Tobit, Judith, Sabedoria de Salomão, Sabedoria de Bem Sira, I e II Macabeus, e o livro de Baruch). Eles também consideram os livros de Enoch e Jubileus textos sagrados. Os Falashas tem pastores que clamam a descendência de Aaron, e em todas as religiões que eles habitam, os pastores elegem um Alto Pastor que se torna o líder espiritual da comunidade.

O santuário de Sabbath é rigorosamente observado pelos Falashas. O trabalho para na sexta-feira ao meio-dia, quando todos se purificam através do ritual da imersão e com o uso das roupas do Sabbath. A luz das velas, ou o ato de acender o fogo, o desenho das águas indo além dos limites do vilarejo, e relações sexuais proibidas no Sabbath. De fontes etíopes também aparece que em tempos antigos os Falashas observavam o descanso do Sabbath mesmo quando estavam em guerra, e lutavam apenas quando eram atacados.

Os Falashas determinam seus festivais através de um calendário padronizado baseado no calendário judeu, e eles celebram as luas novas e os festivais judaicos como estão escritos no Pentateuco. Sua aderência à prática da circuncisão masculina feita no oitavo dia após o nascimento, está prescrita biblicamente, o que confirma sua linhagem religiosa judaica.

As leis do ritual recebem atenção especial dos Falashas. Suas esposas permanecem em uma cabana especial nos limites do vilarejo durante o período de sua menstruação e retornam para suas casas somente após terem se purificado através da imersão. Uma cabana especial também é preparada para as mulheres em confinamento. A impureza permanece por quarenta dias se a criança nascida é um menino, e oitenta dias se for uma menina. Depois da conclusão dos dias de impureza, a mulher raspa os cabelos de sua cabeça, imerge-se e lava suas roupas antes de retornar à sua casa. A cabana de confinamento é então queimada.

Os Falashas não comem carne crua como os outros etíopes, e eles observam as leis do Pentateuco sobre os rituais de limpeza e sobre os animais impuros e da purificação do fortalecimento da veia femoral. Por esta razão, os Falashas não comem carne morta pelos cristãos. A vida familiar é sempre exemplar. O divórcio é raro e só o adultério o justifica. É por esta razão que os Falashas não são afetados por doenças venéreas que são tão comuns na Etiópia.

Os Falashas acreditam firmemente em um só Deus, o Deus de Israel, que escolheu Seu povo e que mandará o Messias para redimi-los e fazê-los retornar à terra sagrada. Em várias ocasiões, profetas se ergueram no meio dos Falashas e anunciaram a chegada do Messias, o que fez com que diversos movimentos messiânicos emergissem. Durante o reino do Imperador Teodoro II, em 1862, tal episódio foi responsável pelo desastre que surpreendeu um grande grupo de Falashas que tentavam chegar a Israel a pé A maioria deles morreu no caminho e os sobreviventes retornaram quebrados e destituídos.

Os Falashas acreditam em um mundo que está por vir e na ressurreição dos mortos. Em suas escrituras existem descrições detalhadas das recompensas que esperam os puros no Jardim do Éden, e dos castigos e punições que esperam pelos fracos. Edward Ullendorf, grande autoridade nas tradições e costumes dos Falashas, viu em seu judaísmo uma fusão de pagãos, judeus e cristãos, tanto nas crenças como na prática. Por outro lado, Joseph Halevy e outros pesquisadores ficaram profundamente impressionados com sua consciência judaica.

Hoje a maioria dos Falashas fala o Amharic, que é o idioma oficial da Etiópia. Sua literatura, no entanto, é totalmente escrita em Geez, o idioma clássico etíope, que hoje é o idioma sagrado da igreja etíope. A bíblia também é lida em Geez. É uma tradução que foi feita não do texto hebraico original, mas sim do Septuagint. Esta é também a tradução aceita pela igreja etíope, e não há evidências que comprovem que os Falashas um dia possuíram outra versão mais próxima do original.

Os jesuítas portugueses do século XVII afirmaram que em seus dias, os Falashas possuíam a bíblia em hebraico e conheciam um pouco do idioma. De acordo com uma tradução, o último rei dos Falashas (durante o reino de Negus Susenyos) queimou seus livros antes de sua morte; mas outra tradição, sustentada por Filosseno Luzzato, diz que os Falashas esconderam todos os seus livros na cidade de Gondar, para que eles não caíssem nas mãos dos inimigos. Em todos estes contos existe uma certa dificuldade em distinguir o que é real e o que é lenda.

O livro Teezaza Sanbat (Preceitos do Sabbath) é uma obra original dos Falashas, e eles o atribuem a Aba Zabra, um monge que viveu nos dias de Negus Zara Yakob (século XV). É uma coleção de leis do Sabbath (de acordo com o Livro dos Jubileus) e lendas sobre a criação do homem, o Jardim do Éden, Noé, Abraão, Moisés e outros. Esta obra não existe na versão cristã, mas algumas partes dela foram introduzidas, com algumas mudanças, em uma obra cristã chamada Dersana Sanbat (O Sermão no Sabbath), que louva o tão chamado “Sabbath Cristão”, ou seja, o Domingo.

Em adição a estas obras, existem ainda textos que não foram publicados, tais como aqueles que estão na Biblioteca Faitlovitch em Tel Aviv, Israel, e que incluem trabalhos como “O Testamento de Isaac”, “O Testamento de Jacó”, “As Orações da Sabedoria”, “As Palavras de Moisés”, e outros. Pode ser assumido que ainda existem várias obras

desconhecidas em outras bibliotecas e nas mãos dos Falashas. Parece que todos os livros dos Falashas foram escritos antes de perderem sua independência.

Menções foram feitas nas tradições sobre a origem dos Falashas ser ligada aos judeus que acompanhavam Menyelek, o filho do Rei Salomão e da rainha de Sheba, quando ele voltou de Jerusalém para a Etiópia. Como os próprios etíopes, especialmente os da dinastia real, clamam pela mesma origem, os Falashas adicionaram uma história: Nesta jornada, Menyelek atravessou um rio no Sabbath com a arca sagrada da Aliança, que ele havia roubado do templo de Jerusalém. Alguns de seus seguidores atravessaram o rio com ele, e daquela época, ele e seus companheiros pecadores se tornaram cristãos, enquanto os outros seguidores que observaram o Sabbath se tornaram pais dos Falashas.

A história contendo a arca sagrada foi de fato depositada em Aksum, em uma caverna secreta que foi subsequentemente selada após um terremoto que causou um desmoronamento. Só quando um Falasha se aproxima desta caverna é que a parede se abre e permanece desta maneira até que ele tenha se prostrado perante a arca sagrada.

É estimado que existam aproximadamente doze mil Falashas ainda vivendo nesta área ao norte do Lago Tana e nas fronteiras da cidade de Gondar. Grande parte deles está engajada na agricultura, mas como preciamente mencionado, eles não mandam em sua própria terra. Portanto, trabalhando como inquilinos em sua terra, eles devem ceder a maior parte de sua produção para os supostos donos das terras. Em adição a isto, os Falashas (tanto homens como mulheres) estão envolvidos em várias atividades, tais como cerâmica, tecelagem, fiação, e trabalham como ferreiros e ourives.

Desde sua moderna descoberta por Joseph Halevy, em 1867, os Falashas tem sido objetos de uma enorme fascinação e estudo por vários acadêmicos. A abundância de lendas e tradições que permeiam sua história, também alimentam muita especulação sobre sua origem e linhagem.

No geral, a aparência dos Falashas é similar à dos Amhara. Como resultado da mistura dos sangues Hamíticos e Semíticos, existem diferenças na cor da pele e nas feições, que tende ao tipo Agau, e em outros tende ao tipo Semítico, encontrado nos judeus orientais. No entanto, um estudo antropológico ainda não foi executado.

A questão que indaga o quanto judeus os Falashas são, ou se eles são de fato judeus, ainda é motivo de muitos debates em Israel. Apesar de alguns dos judeus hasídicos e outros grupos ortodoxos, tanto em Israel como nos EUA, ainda recusarem a reconhecê- los como judeus, seu resgate dramático na operação secreta chamada “Moisés”, providenciou provas suficientes para Israel considerá-los verdadeiros judeus.

Existe uma quantidade de teorias que conectam os Falashas aos judeus da antiguidade. Algumas clamam que quando os hebreus deixaram o Egito, durante o êxodo bíblico, um grupo se separou do resto e caminhou até o sul da Etiópia, aonde eles eventualmente

estabeleceram seu próprio reino. No entanto, uma das crenças mais persistentes e populares diz que os Falashas são uma das “dez tribos perdidas de Israel”.

Por volta do ano 964 a.C, depois da morte do Rei Salomão, um abandono aconteceu em Israel. Dez das doze tribos retiraram-se e sob Jeroboam formoram o reino do norte. Então, duzentos anos mais tarde, quando este reino do norte caiu perante o brutal exército assírio, a maioria dos israelenses foi obrigatoriamente deportada para a Assíria, aonde perderam sua identidade e foram assimilados. Muitos judeus ortodoxos acreditam que os Falashas são a tribo perdida de Dan. No entanto, esta teoria não possui base histórica. A questão realmente importante não é de onde os Falashas vieram, mas sim de onde seu judaísmo veio.

Sem considerar a verdadeira natureza de sua origem ou conversão ao judaísmo, o fato permance; os Falashas constituem um testemunho vivo da extinta saga da transferência da Arca da Aliança de Jerusalém para um local desconhecido na Etiópia.

As numerosas profecias em Daniel, capítulos 8, 9 e 11, que falam sobre a restauração do templo em Jerusalém, o “sacrifício diário”, e as muitas predições como a redescoberta da Arca de Deus, e seu retorno ao Templo de Deus, fazem da emergência dos Falashas, judeus da Etiópia, um evento de inegável importância profética.

É sabido que atualmente em Israel acontece um treinamento de jovens levites para os rituais pastorais do templo cerimonial, com uma visão que tem base em um antigo estabelecimento bíblico, que diz respeito à veneração e sacrifícios. A presença de milhares de Falashas em Israel, eles próprios os únicos descendentes vivos dos guardas da sagrada Arca da Aliança de Deus, pode significar o começo de uma série de eventos proféticos culminando com a reconstrução do Templo de Deus em Jerusalém, e o retorno do Messias como rei.

A Etiópia, a terra bíblica dos “homens de cara queimada”, ainda está para cumprir o maior destino profético, e os judeus Falashas estão no centro da chegada de grandes e turbulentos eventos.

Dr. Miguel F. Brooks

SOBRE O TRADUTOR/EDITOR

Doutor Miguel F. Brooks é um professor, autor-publicador, acadêmico bíblico e

pesquisador. Nascido no Panamá de pais jamaicanos, ele recebeu cedo seu treinamento em ciências, literatura, filosofia e medicina. Graduado no Instituto Istmeño no Panamá e na Universidade de Carabobo na Venezuela, ele é membro de várias sociedades filosóficas e acadêmicas e possui mestrado em Ciências Gerais e um doutorado em Psicologia.

Intérprete treinado e tradutor (Inglês, Espanhol e Português), Dr. Brooks é superior ordenado e pastor na Igreja Adventista do Sétimo Dia, e está atualmente engajado em uma pesquisa bíblica e histórica sobre interpretações proféticas e a exegese do Antigo Testamento.

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No documento Kebra Nagast - A Glória Dos Reis(1) (páginas 141-147)