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A habituação é uma forma de aprendizagem essencial para a nossa própria sobrevivência. Sem esse mecanismo com o qual a natureza nos dotou, a vida seria insuportável. Imagine o que seria de nós se todas as reações de medo, angústia ou desconforto nunca desaparecessem. Mas o que é a habituação? Diariamente somos expostos a estímulos incômodos, tais como o calor, o frio, o barulho do ar-condicionado, do ventilador ou da geladeira (caso sejam barulhentos) com os quais depois de certo tempo geralmente acabamos por nos acostumar.

Fenômeno da habituação no TOC

Habituação no TOC é diminuição espontânea e progressiva das respostas a situações ou a estímulos não-nocivos (som, ruído, cheiro, nojo, repugnância, dor, aflição, medo) quando se permanece em contato direto o tempo necessário ou de forma repetida. A cada nova exposição, a intensidade do medo ou do desconforto é menor, podendo, com as repetições, desaparecer por completo. Esse fenômeno ocorre em portadores do TOC quando tocam nos objetos que evitam ou deixam de fazer os rituais.

Exposição

A exposição (enfrentamento) é o principal recurso de que dispomos para perdermos os medos. No TOC existem medos excessivos e muitas vezes sem motivo, dos quais a pessoa se livra utilizando um recurso errado: evitando freqüentar certos lugares (hospitais, banheiros públicos, cemitérios) ou tocar em determinados objetos (maçanetas de porta, interruptores de luz ou do elevador, corrimãos, bancos de ônibus).

A exposição pode ser feita in vivo, quando há o contato físico direto com objetos, móveis, roupas, partes do corpo, locais evitados, etc., ou na imagi- nação, provocando intencionalmente a lembrança de pensamentos, frases, palavras, números, imagens ou cenas considerados horríveis e por isso, normalmente afastados da mente.

Prevenção de respostas

Prevenção de respostas (ou de rituais) é deixar de fazer um ritual, uma compulsão mental ou qualquer manobra destinada a reduzir ou a neutralizar a ansiedade, o desconforto, ou o medo que acompanham as obsessões, eliminar ou reduzir a possibilidade imaginária de que eventos ruins ou desastres aconteçam.

1. Prevenção de rituais mentais: o exercício do “Pára”

A prevenção de compulsões mentais é mais complicada pelo simples fato de que é mais difícil percebê-las quando comparadas a comportamentos mo- tores mais complexos. As compulsões mentais mais comuns são repetir frases ou palavras, rezar, contar, substituir pensamentos ruins por pensamentos bons, anular um pensamento ruim com um ritual motor (p. ex., repetir uma palavra, - lavar a cabeça, rezar). Um exercício que pode interromper tais compulsões é o “Pára” (ver quadro abaixo). Ele favorece a exposição a obsessões, pois aborta uma manobra de neutralização – o ritual mental. O “Pára” também é utilizado para expor o indivíduo a dúvidas e incertezas em situações em que a pessoa fica repassando argumentos ou lembranças para ter certeza de que não disse ou fez algo errado, sem conseguir chegar a uma conclusão, num fenômeno chamado de ruminação obsessiva, comum em pacientes perfeccionistas, ou verificadores com excesso de responsabilidade e obsessões de dúvidas e que só sentem seguros tendo certeza o que em geral é impossível. Também pode ser utilizado para cessar compulsões comuns, particularmente aquelas que já se tornaram hábitos, que são realizadas de forma praticamente automática, ou que não são precedidas de cognição (pensamento, idéia, lembrança, imagem), aflição ou desconforto (lavagens excessivas ou evitações). O “Pára” pode ainda

A Exposição é o contato direto ou na imaginação com objetos, lugares ou situações que não são perigosos, mas dos quais a pessoa tem medo ou os quais evita porque geram desconforto, nojo ou repugnância.

Tempo de duração dos exercícios: em média, entre uma e duas horas diárias (no mínimo, 45 minutos) ou até a ansiedade desaparecer por com- pleto, o que às vezes ocorre em minutos. Os exercícios não devem ser

interromper certos rituais motores que lembram tiques e que são precedidos apenas por desconforto ou sensação física desagradável (fenômeno sensorial), como estalar os dedos, fechar os olhos com força, sacudir as pernas, olhar pa- ra o lado, dar uma batida, tocar, raspar, coçar o couro cabeludo, alinhar ou pentear os cabelos, mas não por pensamento de conteúdo catastrófico.

Observação importante: o “Pára” não deve ser usado para afastar

pensamentos ruins ou impróprios.

As estratégias de exposição e prevenção de rituais são as mais efetivas para o tratamento de pacientes que têm obsessões com sujeira, germes, contaminação e, em razão disso, realizam lavagens excessivas (das mãos, do - corpo, das roupas). O efeito principal da exposição é o aumento instantâneo da ansiedade, que pode chegar a níveis bastante elevados nos primeiros - exercícios, mas que, em seguida, começa a diminuir paulatinamente. A cada exercício, os níveis de ansiedade são menores, e a necessidade de realizar rituais também diminui, podendo desaparecer por completo. Conforme pode-se observar na figura abaixo.

O fenômeno da Habituação O FENÔMENO DA HABITUAÇÃO

Exercício: “Para”

1. Anote as situações, os horários e locais em que você executa rituais mentais ou quaisquer outros rituais e prepare-se com antecedência para utilizar o exercício do “Para”.

2. Identifique tudo o que você repete mentalmente para afastar pensamentos impróprios (rituais mentais): palavras, frases, rezas, música, etc.

3. Ao perceber que está iniciando alguma dessas manobras (rituais mentais), repita em voz alta: “Para!” ou “Para com isso!”, procurando interromper a compulsão.

4. Juntamente com a frase, pode-se dar uma batida forte na mesa, bater palmas ou provocar outro estímulo, a fim de se distrair e cortar o fluxo do pensamento.

5. Por fim, procure distrair sua mente com outra idéia ou estímulo mais intenso (ler, ouvir música) ou envolver-se em uma tarefa prática, lembrando que a aflição desaparece naturalmente.

Qual o risco de se expor ou se abster de realizar os rituais?

Muitos pacientes temem o aumento inicial da ansiedade que ocorre ao realizarem os exercícios de exposição ou ao se absterem de praticar um ritual. A experiência tem demonstrado que mesmo o aumento da freqüência cardíaca, o aperto no peito, a falta de ar e até as tonturas que se observam às vezes não representam risco ao sistema cardiocirculatório (como provocar uma crise de angina ou infarto). Assim como não há risco de ocorrer crise de loucura, de perder totalmente o controle de si mesmo ou de a ansiedade nunca passar.

Lembre que tudo o que sobe, desce. E assim é com a ansiedade. Não existe

ansiedade que não passa depois de um determinado tempo.