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Torta da Responsabilidade

PENSAMENTOS IMPRÓPRIOS NO TOC Conteúdo violento

No TOC, são bastante comuns pensamentos impróprios contendo cenas conteúdo agressivo ou violento, acompanhados de grande aflição e medo, pois a pessoa acredita que ter aqueles pensamentos significa que algum dia possa vir a praticá-los. Imagina que a presença de tais pensamentos pode ser o indício da existência de um lado obscuro ou perverso ou homicida da sua personalidade, o qual um dia poderia se manifestar. A crença nessa possibilidade gera a necessidade de adotar medidas para impedir que tais previsões catastróficas ocorram, como evitar o contato com as pessoas para as quais são dirigidos tais impulsos ou imagens (esposo, namorada, pais, filhos); esconder facas ou objetos pontudos,etc.

As obsessões de conteúdo agressivo podem ser cenas violentas que passam pela cabeça, como, por exemplo, de uma pessoa sendo atropelada e estraçalhada por um ônibus, com pedaços de membros saltando a distância, ou da cabeça de um familiar sendo decepada pela hélice de um ventilador.

Relacionados a sexo

Um segundo grupo de fenômenos intrusivos também muito comuns, são pensamentos, cenas ou impulsos impróprios relacionados a sexo que involun- tariamente vêm à mente, como olhar os genitais de terceiros, abaixar as calças ou arrancar a roupa de outras pessoas, introduzir objetos no ânus ou na vagina, molestar sexualmente crianças, ter relações incestuosa com irmão, irmã, pais ou tios, violentar sexualmente uma pessoa conhecida ou desconhecida, tocar nos genitais do bebê ao trocar as fraldas, praticar sexo violento ou –perverso (p. ex., com animais). É importante salientar que tais pensamentos são involuntários (a pessoa não consegue afastá-los) e são acompanhados de grande medo e aflição.

Pacientes que apresentam o pensamento de abusar de crianças começam a afastar-se delas e entram em grande ansiedade ao passar próximo a elas, temendo praticar o que lhes passa pela cabeça. Da mesma forma os pacientes que são atormentados por obsessões de conteúdo violento evitam passar por perto das pessoas na rua, fazem de tudo para afastar tais pensamentos ou praticam rituais como lavar-se repetidamente, confessar-se ou rezar para que não venham a cometer o que pensam. Os portadores de TOC em geral são

pessoas muito sensíveis em relação a questões que envolvem moral em geral, moral sexual em particular, usar de violência para com terceiros ou praticar atos que consideram antinaturais. É muito comum serem escrupulosos e seriam as últimas pessoas a “cometer” tais pensamentos ou praticar tais impulsos.

Dúvidas relacionadas à homossexualidade ou heterossexualidade

Um tipo de obsessão de conteúdo sexual acompanhada de grande aflição são pensamentos intrusivos, envolvendo a dúvida de ser ou não homossexual. Tais pensamentos são estranhos e contrários aos desejos e inclinações do indivíduo. Entretanto, as dúvidas são interpretadas como indicativos da pos- sibilidade de ser homossexual, mesmo com todas as evidências sendo contrárias. O paciente é atormentado por dúvidas, não só em relação ao presente, mas também em relação a que essa possibilidade ocorra no futuro, acompanhada de muito sofrimento que os levam a fazer verificações ou testes para interrompê-las e ter certeza de que seus temores nunca irão se concretizar, o que na prática é impossível, e tem como efeito a perpetuação das dúvidas e das verificações. São pessoas que eventualmente se perturbam até mesmo pelo simples fato de ver na rua uma pessoa do mesmo sexo com um corpo bonito.

É importante lembrar que pensamentos automáticos de natureza homossexual são comuns em praticamente todos os indivíduos. Nem por isso eles são seguidos por qualquer comportamento que tenha por objetivo satisfazer tais pensamentos. Pessoas que não são portadoras de TOC não dão importância a tais pensamentos, considerando-os absurdos e sem significado, o que faz com que desapareçam espontaneamente e de forma rápida.

Conteúdo blasfemo

Dizer blasfêmias é hábito cultural de alguns povos, particularmente entre os italianos, que são conhecidos por descarregar suas emoções, como raiva ou frustração, dizendo palavras ofensivas dirigidas a Deus, à Virgem Maria ou aos santos. Mas não é disso que estamos falando. No TOC, são comuns pensamentos ou cenas de conteúdo sexual, como imaginar-se praticando sexo com Jesus Cristo na cruz, com a Virgem Maria ou com algum (a) santo(a), fazer gesto obsceno para Deus, etc. Um paciente acreditava-se condenado ao fogo do inferno porque sua mente era freqüentemente invadida pelo pensamento de fazer sexo com a pomba do Espírito Santo. Pensamentos semelhantes podem ocorrer em relação a outros símbolos religiosos, como o crucifixo e o terço. Podem ainda se manifestar sob a forma do impulso de dizer obscenidades durante o sermão de domingo ou pensamentos relacionados ao demônio ou a entidades de outras religiões.

O portador do TOC fica chocado com tais pensamentos ou cenas e tenta afastá-los da mente, sem sucesso. E pior, quanto mais luta contra eles ou tenta afastá-los, mais aumenta a freqüência e a intensidade. Como ocorre com outras obsessões, a aflição e o medo levam o paciente a executar rituais, como tomar banho, trocar de roupa, rezar uma oração determinado número de vezes ou repetir certa palavra cujo conteúdo seja contrário ao do pensamento invasivo, confessar-se ou punir-se por meio de castigos corporais (jejuns, cilícios) para se sentir aliviado ou perdoado.

Escrupulosidade

Ultimamente, a escrupulosidade tem sido incluída entre os sintomas do TOC. Refere-se à preocupação excessiva envolvendo temas religiosos, particularmente dúvidas e medos demasiados de estar transgredindo algum preceito religioso, regra ou código. São pessoas que tendem a ver pecado onde, na verdade, não existe nenhum e são atormentadas por essas dúvidas. Uma conseqüência das dúvidas é ficarem por longo tempo argumentando para si mesmos (ruminação obsessiva) se um determinado pensamento, ato, palavra dita, foi um erro ou uma falha moral, ou pecado. Acredita-se que importantes figuras religiosas, como John Bunyan, Martinho Lutero, Santo Inácio de Loyola – o fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas) – e outros, fossem atormentadas por pensamentos, imagens ou impulsos inaceitáveis que, na atualidade, seriam interpretados como sintomas do TOC. Além de orações, era comum o uso do açoite, do flagelo, dos cilícios e de outras formas de mortificação, como jejuns, peregrinações e penitências. Tais práticas – constituíam verdadeiros rituais destinados a obter o perdão dos pecados e a afastar as tentações do demônio, entre as quais certamente se incluiriam os “maus” pensamentos comuns no TOC. Um estudo recente trouxe, de certa forma, evidências a favor da hipótese de que religiosidade excessiva poderia estar associada a sintomas OC.

Algumas formas pelas quais se manifesta a escrupulosidade

• Confessar-se repetidamente para pedir o perdão por pecados ou transgressões que já foram perdoados.

• Condenar fantasias sexuais mesmo em relação à própria esposa (ou marido) ou namorada(o) e preocupar-se excessivamente em não transgredir o mandamento: “Não desejarás a mulher do próximo”.

• Repetir o pai-nosso, a ave-maria ou outras rezas pronunciando de forma absolutamente correta todas as palavras e sem qualquer distração, repetindo até conseguir afastá-las de forma perfeita. • Evitar meticulosamente engolir saliva, para seguir de forma rigorosa

os preceitos da celebração judaica do Yom Kippur; não tomar qualquer gota de água antes da Eucaristia.

Pensamentos supersticiosos e rituais mágicos

A maioria das pessoas tem uma ou outra superstição. Algumas são acompanhadas de rituais, como bater três vezes na madeira, prender uma ferradura atrás da porta, fazer o sinal da cruz ao passar diante da igreja, não olhar para um espelho quebrado, ou passar debaixo de uma escada. Muitos acreditam que comer lentilhas ou carne de porco, pular sete ondas do mar ou usar roupa branca por ocasião da passagem de ano atrai sorte; sexta-feira 13 é considerada por muitos, dia de azar; cruzar com um gato preto é sinal de mau presságio; não se deve levantar com o pé esquerdo; amuletos, relíquias e figas podem proteger ou dar sorte; jamais se deve pisar em despacho, deixar o chinelo ou os sapatos virados, assim como a toalha ou a roupa do avesso. Os exemplos são inúmeros.

Embora acreditem, em parte, nessas superstições, as pessoas, em geral, não se deixam levar pelos medos associados a elas. No TOC, entretanto, é muito comum os pacientes terem medos e crenças supersticiosas muito fortes

a ponto de afetarem suas rotinas no dia-a-dia. É comum, ainda, a realização de ritual antes de iniciar uma atividade para dar sorte ou evitar que algo errado aconteça: dar uma batida na mesa antes de iniciar a tarefa, apagar e acender as luzes determinado número de vezes, recitar frase ou reza, etc. Uma paciente não conseguia sair de casa sem tocar em uma lajota do pátio, pois acreditava que, se não o fizesse, a mãe adoeceria. O que caracteriza esses atos como compulsões é o fato de o paciente sentir grande aflição ou medo caso não os pratique.

Pensamentos “ruins” ou maus pressentimentos

No TOC, também são comuns pensamentos de conteúdo catastrófico, chamados de pensamentos “ruins”, pelo seu conteúdo premonitório ou de mau presságio. Assim, o pensamento involuntário sobre acidentes passa a indicar a possibilidade de o mesmo acontecer com alguém da família que, naquele momento, está viajando. “O fato de pensar indica que o desastre pode aconte- cer e devo tomar todas as medidas necessárias para impedi-lo”. Ou pior: “Esse meu pensamento pode provocar o acidente. Acho que tenho esse poder”. É a crença de que pensar faz acontecer. Outro exemplo: se de fato ocorreu acidente e, por azar, um pensamento desse tipo havia anteriormente passado pela cabeça, ele vai interpretar que o fato de ter pensado provocou o evento, ou seja, o fato ocorreu porque ele pensou. Pensamentos catastróficos também podem ocorrer em conseqüência de sonhos – idéia até hoje usual em muitos povos primitivos, que consideram os sonhos prenúncios de acontecimentos futuros (sonhos de mau agouro), assim como o vôo das aves e outros sinais dependendo de cada cultura.

POR QUE PENSAMENTOS INVASIVOS NORMAIS SE TRANSFORMAM EM