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Os dados da pesquisa foram originados de um detalhado processo de geração que ocorreu mediante a realização pesquisa documental, coleta de documentos, entrevistas, notas de campo e questionários. Dessa maneira, procuramos empreender a implementação de uma pesquisa que empregou métodos e instrumentos diversos em favor da consolidação dos objetivos de pesquisa.

A entrevista foi um importante método de busca de dados na primeira etapa da pesquisa, para ter o mapeamento dos eventos de letramento dos alunos em práticas sociais externas à escola. A entrevista consistiu em uma oportunidade de conversar face a face e foi muito utilizada tanto para mapear, quanto para compreender o mundo da vida dos

respondentes. Ela nos forneceu informações importantes para uma compreensão detalhada dos textos, atitudes, valores e motivações dos atores sociais e dos contextos sociais específicos da pesquisa (MINAYO, 2008). A entrevista, segundo Martins e Bicudo (1994, pág. 54),

É a única possibilidade que se tem de obter dados relevantes sobre o mundo- vida do respondente. Ao entrevistar-se uma pessoa, o objetivo é conseguir-se descrições tão detalhadas quanto possível das preocupações do entrevistado. Não é, tal objetivo, produzir estímulos pré-categorizados para respostas comportamentais. As descrições ingênuas situadas, sobre o mundo-vida do respondente, obtidas através da entrevista, são, então, consideradas de importância primária para a compreensão do mundo-vida do sujeito.

Optamos pelo uso de diferentes entrevistas: a estruturada e a semiestruturada (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). O modelo estruturado é representado por um roteiro estratégico de questões previamente estabelecidas, como vistas a garantir uma entrevista uniforme. Utilizamos esse tipo de entrevista para inquirir a gestão acerca do perfil da escola. Os questionários incluíram questões que nos proporcionaram conhecer os diferentes potenciais materiais e profissionais da escola, a infraestrutura, pessoal, funcionamento e as suas potencialidades.

As entrevistas semiestruturadas apresentam um determinado conjunto de questões pré- definidas. Elas são uma diretriz, mas não ditam a forma como a entrevista irá decorrer, na medida em que as questões podem ser colocadas numa determinada ordem, não exatamente da mesma forma com que foram inicialmente definidas. Neste caso, mesmo tendo um roteiro de questionamentos e de respostas a serem buscadas, estabelecemos uma comunicação de caráter mais informal, fazendo uso não linear das perguntas, com abertura a escuta e deixando os entrevistados à vontade. A busca foi por desenvolver as entrevistas como que em uma conversa, como amabilidade e confiança entre as partes. Em muitas ocasiões, parafraseamos as perguntas ou explicamos termos e trechos dos questionamentos para que os entrevistados pudessem compreendê-los. Utilizamos as entrevistas semiestruturadas para investigar os usos da escrita dos estudantes nos contextos sociais externos à escola e também para conhecer os próprios jovens.

A coleta de documentos de também foi instrumento necessário à pesquisa, à medida que realizamos as entrevistas, procuramos por documentos, artefatos, dados concretos, como textos, fotografias, imagens, gêneros, que evidenciassem os resultados. Essas evidências materiais dos achados de pesquisa foram utilizadas como forma de entender melhor os resultados e explicitarmos com maior riqueza de detalhes as nossas interpretações.

A busca consistiu, portanto, em compreender as mais diferentes materialidades que as práticas sociais podem proporcionar. Nos eventos de letramento, por exemplo, podemos elencar uma multiplicidade de artefatos de linguagem que podem ser recuperados. Além de compreender quais e como são as práticas de escrita cotidianas dos jovens, buscamos enriquecer os significados das interpretações por meio da utilização de unidades discursivas que se manifestam materialmente, entre outros achados, como imagens que evidenciassem as práticas de letramento dos entrevistados.

A coleta documental foi realizada por meio de materiais que ainda não receberam tratamento analítico, considerados de primeira mão (GIL, 2008). Esse procedimento consistiu na busca por materiais visando uma interpretação. A inserção desses achados permitiu produzirmos e elaborarmos conhecimentos, criando assim formas de interpretar os fenômenos.

Visando conhecer melhor o contexto da pesquisa, fizemos também uso da análise de documentos (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Os documentos, nesse caso, são registros escritos que contém informações importantes para a compreensão dos contextos e as relações que podem se estabelecer com os achados de pesquisa, ou seja, possibilitam conhecer o entorno social das ações, pois se constituem em manifestações registradas de aspectos da vida social de determinado grupo.

Esses documentos (relatórios gerenciais, planos escolares, relatórios e perfis do bairro) proporcionam compreender a dimensão social da pesquisa e os objetos cuja interpretação necessitam de contextualização histórica e sociocultural. Nesse caso, a meta foi traçar um breve perfil da escola e da comunidade, com vistas a contextualizar as análises.

Por fim, desenvolvemos e executamos um projeto de letramento (KLEIMAN, 2000) para refletir criticamente sobre a nossa prática pedagógica, visando o delineamento de um novo fazer pedagógico baseado em um dispositivo didático que se apresentou como uma alternativa que prioriza a inclusão, a participação social e o reposicionamento identitário do professor e do aluno, destacando a importância dessa prática na formação docente e na ressignificação das práticas de leitura e escrita no contexto escolar (OLIVEIRA, TINOCO; SANTOS, 2014).

O desejo de desenvolver um projeto de letramento (doravante PL) em conformidade com as especificidades do dispositivo didático e das particularidades de um determinado público surgiu, pois, em virtude de buscarmos alternativas didático-pedagógicas que rompam o raciocínio que vem atravessando o ensino na escola, qual seja o de evidenciar mecanismos de controle, seleções classificatórias e aparatos burocráticos conectados a avaliações.

Durante a implementação do projeto, fizemos uso de notas de campo (LÜDKE; ANDRÉ, 1986), que foram importantes para efetuar registros no decorrer da execução da pesquisa-ação. Essas notas representaram, na prática, anotações pertinentes ao objetivo da pesquisa, desenvolvidas nos momentos de realização das ações e eventos de letramento, de modo a não nos desviarmos dos diferentes aspectos e detalhes do desenvolvimento da proposta.

No que se refere à coleta de feedbacks acerca das ações e eventos de letramento desenvolvidos no projeto, optamos por distribuir questionários, a serem respondidos pelos alunos envolvidos no projeto. A inserção dos questionários objetivou fornecer informações gerais sobre a apreciação dos sujeitos acerca da participação nas diferentes atividades (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

Utilizamos diversos métodos e instrumentos contemplados no paradigma qualitativo de pesquisa. Nesse sentido, entendemos que a configuração da pesquisa é o reflexo das proposições e explanações do pesquisador, que envolvem, necessariamente, um ponto de vista seletivo e uma interpretação (KLEIMAN, 2009). Isso significa afirmarmos a nossa não neutralidade em relação à realidade que está sendo pesquisada e, nesse sentido, as escolhas que fizemos, foram cruciais para o delineamento da pesquisa.

No gráfico a seguir, estão dispostas de forma resumida, a disposição dos capítulos da tese, os métodos e instrumentos utilizados na construção desses capítulos e as diferentes etapas da pesquisa-ação:

Gráfico 1 - Esquema representativo das etapas de construção dos capítulos da pesquisa

Fonte: Acervo da pesquisa.

Todas as ações de geração de dados foram desenvolvidas mediante o consentimento e assentimento das partes colaboradoras. Para elaboração dos termos que explicam os detalhes da pesquisa, procedimentos, riscos, benefícios e direitos dos participantes, utilizamos as instruções estabelecidas pela Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRN (UFRN, 2016). A implementação de todos os procedimentos previstos pela pesquisa também teve o comprometimento ético necessário por parte do pesquisador.