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2.1 CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA

2.1.1 Os métodos da pesquisa qualitativa

Do ponto de vista metodológico a abordagem qualitativa tem o foco nos elementos sócio-políticos e estéticos da dimensão educativa. Essa é uma pesquisa cujo foco não é produzir medições, enumerações e estatísticas, pois o contato direto do pesquisador é com a comunidade ou a situação estudada. Este contato gera o debate na academia sobre a questão da validade e de controle de variáveis, que tem início, segundo Denzin e Lincoln (2006, p. 23).

A palavra qualitativa implica uma ênfase sobre as qualidades das entidades e sobre os processos e os significados que não são examinados ou medidos experimentalmente (se é que são medidos de alguma forma), em termos de quantidade, volume, intensidade ou frequência. Os pesquisadores qualitativos ressaltam a natureza socialmente construída da realidade, a íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado, e as limitações situacionais que influenciam a investigação. Esses pesquisadores enfatizam a natureza repleta de valores da investigação. Buscam soluções para as questões que realçam o modo como a experiência social é criada e adquire significado. Já os estudos quantitativos enfatizam o ato de medir e analisar as relações causais entre variáveis, e não processo.

Diante desse contexto, Denzin e Lincoln (2006) sugerem que os pesquisadores que adotam esse tipo de pesquisa são passíveis a utilizar diversos métodos para atribuir valores que os auxiliem na compreensão interpretativa da experiência humana, com isso, os pesquisadores acabam sendo envolvidos numa série de tensões e contradições na academia.

A pesquisa qualitativa continua com quatro pontos principais em discussão de acordo com Denzin e Lincoln (2006) primeiro, o pesquisador qualitativo não é um observador externo ao processo, neutro ou fora do contexto pesquisado. Segundo o pesquisador qualitativo tem uma posição sujeito que atua socialmente [como] um [observador] humano. Terceiro, e, ainda, pautado nos estudos de Bruner, o significado é múltiplo, aberto e possibilita que a política

perpasse todo relato. Quarto, uma descrição precisa da investigação qualitativa é que ela é um projeto cívico, participativo, colaborativo, que faz com que os envolvidos na pesquisa participem igualmente de um diálogo moral contínuo. Assim, para compreender a maneira como os estudantes espontaneamente se expressam e falam sobre o que é importante para si e como pensam sobre suas ações e os dos outros diante do fenômeno bullying justificam-se o uso de diferentes métodos qualitativos pela necessidade de observar as pessoas em seu próprio contexto interacional.

Para uma análise apropriada dos acontecimentos sociais, faz-se necessária a utilização de diferentes métodos e dados que na pesquisa qualitativa, incluem observação, entrevistas individuais e grupais, entrevista narrativa, entrevista episódica, vídeo, filmes, fotografias, bemetologia (meteorologia), registro de sons, questionário, análise de textos ou documentos e análise de discurso ou comportamento gravado com o uso de fitas de áudio e de vídeo (BAUER; ALLUM, 2003). Ainda nos estudos desses autores, são apresentados vários enfoques analíticos para texto, imagem e som, tais como: Análise de conteúdo, Análise argumentativa, Análise de discurso, Análise da conversação e da fala, Análise retórica, Análise semiótica de imagens paradas, Análise de imagens em movimento, Análise de ruído e música, Análise com auxílio de computador e análise estatística de texto.

Nos estudos de Bauer e Allum (2003, p. 19) são apresentadas quatro dimensões da pesquisa qualitativa:

Primeiro, é necessário o delineamento da pesquisa de acordo com seus princípios estratégicos. Segundo, há os métodos de coleta de dados, tais como, a observação, a entrevista e a busca por documentos. Terceiro, há os tratamentos analíticos dos dados, tais como, a análise de conteúdo, a análise retórica, a análise de discurso e a análise estatística. Finalmente, os interesses do conhecimento referem-se à classificação de Habermas sobre o controle, a construção de consenso e a emancipação e “empoderamento”.

Dessa maneira, a pesquisa apresentada procura trilhar as quatro dimensões apresentadas acima, o que detalho no Quadro 1.

Quadro 1 – Dimensão do processo de pesquisa

1º O delineamento da pesquisa

2º Os métodos de coleta

3º O tratamento dos dados

4º A importância do conhecimento gerado Fonte: Adaptado de Bauer e Allum (2003, p. 19).

Primeiro, o delineamento da pesquisa que perpassa o segundo, o método de coleta de dados – o questionário. Terceiro os dados são tratados sob o olhar da ADC. Quarto, os interesses em todo esse conhecimento referem-se à classificação de Habermas (FAIRCLOUGH, 1999) sobre emancipação e “empoderamento”. O Quadro 2 detalhado a seguir, apresenta as quatro dimensões detalhadas e trabalhadas nesta pesquisa.

Quadro 2 – As quatro dimensões do processo desta pesquisa Princípios do

delineamento

Interesse do

conhecimento Geração e coleta de dados Análise dos dados

Pesquisa Qualitativa “empoderamento” de quem sofre o bullying

Visita às escolas

ADC

Wordsmith Tools

Conversa com os participantes da pesquisa

Entrega da autorização Recolhimento das autorizações assinadas

Agendamento da aplicação do questionário

Fonte: Adaptado de Bauer e Allum (2003, p. 19).

Quadro 3 – Desenho da pesquisa

TÍTULO Violação dos direitos humanos e Bullying no ensino médio.

PROBLEMA DA PESQUISA

Como os vocábulos presentes nos textos dos alunos revelam a compreensão deles sobre o bullying e podem orientar o processo de ensino aprendizagem de

professores que atuam no Ensino Médio? ORDEM DO OBJETIVO

GERAL

Investigar, compreender e interpretar os processos de violência escolar, o

bullying, envolvendo adolescentes do ensino médio de sete instituições de

ensino de Mato Grosso.

ORDEM DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS

i) identificar os vocábulos presentes nos textos dos alunos sob o viés da ADC; ii) classificar as formas de atuação em termos de combate, prevenção e resolução de conflitos identificados nos textos dos alunos

iii) investigar como os vocábulos sobre o bullying oriundas dos discursos dos alunos podem orientar o processo de ensino e aprendizagem de professores do Ensino Médio.

TIPO DE PESQUISA: abordagem qualitativa ADC

CARACTERÍSTICAS: descritiva/comparativa/interpretativa OBJETO DE ESTUDO/SUJEITO

Textos dos estudantes / Alunos do ensino médio Fonte: Adaptado de Roehrs (2013, p. 33).

Para uma análise apropriada dos acontecimentos sociais, escolhi a abordagem qualitativa descritiva, comparativa e interpretativa como princípio no delineamento desta pesquisa que se ancora na necessidade de compreender na dimensão da análise linguística,

como os estudantes espontaneamente se expressam e falam sobre o bullying e suas múltiplas experiências em seu próprio contexto interacional: a escola.

A escolha da ADC, como metodologia para análise de dados, justifica-se na importância que essa abordagem atribui ao papel social da linguagem concretizada em textos, assim como nas relações carregadas por poder e por ideologias, especialmente, aquelas que surgem para dominar e humilhar, ou emancipar, os atores sociais.

Dessa maneira, a ADC se apresenta como uma fundamentação teórica adequada para o tratamento dos dados que foram obtidos através dos questionários na pesquisa qualitativa. Esse arcabouço teórico metodológico de acesso ao corpus é apropriado e pertinente, pois pode desvelar os sentidos que circulam através dos signos, e que não são imanentes a eles. Por isso, entender a linguagem como discurso significa, automaticamente, perceber a sua concepção interacionista que, nos termos de Brandão (1997), é uma produção social que constitui os processos de relações histórico-sociais:

A linguagem enquanto discurso não constitui um universo de signos que serve apenas como instrumento de comunicação ou suporte de pensamento; a linguagem enquanto discurso é interação, e um modo de produção social; ela não é neutra, inocente [...] e nem natural, por isso o lugar privilegiado de manifestação da ideologia [...] Como elemento de mediação necessária entre o homem e sua realidade e como forma de engajá-lo na própria realidade, a linguagem é lugar de conflito, de confronto ideológico, não podendo ser estudada fora da sociedade, uma vez que os processos que a constituem são histórico-sociais (BRANDÃO, 1997, p. 12).

Dessa forma, analiso na linguagem e pela linguagem os discursos nos textos dos estudantes como os vocábulos presentes nos textos dos alunos revelam a compreensão deles sobre o bullying e podem orientar o processo de ensino aprendizagem de professores que atuam no Ensino Médio.

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