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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO ACADÊMICO EM ENSINO

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Academic year: 2021

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA

E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

MESTRADO ACADÊMICO EM ENSINO

SILBENE ROSA PAOLIELLO

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E BULLYING NO ENSINO

MÉDIO

CUIABÁ 2020

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SILBENE ROSA PAOLIELLO

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E BULLYING NO ENSINO

MÉDIO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, Mestrado Acadêmico em Ensino no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso/IFMT em associação ampla com a Universidade de Cuiabá, como parte do requisito para obtenção do título de Mestre em Ensino, área de concentração: Ensino, Currículo e Saberes Docentes e da Linha de Pesquisa: 3 Ensino de Matemática, Ciências Naturais e suas tecnologias, sob a orientação da Professora Dra. Raquel Martins Fernandes e co-orientação da Professora Dra.Veralúcia Guimarães de Souza.

CUIABÁ/MT 2020

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Dedico este trabalho a Deus. Sem Ele nada seria possível. Aos meus pais Adelmo Paoliello e Antônia Rosa Paoliello, pilares da minha formação como ser humano. E aos meus filhos Yuri Paoliello, Yago Paoliello e Yasmin Paoliello, por serem constantemente fonte de motivação e incentivo na minha vida. Muito obrigada.

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AGRADECIMENTOS

À Deus por ter me dado saúde, força, persistência para superar os desafios com sabedoria.

Aos meus pais, pelo incentivo, apoio incondicional e por todas as lições de amor, companheirismo, amizade, caridade, dedicação, compreensão e perdão que vocês me dão a cada novo dia.

Aos meus filhos, por sempre desejarem o melhor para mim, pelo apoio para que eu pudesse superar cada obstáculo e chegasse até aqui. E, especialmente, pelo amor que vocês têm por mim.

À minha família, sou eternamente grata por tudo que sou, por tudo que conquistei e pela felicidade de tê-los sempre presentes na minha vida.

Ao Instituto Federal de Mato Grosso - IFMT e a Universidade de Cuiabá - UNIC que se uniram para proporcionar este programa de mestrado em ensino, juntamente com seu corpo docente, direção, administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um mestrado em ensino, realizado com confiança na ética presente nessas equipes.

À minha brilhante orientadora e parceira de luta, a Prof.ª Dr.ª Raquel Martins Fernandes, pela amizade, pelo apoio, incentivo e correções que contribuíram imensamente para o meu crescimento como pesquisadora. Obrigada por ter acreditado em mim.

Aos membros da banca examinadora, Prof.ª Dr.ª Águeda Aparecida da Cruz Borges e Prof.ª Dr.ª Laura Almeida, que tão gentilmente aceitaram participar e colaborar com esta dissertação. À Prof.ª Dr.ª Laura Almeida agradeço ainda, por me acompanhar desde meu primeiro seminário.

À Prof.ª Dr.ª Veralucia Guimarães de Souza minha maior incentivadora neste estudo, obrigada pelo convívio, amizade e apoio demonstrado.

As minhas parceiras de trabalho Leyze Grecco e Carla Silbene Schneiders pela valorosa contribuição a essa pesquisa e apoio.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, meu muito obrigada.

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RESUMO

Este trabalho é resultado da pesquisa de Mestrado Acadêmico em Ensino pelo Programa associado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) e à Universidade de Cuiabá (UNIC), tendo como objeto de estudo a investigação de casos de violência escolar materializada através do bullying. O objetivo desta pesquisa é investigar, compreender e interpretar os processos de violência escolar, o bullying, envolvendo adolescentes do ensino médio de sete instituições de ensino de Mato Grosso. Esta investigação, sob o viés da Análise de Discurso Crítica está fundamentada nos estudos de Fairclouhg (2001) e (2003). A escolha da ADC, como arcabouço teórico para análise de dados, está na relevância dos problemas sociais relacionados a poder existente linguisticamente nos textos, o que possibilitou um olhar interdisciplinar que conecta o papel social da linguagem com a realidade escolar, a partir dos textos dos sujeitos praticantes desse contexto social e que permitiu entender as representações que foram construídas. Os sentidos das palavras que podem ser conscientes ou não e estão diretamente ligadas ao significado representacional de mundo desses sujeitos. A materialização dos textos dos estudantes abre espaço para entender os processos de escolhas de vocabulário que podem apresentar o posicionamento político-ideológico deles em relação ao bullying. A escolha pela investigação qualitativa, nesta pesquisa, deve-se a possibilidade de extrapolar o entendimento da rotina escolar, ao mesmo tempo em que se investiga um fenômeno que causa inquietações e conflitos. A pesquisa foi desenvolvida em cinco campi do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias de Mato grosso (IFMT) e duas escolas estaduais, com estudantes do Ensino Médio, em 2019. Houve a participação de 449 estudantes do Ensino Médio, que participaram da pesquisa online. Os resultados apresentados resultaram da análise dos textos das duas questões abertas que foram respondidas pelos estudantes. As repostas demonstraram que o bullying está presente em relações entre os atores sociais das instituições pesquisadas. Em textos são materializadas maneiras individuais de ver/entender o mundo, reiterando discursos ideológicos e/ou tentando superá-los. As sugestões que são apresentadas pelos estudantes em situação de bullying fazem parte de um conjunto de formações discursivas de perpetuação de sistemas de oposição e de negação as diferenças, o que todos os estudantes querem é ter acesso a um ambiente agradável e propício ao desenvolvimento do conhecimento, a escola. A disputa discursiva pelo poder foi observada em dois pontos de maior instabilidade: entre a grande liderança hegemônica em termos de articulação na luta discursiva de propagação da igualdade e os discursos dominados que, ainda, contribuem com o processo de propagação da ideologia da desigualdade social e da intolerância. Grande parte das sugestões para acabar com o bullying abre uma porta que simboliza o diálogo dentro da escola e com toda a comunidade educativa. Ela apresenta um espaço no qual o debate, a palestra sobre a violência no contexto escolar pode ocorrer. A promoção desse diálogo está materializada nos textos como uma forma de retratar a visão de mundo e a realidade dos estudantes.

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ABSTRACT

This work is the result of an Academic Master's in Education research by the Program associated with the Federal Institute of Education, Science and Technology of Mato Grosso (IFMT) and the University of Cuiabá (UNIC), with the object of study the investigation of school violence materialized through bullying. The aim of this research is to investigate, understand and interpret the situation of possible processes of school violence, bullying, involving high school teenagers from seven educational institutions in Mato Grosso. This investigation under the bias of Critical Discourse Analysis is based on the studies of Fairclouhg (2001) and (2003). The choice of Critical Discourse Analysis, as a method for data analysis, is in the relevance of the social problems related to power and justice that exist linguistically in the texts, which enabled an interdisciplinary look that connects the social role of language with school reality, starting from of the texts of the subjects who practice this social context, and which made it possible to understand the representations that were constructed, the meanings of words that may be conscious or not and are directly linked to the representational meaning of the world of these subjects. The materialization of the students' texts opens space to understand the processes of vocabulary choices that can present their political-ideological position in relation to bullying. The choice for qualitative research in this research is due to the possibility of extrapolating the understanding of the school routine while investigating a phenomenon that causes concerns and conflicts. The research was carried out on five campuses of the Federal Institute of Education, Sciences and Technologies of Mato Grosso (IFMT) and two state schools, with high school students, in 2019. There were 449 high school students who participated in the research on line. The results presented emerged from the analysis of the texts of the two open questions that were answered by the students. The answers demonstrated that bullying is present in the researched institutions. In texts, individual ways of seeing / understanding the world are materialized, reiterating ideological discourses and / or trying to overcome them. The suggestions that are presented by students in a situation of bullying are part of a set of discursive actions to perpetuate opposition systems and deny differences, what all students want is to have access a pleasant environment conducive to the development of knowledge, the school. The discursive dispute for power was observed at two points of greatest instability: between the great hegemonic leadership in terms of articulation in the discursive struggle for the propagation of equality and, the dominated discourses that still contribute to the process of propagating the ideology of social inequality and intolerance. Most of the suggestions to end bullying open a door that symbolizes dialogue within the school and with the entire educational community. It presents a space in which the debate, the lecture on violence in the school context can take place. The promotion of this dialogue is materialized in the texts as a way of portraying the students' worldview and reality.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Violência escolar e os tipos de bullying ... 24

Figura 2 – Concepção tridimensional do discurso ... 28

Figura 3 – Relação dialética entre os significados do discurso ... 30

Figura 4 – Contextualização das palavras da Tabela 2... 63

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Termo de assentimento ... 51

Gráfico 2 – Você já sofreu bullying na escola? ... 51

Gráfico 3 – Quanto tempo durou? ... 52

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Instituições de Mato Grosso que participaram da pesquisa ... 42

Tabela 2 – Se você já viu alguém sofrendo bullying, relate o ocorrido. Recorrência ... 53

Tabela 3 – Léxico: Pessoas/Pessoa recorrentes na questão 26 “Se você já viu alguém sofrendo bullying, relate o ocorrido” contextualizado. ... 54

Tabela 4 – Léxico: Pessoas/Pessoa recorrentes na questão 27 “Você tem alguma sugestão para acabar com o bullying?” contextualizado. ... 58

Tabela 5 – Léxico: Muitas/Muitos recorrentes nos textos dos estudantes... 67

Tabela 6 – Atributo: Gordo/a ... 69

Tabela 7 – Atributos: preto/negra/cor ... 70

Tabela 8 – Você tem alguma sugestão para acabar com o bullying? Recorrência ... 72

Tabela 9 – Vocábulo: brincadeira/brincadeiras/brincar” contextualizado... 75

Tabela 10 – Extratos dos textos que sugerem “punição” e “castigo” para acabar com o bullying ... 76

Tabela 11 – Extratos dos textos que sugerem discursos de apologia a violência ... 78

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IFMT – Instituto Federal de Mato Grosso UNIC – Universidade de Cuiabá

GPHSC – Grupo de Pesquisa Humanidade e Sociedade Contemporânea PPGEN – Programa de Pós Graduação em Ensino

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CAAE – Certificado de Apresentação de Apreciação Ética MEC – Ministério de Educação

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ETF – Escola Técnica Federal

CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica PROEP – Programa de Expansão Profissional

SETEC – Secretaria Educação Profissional e Tecnológica DO – Diário Oficial

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 20

1.2 EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS ... 20

1.3 O CONCEITO DE VIOLÊNCIA ESCOLAR E BULLYING ... 21

1.4 A LEI 13.185/2015 ... 25

1.5 ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA - ADC ... 26

1.6 WORDSMITH ... 28

1.6.1 Percursos discursivos ... 29

1.6.2 Significados representacionais da linguagem ... 32

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 35

2.1 CAMINHOS DA PESQUISA QUALITATIVA ... 35

2.1.1 Os métodos da pesquisa qualitativa ... 37

2.1.2 A ética na pesquisa qualitativa ... 40

2.1.3 Escolas participantes da pesquisa ... 42

2.1.4 Contexto histórico do Instituto Federal de Mato Grosso ... 43

2.1.5 Contexto histórico da Escola Estadual Liceu Cuiabano Maria de Arruda Muller ... 46

2.1.6 Histórico da Escola Estadual André Maggi ... 47

2.1.7 O questionário... 47

2.1.8 Sujeitos da pesquisa... 49

3 ANALISANDO OS DADOS QUALITATIVOS ... 50

3.1 A ADC E O ANALISTA ... 50

3.2 ANALISANDO OS DADOS ... 51

3.3 ADC 1: VOCÁBULOS, MODALIDADE DEÔNTICA, ADJUNTOS ADNOMINAIS E ATRIBUTOS ... 54

3.3.1 Vocábulos ... 54

3.3.2 Modalidade deôntica ... 65

3.3.3 Adjuntos modais ... 67

3.3.4 Atributos: processos representacionais de classificação ... 68

3.4 ADC 2: VOCÁBULO E COESÃO ... 71

3.4.1 Vocábulo ... 71

3.4.2 Coesão ... 78

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 81

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INTRODUÇÃO

O CENÁRIO DA PESQUISA

A prática do discurso revolucionário e do discurso científico, nos últimos dois séculos, não o libertou dessa ideia de que as palavras são sopro, um murmúrio externo, um bater de asas que se tem dificuldade de ouvir no assunto sério que é a história (FOUCAULT, 1987, p. 235).

Nesta pesquisa, investigo as situações de possíveis processos de violência escolar, o

bullying, envolvendo adolescentes em sete instituições de ensino de Mato Grosso para

promover ações de intervenção que possam contribuir para amenizar o problema. O objetivo desta pesquisa é investigar, compreender e interpretar os processos de violência escolar, o

bullying, envolvendo adolescentes do ensino médio de sete instituições de ensino de Mato

Grosso. E, para isso, elejo alguns objetivos específicos: i) identificar os vocábulos presentes nos textos dos alunos sob o viés da análise de discurso crítica; ii) classificar as formas de atuação em termos de combate, prevenção e resolução de conflitos identificados nos textos dos alunos; iii) investigar como os vocábulos sobre o bullying oriundos dos discursos dos alunos podem orientar o processo de ensino aprendizagem de professores que atuam no Ensino Médio.

Depois de delimitar os objetivos, procuro responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como os vocábulos presentes nos textos dos alunos revelam a compreensão deles sobre o

bullying e podem orientar o processo de ensino aprendizagem de professores que atuam no

Ensino Médio?

As inquietações apresentadas resultaram da vivência no desenvolvimento do projeto realizado pelo GPHSC – IFMT, em algumas instituições de ensino de Mato Grosso, que apontam o quão séria é a presença de bullying em contexto escolar, provocando o baixo rendimento de alunos, além de doenças da mente, como a depressão e a evasão escolar.

Ao longo de minha vida estudantil e profissional, sempre gostei de estudar a relação entre poder e conhecimento e como eles são usados para o controle social. Encontrei nos estudos do professor e filósofo Michel Foucault teorias sobre o saber, o poder e o sujeito que têm sido uma enorme influência para mim, pois sempre procurei entender determinados discursos que são utilizados para manutenção de preconceitos na sociedade, os quais, para mim, não contribuem para a formação humana. Com os estudos de Foucault, popularizou-se o conceito de discurso e de análise de discurso em estudos de transformações sociais e como sempre tive o desejo de compreender o porquê de determinadas atitudes do ser humano para com o outro, entender como a luta entre os discursos acontece na sociedade e como estes discursos perpetuam

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a Violação dos Direitos Humanos. Os estudos de Foucault (2003) contribuíram para a minha inquietação na busca pelo conhecimento através da construção do conceito de “ordem do discurso” e os três significados do discurso (ação, representação e identificação) apresentados por Fairclough (2001), utilizados para a análise de dados neste trabalho.

O primeiro contato com o GPHSC - IFMT foi no final de 2018, quando fui apresentada por uma das pesquisadoras do grupo. Assim que saiu a aprovação do Edital 106/2018 – Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEn) IFMT, escrevi um projeto para alunos do ensino fundamental com o objetivo de agregar conhecimentos ao grupo de pesquisa registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que consta com pesquisa inicial sobre o tema já aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, N° Parecer: 3.088.340/3.183.676 pelo campus Cuiabá Bela Vista. O objeto de pesquisa do grupo é a violação dos Direitos Humanos entre adolescentes, dentre eles, o bullying, com as múltiplas formas de violência: física, psicológica e simbólica, as quais estão presentes no contexto escolar.

Assim que saiu a aprovação do meu projeto, nesse edital, comecei um trabalho tímido, com muita cautela, ao procurar compreender o contexto de trabalho sobre a temática da violação dos Direitos Humanos que o grupo já realizava. Ao chegar a minha primeira reunião, participei de um momento de troca de livros, proporcionado pela líder do grupo, minha orientadora nesta pesquisa. Com o passar dos dias, fui ganhando a confiança do grupo, o que me permitiu crescer enquanto pesquisadora.

O corpus ficou delimitado por 449 questionários, respondidos em sete instituições de ensino do Estado de Mato Grosso, cinco campi do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia: Cuiabá/Octayde; Cuiabá/Bela Vista; Várzea Grande; Barra do Garça; Campo Novo do Parecis e, ainda, em duas Escolas Estaduais: Liceu Cuiabano e André Maggi de Ipiranga do Norte. As instituições que fazem parte da pesquisa inicial GPHSC-IFMT que não entraram no corpus deste trabalho, foram cinco escolas de ensino fundamental e dois campi que são fora do estado de Mato Grosso, pois não se encaixaram no contexto desta pesquisa.

Essa escolha está pautada na necessidade de perceber os problemas no contexto educacional para que, durante e posteriormente ao processo de geração de dados, possa colaborar com ações que venham contribuir com o empoderamento dos estudantes no/pelo discurso, principalmente, combater, prevenir e mitigar os conflitos identificados nas escolas, dessa forma, poder orientar o processo de ensino aprendizagem de professores que atuam no Ensino Médio.

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O eixo metodológico é a pesquisa qualitativa – descritiva e interpretativa, balizada por questionários elaborados no Google drive. Os dados serão tratados sob o olhar da Análise de Discurso Crítica - ADC. A escolha da ADC, como fundamentação teórica para análise de dados, está na relevância dos problemas sociais relacionados a poder existente que permeia as práticas sociais ocorridas no contexto escolar que essa abordagem teórico-metodológica interdisciplinar atribui ao papel social da linguagem. Espera-se que, com este projeto, a escola tenha a oportunidade de discutir o tema e prevenir ações negativas de alunos que provoquem bullying e danos à comunidade escolar.

Recentemente, o GPHSC-IFMT publicou o E-book: Bullying: caminhos para o combate, pela Atena Editora, reuniu as publicações do grupo de pesquisa apresentados em eventos em uma única publicação pela necessidade de disponibilizar à comunidade escolar os resultados das pesquisas realizadas desde 2016.

A temática da violação dos Direitos Humanos é recorrente, e há interesses institucionais em pesquisas como essa na área da Educação e do Ensino tanto em instituições públicas quanto privadas.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO GRUPO DE PESQUISA – GPHSC-IFMT

O Grupo de Pesquisa Humanidades e Sociedade Contemporânea do IFMT é um grupo de pesquisa formado por profissionais de diferentes áreas do conhecimento, o que possibilita uma diversidade de olhares para o mesmo fenômeno. O interesse dos pesquisadores, em desenvolver a pesquisa acerca da temática no Programa de Pós-Graduação em Ensino na Universidade de Cuiabá (UNIC) em associação ampla com o IFMT, está vinculado à participação desta pesquisadora no GPHSC-IFMT com o foco na individualidade dos alunos de verem/entenderem o mundo, reiterando discursos ideológicos e/ou tentando superá-los. E, com isso, contribuir de maneira positiva para a aplicação dos direitos humanos no âmbito escolar e com a formação cidadã e de respeito à diversidade, proporcionando aos alunos reflexões sobre os comportamentos e discursos de bullying para combater e prevenir a violência nas escolas.

O Grupo de Pesquisa foi criado em 2008 por um grupo de professores de filosofia, tendo como líderes a Profª. Dra. Raquel Martins Fernandes e o prof. Dr. Felicissimo Bolivar da Fonseca, registrado pela instituição junto ao CNPq. O objetivo inicialmente era de estudar referenciais filosóficos e de compreender a sociedade contemporânea e sua complexidade. Porém, o grupo cresceu e os novos integrantes são pesquisadores de várias áreas do

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conhecimento dentre elas estão - ciências humanas, sociais e, até mesmo, ciências naturais e exatas.

Com isso, as atividades de pesquisa do grupo apresentam um caráter interdisciplinar que segundo Zabala (2002, p. 32) “É a interação de duas ou mais disciplinas que pode ir desde a mais simples comunicação até a integração recíproca dos conceitos fundamentais e da teoria do conhecimento, da metodologia, dos dados da investigação e do ensino. ”

O GPHSC-IFMT busca esclarecer a sociedade contemporânea a partir de diferentes concepções teóricas entre diversos autores, minuciando e analisando de diferentes ângulos os mesmos fenômenos. Em outros termos, o GPHSC-IFMT ciente de sua estrutura multidisciplinar, formado por pesquisadores de diversas áreas do conhecimento “com caráter somativo e independente uma das outras” (ZABALA, 2002, p. 32) produz diferentes recortes de um mesmo sujeito/objeto/fenômeno pesquisado e fundamentado com diferentes concepções teóricas e autores.

Desse modo, a perspectiva que orienta o grupo é transdisciplinar, “com o objetivo de constituir uma ciência que explique a realidade sem fragmentações”, pois a transdisciplinariedade é o estágio “global e totalizador” de interação entre as disciplinas (ZABALA, 2002, p. 33) e a produção do GPHSC-IFMT é o resultado de debates e de intervenções críticas realizadas no percurso dos pesquisadores, o que nos proporciona encontrar na diversidade de experiências e de visões teóricas de seus pesquisadores, os conceitos e métodos adequados a uma compreensão interdisciplinar.

Do ponto de vista metodológico, adotaram-se, nas pesquisas do Grupo, algumas abordagens como a qualitativa interpretativa descritiva com o foco participativo e nos elementos sócio-políticos e estéticos da dimensão educativa. Essa é uma pesquisa que não se preocupa em produzir medições, enumerações e estatísticas, pois o contato direto do pesquisador procura na multiplicidade de experiências e visões teóricas de seus pesquisadores, os conceitos e métodos adequados a uma compreensão interdisciplinar para a violência, discriminação, preconceito, xenofobia e bullying, alguns dos temas abordados nas reuniões do Grupo de Pesquisa.

Ademais, pesquisas que fazem um estudo fenomenológico, como proposto por Husserl (1973) que consiste na descrição direta da experiência tal como ela é, que segundo Merleau-Ponty (1999), é o estudo das essências, e todos os problemas. Segundo ela, resumem-se em definir essências, a essência da percepção, a essência da consciência. A abordagem que utilizo nesta pesquisa é também qualitativa, porém com o foco na linguagem, práticas e objetos inseparáveis, contextualizada como produto interacional e influências recíprocas da ação

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humana. Isso contextualiza a presente pesquisa como estudo de representação discursiva e social do bullying pelos estudantes ancorada no arcabouço teórico da ADC que concebe a relação do funcionamento social da linguagem e o método de análise. E, por último, a pesquisa quantitativa, que é utilizada pelo Grupo com uma abordagem diferenciada que quantifica e busca também ver o significado, o que evoca das qualidades do sujeito/processo/objeto.

Além de discussões sobre temas relevantes, o Grupo promove ações que combatem os problemas sociais, com base nos dados diagnósticos que permitem desvelar elementos que corroborem com as propostas pedagógicas e as políticas públicas da atualidade.

O Grupo tem pesquisas em andamento no contexto escolar, pois a escola é, depois da família, o mais importante ambiente de socialização, no qual crianças e jovens passam boa parte do tempo e a sua função é educar, proteger e aprimorar seus estudantes no que se refere aos valores, ao respeito e ao exercício da cidadania e do direito de todos. No entanto, esse é um desafio que não tem sido fácil de enfrentar, já que os índices de violência, de norte a sul do país, são cada vez maiores no contexto da escola brasileira.

A primeira etapa da pesquisa foi desenvolvida no período de agosto de 2016 a agosto de 2018 com alunos do Ensino Médio. O instrumento de coleta de dados foi um questionário disponibilizado de forma on-line, através do google-drive, que permitiu aos estudantes maior comodidade para participarem da pesquisa, pois puderam responder em diversos espaços como: casa, escola e smartphone, composto por 13 questões, sendo 11 objetivas e 2 subjetivas. Há índices, constantes nos 16 trabalhos e artigos apresentados e publicados em 2016 e 2017 pelo grupo, um número crescente de casos de bullying abrangendo a faixa etária de alunos que cursam ensino médio. Do total de 616 alunos que responderam aos questionários na pesquisa realizada, 121 afirmaram ter sofrido violação de seus direitos no ambiente escolar (21,3%); dentre estes o percentual maior encontra-se na escola particular (51,85%), e o número maior de vítimas são do sexo masculino (53,57%). Dentre as agressões, as que atingem um maior percentual: apelidos (48%) e insultos devido a características físicas (48%), - dizer coisas negativas sobre a pessoa ou família (34%), a agressão física, um percentual menor (12%). De um modo geral, nas sugestões para acabar com o bullying, os adolescentes se colocam como protagonistas sociais, visando uma geração mais humana; no entanto, alguns acreditam que para combater a violência deve-se utilizar mais violência. O protagonismo dos jovens favorece a construção de ambientes democráticos onde as diferenças possam ser respeitadas; inibindo e prevenindo a violência física ou simbólica (FERNANDES et al., 2020).

O bullying é definido como um tipo de violência repetitiva e intencional que traz consequências ruins no desempenho dos estudantes e dificulta a interação e a socialização no

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ambiente escolar; possuindo dois aspectos fundamentais: - a relação de força que permite uma dominação de um grupo sobre outro, trazendo desigualdade; e – a imposição do silêncio e da passividade, subtraindo a qualidade de sujeito à vítima, desumanizando-a (MOTA et al., 2018). O envolvimento em situações de bullying, seja como vítima ou agressor, está associado a prejuízos físicos, psicológicos e sociais profundos, a curto e a longo prazo. Entre os prejuízos causados por este fenômeno estão: os problemas de autoestima, de relacionamento com os pares, dificuldades na aprendizagem, evasão escolar, comportamentos violentos, sintomas psicossomáticos, depressão, risco de suicídio e uso de álcool e drogas ilícitas. Os atos de agressividade, inseridos em contexto cultural específico, repercutem negativamente nos diversos contextos sociais (MOTA et al., 2017).

As formas de agressão entre os alunos têm ocorrido de diversas formas e em todas as idades, desde a educação infantil até os últimos anos do ensino médio, comprometendo o processo de aprendizagem do indivíduo e a qualidade de vida dos envolvidos. O bullying tem se tornado objeto de atenção de diversos pesquisadores nos últimos anos, inclusive por profissionais da saúde que afirmam que para as vítimas de bullying, os danos psicológicos podem ser gravíssimos, contribuindo para o desenvolvimento de doenças como ansiedade, dificuldades de relacionamento, problemas psiquiátricos, comportamentos agressivos, entre outros (MOTA et al., 2017, p. 4-5).

Quando se considera especificamente os adolescentes, observa-se que a agressão pode ter consequências graves, no caso dos jovens, eles podem não ter competências emocionais desenvolvidas para lidar com esta situação, a ideia de que somente através do uso da violência é que se torna possível a resolução de conflitos. Isso acontece porque as agressões podem afetar o equilíbrio mental do indivíduo (SILVA, 2020).

O grupo fez relevante publicação internacional no Congresso Ibero Americano de Pesquisa Qualitativa com o artigo intitulado Pesquisa qualitativa em Educação: estudos transdisciplinares do Grupo de Pesquisa Humanidades e Sociedade Contemporânea do IFMT (GPHSC-IFMT) que apresentam reflexões que apontam para o falso dualismo entre a pesquisa qualitativa e quantitativa na educação. E, ainda, novamente em 2020, o grupo publicou, nesse mesmo congresso internacional, o artigo ‘Pesquisa qualitativa transversal sobre bullying no grupo de pesquisa em humanidades e sociedade contemporânea do IFMT (2016 a 2019)’ que analisa as pesquisas realizadas pelo Grupo entre os anos de 2016 a 2019, apresentando as contribuições sobre a violação dos Direitos Humanos e o combate ao bullying. Em 2019, o grupo de pesquisa contou com a adesão de novas escolas e pesquisadores (N° Parecer: 3.088.340/3.183.676) e foi reaplicado o questionário, agora ampliado e aprimorado com 27 questões (24 objetivas e 2 subjetivas) em 11 escolas de Mato Grosso, onde foram identificados

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índices crescentes de casos de bullying, abrangendo a faixa etária de alunos que cursam ensino médio. Do total de 569 alunos que responderam aos questionários na pesquisa realizada entre setembro a novembro de 2019, (17,2%) afirmaram ter sofrido violação de seus direitos no ambiente escolar; e o número é muito maior na pergunta: Você já sofreu bullying na escola? (60,7%) responderam sim. E, ainda, (67,7%) responderam que os agressores são os próprios colegas de sala e, em segundo lugar, são os colegas de outras salas (39,6%). Sobre o tempo que duraram as agressões, o item “mais de 1 ano” atingiu o maior percentual (41,2%), seguido de “1 ano” (18,8%). De um modo geral, as sugestões para acabar com o bullying, os adolescentes se colocam como protagonistas sociais, visando uma geração mais humana; no entanto, alguns discursos de combate à violência apresentam um paradoxo, pois sugerem mais violência.

Dessa forma, observamos um ponto que poderia contribuir com o GPHSC/IFMT que é desenvolver um trabalho com as duas questões abertas do novo questionário, pois assim poderíamos entender os processos de escolhas de vocabulário que podem apresentar o posicionamento político-ideológico dos estudantes em relação ao bullying e se essas escolhas das palavras produzem nos textos sentido contraditório de intolerância, de vingança em relação ao combate do bullying.

Com isso, poderemos abrir um espaço nas escolas, nas quais o debate sobre a violência no contexto escolar pode ser uma boa sugestão educativa na prevenção do bullying.

Esta pesquisa de natureza qualitativa (descritiva e interpretativa) é também de cunho explicativo, na dimensão da análise linguística, em que foram analisadas as categorias gramaticais, ‘significado de palavras’, presente nos textos dos alunos, aponta sugestões para mitigar bullying e como estes avaliam esse fenômeno. Pensando nisso, nosso objeto de pesquisa é os discursos dos estudantes como protagonistas sociais no contexto de pesquisa das duas questões abertas do questionário que 449 alunos do Ensino Médio, dentre as 11 escolas onde o questionário foi aplicado no estado de Mato Grosso, responderam no ano de 2019.

Esta pesquisa é composta por quatro capítulos, além da presente introdução. No capítulo 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – apresento o referencial teórico que fundamenta está pesquisa sobre Educação e Direitos Humanos, o conceito de Violência Escolar e Bullying, a Lei 13.185/2015 que institui o programa de combate ao bullying e, por último, descrevo o referencial teórico da ADC utilizada na análise dos dados deste trabalho.

No capítulo 2 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS - apresento e caracterizo os atores sociais, bem como as ferramentas utilizadas e o referencial teórico-metodológico mediante a escolha da pesquisa de natureza qualitativa com abordagem metodológica de investigação direta na fonte dos dados e no ambiente natural (BOGDAN; BIKLEN, 1994). E

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isso envolve analisar as respostas dos alunos e captar as significações individuais que eles atribuem para representar o mundo. Os textos/eventos discursivos constituem o objeto de análise e, por meio deles, tem-se uma possível materialização dos sentidos que povoam o contexto sócio-histórico-cultural dos sujeitos observados.

[...] os levantamentos sociais têm uma importância particular para a compreensão da história da investigação qualitativa em educação, dada a sua relação imediata com os problemas sociais e a sua posição particular a meio caminho entre a narrativa e estudo científico (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 23).

O objetivo do capítulo 3 - ANALISANDO OS DADOS QUALITATIVOS - é ampliar a discussão voltada para a análise dos textos produzidos pelas práticas discursivas dos estudantes participantes desta pesquisa como forma de práticas sociais e como estes podem indicar caminhos de mudança social sobre o bullying nas escolas.

A análise de dados está ancorada nos procedimentos metodológicos adotados, com vistas a responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como os vocábulos presentes nos textos dos alunos revelam a compreensão deles sobre o bullying e podem orientar o processo de ensino aprendizagem de professores que atuam no Ensino Médio? As aproximações de respostas às perguntas formuladas encontram-se balizadas pelos caminhos dos significados acionais e representacionais registradas neste capítulo, cuja análise se desdobra em duas seções. A primeira, a partir de uma breve explanação sobre a escolha da ADC e sobre o papel do analista de discurso. Na segunda, para operacionalizar de maneira precisa a análise neste momento apresentada, exponho, a seguir, um detalhamento dos textos, realizado com a ferramenta

Wordsmith Tools.

E, por último, no capítulo 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS - teço as considerações sobre os resultados da análise crítica realizada nos textos dos estudantes de ensino médio e apresento, sobretudo, algumas implicações e relevâncias voltadas para a violência no contexto escolar, o que pode ser considerado como uma forma de contribuição para futuras pesquisas que venham a contemplar o empoderamento nos discursos de combate a violação dos direitos humanos e bullying no ensino médio.

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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O discurso é uma prática, não apenas de representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado [...] podemos distinguir três aspectos dos efeitos construtivos do discurso. O discurso contribui, em primeiro lugar, para a construção do que variavelmente é referido como “identidades sociais” e “posições de sujeito” [...]. Segundo o discurso contribui para construir as relações sociais entre as pessoas. E, terceiro, o discurso contribui para a construção de sistemas de conhecimento e crença (FAIRCLOUGH, 2001, p. 91).

1.1 EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS

Discussões apontam as possíveis aproximações entre os campos da educação e dos direitos humanos, o que se fazem necessárias mudanças no meio social e a criação de uma cultura dos direitos humanos, que promovam, ao mesmo tempo, a democratização de processos educativos, além da sensibilização e a conscientização da dignidade de toda pessoa humana diante das constantes violações de direitos (CANDAU; SACAVINO, 2013). Historicamente, a educação em direitos humanos, na América Latina, foi construída com diversos conceitos e significados que devem ser considerados em seus contextos sociais e históricos para compreendermos o debate.

Nesse sentido, Candau e Sacavino (2013, p. 63) explicam:

Nos anos 1980 a educação em Direitos Humanos na América Latina apresentava a tendência a ser concebida como prática preventiva que procurava defender a vida e fortalecer os processos de democratização. Nos anos 1990, adquiriu legitimidade institucional e especialização, voltou-se para diversos destinatários e níveis de ação. No novo milênio, a educação em Direitos Humanos parece enfatizar a promoção de práticas que permitam às pessoas e aos diferentes grupos sociais o conhecimento e o acesso a seus direitos, a seu empoderamento, à consolidação de uma cultura democrática e ao fortalecimento do Estado de direito. No entanto, convém voltar a assinalar que o seu desenvolvimento é muito heterogêneo e desigual nos diferentes países do continente.

No Brasil, a relação entre direitos humanos e educação se legitimou com o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) e as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH) quando o órgão do Ministério da Educação, em 2011, aumentou sua perspectiva de ação intitulada como a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI). No entanto, os direitos humanos sistematicamente sofrem violações das mais diversas formas de violências. A violação de direitos, atualmente, faz com que muitas pessoas digam que os direitos humanos compreendem um discurso utilizado mais para legitimar situações de violação, do que um instrumento de luta pela justiça, paz e democracia (CANDAU; SACAVINO, 2013).

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Cescon e Stecanela (2015) salientam que a produção de conhecimentos em educação sobre os direitos humanos atual tem como foco a formação do sujeito de direitos na sua participação social e que o objetivo da educação em direitos humanos é preparar esse sujeito para contribuir na construção de uma sociedade mais justa e igualitária com:

[...] valores da liberdade, da justiça, da igualdade, da democracia, do pluralismo e o respeito à diversidade, da tolerância, da solidariedade e do reconhecimento do outro como um legítimo outro (CESCON; STECANELA, 2015, p. 16-17).

Para Carvalho (2018), a introdução dos direitos humanos na formação do cidadão é considerada uma prática conveniente e contribui para a conquista de uma sociedade menos violenta que respeite a diversidade cultural marcando um novo período para a educação com profissionais diversificados dispostos a criarem um processo pedagógico que vise as relações interpessoais, interinstitucionais, transculturais e transdisciplinares.

É preciso frisar que os processos educacionais são fundamentais para internalizar na sociedade uma cultura dos Direitos Humanos e a comunhão desses processos mostra um panorama de um arcabouço empírico e teórico, nacional e internacional, que deve necessariamente ser levado em consideração quando o assunto for a produção de conhecimentos em educação sobre os direitos humanos. É preciso incluir ainda, nesses processos educacionais, os problemas com a violência escolar e bullying que ferem os Direitos Humanos e tem sido causa de muitos problemas nas instituições de ensino, atualmente.

1.2 O CONCEITO DE VIOLÊNCIA ESCOLAR E BULLYING

A violência escolar pode ser caracterizada como um problema crônico, recorrente, é um tema muito abrangente, uma vez que sua definição é bem variada. A violência:

[...] é todo ato que implica o rompimento da relação social pelo uso da força. Nega-se, assim, a possibilidade da relação social que se instala pela comunicação, pelo uso da palavra, pelo diálogo e pelo conflito (ABRAMOVAY; AVANCINI, 2003, p. 9).

Discutir violência escolar significa entender que a escola é espaço social de diálogo e, nesse sentido, as escolas são tanto locais de desenvolvimento intelectual como também de interações sociais, onde todos os participantes da comunidade escolar são sujeitos socioculturais, envolvidos em interações cotidianas. Para Mota (2017, p. 04):

Depois da família, a escola é o mais importante ambiente de socialização, sendo o espaço onde as crianças e os jovens passam boa parte do tempo e a sua função é educar, proteger e aprimorar seus estudantes no que se refere aos valores, o respeito e

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o exercício da cidadania e do direito de todos. No entanto, esse é um desafio que não tem sido fácil de enfrentar, já que os índices de violência, de norte a sul do país, são cada vez maiores no contexto da escola brasileira.

Para Williams e Pereira (2010), a violência escolar não é de fácil compreensão, pois sua caracterização está ligada aos aspectos culturais, históricos e individuais, porém, as autoras apontam que a violência escolar engloba tanto a forma mais visível da violência, como agressão entre indivíduos, quanto a violência simbólica que se caracteriza por meio das regras, normas e hábitos culturais de uma sociedade desigual.

Nessa perspectiva, Chauí (1998, p. 33) define violência como “um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror”. Dessa forma, fica claro que a ação parte de um ser consciente, racional e responsável pelo que faz.

A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos, inertes ou passivos. Na medida em que a ética é inseparável da figura do sujeito racional, voluntário, livre e responsável, tratá-lo como se fosse desprovido de razão, vontade, liberdade e responsabilidade e tratá-lo não como humano e sim como coisa, fazendo-lhe violência nos cinco sentidos em que demos a esta palavra (CHAUÍ, 1998, p. 33).

A agressão e a violência humana são um problema social grave que estão diariamente estampadas nos jornais. A violência nas escolas deixou de ser assunto apenas de educadores e tomou proporções que vão além dos muros das escolas. Esse é um assunto que está presente nas redes sociais, no contexto familiar e nas conversas entre amigos.

O termo bullying pertence à língua inglesa e significa - ato de ameaçar e intimidar (principalmente na escola) (CAMBRIDGE DICTIONARY, 2019). No Brasil está relacionado ao comportamento agressivo, situações de abuso e intimidação sistemática que ocorre dentro e fora da escola.

Ainda que o termo bullying seja conhecido no Brasil desde 1970, de acordo com Guimarães (2009), no ambiente escolar do Brasil, ele começou a ter espaço como objeto de estudo somente a partir da década de 1990. Autores como Abromavay e Castro (2006) enfatizam a necessidade de mais pesquisas sobre o bullying no contexto escolar porque é um fenômeno que causa muita preocupação no meio acadêmico devido às consequências negativas que deixam nos estudantes que sofreram com esse tipo de violência.

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No artigo publicado por Oliveira (2017),1 observa-se que ainda existe o favorecimento de modo estereotipado pelo binômio estabelecido no ambiente educacional que estigmatiza a incapacidade feminina de realizar atividades práticas agrícolas.

Essa discriminação velada, no que tange às relações de gênero, pode ser observada por Oliveira (2017), durante sua pesquisa de mestrado com os estudantes do curso Técnico em Agropecuária Integrado do IFMT Campus São Vicente. Embora essa forma de violência ainda aconteça no contexto escolar desse campus, o enfrentamento das estudantes tem ganhado novas roupagens em nossa contemporaneidade, a presença feminina não se reduz mais a submissão diante dos problemas, mas a torna capaz de transgredir as barreiras na busca de sucesso em seus objetivos.

Esses exemplos são importantes para a compreensão de que esses atos não podem ser banalizados ou naturalizados. É fato que ‘nem toda violência é considerada bullying, porém todo bullying é uma forma de violência’ (SILVA, 2019). Apesar de ambos serem um ato de brutalidade, incivilidade e causar dor e sofrimento à vítima, o bullying se diferencia por suas características peculiares, como repetição, intencionalidade, por não ter motivação aparente e por haver desequilíbrio de poder, pois normalmente a vítima não tem condições para se defender.

De acordo com a professora Mota (2017), o bullying tem consequências graves dentro da escola, causando danos irreparáveis nas vidas dos envolvidos. Neste sentido, torna-se relevante o acompanhamento dos alunos pelos pais e pelos profissionais da educação, principalmente com relação a alterações de comportamento, marcas de violência no corpo e demais situações tidas como incomuns no dia a dia dos estudantes.

As abrangências e as nuances em que o bullying aparece são marcadas por uma linha tênue com a violência. Fante (2005) considera como ponto principal do entendimento que o ato praticado é bullying quando se considera de que é uma ação repetitiva contra a mesma vítima num período longo de tempo; desconsidera um episódio e um ato isolado, além de demonstrar o desequilíbrio do poder, pois normalmente a vítima não consegue se defender e acontece sem motivação aparente. “O ponto central dessa busca por conceitos é que tanto o bullying quanto a violência escolar são a materialização da violação dos direitos humanos, que fere princípios éticos e de cidadania das vítimas” (SILVA, 2019, p. 66).

1 Apresentado no IX Seminário Internacional Redes Educativas e Tecnologias sobre as experiências e

cotidianidades de mulheres- estudantes do curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Nível Médio do IFMT Campus São Vicente.

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O artigo 3º da Lei de Intimidação Sistemática categoriza seis tipos de bullying, sendo: Físico, que consiste em bater, beliscar, ferir, empurrar, agredir; Verbal, que é apelidar, gozar, insultar; Psicológico/Moral, que consiste em intimidar, ameaçar, perseguir, ignorar, aterrorizar, excluir, humilhar, difamar, caluniar, discriminar, tiranizar; Material, que é roubar, destruir pertences materiais e pessoais; Virtual, que implica em insultar, discriminar, difamar, humilhar, ofender por meio da Internet e/ou aparelho celular; e Sexual, que conceitua como abusar, violentar, assediar, insinuar (BRASIL, 2015).

O desdobramento desses seis tipos de bullying existentes (físico, verbal, psicológico, material, sexual e virtual) se assemelha no que concerne violar a integridade do outro (SILVA, 2019).

No entendimento de que algumas ações têm implicações mais amplas, Silva (2019), apresenta os vários tipos de categorias de bullying que se entrecruzam com outras formas de violência escolar, tornando mais específicas em sua identificação.

Para ilustração das formas de violência escolar e bullying segue a Figura 1, que apresenta as formas trazidas pela Lei nº 13.185/2015 e por Fante (2005), para melhor compreensão e entendimento de que as violações de direitos transitam em conjunto e não se classificam e se mensuram isoladamente, é importante levar em consideração todo contexto e complexidade de como as formas como a violência escolar se apresentam (SILVA, 2019).

Figura 1 – Violência escolar e os tipos de bullying

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No artigo publicado na Revista Prática Docente, os autores Silva, Fernandes e Oliveira apresentam uma abordagem epistemológica sobre o fenômeno bullying e outros tipos de violações de direitos que precisam ser discutidos pelos sujeitos envolvidos no contexto escolar, buscando estratégias de enfrentamento com o intuito promover um ambiente de respeito e reciprocidade (SILVA; FERNANDES; OLIVEIRA, 2020).

Segundo os autores, o cotidiano escolar apresenta paradoxos educativos, a escola tem um importante papel social na transformação da sociedade, porém essa mesma instituição educativa reproduz com rigidez suas práticas de desigualdade e intolerância. Com isso, o contexto escolar está marcado com dúvidas, subjetividades, conflitos e discriminação. A discriminação que é bullying camuflado nas relações sociais na escola. Esse é um fenômeno que desafia todos os envolvidos na sociedade escolar. E, ainda, essas atitudes de intolerância a diversidade que acontecem entre crianças e jovens são refletidas no relacionamento social no mundo adulto, na forma de situações de abuso de poder, desigualdades e violações dos direitos humanos.

O bullying, portanto, não deve ser considerado como algo natural na escola e no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, mas sim um indicador de risco que pode ocasionar comportamentos violentos mais graves, incluindo o porte de armas, agressões e lesões frequentes. O contato com esse fenômeno pode provocar nos estudantes situação de vulnerabilidade. O bullying está presente na maioria das escolas, “independentemente das características sociais, culturais e econômicas de seus alunos. Estudos demonstram que se trata de um problema mundial, comum a diversos países e escolas” (OLIVEIRA et al., 2017, p. 1845).

1.3 A LEI 13.185/2015

A Lei 13.185/2015 que Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) é um documento importante para a constituição deste corpus, uma vez que contribui para compreender esse fenômeno presente no contexto escolar em que este estudo foi realizado. É utilizada neste trabalho para balizar a percepção das violências que estão materializadas nos textos dos estudantes e como uma garantia dos direitos a educação, cultura e cidadania que temos na nossa legislação. A Lei contra o Bullying como é popularmente conhecida estabelece o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying) em todo o território brasileiro, para prevenir e evitar esse tipo de violência nas escolas. De acordo como prescrito na lei, considera-se bullying:

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[...] Todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas, quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda: ataques físicos, insultos pessoais, comentários sistemáticos e apelidos pejorativos, ameaças por quaisquer meios, grafites depreciativos, expressões preconceituosas, isolamento social e premeditado e pilhérias (BRASIL, 2015, art. 1º-2º).

Assim, o bullying é um mal a ser entendido sob uma óptica multifatorial e, nesta perspectiva, deve ser analisado por diferentes profissionais e pesquisadores, como filósofos, sociólogos, biólogos, psicólogos, cientistas políticos, juristas, psiquiatras e professores. Em âmbito escolar, são diversas as manifestações de violência, oito delas são apresentadas na forma da Lei 13.185/2015:

I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente; II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores; III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar; IV - social: ignorar, isolar e excluir;

V - psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar;

VI - físico: socar, chutar, bater;

VII - material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;

VIII - virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social (BRASIL, 2015, art. 3º).

No entanto, a lei fora criada para promover a conscientização e prevenção de combate ao bullying, por isso é intitulada como “Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying)” nas escolas e não como uma forma punitiva. Dessa forma, faz-se necessário o conhecimento dos dispositivos dessa lei a todos que desejam estudar ou implantar nas escolas projetos de prevenção, formação para todas as pessoas envolvidas na educação e ações de combate ao bullying.

Uma forma de combate ao bullying é desvelar o posicionamento dos estudantes diante desse problema. Utilizar a ADC como metodologia para trabalhar com as sugestões de combate que os próprios estudantes escreveram para analisar como o poder e a ideologia constituem os discursos desses estudantes.

1.4 ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA - ADC

Na década de 70 a ADC se separa da Linguística Crítica. Com a publicação de Language

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discussão entre “linguistas e pesquisadores da linguagem que se interessavam pela relação entre o estudo do texto e os conceitos de poder e ideologia” (MAGALHÃES, 2005, p. 02). No entanto, o surgimento da ADC aconteceu na década de 80, com Fairclough na Universidade de Lancaster com “estudos de textos e de eventos em diversas práticas sociais”, modernizando, ressignificando a teoria e a metodologia da descrição, interpretação e explicação da linguagem no contexto sócio-histórico (MAGALHÃES, 2005).

O aspecto principal da ADC é a capacidade de contribuir para a transformação da sociedade através do discurso. Com isso, atribui-se a ADC a natureza de crítica ideológica. Diante dessa natureza, a ADC fundamenta-se nas contradições latentes que existem nas práticas discursivas que sinalizam que há mudanças em curso. Por fim, as “práticas discursivas em mutação são um elemento importante na mudança social” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 82).

O discurso é uma prática, não apenas de representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado [...] podemos distinguir três aspectos dos efeitos construtivos do discurso. O discurso contribui, em primeiro lugar, para a construção do que variavelmente é referido como “identidades sociais” e “posições de sujeito” [...]. Segundo o discurso contribui para construir as relações sociais entre as pessoas. E, terceiro, o discurso contribui para a construção de sistemas de conhecimento e crença (FAIRCLOUGH, 2001, p. 91).

A prática discursiva é social, pois para construirmos o mundo em significado, nós precisamos apropriar de discursos que estão ligados a uma posição sujeito com uma identidade social pré-estabelecida socialmente, para assim, nos relacionarmos com outras pessoas, participando da construção do conhecimento no/pelo discurso. Dessa maneira, Fairclouhg (2001) nos apresenta os percursos discursivos sociais que fazem a conexão dos elementos sociais.

O trabalho encontra-se fundamentado nos estudos críticos do discurso e, de modo específico, guiado sob a luz dos pressupostos teórico-metodológicos da ADC, na vertente de Fairclough (2001, 2003, 2010), num roteiro balizado pelo diálogo da ADC e a teoria social da linguagem proposta por Halliday (1994). Analiso os dados na relevância dos problemas sociais relacionados ao poder existente linguisticamente nos textos que conectam o papel social da linguagem com a realidade escolar. Os sujeitos praticantes desse contexto social e as representações construídas, os sentidos dos vocábulos escolhidos por eles conscientes ou não, estão diretamente ligadas ao significado representacional de mundo desses sujeitos. Dessa forma, a escolha da abordagem tridimensional proposta por Fairclough (1992), justifica-se por se tratar de um procedimento descritivo utilizado para a análise textual e interpretativo para a

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prática discursiva e para a prática social. Esse modelo é representado pela Figura 2 e nela estão presentes três dimensões no discurso – texto, prática discursiva e prática social.

Figura 2 – Concepção tridimensional do discurso

Fonte: Adaptado de Fairclough (1992, p. 101).

O modelo tridimensional de Análise de Discurso proposto por Fairclough (1992) apresenta a análise da prática discursiva, do texto como mudança da prática social. A prática discursiva é mediadora entre o texto e a prática social, segundo Fairclough (2001, p. 35-36):

A conexão entre o texto e a prática social é vista como mediada pela prática discursiva: de um lado, os processos de produção e interpretação são formados pela natureza da prática social, ajudando também a formá-la e, por outro lado, o processo de produção forma (e deixa vestígios) no texto, e o processo interpretativo opera sobre ‘pistas’ no texto.

A estrutura textual refere-se às composições organizacionais do texto. Na análise das práticas discursivas, estão as atividades cognitivas de produção, distribuição e consumo do texto. E, por último, a análise da prática social está associada aos princípios ideológicos e hegemônicos do discurso.

1.5 WORDSMITH

O programa WordSmith Tools (SCOTT, 2008) é utilizado nesta pesquisa para organização e seleção dos dados. O programa oferece três recursos computacionais encontrados na barra de ferramenta do Wordsmith Tools como: Lista de Palavras (Wordlist), Concordância (Concord) e Palavras-Chave (Keywords). Com a Lista de Palavras (Wordlist) pode-se criar uma lista das palavras do corpus investigado, colocando-as em ordem alfabética e em ordem de frequência (SCOTT, 2008). Com o Concord, observa-se as concordâncias das palavras que estão no Wordlist e, por último, ainda com o Concord é possível criar um mapa gráfico que

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mostra onde a palavra ocorre no texto. A escolha desse programa deve-se pela facilidade que ele oferece para o analista trabalhar com grandes quantidades de textos e a possibilidade de categorizar as palavras para análise e interpretação. O uso do WordSmith Tools possibilitou-me fazer uma análise mais precisa dos dados e aumentar a confiabilidade à pesquisa desenvolvida. A ferramenta computacional – Wordsmith Tools – é utilizada para marcar a frequência e a localização de representações linguístico-discursivas, presentes nas respostas abertas do questionário de natureza escrita, que compõem o corpus. Isso contribuirá para desvelar a representação dos diferentes discursos sobre o bullying que circulam no contexto escolar das sete instituições de ensino de Mato Grosso. O propósito desta dissertação é de contribuir para a emancipação e “empoderamento” dos discursos dos estudantes sobre o bullying.

1.5.1 Percursos discursivos

Os percursos discursivos apresentados neste trabalho estão fundamentados nos estudos de Fairclough (2003, p. 2), o qual descreve a língua como “uma parte irredutível da vida social, dialeticamente interconectada a outros elementos de vida social”. O autor inglês estabelece a importância da língua para retratar o social e, ao mesmo tempo, mostra-nos como o social constitui a língua, ou seja, é na sociedade que se constitui a linguagem e é através da linguagem que representamos a sociedade.

A linguagem enquanto discurso vai além da função comunicativa e expressão do pensamento, ela é o meio pelo qual a ideologia e difundida na sociedade. Ela possui três efeitos construtivos do discurso, que Fairclough apresenta fundamentado no arcabouço teórico de Halliday (1978) que apresenta uma compreensão geral da estrutura linguística e identificou três funções da linguagem: ideacional, interpessoal e textual. Sob a primeira função, a linguagem “serve para a manifestação de ‘conteúdo’”, isto é, serve para a expressão da “experiência que o falante tem do mundo real, inclusive do mundo interior de sua própria consciência”. Sob a segunda função, a linguagem é responsável por “estabelecer e manter as relações sociais: para expressão de papéis sociais, que incluem os papéis comunicativos criados pela própria linguagem”. Sob a terceira função, a linguagem “capacita o falante e o escritor a construir ‘textos’, ou passagens encadeadas de discurso que sejam situacionalmente apropriadas” (HALLIDAY, 1976, p. 137).

As três funções do discurso se configuram dialeticamente e simultaneamente nas práticas sociais em três modos que se correlacionam com os três principais significados sempre presentes em textos - o significado acional – modos (inter)agir discursivamente referentes a

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gêneros, o significado representacional – maneiras individuais de representar os aspectos do mundo e o significado identificacional– maneiras de identificar(se), estilos (FAIRCLOUGH, 2003).

Com relação a esses três efeitos constitutivos do discurso do arcabouço teórico de Halliday (1994), Fairclough reconhece os três, mas, prefere incorporar a função textual ao significado acional, diferentemente de Halliday, que coloca a função textual separada da ideacional e da interpessoal: “Eu não distingo uma função ‘textual’ separada, ao contrário, eu a incorporo dentro da Ação” (FAIRCLOUGH, 2003, p. 27). Os três modos do discurso correlacionam-se dialeticamente em práticas sociais. A seguir, na Figura 3, reproduzo a representação de Resende e Ramalho (2005).

Figura 3 – Relação dialética entre os significados do discurso

Fonte: Adaptado de Resende e Ramalho (2005, p. 43).

À guisa de aprofundamento desses três significados – acional, representacional e identificacional – estão presentes concomitantemente em todo enunciado e reforçam a noção de multifuncionalidade, presente na Linguística Sistêmico-Funcional, assim como na ADC. Para Fairclough (2003), o discurso é retratado de três principais maneiras na relação entre textos e eventos nas práticas sociais:

i) Como modos de agir, relacionados com a nossa relação com os outros, com a ação sobre os outros e com o poder;

ii) como modos de representar, nossa relação com o conhecimento e como, por meio dele, as pessoas possuem o controle sobre as coisas;

iii) Como modos de ser, a identificação que se liga com as relações com a própria pessoa, ética e assuntos morais. A cada um desses modos de interação entre discurso

Figura 2 – Relação dialética entre os significados do discurso

Significado Representacional

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e prática social corresponde um tipo de significado, os quais serão explicitados a seguir.

Faz-se necessário destacar que, para Fairclough (2001), o discurso não apenas representa o mundo, como também é o próprio mundo, ou preferencialmente deve ser. E esse mundo é formado pelas identidades e relações sociais, as quais, por sua vez, moldam os diferentes papéis que devem assumir os sujeitos sociais. Contudo, para ele, a instância discursiva é parte indissociável da vida social, estando interconectada com outras – crenças, valores, ideologias, atividade material, relações sociais, instituições, posições. É um “momento” da prática social passível de ser analisado em função da materialidade dos textos produzidos em vários eventos sociais (CHAOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999). Os textos são entendidos como eventos discursivos situados na medida em que existem pela/na linguagem e ao mesmo tempo articulam diferentes discursos, uma vez que materializam determinadas formas de ver o mundo ou parte dele (RESENDE; ACOSTA, 2016).

Diferentes discursos lexicalizam o mundo de maneira diferente e para acessar essas diferentes maneiras de significar o mundo nos textos, foram criadas categorias analíticas, que “são formas e significados textuais associados a maneiras particulares de representar, de (inter)agir e de identificar(-se) em práticas sociais situadas” (VIEIRA; RESENDE, 2016, p. 112).

Assim, para ter acesso aos dados que os textos (respostas dos alunos) oferecem, foi definida, neste projeto de investigação, a análise crítica de vocabulário desenvolvida na linguística funcional e articulada em ADC, que defende “que os signos são socialmente motivados, isto é, que há razões sociais para combinar significantes particulares a significados particulares” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 103). Desse modo, podemos nos aproximar de instância das práticas sociais nos usos da linguagem e termos acesso às conexões entre o discursivo e o não discursivo. E, por último, escolhemos essa categoria, pois “as estruturações particulares das relações entre as palavras e das relações dos sentidos das palavras são formas de hegemonia” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 105) muito presente nos discursos dos adolescentes. Diferentes discursos em diferentes domínios ou ambientes institucionais podem vir a ser investidos de política e ideologicamente (FROW, 1985). Assim, os atos de violência nas escolas quando difundidos pela sociedade como ‘normais’ ou ‘coisas de crianças’ criam uma representação e essa representação do bullying pode reforçar ideologias e hegemonias vigentes. O conceito de ideologia em ADC é dotado de teor intrinsecamente negativo, pois é um instrumento semiótico que garante a manutenção temporária de uma representação particular de mundo (RAMALHO; RESENDE, 2018). E o conceito de hegemonia refere-se ao “poder

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sobre a sociedade como um todo de uma das classes economicamente definidas como fundamentais em alianças com outras forças sociais” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 122). Os dois conceitos são de caráter temporário, porque, apesar de serem reforçados por estruturas sociais são passíveis de transformação e reinvestidos.

Assim, corpus neste trabalho serão as categorias analíticas: significado de palavra,– considerado na análise dos dados que tratam da representação associada ao arcabouço teórico-metodológico da ADC, que contribui para a investigação de problemas sociais discursivamente manifestos, adotando como essencial a concepção de que discursos e práticas sociais estão dialeticamente interligados.

Os processos de produção são socialmente restringidos num sentido duplo. Primeiro, pelos recursos disponíveis dos membros, que são estruturas sociais interiorizadas, normas e convenções [...]. Segundo, pela natureza específica da prática social da qual fazem parte, que determina os elementos dos recursos dos membros a que se recorre e como (de maneira normativa, criativa, aquiescente e opositiva) a eles se recorre (FAIRCLOUGH, 2001, p. 109).

Investigar como ocorre a representação do bullyig pelos alunos pode contribuir para a compreensão das práticas sociais representadas no contexto escolar.

1.5.2 Significados representacionais da linguagem

Fairclough (2003) entende o discurso como uma forma particular de dar significado ao mundo material levando em consideração os seus processos, seus objetos, suas relações, sua noção de espaço e tempo, do mundo mental dos pensamentos e dos sentimentos. As representações dos eventos sociais podem ser materializadas de modo mais generalizadas e abstratas no que se referem às estruturas, relações, tendências, proporcionando, ainda a representação de aspectos individuais do mundo e a possibilidade de percebermos a relação que existe entre os diferentes discursos.

O autor britânico considera que os discursos não são simplesmente representações literalmente concretas e locais, não representam apenas o mundo como ele é, mas são também possibilidades de representar e mudar de forma singular o mundo no qual está inserido em diferentes direções. Diferentes discursos representam diferentes perspectivas do mundo que as pessoas constroem nos seus relacionamentos com outras pessoas levando em consideração suas posições sociais, suas identidades e pessoais (FAIRCLOUGH, 2003).

As relações entre os diversos discursos estão engendrados nas relações de diferentes pessoas, dessa forma, eles podem complementar-se, competir entre si, um pode dominar o (s)

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