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Os passos rumo à libertação

No documento elisangelaaparecidadesouzaalves (páginas 134-147)

3 DE POETAS E REVOLUCIONÁRIOS: PALAVRA E AÇÃO EM PROL

3.3 A REVOLUÇÃO APRENDIDA NO EVANGELHO

3.3.1 Os passos rumo à libertação

É a hora das barricadas

É a hora do fuzilamento, da raiva maior Os vivos pedem vingança

Os mortos minerais vegetais

Pedem vingança (MENDES, 1994, p. 239-240)

Cardenal, percebendo que o povo nicaraguense estava vivendo sob o signo da opressão, resolve lutar em prol dos injustiçados e torna-se membro do grupo dos doze. Esse grupo, por sua vez, acabou ganhando status de partido político e acabou, após o triunfo da revolução, assumindo o governo provisório no país. Durante a luta por liberdade, muitos perderam a vida, como Donald e Elbis, moradores da comunidade contemplativa criada por Ernesto. Conforme já mencionamos, a crueldade foi tamanha que foram obrigados a cavar a própria cova, antes de serem executados. Foi difícil vencer Somoza. Por conta de questões políticas, nesse período, muitos tiveram que deixar o país ou foram condenados, presos e torturados. Nosso místico, por exemplo, por sua atuação no grupo supracitado, foi condenado a cerca de quinze anos de prisão. Fato que só não se concretizou, porque deixou a Nicarágua antes. No entanto, o mais difícil para Cardenal, com certeza, foi ficar sabendo da destruição de Solentiname.

A atuação do autor em questão na campanha revolucionária foi muito importante, uma vez que ele saiu mundo afora em busca de apoio internacional, inclusive financeiro. Para realizar seu intento, visitou inúmeros lugares: Havana, Beirute, Roma, Líbia, Bagdá.

90Eu reparti panfletos clandestinos/ Gritando: VIVA A LIBERDADE! Em plena rua/ desafiando os guardas armados./ eu participei na rebelião de abril:/ mas empalideço quando passo por tua casa/ e só teu olhar me faz corar (Tradução nossa).

Enquanto esteve em Barcelona, participou de uma reunião do Tribunal Permanente dos Povos e, durante essa, pode colocar o mundo a par dos horrores vividos pelos nicaraguenses sob o governo do ditador. Durante sua passagem pela Finlândia, manteve contato com um poeta que conhecera em Solentiname e, com a ajuda desse, conseguiu fundar “um comitê de solidariedade” (CARDENAL, 2003c, p. 71. Tradução nossa). Desse grupo, participaram inúmeros intelectuais que ajudaram a mostrar o problema vivido na Nicarágua para o mundo e angariar ajuda.

Paralelamente a esse trabalho realizado por Cardenal, na Nicarágua, os levantes tornavam-se cada vez mais frequentes. Os revolucionários, após meses de luta, começavam a vislumbrar a possibilidade de vitória.

Nesse processo revolucionário, foi fundamental a atuação da comunidade Masaya, uma cidade na qual se localizava um bairro formado em sua maioria pelos índios Monimbós. A presença desses indígenas na luta foi um grande diferencial. Não foi por acaso que o primeiro local a se libertar do domínio somocista foi esse povoado.

A Frente Sandinista, inicialmente formada por três tendências, as quais se juntaram e formaram a Direção Nacional Conjunta, que, mais tarde, tornou-se só Direção Nacional – constituída por nove membros: “os nove da revolução sandinista” (CARDENAL, 2003c, p.137. Tradução nossa) –, fez a ofensiva final no mês de junho. Após quatro dias do começo da ofensiva, havia vinte e cinco cidades e aldeias em poder dos sandinistas. Monimbó abastecia os revolucionários com armas e comida. Nessa localidade, estavam também os hospitais e os correios.

Da luta não participaram somente homens adultos, também ombrearam armas mulheres e crianças. Muitos morreram e, como forma de reconhecimento ao sacrifício feito e de gratidão, deram o nome de um dos meninos mortos em combate – Luis Alfonso Velásquez – à associação de crianças sandinistas, fundada após a vitória.

Foi difícil, muito difícil, mas Somoza foi derrotado e, motivado por pressões americanas, renunciou e partiu para os Estados Unidos. O governo do país foi transferido para Francisco Urcuyo, o qual o transferiu à Frente Sandinista. “Às 4:15 da manhã de 17 de julho, um helicóptero levou Somoza do Búnker ao aeroporto[...] Somoza rompeu a chorar” (CARDENAL, 2003c, p.218. Tradução nossa).

Esse dia ficou conhecido como “dia da alegria”: “Estávamos vivendo um acontecimento que na história do mundo nunca havia tido antes: um Somoza havia assassinado Sandino a cinquenta anos, e agora este Sandino tinha saído da tumba e derrotado outro Somoza” (CARDENAL, 2003c, p.223. Tradução nossa).

O processo humano de evolução nos prova que não podemos mudar sem dor, sem mortes. Não foi diferente na revolução sandinista. Muitos morreram, muitas mães perderam seus filhos, muitos filhos tornaram-se órfãos na luta por aquilo que acreditavam ser um bem maior. A sensibilidade poética de Cardenal capta essa dor, esse luto de uma forma muito peculiar. Os trechos dos poemas que serão citados a seguir dar-nos-ão um vislumbre de como a poética cardenaliana captura esses momentos de sofrimento, de perda.

De Cántico Cósmico, escolhemos os seguintes trechos:

[...]

Voces serenas, calmas, entrecruzándose en la frecuencia sandinista. [...]

Ya empieza, Rugama, a ser de los pobres; la tierra ésta (con su luna).

Fue una tarea de todos.

Los que se fueron sin besar a su mamá Para que no supiera que se iban. El que besó por última vez a su novia.

Y la que dejó los brazos de él para abrazar un Fal. El que besó a la abuelita que hacía las veces de madre Y dijo que ya volvia, cogió la gorra, y no volvió. Los que estuvieron años en la montaña. Años

En la clandestinidad, en ciudades más peligrosas que la montaña [...]

Soledades muy íntimas. Como

Cuando Santa Teresita en su lecho de agonia Sentía la duda de si Dios existe.

[...]

Cuando recibís el nombramiento, el premio, el ascenso Pensa en los que murieron.

Cuando estás en la recepción, en la delegación, en la comisión Pensa en los que murieron.

Cuando te aplauden al subir a la tribuna con los dirigentes, Pensa en los que murieron.

Cuando te llegan a encontrar al aeropuerto en la gran ciudad, Pensa en los que murieron.

Cuando te toca a vos el micrófono, te enfoca la televisión, Pensa en los que murieron.

Cuando sos el que da los certificados, las cédulas, el permiso, Pensa en los que murieron.

Cuando llega donde vos la viejita con su problema, el terrenito, Pensa en los que murieron.

Miralos sin camisa, arrastados,

Echando sangre, con capucha, reventados, Refundidos en las pilas, con la picanha, el ojo sacado,

Degolados, acribillados,

Botados al borde de la carretera, En hoyos que ellos cavaron, En fosas comunes,

O simplesmente sobre la tierra abono de plantas de monte: Vos los representás a ellos.

Ellos delegaran a vos, Los que murieron.

(CARDENAL, 2012c, p.133-150)91

A parte final desse trecho, a partir do verso “cuando recebís el nombramiento, el premio, el ascenso”92, que se assemelha a uma forma tradicional de oração católica frequente em

celebrações – a ladainha – e que chega a embargar a voz durante a leitura, foi lido por Cardenal, após a vitória sandinista, em um Congresso de que participou. O lirismo presente nessa passagem é comovente e leva-nos a refletir sobre todas as vidas que foram ceifadas durante essa revolução e a quantas outras as quais são perdidas diariamente não só em conflitos internos ou externos em nossos países ou entre eles, mas também pela violência presente nas cidades e nos campos, motivadas pela ganância, pelo desejo de ser e de ter mais bens materiais, mais prestígio, mais poder. Essas palavras do poeta levam-nos a questionar a humanidade dos homens.

Durante uma guerra, essa citada humanidade deixa de existir, e o homem torna-se besta, fera capaz de eliminar com o único intuito de, ao fazê-lo, deixar menos um “inimigo” no mundo, mesmo que seja uma criança, ou um bebê. Os trechos que serão apresentados a seguir são partes de poemas feitos para fazer ver a realidade. É a ficção a serviço da história, eternizando momentos de dor vividos na Nicarágua.

Después la represión de septiembre. Y el llamado Viernes Negro. Lo más oscuro de la noche antes del alba.

Dije un discurso en Bogotá ante el Congreso, Sesión Plenaria, El 25 de octubre de 1978 (está en los Anales del Congreso). [...]

91Vozes serenas, calmas, entrecruzadas na frequência sandinista/[...]/ Já começa, Rugama, a ser dos pobres; esta terra/ (com su lua)./ Foi uma tarefa de todos./ Dos que se foram sem beijar a mãe/ para que não soubesse que se iam./ O que beijou a avozinha que lhe fazia as vezes de mãe/ e disse que já voltaria, apanhou a boina e não voltou./ Dos que passaram anos na montanha. Anos na clandestinidade. [...]/ Solidões muito íntimas/ como quando Santa Teresinha/ em seu leito de morte/ sentia a dúvida se Deus existe/[...]/ Quando receberes a nomeação, o prêmio, a promoção,/ pensa nos que morreram./Quando estás na recepção, na delegação, na comissão,/ pensa nos que morreram./Quando ganhas a votação, e o grupo te felicita,/ pensa nos que morreram./ Quando te aplaudem ao subir na tribuna como os dirigentes,/ pensa nos que morreram. / Quando te vão receber no aeroporto da grande cidade, / pensa nos que morreram. / Quando te toca o microfone, e te foca a televisão, / pensa nos que morreram./ Quando te procura a velhinha com seu problema, o terrenozinho, / pensa nos que morreram. / Olha bem, estão sem camisa, arrastados, / deitando sangue, como capuz, arrebentados,/ afogados em tinas, com o choque elétrico, o olho arrancado, / degolados, crivados de balas, / jogados à margem da estrada, / em buracos que eles cavaram, / em fossas comuns/ ou simplesmente sobre a terra adubo de plantas do monte: Tu os representas. / Tu és delegado/ dos que morreram (CARDENAL, 1995, p. 133- 150).

Dos muchachas contaron lo que pasó: A un joven del barrio le hallaron una pistola, Y ya no registraron más.

Apartaron a las mujeres, los viejos y los niños. A los jóvenes los acostaron en el suelo. Ellas tenían tres Hermanos en el suelo; Un guardia les ordenó mirar para otro lado.

Tras los disparos vieron los cuerpos retorciéndose en el suelo. Sobre los cuerpos pasaron un tractor.

El tractor después los amontonó, una sola masa roja. Eran los muchachos del “Callejón”.

De 21, de 20, de 19, de 18, de 17 años. Allí se reunían a jugar beisebol o platicar.

Los muchachos que ya nunca se reunirían en el “Callejón”. La periodista del Times vio al muchacho sacado de su casa, Un guardiã apuntándolo con el rifle en la cabeza.

Había lágrimas en sus mejillas. Sabía que iba a morir. Ordenaron retirarse a la periodista del Times.

Señores senadores, señores diputados:

Llevaron 21 jóvenes con sus madres a las afueras de León. Apartaron las mujeres, y los mataron en la carretera. Robaron sus relojes, obligando a las madres a lavarlos. Los perros arrancaban trozos de brazos y pies mal enterrados. Las madres enterraron lo que quedaba en un algodonal. O es el caso de Doña Socorro de Martínez, en León, Con unos pedazos de camisas de su esposo y de su hijo. O Josefa Pérez que está loca: abre los ojos al vacío y delira: “Roger, amor mío, Róger, vení...¿Dónde está Róger” En el barrio índio de Subtiava siete jugaban beisbol callejero,

De 24, 22, 20, 18, 17, 16, 14, Llegó una patrulla y se corrieron,

Y murieron allí mismo en la calle de sus juegos. [...]

En Managua tres camiones cargados de muchachos, Llevados a un comando y ya no se supo de ellos. La embarazada con el vientre abierto por una bayoneta, El niño saliendo vivo. La bayoneta en el niño.

“Un sandinista menos!” Señores senadores y señores diputados:

Aquella entrada de la noche en Masaya Sin saberse quiénes amanecerían muertos. (CARDENAL, 2012, p. 122-123)93

93A jornalista do Times viu o rapaz ser retirado da sua casa, / o soldado com um rifle lhe apontando a cabeça./ O rosto cheio de lágrimas. Sabia que ia morrer. /Ordenaram à periodista do Times que se retirasse./ Senhores senadores, senhores deputados./ Levaram 21 rapazes com suas mães para um subúrbio de León./ Separaram as mulheres e os fuzilaram na estrada./ Roubaram-lhes os relógios, obrigaram as mães a lavá-los/ Os cachorros arrancavam pedaços de braços e pés mal enterrados. / As mães enterraram o que sobrou num algodoal. / Ou é o caso de dona Socorro de Martínez, em León, / com uns pedaços de camisa do esposo e do filho. / Ou Josefa Pérez, que está louca: abre os olhos para o nada e delira:/ Roger, meu amor, Roger, vem cá... Onde está Roger?/ No bairro indígena de Subtiava jogavam beisebol na rua,/ eram sete, de 24, 22,20, 18,17, 16, 14,/ chegou uma patrulha eles correram/ e morreram ali mesmo na rua onde brincavam./ Um menino apareceu na janela com seu gorro vermelho:/ tiraram ele de casa e quebraram-lhe as pernas antes de mata-lo./ Os vizinhos ainda o ouviram suplicar clemência,/ e os soldados: “Rubro-negro filho da puta”./ Em Catarina fuzilavam dois

Os sandinistas sabiam que estrangeiros ajudavam Somoza na chacina “Había órdenes en inglês, traducidas al español”94 (CARDENAL, 2012, p. 124). Mas, apesar de tudo havia a

esperança:

“Hijito, ojalá todas estas muertes no hayan sido en vano” Y la contestación de outra vendedora:

“Señora, esté segura que los mejores tempos están por venir.” [...]

Delante de la luz va la sombra volando como un vampiro. Levantate vos, y vos, y vos.

(Ya están cantando los galos.)

¡Buenos días les dé Dios! (CARDENAL, 2012, p. 124-125)95

Como diria Carlos Drummond de Andrade, em “A flor e a náusea”, uma flor nasceu no asfalto. Há esperança! Após a vitória sandinista, teve início o processo de reconstrução do país e da dignidade dos cidadãos nicaraguenses. Esse será o assunto de nosso próximo tópico.

3.3.2 O resgate da nacionalidade

Qué bello se ve ahora el país.

Qué hermosa ahora nuestra naturaliza sin Somoza (CARDENAL, 1986, p.106)

Com a vitória, formou-se um novo governo que teve como sede, inicialmente, o Hotel Intercontinental. Nesse governo, o revolucionário objeto de nosso estudo tornou-se responsável pelo Ministério da Cultura. Seu gabinete limitava-se a uma mesa, uma cadeira e uma máquina de escrever. Porém, havia um projeto que era necessário ser posto em prática, pois, após a

jovens cada noite,/ e o risco de desagradá-los. /Em Manágua três caminhões carregados de rapazes/ levados a um comando, jamais se soube deles./A Grávida com o ventre aberto a baioneta./ a criança saindo viva. Baioneta na criança./ “Um sandinista de menos”./ Senhores senadores e senhores deputados./ Aquela noite chegando em Masaya/ sem saber quantos amanheceriam mortos (CARDENAL, 1995, p. 123).

94 Havia ordens em inglês, traduzidas ao espanhol (CARDENAL, 1995, p. 123).

95 “Meu filho, tomara que estas mortes não tenham sido em vão”./ E outra vendedora não vacila:/ “Senhora, fique certa de que os melhores tempos estão por chegar.” [...] /Perseguida pela luz vai a sombra voando como um vampiro./ Te levanta, tu também, e tu./ (Já estão os galos cantando.)/ Que dias bons Deus lhe dê! (CARDENAL, 1995, p. 124-125).

vitória da revolução, “começa a guerra contra o analfabetismo, contra a insalubridade e contra a tristeza” (CARDENAL, 2003c, p.225. Tradução nossa). E nessa luta precisava ser vitorioso.

Nesse tópico da tese, abordaremos as ações da Frente Sandinista para resgatar a ideia de nação que havia sido perdida durante a longa ditadura dos Somozas no país. O intuito dessa abordagem é preparar o leitor para o próximo item que dirá da atuação de Cardenal no Ministério da Cultura e do quanto esse trabalho foi importante na reconstrução da identidade dos nicaraguenses.

O poema “Ocupados”, o qual foi publicado no livro Vuelos de Victoria, mostra, de forma bastante expressiva, os atos do novo governo formado após a revolução sandinista. Analisaremos esse poema com o intuito de apresentar tais realizações e a importância delas.

OCUPADOS

Estamos todos muy ocupados

La verdad es que estamos todos tan ocupados En estos días difíciles y jubilosos, que no volverán

Pero que nunca olvidaremos Estamos muy ocupados con las confiscaciones

Tantas confiscaciones Tantas reparticiones de tierras

Quitando todo mundo las barricadas de las calles Para que puedan passar los carros

Las barricadas de todos los barrios

También cambiando nombres de calles y de barrios Aquellos nombres somocista

Desenterrando a los asesinados

Reparando los hospitales bombardeados - este hospital se llamará tal y tal – Creando ya la nueva policía

Censando a los artistas

Llevando el agua potable a tal o cual lugar Y estros otros están pidiendo la luz eléctrica

La luz que el dictador les había cortado Rápido, rápido restaurar las instalaciones

Agua y luz para Ciudad Sandino

- ellos decidieron llamar su barrio Ciudad Sandino – Estamos muy ocupados, Carlos

Los mercados deben estar limpios, deben estar bien ordenados Hay que hacer también más mercados

Estamos creando nuevos parques, claro y ya nuevas leyes Rápido prohibimos los anuncios pornográficos Los precios de granos básicos bien controlados Es tiempo de hacer también muchos afiches Rápido, rápido hay que nombrar nuevos jueces Rápido reparar las carreteras

Y qué bello, también hay que trazar nuevas carreteras Elección de juntas de gobiernos locales

Es hora de que un millón aprenderán a ler

Vos vas a tu reunión de gabinete, vos vas a tu sindicato La vacunación a los niños de todo el país

Y ya mismo los planes de educación

Las palas mecânicas limpiando los escombros - Monimbó otra vez com marimbas – Los campos rumoreando de tractores

Organizada ya la asociación de trabajadores del campo Semillas, insecticidas, abonos, nueva conciencia Y rápido, hay que sembrar muy rápido

También es el tiempo de nuevos cantos

Los obreiros volvieron a sua ruidosas ruedas con alegría Hermano, se restablecieron todas las rutas de buses urbanos

- y tantos festivales culturales en los barrios Actos político-culturales ahora les llaman –

Y también todos los días son las misas de los compañeros caídos Y hay una palavra nueva en nuestro hablar cotidiano

“Compañero”

Todo esto quedará para quién quiera verlo em los viejos periódicos En periódicos amarillos el comienzo de la nueva historia

Periódicos poéticos

Allí verán en hermosos titulares lo que yo ahora digo De estos días embriagantes que no volverón

De estos días en que estamos tan ocupados

Porque la verdade es que estamos muy ocupados. (CARDENAL, 1985 VUELOS DE VICTORIA, p. 43-44)96

96Estamos todos muito ocupados/ a verdade é que estamos todos tão ocupados/ nesses dias difíceis e jubilosos, que não tornarão/ mas que nunca esqueceremos/ estamos muito ocupados com as confiscações/ tantas confiscações/ tantas repartições de terras/ tirando todo mundo as barricadas das ruas/ para que possam passar os carros/ as barricadas de todos os bairros/ aqueles nomes somocista/ desenterrando os assassinados/ reparando os hospitais bombardeados/ -este hospital se chamará tal e tal-/ criando já a nova polícia/ censurando aos artistas/ levando a água potável a tal ou qual lugar/ e estes outros estão pedindo luz elétrica/ a luz que o ditador tinha cortado/ rápido, rápido restaurar as instalações/ água e luz para Cidade Sandino/- eles decidiram chamar seu bairro Cidade Sandino- / estamos muito ocupados, Carlos/ os mercados devem estar limpos, devem estar bem ordenados/ tem que fazer também mais mercados/ estamos criando novos parques, claro e já novas leis/ rápido proibimos os anúncios pornográficos/ os preços dos grãos básicos bem controlados/ é tempo de fazer também muitos afixos/ rápidos, rápido tem que nomear novos juízes/ rápido reparar as ruas/ e que belo, também tem que traçar novas ruas/ eleição para junta de governos locais/ é hora de que um milhão aprenda a ler/ vós ides a tua reunião de gabinete, vós ides a teu sindicato/ a vacinação para todas as crianças de todo o país/ e já mesmo os planos de educação/ as pás mecânicas limpando os escombros/ - Monimbó outra vez com marimbas -/ os campos com sons de tratores/ organizada já a associação de trabalhadores do campo/ sementes, inseticidas, abonos, nova consciência/ e rápido, tem que semear muito rápido/ também é o tempo de novos cantos/ os obreiros voltaram a suas ruidosas rodas com alegria/ irmão, se reestabeleceram todas as rotas de ônibus urbanos/ e tantos festivais culturais agora os chamam/ e também todos os dias são as missas para os companheiros mortos/ e há uma palavra nova em nosso falar cotidiano/ “companheiro”/ tudo isso cairá para quem quiser vê-lo nos velhos jornais/ em jornais amarelos o começo da nova história/ periódicos poéticos/ ali verão em belas manchetes o que eu agora digo/ desses dias embriagantes que não voltarão/ desses dias em que estamos muito ocupados/ porque a verdade é que estamos muito ocupados.

Esse é um poema feito com o intuito de apresentar ao leitor o trabalho de reconstrução

No documento elisangelaaparecidadesouzaalves (páginas 134-147)