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03 – Os pregadores convidados para as Festas da Piedade (1869 – 2013)

Não se sabe ao certo quando é que surgiu esta tradição. Provavelmente terá surgido no século XIX. Sabe-se, porém, é que para todas as Festas da Piedade eram convidados um ou dois pregadores para abrilhantarem a Festa ao nível da «Palavra». Era um tradição. Aguardada sempre com enorme curiosidade por parte dos louletanos.

Como nos explica, uma vez mais, Pierre Sanchis, «o tom adoptado pelo pregador (sempre anunciado nos programas como ‘um célebre orador sagrado’ deverá corresponder à expectativa de um louvor solene e tão entusiasta quanto possível. A simplicidade de um sermão de domingo não será bem aceite»247. Sanchis diz que uma pregação deve ser um «exercício consciente de ‘eloquência sagrada’, verdadeiras peças de antologia», devendo o pregador convidado deter as seguintes características: «ênfase académico, poderoso fôlego de períodos cuidadosamente limados, vocabulário purista, amplitude de gestos e dramatismo de entoação»248.

Até à segunda década do séc. XX eram dois os pregadores convidados para a Festa Grande. Um, encarregava-se do sermão na vila; sendo que o outro ficava encarregue de proferir o sermão junto à ermida, aquando da chegada da Imagem. Porém, no alvorecer da década de 1920, as obrigações do pregador convidado são acrescidas. Em vez de um sermão, passa, agora, a ter que realizar cinco. Dois no dia da Festa Grande (missa campal e o sermão da chegada), acrescidos de mais três «conferências» – como antigamente se designavam – proferidas no decorrer do tríduo final de preparação para a Festa, ou seja, nas três missas nocturnas que antecedem o dia da Festa Grande249.

245 Cf. «Senhora da Piedade», in O Sul, n.º7, ano 1, de 5 de Maio de 1912, p. 2.

246 Sobre este assunto, consultar a lista dos pregadores convidados para a Festa da Piedade, que

consta no Apêndice n.º 1.

247 Cf. Pierre SANCHIS, op. cit., p. 90. 248 Cf. ibidem.

Até à implantação da República, verifica-se que o critério de escolha recaía, normalmente, em convidar para pregador um padre da diocese do Algarve. Todavia, sensivelmente, a partir da década de 1920 esse critério altera-se. Começa-se, então, a convidar, igualmente, pregadores oriundos de outras dioceses do país. Deste modo, a lista de pregadores párocos começa a ter a companhia de pregadores padres ocupando outras funções. Assim, ao longo do século XX subiram ao púlpito louletano advogados, deputados da União Nacional, professores de seminários, professores de institutos superiores de teologia, professores universitários, frades, directores de jornais católicos, jornalistas, entre outras profissões. O objectivo, esse, era sempre o mesmo: «abrilhantar a Palavra» no decorrer da Festa.

Em 1924, Loulé recebeu, na qualidade de pregador da Festa da Piedade, o «ilustríssimo» «Cónego Dr. Pontes», «secretário particular de Sua Eminência Reverendíssima o sr. Cardeal Patriarca, D. António Mendes Bello»250.

É curioso registar que, entre 1912 e 1967, num espaço temporal de pouco mais de meio século, vieram pregar à Festa da Piedade quatro diferentes cónegos da Sé de Évora, a que se deve acrescentar um vigário-geral da mesma diocese. Aliás, logo a seguir ao patriarcado de Lisboa, é a arquidiocese de Évora aquela que contribuiu com mais pregadores para a Festa. Confirme-se, então, a lista dos quatro cónegos da Sé de Évora: cónego Dr. Bernardo José Álvares Chousal, em 1912251; «Conferências religiosas por um Reverendíssimo Cónego da Sé de Évora», em 1943252; cónego Dr. Francisco Maria da Silva, em 1951253; cónego Dr. Sebastião Martins dos Reis, em 1967254; e, outra vez, o cónego Dr. Francisco Maria da Silva, que repetiria a sua vinda a Loulé, agora na qualidade de «Vigário Geral da arquidiocese de Évora», em 1955255.

250 Cf. Programa das Tradicionais Festas de Nossa Senhora da Piedade em Loulé nos dias 3, 4 e 5

de Maio de 1924.

251 Cf. «Senhora da Piedade», in O Sul, ano n.º 1, n.º 7, de 5 de Maio de 1912, pp. 2-3.

252 Cf. «Festa de Nossa Senhora da Piedade – Loulé», in Folha do Domingo, n.º 1461, de 25 de

Abril de 1943, p. 3.

253 Programa das Solenidades em Honra de Nossa Senhora da Piedade em Loulé que decorrem

de 25 de Março a 9 de Abril de 1951.

254 Cf. Programa das Festas em Honra de Nossa Senhora da Piedade que decorrem de 6 a 10 de

Abril de 1967 em Loulé.

255 Cf. Programa das Solenidades Religiosas da Festa de Nossa Senhora da Piedade em Loulé de

Assim sendo, desde 1895, primeiro ano em que o pregador convidado foi oriundo de fora da diocese do Algarve, até ao presente, já vieram pregar às Festas da Piedade, pelo menos, cinquenta e nove pregadores oriundos de doze diferentes circunscrições eclesiásticas: patriarcado, das duas arquidioceses (Évora e Braga) e de mais nove dioceses. Vejamos, de seguida, a sua discriminação, ordenada pelo ano em que veio o primeiro pregador da respectiva circunscrição: patriarcado de Lisboa (21) (1895, 1911, 1920, 1924, 1927, 1938, 1939, 1940, 1947, 1952, 1961, 1963, 1974, 1975, 1982, 1990, 1991, 1993, 1994, 1997, 2008); diocese de Beja (2) (1902 e 2011); arquidiocese de Évora (12) (1912, 1926, 1942, 1943, 1951, 1955, 1965, 1967, 1972, 1973, 1988 e 1989); diocese de Aveiro (4) (1921, 1968, 1970 e 1971); diocese de Portalegre (3) (2 pregadores em 1925 e outro em 1932); diocese do Porto (6) (1933, 1953, 1962, 1978, 2001 e 2004); diocese de Coimbra (3) (1935, 1950 e 1954); diocese da Guarda (1) (1938); arquidiocese de Braga (2) (1948 e 1980); diocese de Santarém (2) (dois pregadores em 1981); diocese de Setúbal (1) (2007); e, finalmente, a diocese do Funchal (1) (2009). A que se devem acrescentar os pregadores oriundos da diocese algarvia.

Analisando, somente, os pregadores vindos de fora da diocese do Algarve, obtêm-se a seguinte distribuição cronológica: 7 pregadores, entre 1900 e 1924; 21, entre 1925 e 1949; 18, entre 1950 e 1974; 19, entre 1975 e 1999; e, por último, 6, entre 2000 e 2013. O que prova que a partir do segundo quartel do século XX a tendência de convidar pregadores de fora da diocese do Algarve para «abrilhantar a Palavra» na Festa da Piedade aumenta. Tendência, essa, que continua bem presente até aos nossos dias. Este facto demonstra o cuidado que os vários párocos responsáveis pela paróquia de São Sebastião tiveram, ao longo do tempo, em dinamizar, elevar e enriquecer o cartaz litúrgico desta Festa. Deslocando-se até Loulé, desde 1895 até ao presente, pelo menos, mais de sete dezenas de pregadores provenientes de fora da diocese do Algarve.

Em relação aos pregadores oriundos da diocese do Algarve, e analisando somente os últimos cem anos, verifica-se que dos oito bispos que o Algarve teve no último século cinco deles foram pregadores da Festa256: D. António Barbosa Leão257,

256 Desde de 1912, só três dos oito bispos que governaram a diocese do Algarve não foram

pregadores da Festa da Piedade: D. Júlio Tavares Rebimbas (bispo do Algarve entre 1966 e 1972), D. Florentino de Andrade e Silva (bispo do Algarve entre 1972 e 1977) e D. Ernesto Gonçalves Costa (bispo do Algarve entre 1977 e 1988).

em 1914; D. Marcelino António Maria Franco258, em 1929 e em 1938; D. Frei Francisco Fernandes Rendeiro259, em 1957; D. Manuel Madureira Dias260, em 1995 e D. Manuel Neto Quintas261, em 2002. A que se deve acrescentar, ainda, o louletano D. António José Cavaco Carrilho, em 2001 e em 2004, na qualidade de bispo auxiliar do Porto262; e em 2009, enquanto bispo do Funchal263.

VI.04 – A ida a Roma do estandarte processional de Nossa Senhora da Piedade