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Os primórdios do petróleo no Brasil

No documento Conteúdo nacional (páginas 66-69)

4.2 A INDÚSTRIA DESENVOLVIMENTISTA: PETROBRÁS

4.2.1 Os primórdios do petróleo no Brasil

A busca por petróleo no Brasil iniciou-se na década de 1860, época em que foi descoberta a primeira jazida comercial de petróleo nos Estados Unidos. Podemos considerar a primeira menção à exploração de petróleo no Brasil no ano de 1864, através do Decreto nº 3.352-A, de 30 de junho de 1864, onde o Governo Imperial concedia a Thomas Denny Sargeni a permissão à extração de turfa, petróleo e outros minerais nas comarcas de Camamu e Ilhéus na província da Bahia, pelo prazo de 90 anos, por conta própria ou por meio de uma companhia.146

A busca por novas e mais volumosa fontes de petróleo tinha como finalidade a fabricação de querosene para a iluminação usada em lampiões, devida ao seu preço mais favorável que os demais combustíveis para a mesma finalidade, “óleo destilado do carvão era muito poluente, o óleo de baleia encontrava-se com os preços em forte alta em decorrência da diminuição da população de cetáceos nos mares, e o gás destilado do carvão era caro”.147 No Brasil, geralmente como resultado de iniciativas de britânicos residentes em solo nacional, iniciou-se a produção de gás para iluminação de cidades fora do alcance das redes existentes no eixo Rio de Janeiro e São Paulo. 148

Através da concessão estabelecida pelo Decreto nº 8.365, de 31 de dezembro de 1881, que atrelada ao Know-how escocês, concedia a Domingos Moutinho, José Rodolpho Monteiro, Robert Normanton e William Bumett a permissão para explorar combustíveis no vale do Paraíba. Em menos de um ano depois, em 07 de setembro de 1882, a cidade de Taubaté já era iluminada com do gás lá produzido.149

A partir 1891, as atividades de mineração eram instituídas pela Constituição da República, determinando mudanças radicais na legislação da

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DIAS, José Luciano de Mattos ; QUAGLINO, Maria Ana; A questão do petróleo no Brasil: uma história da PETROBRAS. Rio de Janeiro: CPDOC: PETROBRAS, 1993. p. 1.

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MORAIS, José Mauro de. Petróleo em águas profundas: uma história tecnológica da Petrobras na exploração e produção offshore. Brasília: Ipea: Petrobras, 2013. p. 34.

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DIAS, op. cit., p. 22.

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exploração de jazidas minerais. Baseada na legislação norte americana, o proprietário do solo agora detêm a posse do subsolo, não mais considerando o Estado dono das minas do subsolo. No entanto essa medida não provocou a esperada corrida às explorações por parte dos empresários, primeiro por eles desconhecerem as técnicas de exploração e segundo pelo temor do proprietário da terra em liberar o espaço para exploração.150 Como forma de reverter essa situação foi declarada então pela Constituição Federal de 1891, a responsabilidade do Estado na concessão de licenças de exploração e na realização de pesquisas geológicas. Não obstante, foi registrado um hiato entre 1891 e 1908 na exploração no estado de São Paulo. 151

No início do século XX foram iniciados os estudos, na Amazônia e no Recôncavo Baiano, para avaliar as reais possibilidades de existência de petróleo em solo nacional. No sul do país por meio da Missão White, que era destinada a estudos sobre o potencial carbonífero da região, a mando do presidente do Brasil Rodrigues Alves, a missão passou a investigar também a potencialidade da região na produção de petróleo, e concluiu que por existir muitas rochas eruptivas na localidade a produção de petróleo era impossibilitada.152

Todavia, após o decorrer da primeira guerra mundial o Brasil se viu em risco por não possuir uma produção de petróleo e depender integralmente de combustíveis importados. Desta forma, por intermédio do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil (SGMB), órgão do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, que o Estado entrou no setor petrolífero. Esse órgão atuava na busca de petróleo e no levantamento da estrutura geológica do Brasil, no entanto não obteve muito sucesso, e após realizar 50 perfurações de poços não descobriu nenhum poço comercial.

Na tabela abaixo o autor destaca todos os estados e o número de perfurações feitas em busca de petróleo.

150 MORAIS, 2013. p. 41. 151 Ibid., p. 34. 152

Tabela 1– Perfurações realizadas pelo SGMB - Exploração de petróleo - 1919-30 ANOS ESTADOS PR SP RS SC BA AL PA TOTAL 1919 1 1 1920 1 1 2 4 1921 1 2 1 4 1922 3 1 1 5 1923 1 2 1 4 1924 1 1 1 1 4 1925 3 1 4 1926 1 1 1 3 1927 1 2 2 2 7 1928 2 1 3 1929 2 3 2 4 11 1930 1 1 TOTAL 7 18 1 4 6 6 9 51 Fonte: DIAS, 1993, p. 29.

Este fracasso nas perfurações está atrelada a falta de pessoal técnico especializado, os recursos limitados pelo governo, e a falta de maquinário de sondagem para maiores profundidades.153

Especificamente no que se refere a petróleo, entretanto, as preocupações oficiais, iriam a ser definitivamente despertadas apenas pela experiência da I Guerra Mundial. Em primeiro lugar, pelas transformações que a economia brasileira vinha sofrendo desde os primeiros anos do século XX, com a aceleração do crescimento industrial e a necessidade de provisão interna de combustíveis minerais. Consequentemente, enfrentavam-se sinais de um duplo problema: o aumento rápido do consumo interno e a dependência externa no que tangia ao abastecimento. Em segundo lugar, devido á impressão causada pela vulnerabilidade dos exércitos europeus relacionada á necessidade de fornecimento externo de combustíveis, e pelas manobras diplomáticas das potências europeias no sentido de garantir fontes externas de suprimento de petróleo.154

O questionamento levantado pelo autor destaca três elementos da questão petrolífera do Brasil: a relação entre a indústria do petróleo e o desenvolvimento econômico, a vulnerabilidade militar, e as realidades da política Internacional do petróleo. O alto comando militar passou a dar muita importância para essa questão por esta ser uma ameaça ao abastecimento de combustível, já que se fortaleciam os rumores de que mais uma guerra mundial estava por vir. Nesta

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MORAIS, 2013. p. 43.

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época cinco empresas multinacionais controlavam o comércio de petróleo, eram elas: Atlantic, Standard Oil, Anglo-Mexican (Shell), Texaco e Caloric. Em 1938 com Vargas no poder, foi assinado o Decreto-Lei nº 395 que transformava o abastecimento nacional de petróleo um serviço de utilidade pública, e seria de controle do governo federal a importação, a exportação, o transporte, a implantação de oleodutos e o comércio de petróleo e derivados, além de estabelecer o controle de preços dos derivados.

Como complementação dessa política de maior investimento no setor petrolífero, no mesmo ano de 1938, foi elaborado o Decreto-Lei nº 538 que regulamentou a nacionalização da atividade de industrialização, e criou o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), um órgão autônomo subordinado ao presidente da república. Sua principal competência é o trabalho de pesquisa, lavra e industrialização dos produtos, com o intuito de atingir o monopólio do petróleo ou, pelo menos, o controle da indústria através do Estado.

Assim o CNP passa a comandar as decisões sobre a exportação de petróleo juntamente com o executor dessas decisões o Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), criado em 1934. Além disso, foram implementadas diversas iniciativas para o treinamento de técnicos, e adquiridas novos maquinários que alcançam maiores profundidades, que decorreram da transferência de conhecimento de empresas norte-americanas que possuíam o know-how especializado.

No documento Conteúdo nacional (páginas 66-69)