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Teoria da Dependência

No documento Conteúdo nacional (páginas 54-59)

3.3 AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA LATINA

3.3.2 Teoria da Dependência

A teoria da Dependência nasce no quadro histórico latino-americano do início dos anos 1960, e tinha como objetivo explicar as novas características do desenvolvimento socioeconômico da região. Conforme supracitado, a industrialização do continente teve início de fato na década de 1930, logo após a crise econômica mundial de 1929, quando foi iniciada a substituição dos produtos industriais importados das potências pelos produtos oriundos da produção nacional.117

Na visão econômica, a estrutura da dependência se configura como um movimento internacional de capitais, principalmente pelos investimentos diretos estrangeiros e na dependência tecnológica.

Desta forma,

Teoria da Dependência não enxerga subdesenvolvimento e desenvolvimento como etapas de um processo evolutivo, mas sim como realidades que, ainda que estruturalmente vinculadas, são distintas e contrapostas. 118

A década de 1930 no Brasil como também em alguns países da América Latina foi o período de políticas nacionalistas e consequentemente um período de maior investimento para desenvolvimento do Conteúdo Nacionalista. No Brasil foi ao comando de Getúlio Vargas, quem guiou o projeto do Estado Nacional Democrático. A teoria da dependência assume duas perspectivas de análises distintas, uma conduzida por Ruy Mauro Marini119 e Theotônio dos Santos, que a partir da teoria marxista, analisam a relação desigual existente entre os países do centro e o controle que estes exercem sobre os países da América Latina. A outra é realizada por Fernando Henrique Cardoso,e Enzo Faletto em sua obra Dependência e

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SANTOS, Theotônio dos. A teoria da dependência: balanço e perspectivas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

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DUARTE, Pedro Henrique; GRACIOLLI, Edílson José. A teoria da dependência: interpretações

sobre o (sub) desenvolvimento na América Latina. COLÓQUIO INTERNACIONAL

MARX/ENGELS, v. 5, 2007. p. 3. Disponível em: < http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt3/sessao4/Pe dro_Duarte.pdf> Acesso em: 12 de Junho de 2015.

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MARINI, Ruy Mauro. Dialética da dependência. In. SADER, Emir (org.). Dialética da Dependência: uma antologia da obra de Ruy Mauro Marini. Petrópolis: Vozes, Buenos Aires: CLACSO, 2000. 295 p.

Desenvolvimento na América Latina120, publicada em 1970, que através da corrente weberiana critica o malogro do desenvolvimentismo da CEPAL.

A vertente Werberiana, também conhecida como a versão da interdependência, tem seu ponto de partida no fracasso do processo de substituição de importações e no projeto nacional-desenvolvimentista, que tinha como pretensão criar as bases de um capitalismo autônomo na região, defendido pela CEPAL. Os autores sustentam que na abordagem cepalina “[...] falta uma análise integrada que forneça elementos para dar resposta de forma mais ampla e matizada às questões gerais sobre as possibilidades do desenvolvimento ou estagnação.”121

. Os autores concluem que a teoria desenvolvimentista da Cepal simplificou a noção de subdesenvolvimento, de forma que atenta somente para questão econômica do sistema produtivo. Sendo esta questão o principal alvo da crítica, pois para Cardoso e Faletto, o ponto central do desenvolvimento é o aspecto social que se expressa como processo político. Nesse sentido o desenvolvimento para o autor seria,

“[...] o resultado da interação de grupos e classes sociais que têm um modo de relação que lhes é próprio e, portanto, interesses materiais e valores distintos, cuja oposição, conciliação ou superação dá vida ao sistema sócio- econômico. A estrutura social e política vai se modificando na medida em que diferentes classes e grupos sociais conseguem impor seus interesses, sua força e sua dominação ao conjunto da sociedade.”122

Fica claro, então que o processo político é o elemento chave por onde uma determinada classe ou grupo social tentaria estabelecer um conjunto de relações sociais. De acordo com Duarte123, essa relação social seria a imposição sobre o conjunto da sociedade, um determinado modo de produção, ou uma aliança estabelecida a fim de desenvolver uma forma econômica que seja compatível com seus interesses. O autor prossegue afirmando que através do conflito existente no interior das classes que se dará a expansão ou a diminuição da dependência da periferia em relação ao centro.

Isso porque, conforme o autor destaca, a relação centro-periferia seria uma relação de dominação e dominado, onde a imposição dos interesses de uma

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CARDOSO, F. H.; FALLETO, E. Desenvolvimento e dependência na América Latina: um ensaio de interpretação sociológica. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

121 Ibdi.,. p. 15. 122 Ibdi., p. 22. 123 DUARTE, 2007, p. 4.

classe sobre o conjunto da sociedade acabaria expressando os interesses de grupos externos. Nesse sentido se estabelece a relação de dependência na periferia.

“A dependência encontra assim não só expressão interna, mas também seu verdadeiro caráter como modo determinado de relações estruturais: um tipo específico de relação entre classes e grupos que implica uma situação de domínio que mantêm estruturalmente vinculação com o exterior.” (CARDOSO; FALETTO, 1977, p. 31).

Portanto, para Cardoso e Faletto a diferenciação econômica, a diferenciação social e o equilíbrio de poder entre os grupos sociais, são os fatores explicativos para os diferentes tipos de desenvolvimento alcançado pelos países.

Para os mesmos autores, a dependência deveria funcionar de forma

associada, caracterizando a chamada nova “situação de desenvolvimento”124, a qual decorre de uma integração entre as economias industrial-periféricas e o mercado internacional. Cardoso e Faletto entendem que as empresas multinacionais e o capital financeiro internacional, condicionam o desenvolvimento econômico. Visto que a participação das empresas multinacionais no desenvolvimento, trazendo sua poupança externa, e dos empréstimos internacionais, também envolvendo poupança externa, é a condição para o desenvolvimento da América Latina125.

A estratégia de desenvolvimento dependente-associado, pode não se sustentar a longo prazo, porém apesar da internacionalização do mercado e da diversificação produtiva, “tanto o fluxo de capitais quanto o controle das decisões econômicas passam pelo exterior”.126

.Desse modo, um país periférico é dependente do ritmo do desenvolvimento tecnológico dos países centrais, sobretudo da disposição desses países em liberar ou não tais inovações e da viabilidade dessa transferência. Ou seja, o “desenvolvimento dependente” necessita do apoio dos países centrais para poder continuar.

Por consequência o autor conclui que essa nova forma de desenvolvimento em associação ao capital internacional, que exerce a lógica de dominação dos interesses de um determinado grupo sobre os demais, intensifica a exclusão social, que é tratada pelos autores como “um fato próprio do desenvolvimento capitalista”, que tem dentro da sua evolução a condição de 124 CARDOSO; FALLETO, 1977, p. 125. 125 Ibid., p. 126. 126 Ibid., p. 126.

concentração de renda e riqueza. Isto é, a distribuição de renda não é considerada um obstáculo para o desenvolvimento127.

Em primeiro plano abordamos a teoria Werberiana, feito isso passemos agora para a teoria marxista da dependência, que apresenta outra concepção de dependência e desenvolvimento.

Esta linha de pensamento é descrita na obra de Ruy Mauro Marini,

Dialética da Dependência, publicada em 1972. Em sua obra o autor defende que a

relação dos países latino-americanos com os centros capitalistas esta pautada a partir da divisão internacional do trabalho onde “as relações de produção das nações subordinadas são modificadas ou recriadas para assegurar a reprodução ampliada da dependência.” 128

.

[...] a participação da América Latina no mercado mundial contribuirá para que o eixo da acumulação se desloque da produção da mais-valia absoluta à mais-valia relativa, isto é, que a acumulação passe a depender mais do aumento da capacidade produtiva do trabalho do que simplesmente da exploração do trabalhador. No entanto, o desenvolvimento da produção latino-americana, que permite à região coadjuvar esta mudança qualitativa nos países centrais, dar-se-á fundamentalmente com base numa maior exploração do trabalhador. É este caráter contraditório da dependência latino-americana que determina as relações de produção no conjunto do sistema capitalista, que deve reter nossa atenção. 129

De acordo com Dutra, a teoria de Marini busca compreender o processo de formação econômica da América Latina a partir da sua integração subordinada à economia capitalista mundial. Inserido nesta conjuntura que é possível observar a relação desigual com um controle de característica hegemônica dos mercados dos países líderes (países do centro) e a consequente perda de controle dos dependentes sobre os seus recursos. Para complementar o autor afirma que segundo esta corrente,

[...] a dependência pode ser entendida como uma relação de subordinação entre nações formalmente independentes, na qual a economia de certos países está condicionada ao desenvolvimento e expansão de outras economias, de forma que os países centrais poderiam se auto sustentar, enquanto que os países periféricos só poderiam expandir suas economias como um reflexo da expansão dos primeiros. 130.

127 CARDOSO; FALLETO, 1977, p. 130 – 133. 128 MARINI, 2000. p. 109. 129 Ibid., p. 113. 130 DUARTE, 2007, p. 06.

Para sustentar sua teoria, Marini acusa dois conceitos principais como consequência da inserção da América Latina na economia internacional, são eles: o Intercâmbio desigual e a superexploração da força de trabalho.

Segundo o autor a condição para a inserção da América Latina na economia internacional se deve unicamente à capacidade de oferta de alimentos mundial, esta ação contribuiu para a consolidação do mercado de matérias primas industriais, o que acabou se tornando primordial para o seu próprio desenvolvimento. Desta forma, a evolução da produtividade dos países centrais e o crescimento da classe trabalhadora, contribuíram fundamentalmente para o surgimento da grande indústria. Nesse sentido, Marini afirma que,

(...) a participação da América Latina no mercado mundial contribuirá para que o eixo da acumulação na economia industrial se desloque da produção de mais-valia absoluta à da mais-valia relativa, isto é, que a acumulação passe a depender mais do aumento da capacidade produtiva do trabalho do que do simplesmente da exploração do trabalhador”. 131

O autor explica que quando a oferta mundial de alimentos se torna abundante observa-se uma redução do preço dos produtos e o aumento do nível de exploração do trabalho. Dito isso, observa-se que o objetivo da América Latina é a inserção no mercado global através da redução do valor real da força de trabalho na produtividade e elevação do grau de mais valia. Conforme a solidez do preço das mercadorias industriais, isso acarreta na depreciação dos bens primários (ofertados pelas economias não industriais) causando a deterioração dos termos de troca, que caracteriza o intercâmbio desigual, apresentado por Marini, como a troca que ocorre entre as nações industriais e as não industriais, que ao invés de exprimir uma troca de equivalentes, conformam uma série de mecanismos que permitem realizar

transferências de valor.

Sendo assim, Marini acrescenta que essa transferência de valor é a transferência de mais valia das nações periféricas para as nações industriais. Para tanto, com a transferência de valor da periferia para o centro, o capitalista da nação desfavorecida tenta compensar essa aniquilação de sua renda gerada pelo comércio internacional. O autor complementa que dois mecanismos motivam a elevação da mais-valia, primeiro seria o aumento da jornada de trabalho para assim aumentar o

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tempo de trabalho excedente, e o segundo seria a redução de níveis de consumo do operário. Como efeito, a esses mecanismos o trabalho é remunerado inferiormente ao seu valor caracterizando uma superexploração da força do trabalho.

Por último o autor conclui que essa dinâmica de acumulação de capital, apresentada anteriormente, permite sim o crescimento das nações dependentes, no entanto este estará atrelado sempre a uma distribuição regressiva da renda e da riqueza, como consequência da dependência.

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