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Teoria Cepalina para desenvolvimento da América Latina

No documento Conteúdo nacional (páginas 48-54)

3.3 AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA LATINA

3.3.1 Teoria Cepalina para desenvolvimento da América Latina

A Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), foi criada através da Resolução 106 (VI) do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, de 25 de fevereiro de 1948. Apenas em 1984, com Resolução Nº 67 foi adicionado o Caribe para a área de atuação, passando então a chamar-se Comissão Econômica para a América Latina e Caribe. A CEPAL constitui uma das cinco comissões econômicas regionais das Nações Unidas (ONU), com sede em Santiago do Chile.99

A base teórica da CEPAL foi reunida por Ricardo Bielschowsky, em sua obra comemorativa “Cinquenta anos de pensamento na Cepal”100, publicada em 2000, e por Octavio Rodríguez, em “A teoria do subdesenvolvimento da CEPAL”, publicada em 1981.

Ambos em suas obras fazem uma síntese dos componentes teóricos que formaram o pensamento cepalino, e dentre estes componentes a principal perspectiva da CEPAL a ser estudada nesta monografia é a concepção de centro- períferia. Esta concepção era vista como um sistema único, cujo se baseava em uma dinâmica de desigualdade social entre os níveis de renda e a estrutura produtiva dos dois polos, dando início à evolução bipolar, que segundo Rodriguez acontece tanto na fase de desenvolvimento voltado para fora, quanto na fase de industrialização e desenvolvimento voltado para dentro.

Para Bielschowsky101 o contraste entre centro e periferia pode-se identificar a ideia de que “a estrutura socioeconômica periférica determina um modo de industrializar, introduzir progresso técnico e crescer, e um modo próprio de absorver a força de trabalho e distribuir a renda”.

99

CEPAL. Acerca de la CEPAL. Disponível em: <http://www.cepal.org/pt-br/about>. Acesso em: 16 set. 2015.

100

BIELSCHOWSKY, Ricardo. Cinquenta anos de pensamento na CEPAL – Uma resenha. v.1. Rio de Janeiro: Record. 2000.

101

Com o objetivo de melhor compreensão do sistema centro-periferia, é preciso situar-se historicamente neste período. O surgimento da CEPAL se deu no contexto de uma economia mundial em crise, na beira do colapso do sistema financeiro, e do comércio internacional, agravado pelas duas grandes guerras (1914 e 1939) que impuseram barreiras às importações, e a crise de 1929, que causou uma drástica redução do preço e no volume das exportações.

Essas modificações na economia mundial, segundo Rodriguez102, possuem grande relevância para a periferia, visto que a industrialização era tida como um fenômeno espontâneo, que transformou o modelo de crescimento da periferia do desenvolvimento para fora – baseado na expansão das exportações – para o desenvolvimento para dentro – que caracteriza o aumento da produção industrial. De acordo com esta visão o autor afirma que se o grau de desenvolvimento (níveis de produtividade e renda média) se tornar igual para os dois polos,

[...] o livre jogo das forças econômicas impulsiona espontaneamente a expansão da indústria periférica. A industrialização passa a ser então a forma principal e necessária de crescimento das economias que constituem o polo periférico do referido sistema.103.

O autor continua afirmando que durante o processo de industrialização os problemas econômicos que surgem serão semelhantes para diversos países periféricos, especialmente os latinos americanos. Destes problemas dois estão listados no âmbito das relações econômicas internacionais: as tendências ao

desequilíbrio externo e a deterioração dos termos de intercâmbio.

Para compreender o primeiro problema, as tendências ao desequilíbrio

externo, Rodriguez explica que se a periferia crescer economicamente a um ritmo

igual ou superior ao do centro, tenderá a ocorrer um desequilíbrio externo. Desta forma, para os teóricos da Cepal o ideal para evitar o desequilíbrio era a industrialização, principalmente se realizada através da substituição das

importações. 102 RODRIGUEZ, 1981. 103 Ibid., p. 45.

A substituição das importações tema que surge nos textos iniciais da CEPAL é bem explicada posteriormente por Maria da Conceição Tavares104 que aborda este tema juntamente com a distribuição de renda voltada para a economia e desenvolvimento brasileiro. A linha de pensamento de Tavares vai ao encontro da linha de Raúl Prebisch105, o preconizador da teoria cepalina. Ambos afirmam que se entende por substituição de importações, simplesmente o fato de o país começar a produzir internamente o que antes importava. Caracterizando assim o chamado desenvolvimento para dentro, uma vez que provoca o desenvolvimento da indústria nacional.

No entanto, o desenvolvimento típico da economia de toda a América Latina é o “desenvolvimento para fora”, conforme supracitado, e que segundo a autora esta vinculado ao quadro de divisão internacional do trabalho, cujo foi imposto pelo próprio processo de desenvolvimento das economias líderes, que determinava aos países periféricos um trabalho completamente distinto do trabalho realizado no centro.

Para Tavares, (2000) o centro gozava do modelo primário-exportador, onde as economias tinham como um importante fator determinante da renda nacional: as exportações (componente exógeno), e quando combinados com o investimento autônomo e de inovações tecnológicas (componentes endógenos) podia-se determinar o crescimento econômico. Já na América Latina a exportação determinava o componente autônomo do crescimento de renda, assim como o centro de toda a economia dos países.

Todavia, com a crise de 1930, o mundo das economias de centro mergulhou-se em uma profunda depressão, tendo diminuído o volume de exportações e cortando pela metade o volume de importações da periferia. Motivo este que não abalou a economia dos periféricos, que mesmo que o desequilíbrio externo estivesse ocorrendo criou condições para que a economia se voltasse ao mercado interno, e através de medidas determinadas pelos governos como o controle e restrições às importações, elevações das taxas de câmbio, e a compra de

104

TAVARES, Maria da Conceição. Auge e declínio do processo de substituição de

importações no Brasil. En: Cinqüenta anos de pensamento na CEPAL-Rio de Janeiro:

Record/CEPAL, 2000-v. 1, p. 217-237, 2000.

105

PREBISCH, Raúl et al. Dinâmica do desenvolvimento latino-americano. Fundo de Cultura, 1964.

excedentes, nutriu o desenvolvimento do processo de industrialização, sob a liderança do setor industrial, que propiciou a manutenção da renda interna.

Para concluir, Tavares106 afirma que,

[...] o processo de substituição não visa reduzir o quantum de importação global; essa diminuição, quando ocorre, é imposta pelas restrições do setor externo e não desejada. Dessas restrições (absolutas ou relativas) decorre a necessidade de produzir internamente alguns bens que antes se importavam. Por outro lado, no lugar desses bens substituídos aparecem outros e à medida que o processo avança isso acarreta um aumento da demanda derivada por importações (de produtos intermediários e bens de capital) que pode resultar numa maior dependência do exterior, em comparação com as primeiras fases do processo de substituição.

Para completar a abordagem dos problemas econômicos, neste momento será discutido acerca do segundo problema, a deterioração dos termos de

intercâmbio (ou de troca), termo este ligado a outro ponto destacado pelo ideário

Cepalino: a tendência ao desemprego. Segundo Rodriguez107, a transformação da estrutura produtiva da periferia gerou um excedente de mão-de-obra que acarreta em uma pressão sobre os salários pagos na produção, uma vez que o nível de produção industrial ainda é pequeno se comparado à disponibilidade de mão-de- obra.

Para Prebisch108, isto evidenciava a teoria da deterioração dos termos de

troca, onde a periferia transferia seus ganhos recorrentes à sua produtividade para o

centro, aumentando a disparidade entre os países ricos e pobres. A CEPAL entendia a deterioração dos termos de intercâmbio como o desvio do fruto do progresso técnico da periferia para o centro, aumentando a distinção entre as rendas, já que os centros conservam o benefício de sua produtividade além de absorver parte dos benefícios da produtividade da periferia.

Neste momento então, após devidas explicações acerca do ideário cepalino, podemos enfatizar os objetivos da comissão econômica diante da américa Latina,

[...] impulsionar a industrialização da periferia, a fim de dar emprego e elevar a produtividade do trabalho e de ir superando, ao mesmo tempo, o

106 TAVARES, 2000, p. 228 107 RODRIGUEZ, 1981. 108 PREBISCH, 1964.

obstáculo externo. Mas, além desta proposta industrialista, esse modelo contém um reconhecimento da necessidade de alterar o esquema tradicional da divisão internacional do trabalho e modificar, dessa forma, a estrutura do comércio mundial. Tais mudanças são concebidas com o objetivo de redinamizar o comércio em benefício do sistema no seu conjunto e de eliminar as desvantagens que o padrão de intercâmbio vigente apresenta para o polo periférico.109

A ideia principal a ser discutida com a Teoria Cepalina deve-se aos padrões de desenvolvimento econômico que necessariamente devem ser alterados através da melhor distribuição de renda e de reformas feitas dentro do capitalismo, como: reforma agrária, patrimonial, financeira, tributária, educacional, e tecnológica.110

Assim sendo, Bresser-Pereira111, destaca o conceito de desenvolvimento econômico apresentado pela Cepal,

[...] é o processo de acumulação de capital, incorporação de progresso técnico e elevação dos padrões de vida da população de um país, que se inicia com uma revolução capitalista e nacional; é o processo de crescimento sustentado da renda dos habitantes de um país sob a liderança estratégica do Estado nacional e tendo como principais atores os empresários nacionais. O desenvolvimento é nacional, porque se realiza nos quadros de cada Estado nacional, sob a égide de instituições definidas e garantidas pelo Estado.

Como conclusão a CEPAL assegura que o desenvolvimento específico da periferia não acontece de forma espontânea, e que para poder aumentar o nível de produtividade deveria ser feito um planejamento, pois esta era vista como um meio eficaz de canalizar as mudanças estruturais decorridas da industrialização. A comissão econômica compartilha da opinião de que o Estado desfrute de uma posição de cunho intervencionista, onde,

“O Estado é concebido como o gerente fundamental da política de desenvolvimento, a qual ele deve orientar a longo e médio prazo mediante a planificação e conduzir a curto prazo através de um manejo cuidadoso da política contingente”.112 109 RODRIGUEZ, 1981, p. 249. 110 BIELSCHOWSKY, 2000. 111

BRESSER-PEREIRA, L. C. Do ISEB e da CEPAL à teoria da dependência. In: TOLEDO, C. N. (Org.). Intelectuais e política no Brasil: a experiência do ISEB. Rio de Janeiro: Revan, 2005. p. 213.

112

No entanto a principal hipótese da teoria cepalina, a qual afirmava que a industrialização seria capaz de absorver o excesso de mão-de-obra no setor industrial e de maior produtividade da economia, de acordo com Bresser-pereira113, na realidade, não se concretizou. A partir dessa constatação, aquele otimismo em relação à industrialização através da substituição das importações, se transformou na década de 1960, em um pessimismo retratado nos textos da Cepal.

À vista disso, Prebisch114 então atribui esse declínio de sua teoria à necessidade de maior redistribuição de renda por meio de uma reforma agrária. Acusando que a economia passaria a enfrentar uma “insuficiência dinâmica”, relacionada exclusivamente à incapacidade da indústria em absorver a mão-de-obra disponível.

No entanto Furtado115 afirma que a industrialização Latino-Americana “conduziria os países a uma estagnação econômica”, que está atrelada à insuficiência dinâmica da demanda, uma vez que a concentração de renda (herança da economia primário-exportadora) impedia o funcionamento do “círculo virtuoso do capitalismo”, o processo pelo qual o aumento da produtividade consequentemente aumenta os salários e a demanda agregada. Desta forma, a longo prazo, a economia estagnaria ou teria um crescimento econômico com taxas muito baixas.

A crítica de Furtado116, para o desenvolvimento latino-americano está na distinção entre o processo de desenvolvimento autônomo, e o dependente. Uma economia dependente teria o progresso tecnológico criado devido a modificações estruturais que surgem por parte da demanda, ao passo que nas economias desenvolvidas o progresso tecnológico é a fonte do desenvolvimento. Crítica que vai de encontro com o que realmente se concretizou do pensamento Cepalino nas economias Latino Americanas.

Em detrimento da falta de concretização da teoria da CEPAL, novas teorias e interpretações aparecem para exemplificar o processo de industrialização Latino-Americano. Nesse contexto surge a teoria da dependência que será abordada no próximo tópico.

113

BRESSER-PEREIRA, 2005.

114

PREBISCH, R. Por uma dinâmica do desenvolvimento latino-americano. In: BIELSCHOWSKY, R. (Org.). Cinqüenta anos de Pensamento da Cepal. Rio de Janeiro: Record, 2000. cap. 12.

115

FURTADO, Celso. Subdesenvolvimento e estagnação na América latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

116

No documento Conteúdo nacional (páginas 48-54)