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TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

No documento Conteúdo nacional (páginas 42-46)

O comércio internacional baseia-se em teorias clássicas do comércio, as quais surgiram a partir da metade do século XVIII, quando passou-se a discutir sobre o comércio internacional. Até então o conhecimento que se tinha do comércio exterior advinha de escritos da escola mercantilista, como afirma Coutinho77.

As principais teorias que explicam e defendem o fluxo internacional do comércio são: a teoria das Vantagens Absolutas de Adam Smith em 1776; e a teoria das Vantagens Comparativas, elaborada por David Ricardo em 1817. Estas teorias surgiram juntamente com a Revolução Industrial, fato histórico que muda as características do sistema econômico vigente até então, passando do capitalismo comercial para o capitalismo industrial.

Não se pode datar exatamente quando se iniciou a Revolução Industrial, já que a mesma se origina de um processo de desenvolvimento econômico de pelo menos 200 anos, de acordo com Hobsbawm78. A revolução britânica por ser considerada a primeira da história, não pôde se basear em demais movimentos, tendo que iniciar do zero, por tal motivo é declarada a mais importante e por decorrência é intitulada como a “Oficina mecânica do mundo”.

77

COUTINHO, Eduardo Senra et al. De Smith a Porter: um ensaio sobre as teorias de comércio

exterior. REGE Revista de Gestão, v. 12, n. 4, p. 102, 2005. Disponível em <

http://www.revistas.usp.br/rege/article/view/36536/0> Acesso em: 22 de Agosto de 2015.

78

HOBSBAWN, Eric J. Da Revolução Industrial inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro.Forense Universitária, 5ª Edição, 2003.

Conforme afirma Hobsbawm79,

A Grã-Bretanha fazia parte de uma ampla rede de relacionamentos econômicos, integrada ainda por várias áreas “adiantadas”, algumas das quais eram também áreas de industrialização potencial, e por áreas de “economia dependente”, como também pelas margens de economias estrangeiras ainda não envolvidas substancialmente com a Europa. [...] O mundo “adiantado” estava ligado ao mundo dependente por uma certa divisão da atividade econômica: de um lado, uma área relativamente urbanizada, e de outro zonas produzindo e em grande parte exportando produtos agrícolas ou matérias-primas.

Essa compreensão da disposição do mundo do Séc. XVIII torna-se necessário para o melhor entendimento dos reais motivos que a Inglaterra se transformou na precursora da revolução. Segundo o mesmo autor:

[...] uma vez que já existiam as condições sociais econômicas fundamentais para tanto, portanto o tipo de industrialização verificado no séc. XVIII era barato e simples e porque o país era suficientemente rico e progressista para ficar a salvo das ineficiências que poderiam ter atrapalhado as economias menos saudáveis. Talvez somente uma potência industrial tão afortunada como essa pudesse ter-se dado ao luxo daquele desdém pela lógica e pelo planejamento (até mesmo planejamento privado), daquela fé na capacidade de vencer empecilhos aos trancos e barrancos, que se tornaram tão características da Grã-Bretanha no séc. XIX.80

Para o autor a revolução não se deve ao avanço tecnológico da Grã- Bretanha e sim ao pioneirismo anglo-saxão na economia. Tanto que as invenções surgidas neste período foram relativamente modestas, uma vez que foram desenvolvidas por artesãos, carpinteiros, moleiros, e serralheiros. Nem mesmo a principal invenção e símbolo da revolução, a máquina a vapor, “necessitava de mais conhecimentos de física do que os disponíveis então há quase um século”81

.

Porém não se pode contestar a grande importância e impacto na história mundial, uma delas é a busca insaciável pelo lucro crescente através da ordem de maior quantidade de produtos industrializados a preços mais baixos, que acarretou na explosão de inovações tecnológicas neste período. A indústria têxtil foi o ambiente destas inovações de suma importância, fazendo com que o Governo proibisse a importação de algodão da Índia, maior mercado têxtil e 79 HOBSBAWM, 2003, p 34. 80 Ibid., p 34. 81

HOBSBAWM, A era das revoluções: Europa 1789-1848. Tradução de: TEIXEIRA, Maria Tereza Lopes; e PENCHEL, Marcos. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1977. 343 p.

consequentemente principal concorrente da Inglaterra, garantindo então a proteção do mercado interno para produtores nacionais82.

Assim como a indústria têxtil a indústria siderúrgica teve um papel tão importante quanto, pois a partir da mineração do carvão, e do ferro, que permitiu a utilização de máquinas de ferro para dar o ponta pé inicial para a produção fabril mecanizada.

Neste contexto social e econômico surgem as tais teorias que regem até o hoje o comércio internacional, manifestadas pelos principais filósofos econômicos, Adam Smith e David Ricardo.

Os princípios postulados por Ricardo servem como uma complementação às de Adam Smith, cujo afirma que “cada nação tende a especializar-se na produção para a qual se ache naturalmente mais apta, em aplicação do princípio fundamental da Divisão do Trabalho, neste caso em termos internacionais”83

.

Em sua obra o filósofo e economista, Adam Smith, defende que a “vantagem absoluta de um país na produção de um bem resulta de uma maior produtividade, ou seja, da utilização de uma menor quantidade de insumo para produzir esse bem enfrentando menores custos”84

.

Desta forma, como afirma Bado85, para Smith o comércio externo de cada país era baseado nas diferenças absolutas de custo de produção. O autor tinha como centro de seu pensamento o comércio internacional, e defendia que a riqueza das nações é o resultado do aumento da produtividade do trabalho, ou seja, produzir com uma menor quantidade de insumos assim reduzindo os custos, e esta seria por fim a consequência da divisão do trabalho.

Como exemplifica Bado86:

Por intermédio do comércio internacional, um país exporta as mercadorias que consegue produzir mais barato que os demais e importa aquelas que produz mais caro, produzindo, desta forma, mais dos produtos que faz com

82

HUNT, E. K.. História do Pensamento Econômico. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1981. p. 61

83

BADO, Álvaro Labrada. Das vantagens comparativas à construção das vantagens

competitivas: uma resenha das teorias que explicam o comércio internacional. v. 3 n 5. Julho

2004, p. 5. Disponível em: < https://www.international-arbitration-attorney.com/wp-

content/uploads/arbitrationlaweconomia_05arbitration1.pdf#page=5> Acesso em: 22 de Agosto de 2015.

84

COUTINHO, 2005, p 102.

85

BADO, op. cit.

86

maior eficiência, e consumindo mais produtos do que seria capaz na ausência do comércio internacional.

Portanto para o autor cada país deve se concentrar na produção dos bens que possui vantagem absoluta, e os demais bens que excedem o consumo interno deveria ser exportado. Por fim, Coutinho87 conclui que para Smith o comércio exterior eleva o bem-estar da sociedade.

Já Ricardo demonstrou que o princípio que determina a direção e a possibilidade de se beneficiar com o comércio é a vantagem comparativa, e não a vantagem absoluta. Em sua teoria ele afirma que “dois países poderiam beneficiar- se com o comércio, se cada um tivesse uma vantagem relativa na produção”88

. De acordo com o pensador, vantagem comparativa (também denominada de vantagem relativa) significava que o trabalho incorporado às duas mercadorias diferia entre os dois países, de modo que cada um deles poderia ter, ao menos, uma mercadoria que a quantidade relativa de trabalho incorporado seria menor do que a do outro país, como afirma Hunt (1981).

Em sua obra “Princípios de Economia Política e Tributação”, David exemplifica a teoria das vantagens comparativas da seguinte maneira:

A Inglaterra exportava tecidos em troca de vinho porque, dessa forma, sua indústria se tornava mais produtiva; teria mais tecidos e vinhos do que se os produzisse para si mesma; Portugal importava tecidos e exportava vinho porque a indústria portuguesa poderia ser mais beneficamente utilizada para ambos os países na produção de vinho89.

Assim sendo, o modelo de Ricardo apresenta que no comércio exterior, “os países exportam bens nos quais têm maior produtividade relativa do trabalho (têm vantagem comparativa na sua produção) e importarão os bens nos quais apresentam menos produtividade relativa do trabalho (não tem vantagem comparativa na sua produção)”90

.

87

COUTINHO, 2005.

88

RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril Cultural, 1982. p. 87.

89

Ibid., p. 107.

90

No documento Conteúdo nacional (páginas 42-46)