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Os resultados dos complexos com infinitivo

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 147-152)

5. ANÁLISE DOS DADOS

5.2. Complexos Verbais

5.2.5. Sistematização dos resultados dos complexos verbais

5.2.5.3. Os resultados dos complexos com infinitivo

Com as 384 ocorrências de complexos com o verbo principal no infinitivo, verificou-se um quadro variável da ordem dos clíticos nas três posições inicialmente controladas, sendo a variante intra-CV a mais produtiva, com 56% dos dados, seguida pela pré-CV (29%) e, por último, pela pós-CV (15%).

De modo a alcançar o efeito de síntese idealizado para esta seção, apresentam- se, aqui, os resultados encontrados para cada variante separadamente, evidenciando, dessa forma, os elementos que mais propiciaram a concretização de cada posição do clítico no complexo com infinitivo.

Em primeiro lugar, destaca-se que a variante intra-CV constitui a opção preferencial da ordem dos clíticos em complexos com infinitivo, podendo ser

32 Há apenas um dado com a construção vir + gerúndio, um com ficar + gerúndio e seis com estar + gerúndio.

considerada a variante prototípica, não marcada no PE. Desse modo, excetuando-se os contextos que se mostraram favorecedores da variante pré-CV, especialmente os elementos proclisadores (como se destacará no quadro III, mais adiante), e pós-CV, especialmente certos tipos de clíticos (como se destacará no quadro IV), a posição usualmente concretizada é a interna ao complexo.

A fim de sistematizar os contextos em que há maior realização da variante intra- CV, propõe-se o quadro a seguir:

Quadro II

Contextos da variante intra-CV em complexos com infinitivo Complexos verbais com infinitivo

Variáveis Contextos

Elemento antecedente ao clítico Conjunções coordenativas, SN sujeito, SPrep complementos, elementos discursivos e início absoluto de oração e de período

Tipo de clítico Diversos tipos, exceto o,a (s) Tipo de complexo verbal Diversos tipos

Elementos intervenientes no complexo verbal

Presença de elementos intervenientes Forma verbal do verbo auxiliar Modo indicativo, gerúndio

Observa-se, de acordo com o quadro II, que os elementos que não atuaram como proclisadores – as conjunções coordenativas, os SN sujeito, os SPrep complementos, os elementos discursivos e o início absoluto de oração e de período – favoreceram a variante mais usada no corpus, a intra-CV. Vale destacar o fato de não haver qualquer dado com essa variante com as preposições para e de, contexto que mostrou o mais forte efeito proclisador.

No que concerne ao tipo de clítico e ao tipo de complexo, os diversos pronomes e estruturas registraram a variante mais produtiva do corpus em mais de 50% das ocorrências. Apenas o clítico acusativo o (s), a (s) não apresentou esse comportamento, o que se associou à debilidade fonética de sua constituição, que, por hipótese, desfavoreceria determinadas constituições silábicas no interior do complexo verbal.

A variante intra-CV também foi favorecida pela presença de elementos intervenientes. Com a análise dos dados, verificou-se que os elementos do tipo que e de são os que mais favorecem essa variante. O controle desse grupo de fatores permitiu aferir a natureza da variante interna ao complexo na variedade europeia. De fato, na

maioria dos dados, trata-se de ênclise ao verbo auxiliar, como se verifica em construções como (Estou-lhe a dizer que vossemecê que foi lá por causa de doente e de ser mouquinha. Ela é muito surda. [GRJ-Ercília-M]). Entretanto, os complexos modais com ter que/de apresentam preferencialmente o clítico após o elemento interveniente (v1 que/de cl v2), construção em que o clítico, em se tratando do padrão europeu, poderia estar apoiado foneticamente na partícula que.

Por fim, quanto à forma verbal, verificou-se que o modo indicativo, diferentemente das formas do subjuntivo, apresentou comportamento compatível com a tendência geral do corpus, registrando maior índice da variante intra-CV (60%). Saliente-se, ainda, que a forma auxiliar gerundiva se manifestou em apenas dois dados, os quais, sem elementos proclisadores, concretizaram a variante v1-cl v2.

A seguir, passa-se a sistematizar, no quadro III, o comportamento dos dados relativos à variante pré-CV de acordo com os grupos de fatores linguísticos analisados.

Quadro III

Contextos da variante pré-CV em complexos com infinitivo Complexos verbais com infinitivo

Variáveis Contextos

Elemento antecedente ao clítico Preposições para e de, estruturas clivadas, partículas de negação e elementos subordinativos Tipo de clítico Estruturas contraídas

Tipo de complexo verbal Complexos verbais modais e bi-oracionais Presença/ausência de elementos

intervenientes no complexo verbal

Ausência de elementos intervenientes Forma verbal do verbo auxiliar Subjuntivo

Com base no quadro II, verifica-se que a anteposição do clítico ao complexo está relacionada fundamentalmente à presença de elementos proclisadores. Embora o efeito desses elementos seja menos expressivo no contexto de complexos verbais, se comparado ao de lexias verbais simples, os elementos que atuam – embora de forma não categórica33 – são semelhantes e podem ser considerados, no PE, atratores do pronome átono. Os únicos contextos em que não se concretizou a colocação cl v1 v2 foram os das variantes SPrep complemento, elementos discursivos e início absoluto de oração e de período.

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A tendência à próclise ao complexo na presença de proclisadores é ainda reforçada pelos demais elementos expostos no quadro II.

Quanto ao tipo de pronome, embora a colocação cl v1 v2 tenha ocorrido com todos os tipos de clíticos – em até 40% dos dados –, essa variante alcança índice expressivo (67%) com as estruturas contraídas. Por hipótese, não se costuma deixar de concretizar o efeito proclisador com a forma contrata, o que tornaria a estrutura muito saliente, perceptível no PE; em outras palavras, é provável que, em um dado como “não pode-ma dar”, o desrespeito ao princípio da atração ficaria muito evidente.

Os complexos verbais dos tipos modal e bi-oracional também apresentaram mais dados com a variante pré-CV (41% e 38%, respectivamente), se comparados aos aspectuais e temporais. Além disso, os índices percentuais alcançados por esses complexos ultrapassam a média das três variantes, que seria de 33% para cada.

A relação entre a presença/ausência de elementos intervenientes e a anteposição do clítico também foi observada. Na ausência desses elementos, deu-se mais a variante pré-CV (37%), enquanto, na presença, a concretização dessa variante diminuiu (23%). Esse resultado está associado ao comportamento da variante intra-CV, como se observou na exploração do quadro II.

Por fim, quanto ao tempo verbal34, a maior produtividade da variante cl v1 v2 com a forma do verbo auxiliar no subjuntivo reafirma o efeito proclisador, tendo em vista que tal forma verbal é típica dos contextos subordinativos, o que se associa indiretamente à presença de elementos subordinativos.

Com o objetivo de sistematizar a concretização da variante pós-CV, verificam- se, no quadro a seguir, as variantes em que há maior ocorrência dessa colocação pronominal:

Quadro IV

Contextos da variante pós-CV em complexos com infinitivo Complexos verbais com infinitivo

Variáveis Contextos

Elemento antecedente ao clítico Elementos discursivos e de foco

Tipo de clítico o (s) e a (s)

34 Não se destacou, para a variante pré-CV, o comportamento do infinitivo, por se tratar de contexto com

forte atuação dos elementos proclisadores no corpus analisado, o que poderia justificar o percentual obtido.

Tipo de complexo verbal — Presença/ausência de elementos intervenientes no complexo verbal —

Forma verbal do verbo auxiliar Infinitivo

Tendo em vista a baixa produtividade da variante pós-CV no corpus como um todo (15%), optou-se por destacar aqui apenas os contextos em que o índice de concretização ultrapassou a média da variável ternária (33% para cada variante).

Quanto à presença de elementos proclisadores, somente os elementos discursivos (43%) e os elementos de foco (37%) foram destacados. Observou-se, ainda, que a ênclise ao complexo ocorreu, embora raramente, com quase todos os elementos antecedentes, não tenho havido registro dessa variante apenas com as preposições para e de.

No que se refere ao tipo de clítico, verificou-se que o pronome o, a (s) concretizou a variante pós-CV em 45% das ocorrências, o que sugere ser essa forma favorecedora da ênclise ao complexo. Tal fato pode ter como base razões fonéticas, conforme já se mencionou. Destaca-se, ainda, o fato de não haver dados com a variante v1 v2-cl com as formas contraídas e com o se apassivador.

Quanto ao tipo de complexo, registra-se, apenas, que as construções temporais apresentaram 24% dos dados com a variante depois do complexo, percentual muito próximo do obtido para a variante pré-CV (22%) com esse complexo verbal.

No que tange aos elementos intervenientes, constatou-se que nem a ausência nem a presença são fatores que atuem no condicionamento dessa variante, mostrando-se irrelevante para a colocação pronominal depois do complexo verbal.

O infinitivo foi a forma verbal auxiliar que mais registrou a colocação pós-CV (39%). O indicativo e o subjuntivo não foram relevantes e não houve qualquer dado depois do complexo verbal com a forma verbal no gerúndio.

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 147-152)

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