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4.3 A construção da coleta de dados

4.3.3 Os sujeitos

Os critérios gerais para a seleção dos ILS foram os seguintes: (1) ser graduado; (2) possuir mais de dez anos de atuação profissional em Minas Gerais; (3) ter a interpretação Libras-Português como uma das principais atividades profissionais e (4) possuir certificado de Proficiência em Tradução e Interpretação Libras-

61 Parte dos dados do estudo exploratório foram devidamente analisados dando origem ao artigo RODRIGUES, C. H. Em busca da compreensão do processo de interpretação em Língua de Sinais: um estudo exploratório experimental à luz da Teoria da Relevância. In: X Encontro Nacional de Tradutores e IV Encontro Internacional da Abrapt. Nas Trilhas da

Tradução: para onde vamos?. Ouro Preto: DELET-UFOP, 2009. v.1. p.849-863. Já a

pesquisa piloto teve como foco o balizamento metodológico da pesquisa dando origem, junto aos apontamentos decorrentes do estudo exploratório, à comunicação RODRIGUES, C. H., ALVES, F. A interpretação em Língua de Sinais Brasileira: uma investigação de processos cognitivos e inferenciais à luz da Teoria da relevância. VII International GSCP Conference: Speech and Corpora. Gruppo di Studi sulla Comunicazione Parlata. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.

Português-Libras (ProLibras62). Além disso, buscamos selecionar profissionais experientes de reconhecida atuação profissional em meio à Comunidade Surda e aos profissionais tradutores e intérpretes de língua de sinais.

Definiram-se dois grupos de ILS. A diferença entre esses grupos refere-se ao momento de aquisição ou aprendizado da Libras. Os sujeitos do grupo A, constituído por filhos de surdos sinalizadores, desenvolveram-se em contato com a Libras e o Português desde o nascimento. Dessa maneira, os sujeitos desse grupo adquiriram a Libras e o Português concomitantemente, num processo natural, constituindo-se como bilíngues, nativos em Libras e em Português63. Reiteramos que os filhos de surdos são comumente denominados de CODAs (Children of Deaf Adults). O grupo B, por sua vez, foi composto por sujeitos não filhos de surdos sinalizadores, os quais adquiriram ou aprenderam a Libras como segunda língua fora do círculo familiar. Abaixo, encontramos duas tabelas, construídas com base nos dados da entrevista realizada com os ILS (melhor apresentada a seguir). Esses dados nos permitiram a construção do perfil desses sujeitos, evidenciando alguns aspectos de sua formação e de sua atuação. Os sujeitos são aleatoriamente apresentados nas tabelas. Portanto, a ordem em que aparecem não corresponde à nomeação que daremos aos mesmos durante a pesquisa. Para nomear os sujeitos escolhemos a letra “C” para os CODAs e a letra “N” para os não CODAs. E como forma de diferenciá-los, enumeramos os ILS de 1 a 10, sendo que os números ímpares referem-se aos CODAs e os números pares aos não CODAs.

62“O exame Prolibras é uma combinação de um exame de proficiência propriamente dito e uma certificação profissional proposto pelo Ministério da Educação como uma ação concreta prevista no Decreto n. 5.626/2005, decreto que regulamenta a Lei n. 10.436/2002, chamada “Lei de Libras”. Basicamente, esse exame objetiva avaliar a compreensão e produção na língua brasileira de sinais – Libras. […] No caso específico do exame Prolibras, o exame de proficiência identifica a proficiência na Libras e o mesmo exame certifica o candidato para o exercício de duas profissões: (1) o ensino da Libras e (2) a tradução e interpretação da Libras e Português” (QUADROS et al., 2009, p.23, 25).

63 Esclarecemos que o fato de ser CODA não garante o acesso à Libras e, por sua vez, sua aquisição. Certamente, vários são os fatores que influenciam o processo de aquisição da língua de sinais por parte dos filhos de surdos. Os CODAs, sujeitos desta pesquisa, são todos filhos de surdos sinalizadores e tiveram contato com a Libras desde o nascimento, convivendo com a Comunidade Surda e usando a língua de sinais desde a mais tenra idade.

TABELA 2 – Perfil dos CODAs.

TABELA 3 – Perfil dos não CODAs.

LEGENDA:

Cecel – Centro de Educação e Cultura para o Ensino de Libras

ProLibras – Exame de Proficiência no uso e ensino de Libras ou em Tradução e Interpretação Libras-Português-Libras CasBH – Centro de Capacitação dos Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez

Feneis – Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos Fesem – Federação das Entidades de Surdos do Estado de Minas Gerais Ines – Instituto Nacional de Educação de Surdos

Ceduz – Centro de Educação de Surdos

Em síntese, contamos com cinco CODAs (três mulheres e dois homens) e com cinco não CODAs (duas mulheres e três homens). Os não CODAs possuem mais de

ILS CODAs

Gênero Feminino Feminino Feminino Masculino Masculino

Uso da Libras Nativo Nativo Nativo Nativo Nativo

Familiares surdos Pais Pais, irmão e tios Pais, primos e tios Pais Pais e tios

Formação acadêmica Humanas Social Aplicada Humanas Humanas Letras

Formação em Libras _ _ _ Fesem Feneis Comunicação Assistiva ProLibras Feneis Inês Letras-Libras ProLibras

Formação como TILS Pró-Libras Outros ProLibras Feneis Pró-Libras Outros

Comunicação Assistiva Fesem Pró-Libras Letras-Libras CasBH Feneis Ines Pró-Libras Tradução e/ou interpretação publicadas Veiculadas na mídia televisiva Veiculadas na mídia televisiva Publicadas em outros meios Veiculadas na mídia televisiva Publicadas em outros meios Veiculadas na mídia televisiva Publicadas em outros meios Publicadas em outros meios

ILS não CODAs

Gênero Feminino Feminino Masculino Masculino Masculino

Uso da Libras ±15 anos ± 25 anos ±15 anos ± 20 anos ±15 anos

Familiares surdos _ _ Primo (oralizado) (sinalizador) Irmão _

Formação acadêmica Humanas Humanas Humanas Letras Humanas

Formação em Libras ProLibras Cecel

Feneis Fesem Âmbito religioso Letras-Libras ProLibras Outros Comunicação Assistiva Âmbito religioso Ceduz Fesem Âmbito religioso Letras-Libras Outros ProLibras Âmbito religioso Comunicação Assistiva ProLibras

Formação como TILS Pró-Libras CasBH Outros Fesem CasBH Feneis Letras-Libras Pró-Libras Feneis Comunicação Assistiva Pró-Libras CasBH Letras-Libras Pró-Libras Outros Fesem CasBH Comunicação Assistiva Pró-Libras Tradução e/ou interpretação publicadas Veiculadas na

mídia televisiva mídia televisiva Veiculadas na

Veiculadas na mídia televisiva Publicadas em outros meios Veiculadas na mídia televisiva Publicadas em outros meios Publicadas em outros meios

quinze anos de contato e uso da Libras, sendo que um deles possui um irmão surdo sinalizador. É interessante notar que dentre os não CODAs, quatro tiveram sua formação em Libras no âmbito religioso, fato comum, principalmente aos primeiros intérpretes de Libras-Português (QUADROS, 2004; ROSA, 2005; PEREIRA, 2008a). Todos os ILS participantes da pesquisa são experientes com reconhecida atuação profissional. Sendo que a grande maioria (oito intérpretes) possui trabalhos de tradução e de interpretação veiculados na mídia televisiva, alguns em nível nacional. Todos os ILS possuem formação superior64: sete na área de Ciências Humanas (Psicologia, Pedagogia, Geografia, Comunicação Assistiva); dois na área de Letras (Letras-Libras e Letras-Português) e um na área de Ciências Sociais Aplicadas (Comunicação Social).

É interessante notar que somente dois CODAs declararam ter formação em Libras, os quais, também, possuem formação superior para a tradução e para a interpretação Libras-Português. Um deles cursou o Tecnólogo em Comunicação Assistiva: Libras e Braille, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PucMinas), e o outro o Bacharelado em Letras-Libras, na UFSC. Dentre os não CODAs, quatro declararam ter formação superior para a tradução e para a interpretação Libras-Português. Dois se formaram no Tecnólogo em Comunicação Assistiva e dois no Bacharelado em Letras-Libras.