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3.2 Procedimentos metodológicos

3.2.2 Os sujeitos

Os sujeitos24 dessa pesquisa constituíram-se de dezoito (18) crianças, na faixa etária de sete (07) a dez (10) anos, e suas respectivas famílias, ou seja, dezoito famílias no total. Antes de descrevê-los, discorreremos brevemente a respeito da mobilidade destes.

Como prevê a pesquisa-ação, alterações de diferentes naturezas podem ocorrer durante o seu desenvolvimento. Neste estudo, além da forma de coleta de dados, as alterações se deram, também, com os sujeitos. Inicialmente, 21 crianças ingressaram na pesquisa, porém duas não tiveram os dados computados nas análises porque suas famílias não se comprometeram com a intervenção, e uma mudou-se, juntamente com sua mãe, para outra cidade.

A mobilidade dos sujeitos foi observada em diferentes fases, como mostra o Quadro 2.

Quadro 2 – Mobilidade dos sujeitos (crianças) Fases da

pesquisa Inicio da pesquisa

Pesquisa em andamento: antes da intervenção Pesquisa em andamento: durante a intervenção Nº de crianças Ingresso 15 Saída 0 Ingresso 03 Saída 01 Ingresso 03 Saída 02 Crianças

Gui, Ma, Ru, Wan, Ri, Adri, Barb, Am, Edu,

Fab, Eli, Est, Dav, Vic, Yas

Mul Vi Lori Gui Drian Ap Gab Fab Dav

A partir do primeiro encontro da pesquisadora com as famílias, quinze (15) crianças ingressaram na pesquisa; três (3) ingressaram à medida que seus familiares souberam da pesquisa por meio daqueles que estiveram presentes no primeiro encontro; por último, ingressam as três (3) crianças que, ao presenciarem os colegas levando as malas de livros, decidiram participar também. Dentre estas, apenas a família de uma delas concordou em participar. E duas crianças, cuja participação foi parcial porque não receberam o devido apoio de suas famílias, também reivindicaram o direito de levar as malas com os livros.

Vale ressaltar que, assim como essas três crianças que ingressaram por motivos próprios, muitas outras vieram procurar-nos, interessadas em participar. A pergunta era sempre a mesma: - tia, como faço para alugar livros também?

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a) As crianças

Apesar de, diretamente implicadas na situação a ser modificada, as crianças foram as últimas a serem consultadas a respeito da participação. Isso ocorreu pelo fato de que a intervenção aconteceria no domicílio da criança, sendo, assim, necessário percorrer o seguinte caminho: a consulta sobre a participação das professoras, a aceitação das famílias para, então, se chegar até as crianças. A escolha de crianças do 2º ano do EF justifica-se por essa etapa de ensino corresponder à fase inicial da alfabetização, sendo essa condição prevista nos objetivos determinados para este estudo.

Embora muitas crianças se alfabetizem antes dos sete anos de idade, essa não é a realidade da maioria das crianças que frequentam as escolas públicas. No Estado do Ceará, por exemplo, em 2007, a avaliação da leitura e da escrita realizada pelo Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC25) com crianças do 2º ano do EF apresentou resultados abaixo dos esperados para essa série.

A respeito do citado programa (PAIC), é oportuno esclarecer que, em maio de 2007, com o apoio do Ministério da Educação e Cultura (MEC), o mesmo foi lançado pela Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC), com o objetivo de elevar a proficiência em leitura e escrita dos alunos das séries iniciais do EF dos 184 municípios que compõem o estado. O programa é constituído por cinco eixos: Gestão, Literatura e Formação do Leitor, Alfabetização, Educação Infantil e Avaliação Externa. Através da avaliação externa, pode-se diagnosticar o nível de proficiência dos alunos, após intervenções realizadas por meio dos demais eixos. Assim, no final de 2007, a SEDUC realizou a avaliação da leitura e da escrita dos alunos do 2º ano do EF das escolas municipais e estaduais, através do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE/Alfa). Os resultados apontaram que somente 29,9% dos alunos demonstraram um nível de proficiência desejável, ou seja, liam e compreendiam um texto curto e produziam um pequeno texto.

Além desse fato, na época, o ingresso da criança que ainda não completara seis anos na Educação Infantil (EI) era opcional para os pais, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996). A obrigatoriedade do ingresso da criança de seis anos na Escola de EF ocorreu somente em 6

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O Eixo de avaliação do PAIC, através da Prova PAIC e/ou ESPAECE/Alfa, tem por objetivo identificar o nível de proficiência em leitura e escrita (aquisição do sistema de escrita, da leitura e da produção textual) de todas as crianças matriculadas no Ensino Fundamental da rede pública do Estado do Ceará. Vale ressaltar que, a pesquisadora fez parte tanto da elaboração do instrumental do 2º ano, como da formação dos aplicadores da avaliação.

fevereiro de 2006 (Lei nº. 11.27426). Portanto, é a partir dos sete/oito anos que a escola pública inicia, de fato, a sistematização do ensino da linguagem escrita.

Assim como as famílias, as dezoito crianças não ingressaram no projeto na mesma época nem pelos mesmos motivos, como mostra o quadro a seguir:

Quadro 3 – Ingresso das crianças na pesquisa Motivo do ingresso Família decidiu e a criança concordou Criança decidiu e a família concordou

Criança tinha prima fazendo parte da pesquisa Criança decidiu mesmo sem a aprovação da família Nº de crianças 15 01 01 01

O ingresso das crianças deu-se por três vias. A maioria (15 crianças) engajou-se na pesquisa porque seus familiares, à medida que iam tomando conhecimento dos propósitos, desejavam participar juntamente com as crianças. Uma criança convenceu a pesquisadora e sua família de que deveria levar a mala de leitura para casa, como faziam outras crianças, e obteve o consentimento da mãe e avó. Uma criança ingressou porque a prima fazia parte do grupo de participantes.

Felizmente as quinze crianças envolvidas por interesse de seus familiares acataram as decisões e gostaram de participar da pesquisa, exceto uma que disse não querer levar livros para casa. Muitas vezes, precisou-se de longas conversas de incentivo antes da escolha dos livros. Certa vez, diante da insistência da pesquisadora, uma retrucou: “Não vou levar

livro, porque quando eu chegar em casa eu vou é pro meio da rua”(Est). Ainda assim,

sempre concordava em levar os livros e, por ocasião da entrega, contava entusiasmada como a mala de livros também ia para a rua e fazia parte das brincadeiras.

Mesmo tendo-se estabelecido o número de crianças, no decorrer da investigação, houve a necessidade de selecionar27, dentre as dezoito, doze crianças (Grupo de Sujeitos – GS) para uma análise mais detalhada do processo de apropriação da linguagem escrita. Inclusive, constituímos, também, um Grupo Controle (GC). A formação deste último

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O Art. 32 da LDB Nº. 9394/96, afirma que o Ensino Fundamental obrigatório, com duração de nove anos,

gratuito na escola pública, “iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do

cidadão, mediante: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social." (Redação dada pela Lei nº. 11.274, de 2006).

27 A seleção das doze crianças teve como critério, primeiro, a realização da Provinha Brasil na mesma data e

grupo veio atender à intenção de realizarmos uma análise comparativa dos resultados das avaliações coletivas de leitura e de escrita (Provinha Brasil e Prova do PAIC, descritas posteriormente), realizadas com o GS e o GC.

O GC foi constituído tendo-se em vista critérios de similaridades e de diferenças preestabelecidos para o GS. Similares, no sentido de estudarem na mesma escola, estarem na mesma faixa-etária e nível de escolaridade, frequentarem a escola no mesmo turno e terem realizado a Provinha Brasil em 2008; diferentes, pelo fato de não terem participado do processo de intervenção.

i) Grupo de Sujeitos (GS)

Essa categoria de sujeitos é constituída pelas doze (12) crianças, na faixa-etária de 7 a 10 anos, do 2º ano do EF da Escola Vivências e Aprendizagens, ou seja, que participaram da investigação e realizaram, antes da intervenção, a Provinha Brasil.

ii) Grupo controle

Essa categoria de sujeitos é constituída pelas doze (12) crianças na faixa etária de sete (07) a nove (09) anos, do 2º ano do E F da Escola Vivências e Aprendizagens, selecionadas aleatoriamente: que realizaram a Provinha Brasil no mesmo período do GS; e não participaram da intervenção com práticas de leitura na família.

b) As famílias

Participaram da intervenção com práticas de leitura compartilhada, dezoito (18) famílias. Porém, em algumas análises, essa quantidade variou conforme a situação, por motivos explicitados anteriormente.

Seguindo as orientações da pesquisadora, cada família, de acordo com a sua realidade, designou pelo menos uma pessoa para desenvolver a leitura compartilhada com a criança. Dessa forma, consideramos como família todas as pessoas ligadas às crianças por laços sanguíneos, de afinidade ou afetivos (pais, avós, tios, irmãs, primos, pessoas de convivência próxima, como os vizinhos etc.). Essa pessoa poderia residir, ou não, no domicílio da criança, ser responsável, ou não, pelo sustento da criança, mas deveria comprometer-se a desenvolver práticas compartilhadas de leitura com a criança.

Essa proposição apoia-se no pensamento de Saraceno (1997), que diz ser a família uma construção social, um “espaço histórico e simbólico no qual e a partir do qual se

desenvolvem a divisão do trabalho, dos espaços, das competências, dos valores, dos destinos pessoais de homens e mulheres, ainda que isso assuma formas diversas nas diversas sociedades”.

Dada a importância desse segmento social para a construção e reconstrução de significados pela criança, há um capítulo dedicado exclusivamente a esse tema e, nele, será detalhado o desenho das famílias deste estudo.