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CAPITULO 1 – ESTUDOS PRELIMINARES

1.7 OS TRÊS PÓLOS DA COMUNICAÇÃO

Para fazermos essa reflexão recorremos aos três pólos complementares da comunicação: o oral, o escrito e o virtual. A relação entre esses três pólos é abordada por Lévy (2002) que discute aspectos ligados a comunicação humana e seu processo compreensivo.

O autor discorre sob a temporalidade social e os modos de conhecimentos que surgem do uso das novas tecnologias intelectuais baseadas na informática, “se alguns tempos sociais e estilos de saber peculiares estão ligados aos computadores, a impressão, a escrita e os métodos mnemotécnicos das sociedades orais não foram deixados de lado”. (LÉVY, 2002, p.75). Para o autor, essas “antigas” tecnologias intelectuais ainda são importantes no estabelecimento dos referenciais intelectuais e espaços-temporais das sociedades humanas.

É com esse pensamento que Lévy (2002) analisa as evoluções contemporâneas sob o império da informática como continuidade de uma história das tecnologias intelectuais e das formas culturais que a elas estão vinculadas.

Sabe-se que a linguagem é o principal instrumento de memória e de desenvolvimento de representações. Para o autor, a produção de representações nas sociedades sem escrita está quase, senão toda, baseada na memória humana associada ao manejo da linguagem, isto é, contos e narrativas. “Nestas culturas, qualquer proposição que não seja periodicamente retomada e repetida em voz alta está condenada a desaparecer”. (Ibid., p.83).

Por esta razão, somado a dificuldade em produzir representações singulares, uma vez que há distorções entre mensagens originais e as representações que associamos a elas, a memória humana, para o autor, não apresenta um desempenho de um equipamento ideal para armazenar e recuperar informações.

Com a escrita, as representações perduram em formatos outros, suas singularidades passam a ser transmitidas e a durarem de forma autônoma, uma vez que se torna muito mais cômodo conservá-las. Os contos e narrativas, característicos das sociedades sem escrita, agora se encontram registrados em papel.

Para Lévy (2002), a passagem do manuscrito ao impresso transformou ainda mais a transmissão dos textos, o uso das representações tornou-se mais intenso e difundido na sociedade. Assim surge outro tipo de memória, uma memória objetiva, impessoal que traz uma verdade independente dos sujeitos que a comunicam. “Sem a escrita, não há datas nem arquivos, não há listas de observações, tabelas de números, estaríamos no eterno retorno e na deriva insensível da cultura oral”. (Ibid., p. 96).

No entanto para o autor, como a escrita aposta no tempo, o principal obstáculo da comunicação diferida trazida por essa tecnologia intelectual está relacionado a distância entre o emissor e o receptor, a impossibilidade de interação em um mesmo contexto para a construção de uma interpretação comum. Isso pode tornar a mensagem escrita obscura para o leitor.

O terceiro pólo se inicia com a rede digital, inovação que de acordo com Lévy (2002) transformou a informática em um meio de criação, comunicação e simulação. O computador aos poucos vai se transformando em um instrumento poderoso de visualização, nele a imagem torna-se ponto de apoio de novas tecnologias intelectuais.

Nesse sentido, a informática nasce não apenas para dar continuidade ao trabalho de acumulação e de conservação realizado pela escrita, mas a noção de tempo real, um tempo condensado no presente, na operação em andamento. Modelos inscritos em papel, agora se encontram também inseridos em programas de computador, podendo ser explorados de maneira interativa e dinâmica, o que suscita o conhecimento por simulação.

Para Lévy (2002, p.124),

Enquanto a escrita permite estender as capacidades da memória a curto prazo [ o que explica sua eficácia como tecnologia intelectual], a informática da simulação e da visualização, ainda

que também estenda a memória de trabalho, funciona mais como um módulo externo suplementar para a faculdade de imaginar.

A simulação permite desenvolver as habilidades necessárias para a visualização uma vez que modelos mais complexos podem ser explorados e em maior número do que se estivesse reduzido aos recursos da oralidade primária e da escrita. Por essa razão a simulação, de acordo com o ator, remete a um aumento dos poderes da imaginação e da intuição.

A simulação por computador faz emergir uma nova maneira de representar objetos geométricos, representações estáticas produzidas em ambientes de lápis e papel, agora podem se tornar representações dinâmicas, dotadas de certa autonomia de ação e reação. Para Lévy (2002, p.121), “o conhecimento por simulação é sem dúvida um dos gêneros de saber que a informática transporta”.

É esse gênero de saber que aqui recorremos para o ensino e aprendizagem da Geometria Espacial, em especial dos Sólidos Arquimedianos, saber que traz a possibilidade de estudar por meio de simulações digitais fenômenos acessíveis ou não à experiência.

O conhecimento por simulação possibilitou o desenvolvimento de programas voltados para o ensino, como é o caso do Cabri 3D que diferente da escrita, pólo característico do Desenho Geométrico, permite que construções de objetos geométricos espaciais sejam enriquecidas ou modificadas sem que seja necessário recomeçá-las. Além disso, uma vez realizada uma construção, esta pode ser manipulada à vontade, com parâmetros de cor, tamanho, textura etc.

Nesse sentido, o Cabri 3D assume um papel complementar em relação ao Desenho Geométrico estudado em ambiente lápis e papel, pois não institui uma nova Geometria, apenas traz uma linguagem mais acessível a compreensão humana de objetos geométricos.

Lévy (2002) elucida bem a idéia de complementaridade entre os pólos da oralidade primária, da escrita e da informática ao enfatizar que não correspondem de maneira simples a épocas determinadas, posto que a cada instante e a cada lugar essas tecnologias intelectuais estão sempre presentes, entretanto com intensidade variável.

As reflexões realizadas até aqui, assim como os tópicos já apresentados evidenciam a necessidade de buscar contribuições para o ensino do objeto matemático Sólidos Arquimedianos na Escola Básica, além de formar as bases para a construção de nossa problemática presente no capítulo a seguir.