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3 CONSOLIDAÇÃO, ALAVANCAGEM, ABERTURA E REESTRUTURAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS: O SETOR CALÇADISTA EM FOCO

3.4 Oscilações nas exportações de calçados nos anos

Considerando pouco mais de uma década, a corrente de comércio passou de 13% em 1998 para mais de 23% do PIB nacional em 2003, de acordo com Torres Filho e Puga (2009), o nível mais elevado registrado desde 1958. Isso se deveu tanto à expansão das exportações, que cresceram a quase 12% ao ano, quanto das importações, que aumentaram 9,6% ao ano.

[...] Com isso, o comércio brasileiro, depois de muitos anos voltou a crescer acima das taxas alcançadas pelo mundo. O resultado foi que a participação da nossa economia nas exportações mundiais passou de 0,9% em 1998 para 1,2% em 2008. A participação nas importações, no entanto, ficou constante em 1,1% [...] (TORRES FILHO; PUGA, 2009, p. 74).

Os autores afirmam que o Brasil é considerado no contexto mundial como uma economia especializada em produtos intensivos em recursos naturais47. Além disso, a participação de setor de veículos é próxima da média mundial. Já em relação à média

47Agropecuária, extração mineral, petróleo e álcool, alimentos e bebidas, papel e celulose e produtos de minerais não metálicos. Esses segmentos respondem por 54% das vendas ao exterior do país, em contraste com uma média mundial de 26%.

mundial, o Brasil exporta pouco petróleo e gás, produtos intensivo em trabalho (têxtil, vestuário e calçados), química, máquinas e equipamentos eletroeletrônicos, tendo uma pauta de exportações bastante diversificada.

Como nosso foco está na indústria calçadista, mais uma vez nos valemos de dados que em sua maioria se referem ao setor, com especial foco na indústria calçadista paulista. A partir de informações fornecidas por publicações da CACEX, do BNDES e de matérias sobre economia e comércio exterior, entre outras fontes, observaremos números referentes às exportações do setor.

De acordo com Giambiagi, “a perspectiva de um Governo Lula servia como um teste importante para a economia brasileira” (2005, p. 196). De fato, durante anos, inicialmente com as reformas dos governos Collor/Itamar Franco e, mais especialmente, após o Plano Real, as autoridades tinham assumido o discurso das mudanças estruturais. Isso, segundo o autor, implicava afirmar que a defesa da estabilidade e, a partir do final dos anos 1990, a austeridade fiscal, seriam transformações permanentes, que cristalizariam ambições nacionais, e não de partidos políticos em específico. Esse discurso, porém, tinha dificuldades em convencer muitos analistas, tanto no mercado domésticos, como no internacional, como se conclui a partir dos prêmios de risco e das taxas de juros ainda bastante elevadas ao longo do período de 1999 a 2002. Em outras palavras:

[...] o mercado pareceu durante muito tempo entender que o compromisso com a estabilidade e a austeridade era do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), junto com seu Ministro da Fazenda (Pedro Malan) e o Banco Central (BC). Havia dúvidas, porém, sobre até que ponto esses compromissos seriam mantidos pelo governo seguinte (GIAMBIAGI, 2005, p. 197).

A partir das considerações de Giambiagi (2005), inicialmente, expomos dados de 2003, pois estes refletem justamente a passagem de governos. A partir de números divulgados no estudo “Histórico das Exportações Brasileiras de Calçados” (Anexo I) , referente ao período de 1990 a 2009, desenvolvido pela Associação Brasileira da Indústria de Calçados – Abicalçados, observou-se que as exportações brasileiras de calçados cresceram 7% em 2003, alcançando a cifra de US$ 1,552 bilhão, um aumento de 7% em relação a 2002.

Conforme os números colhidos até o final de 2003, houve o embarque de 188 milhões de pares nos período. O preço médio por par foi de US$ 8,21. No mesmo período de 2002, foram exportados 164 milhões de pares a um preço médio de US$ 8,84. Para 2004, a perspectiva da entidade era de que o setor conseguisse exportar em

torno de 15% a mais em relação a 2003. Este resultado seria consequência das ações do Brazilian Footwear, o projeto de promoção às exportações que a Abicalçados vinha desenvolvendo com o apoio da Apex Brasil48.

As informações refletem o contexto em que o país se encontrava. Segundo Giambiagi (2005), o governo Lula gerou uma grande distensão do ambiente financeiro a partir de primeiro trimestre de 2003. Nesse contexto, ajudado pelos excelentes resultados mensais da Balança Comercial, a taxa de câmbio recuou para menos de R$ 3 no segundo trimestre. Enquanto isso, o risco-país (medido pelo C-Bond) desabava para menos de 800 pontos, praticamente o mesmo nível de um ano antes, devolvendo, como salienta o autor, em sua totalidade o que em 2002 o mercado denominava de “efeito Lula”.

O desempenho da economia a partir de 2003 foi decisivamente influenciado pela evolução da taxa de câmbio e da inflação, face à continuidade do regime de metas de inflação, que tinha sido inaugurado em 1999. Isto é, “após o anúncio das novas metas – de 8,5% para 2003 e de 5,5% para 2004 -, a decisão mensal acerca da taxa de juros nas reuniões do Copom do Banco Central foi sempre orientada em função da tentativa de atingir o alvo proposto” (GIAMBIAGI, 2005, p. 210).

A apreciação da taxa de câmbio real não impediu um desempenho excelente das contas externas e, especificamente, da balança comercial, entre outras razões, pelo efeito compensatório da apreciação do peso argentino e do euro. Segundo o autor, no primeiro caso, o peso estava em $/3,50US$ no final de 2002 e caiu para valores em torno de 2,90 em 2003. No segundo, a cotação de 1,02 dólares por euro de final de 2002 chegou a subir até 1,20 poucos meses depois. Ambos movimentos tornaram mais competitivas as exportações brasileiras.

[...] O efeito da apreciação da moeda brasileira sobre a balança comercial foi também em parte atenuado pela alta do preço das exportações, pela recuperação da demanda em mercados anteriormente deprimidos (caso da Argentina) e pela maior penetração em novos mercados (por exemplo, a China). [...] Após o aumento do superávit da balança comercial em 2003, devido ao incremento de 21% das exportações, o valor do saldo continuou aumentando em 2004. Já o resultado da conta corrente, depois de ter sido deficitário em 1,7% do PIB em 2002, mudou de sinal, para superávit, em 2003, esperando-se novo resultado positivo ainda maior em 2004. [...] Além de o país ter tido superávits em conta corrente, a relação dívida externa líquida/exportações em 2004 caiu para o menor nível desde meados dos anos 70 [...] (GIAMBIAGI, 2005, p. 215).

48Programa que envolve uma agenda de eventos composta por missões empresariais, showrooms internacionais (principalmente América Latina), participação em feiras mundiais e a vinda de potenciais importadores ao Brasil, através do Projeto Comprador, que ocorreu em diversos polos calçadistas nacionais.

Segundo os dados divulgados pela Abicalçados, no estudo citado anteriormente, ao final de 2005, houve queda de mais de -10% em volume de pares nas exportações brasileiras de calçados. Em 2005, foram enviados ao exterior 189,6 milhões de pares contra os 212,4 milhões embarcados em 2004.

Somente para os Estados Unidos, principal importador do produto brasileiro, houve queda de 22% nos volumes vendidos. A Argentina e México também registraram decréscimos no número de pares que compraram do Brasil. Respectivamente, a redução foi de aproximadamente 11 e 15%. O faturamento com exportações do setor, porém, cresceu cerca de 5% sobre o mesmo período de 2004: alcançando US$ 1,891 bilhão, contra US$ 1,814 bilhão.

De acordo com estudo elaborado pelo BNDES, no início da década, havia expectativa crescimento da indústria calçadista de Franca (GORINI, CORREIA e SILVA, 2000, p. 14). Segundo os pesquisadores, com relação ao mercado externo a expectativa era a melhoria dos mercados já atendidos e a ocupação de novos mercados, associado a investimentos em canais de comercialização e à busca de uma posição mais nobre no mercado internacional, através da criação de consórcios de exportação. “No caso das pequenas e médias empresas a perspectiva é a busca contínua de nichos de mercado, estímulo à realização de tarefas coletivas e um contato mais próximo com fornecedores e clientes” (GORINI, CORREIA e SILVA, 2000, p. 14).

No entanto, alguns anos mais tarde, a EPTV Ribeirão divulgou que a exportação de calçados de Franca havia registrado queda de 30% nos dois primeiros meses de 200749, em relação a 2005. O motivo teria sido a desvalorização do dólar frente ao real. A moeda norte americana havia tido sua maior desvalorização nos últimos seis anos50. Naquele momento, os calçadistas pediam o apoio do governo federal para uma política para empresas de produtos sensíveis ao mercado financeiro.

Esta situação pode ser observada na entrevista de Miguel Bettarello, ex- presidente do Sindicato da Indústria de Franca, quando ele relembra a posse de Lula na presidência de república, em 2003.

[...] Digo que todos os planos nós “tiramos de letra”, éramos o maior exportador de calçados masculinos do Brasil. Em 2003, eu pensei que nós continuaríamos da mesma forma. Lembro-me que meu pai estava doente em

49De acordo com os dados disponibilizados na reportagem, o país estava produzindo anualmente mais de 700 milhões de pares de sapatos, no entanto, o mercado interno absorvia cerca de 500 milhões de pares. 50 Em 17 de abril de 2007 a moeda era cotada em R$ 2,03 para compra e R$ 2,04 para venda. Em 2004, a o valor chegou a R$ 2,80.

2003, ele faleceu em abril de 2003. Ele foi o fundador da empresa que se chama Agabê (Hugo Bettarello). Nesta época, quando ficou doente, me chamou: “Miguel, eu estou preocupado, o dólar caiu para $ 3,37, mas isto é temporário, vai subir para $ 3,40, $3,50, $ 3,60”, e a nossa expectativa era realmente esta. Caiu para $3,00, $2,80, $2,40, em 2007 caiu para $2,00, e as empresas não tiveram poder de competitividade. O Lula subiu o salário mínimo de uma forma desproporcional. Todos os anos subia de uma forma proporcional, e ele falava que queria ter um salário de U$ 300. Então, ele desvalorizou o dólar e subiu o salário mínimo. Realmente ele conseguiu. Hoje, o salário mínimo está acima de US$ 350. Com isto, melhorou a vida dos brasileiros, mas em contrapartida, os manufaturados deixaram de exportar. Então, as empresas que trabalhavam em alta escala de exportação, como nós, foram muito prejudicadas [...] (MIGUEL BETTARELLO, Anexo IX, p. 3).

Ele considera que na época do FHC, pelo menos, teve uma política cambial favorável aos exportadores de manufaturas, pois havia uma política mais segura. Diferentemente do Lula que teve uma política mais populista, com o foco na valorização do povo brasileiro e, Miguel Bettarello considera que com esta estratégia alguém teria de sair prejudicado.

[...] Foram os exportadores de manufaturados que “pagaram esta conta”, nós estamos inclusos nesta, não só nós, mas as indústrias de calçados. Houve um decréscimo muito grande nas exportações. Para se ter uma ideia, o ano que nós batemos o recorde de exportação, se não me engano, foi 1993, estes dados têm no Sindicato. De lá para cá, nunca mais conseguimos vender dois bilhões de dólares como vendemos naquela época. Em 2007 culminou com menos de um bilhão de dólares, houve um declínio muito grande nas exportações [...] (MIGUEL BETTARELLO, Anexo IX, p. 3).

Reafirmando o que foi exposto, Torres Filho, Puga e Ferreira (2006) demonstram que entre 2000 e 2005, as exportações brasileiras cresceram a uma expressiva taxa de 16% ao ano. Tal desempenho foi acompanhado por aumentos no saldo comercial, por elevados superávits em conta corrente e, consequentemente, por forte redução na restrição externa ao crescimento econômico.

As explicações para esse desempenho tem sido diversas. Para muitos especialistas, o aumento das exportações refletiu basicamente a elevação dos preços das commodities. “O mérito da melhoria nas contas externas estaria relacionado ao resto do mundo, portanto, minimiza-se o esforço exportador das empresas brasileiras” (TORRES FILHO; PUGA e FERREIRA, 2006, p. 53).

De acordo com dados fornecidos pelos autores, as exportações mundiais totalizaram cerca de US$ 10 trilhões em 2005. Entre 2000 e 2005, esse fluxo cresceu em média 9,9% ao ano (60% no período), com um aumento anual médio de 17,0% neste período. Assim, uma parcela expressiva do crescimento exportador brasileiro está

relacionada à expansão do comércio mundial.

No período que vai de 2000 a 2005, as exportações brasileiras aumentaram em U$ 63 bilhões (de US$ 55 bilhões para US$ 118 bilhões), com um crescimento de 114% no período. “Pode-se, portanto, afirmar que daqueles US$ 63 bilhões de aumento, 53% (US$ 33 bilhões) estão relacionados à manutenção da participação brasileira no comércio mundial” (TORRES FILHO; PUGA e FERREIRA, 2006, p. 54).

No entanto, uma análise mais detida da pauta mostrava uma forte diferença no desempenho setorial das exportações. Segundo os autores, setores como couro e calçados e madeira tiveram um desempenho modesto em 2005, bem como no acumulado em 12 meses (jul/05 a jun/06). Outros, como eletrônicos, apresentaram um expressivo aumento das vendas ao exterior. No outro extremo, as empresas exportadoras de papel e celulose; alimentos e bebidas; couro e calçados; e madeira, por serem pouco favorecidas com a economia de gastos com importação, tendem a ser mais afetadas por valorizações do câmbio.

Esta situação foi relatada principalmente pelos empresários de Franca que estiveram intimamente ligados às exportações, diferentemente, do empresariado de Jaú, polo que não tem a exportação como característica. Caetano Bianco Neto, o atual presidente do Sindicalçados Jaú, justifica esta característica justamente a partir deste tema: “Temos problemas principalmente de administração, na área de vendas, o polo de Jau começou a não ficar mais conhecido, são vendas concentrada, a exportação não deu certo, maioria com defasagem cambial muito grande (CAETANO BIANCO NETO, Anexo XVII p. 3).

O ex-presidente do Sindicato da Indústria de Franca, Jorge Felix Donadelli, faz uma retrospecção no tempo e comenta da realidade dos anos de 2002, 2003, quando US$1 valia R$4. Ao se comparar esta condição, com a condição de 2008, por exemplo, em que US$1 estava pouco mais de R$1,50, entende-se o situação de indústria calçadista no período.

[...] Durante o tempo em que estive no Sindicato, já “rolava” um tumulto em cima do fabricante, porque com o dólar caindo e a receita sendo exclusivamente em dólar, fica quase impossível a sustentação. As fábricas que às vezes fecham um negócio hoje, para mandar o sapato daqui a seis ou sete meses, vai fechar o câmbio quase um ano depois, levando-se em conta do fechamento do negócio até a realização. Os custos sobem de acordo com a inflação, embora estejamos num país de moeda estável, tem uma pequena inflação. Naquele tempo devemos ter vivido uma inflação entre 5 e 6% ao ano e o dólar caindo, para as indústrias que só tinham a receita em dólar, ou seja, quem só trabalhava com exportação teve um problema muito sério. Não creio que tenha tido em Franca alguma indústria exportadora que não tenha perdido dinheiro. Algumas exportavam e tinham o mercado interno. Estas

sobreviviam com o mercado interno cobrindo o prejuízo das exportações (JORGE FELIX DONADELLI, Anexo VIII, p. 3-4).

O ex-diretor executivo do SindiFranca, Ivânio Batista, considera que o polo produtor de calçados de Franca dependia e depende muito da exportação no mercado externo, e o que está atrelado a isto é o valor cambial. “Quando o dólar está compensador, as exportações vão bem e as fábricas melhor ainda. Quando o dólar fica equilibrado US$1 por R$1, R$1,20, R$1,30, as empresas não conseguem exportar” (IVÂNIO BATISTA, Anexo XI, p. 4), explica. Para a exportação no setor de calçados, ele considera que o dólar tem de estar acima de R$2. Em períodos que o dólar esteve abaixo deste valor, ou seja, desfavorável, muitas empresas tentaram se manter na exportação, mas muitas fecharam as portas em razão de prejuízos cambiais, ou como Ivânio Batista sugere, por teimosia em continuar exportando.

[...] Mas é teimosia? Talvez não. Por quê? Porque eles acreditaram em épocas anteriores e investiram tudo que tinham na exportação, estavam indo bem. Quando deu um break, eles não tinham produtos para o mercado interno, não tinham marca para o mercado interno, completamente desconhecido dos lojistas varejistas, e até você conseguir formar uma equipe de vendas para o mercado interno, sedimentar sua marca, isto leva anos, isto não é do dia para a noite. Então muitas empresas faliram em razão disto, pois perderam o mercado externo e não tinham o mercado interno [...] (IVÂNIO BATISTA, Anexo XI, p. 4).

O ex-empresário francano, Nelson Palermo, salienta que para a indústria calçadista o câmbio é um problema que vem de décadas e que agora parece que se tem uma consciência maior acerca de sua importância, não só para conter a inflação. Segundo ele, os governos anteriores usaram o câmbio para corrigir erros administrativos, para que a inflação não subisse, como no período do surto inflacionário, quando o Ministro da Fazenda era Maílson da Nóbrega. Mas, segundo ele, a utilização do câmbio com o intuito de segurar a inflação acaba danificando a indústria. “Se lermos os jornais, agora, o governo está fazendo o possível para que o câmbio não fique abaixo de R$ 2, pois danifica de uma maneira muito drástica a condição de competitividade das indústrias. Elas param de investir, de adquirir máquinas novas, fazer treinamentos de mão de obra [...]” (Nelson Palermo, Anexo XIII, p. 3).

A partir desta reflexão, Nelson Palermo faz a seguinte analise:

O câmbio, no curto prazo, dá resultados para segurar a inflação, mas depois, não se consegue mais usar só o câmbio para segurar a inflação, então o solta, tendo novamente a inflação, tendo um endividamento, porque as empresas trouxeram dinheiro de fora, porque era mais interessante, o país se endividou colocando seus títulos lá em dólar. Quando se solta o câmbio, o endividamento cresce, não só público,

mas o privado. (Nelson Palermo, Anexo XIII, p. 3).

No quarto trimestre de 2008, de acordo com Torres Filho e Puga (2009), o aprofundamento da crise financeira internacional interrompeu subitamente o crescimento do comércio exterior brasileiro, que vinha desde 1998. “O desempenho das exportações e das importações nesse período foi tão expressivo que pode se afirmar que essa década configurou o ciclo do ouro do comércio exterior brasileiro” (TORRES FILHO; PUGA, 2009, p. 73).

A crise financeira internacional também está na pauta dos empresários do calçado, como observamos nas entrevistas realizadas. De acordo com presidente do Sindicato da Indústria de Jaú, Caetano Bianco Neto, o Brasil, hoje, é o quinto maior consumidor de calçados do mundo, o que faz dele um mercado extremamente atraente para o mundo. Por isso, com a Europa e a América do Norte em crise, o Brasil tornou-se o lugar ideal para o escoamento dos excedentes de produção. “Isto tem acontecido e tem maculado as empresas do Brasil como um todo” (CAETANO BIANCO NETO, Anexo XVII, p. 6), afirma.

Em suas declarações, a partir de 2008, o empresário Giovani de Carvalho Costa, admite que o empresariado do setor foi pego de surpresa por mudanças inesperadas. Segundo ele, já se esperava a crise internacional, mas foi além do que se esperava.

[...] Aquela marola que se dizia inicialmente, como dizia o ex-presidente Lula, não foi uma marola, foi muito mais que isto, atingiu vários setores. E o nosso particularmente. O segmento de calçados houve uma conjunção de fatores que criaram uma série de ameaças. Além da crise internacional que resultou uma redução de consumo em exportação de pares para o exterior em relação ao produto brasileiro que gerou efeitos internos no posicionamento de vários polos regionais no mercado nacional. Porque o Rio Grande do Sul que era o grande polo exportador brasileiro ao retrair as exportações, entrou mais no mercado interno em termos de concorrência com outros polos como o de Jaú, por exemplo. Outra coisa que ocorreu foi a entrada de produtos chineses em grande escala [...] (GIOVANI DE CARVALHO COSTA, Anexo IVX, p. 7).

Já o ex-presidente do SindiFranca acredita que a crise iniciada em 2008 gerou uma crise cambial que atingiu diretamente o polo calçadista de Franca (JORGE FELIZ DONADELLI, Anexo VIII, p. 5).

José Carlos Brigagão, atual presidente do SindiFranca, vai além e discute a necessidade de o país fazer reformas necessárias e profundas do ponto de vista político, estabelecendo política industrial e promovendo uma reforma política.

[...] Devíamos estar modernizando o país do ponto de vista de gestão e o que está acontecendo? Os reflexos estão aí. O país não está crescendo, o PIB é

muito baixo e está refletindo em toda a economia inclusive na indústria de calçados. É uma indústria fraca, o governo lança incentivo para indústria rica que é a linha branca e se esqueceu dos demais setores. Então está correndo agora atrás do prejuízo, tentando salvar uma situação do setor de transformação que é um dos mais importantes do país, porque ele que emprega mais no país. E o PIB dele não fica atrás das commodities. Então o governo faz as reformas por partes. Não deixa de ser um remendo na política econômica do governo. Algumas medidas pontuais sendo feitas, experimentos sendo feitos e ele viu que a indústria de transformação, especificamente a indústria têxtil e o setor de calçados, que são similares, mas não são suficientes para que o país possa sair desta situação e dar condições de estarmos consolidando uma indústria que empregar mais mão de obra no país. Perdemos com isto as nossas exportações [...] (JOSÉ CARLOS BRIGAGÃO, Anexo XII, p. 3-4).

Neste sentido, ele faz a crítica à perda das exportações. De acordo com dados