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2 GOVERNOS E POLÍTICAS: DILEMAS DA INDÚSTRIA CALÇADISTA EM UMA CONJUNTURA DE SIGNIFICATIVAS MUDANÇAS

2.4 A política industrial dos governos FHC e Lula e sua relação com o setor calçadista

[...] Nós plantamos o desemprego, o prejuízo, a falência do sistema produtivo por todos os meios possíveis. Depois, quando a gente consegue tudo isso, ficamos bravos. Veja o que está acontecendo com a China hoje. Por que os chineses estão produzindo calçados mais baratos que nós? Eles tem um ambiente produtivo muito melhor que o nosso. Eles construíram isso. Evidentemente eles não teriam conseguido o que conseguiram sem o auxílio governamental. É o que nos falta atualmente [...] (EXCLUSIVO, 20/07/2005, nº 2271, p. 25).

2.4 A política industrial dos governos FHC e Lula e sua relação com o setor calçadista

Para concluir o nossa exaustiva, porém necessária, exposição teórica acerca da conjuntura política vigente no período em que contextualizamos nossa pesquisa, dedicamo-nos agora ao desenvolvimento de um tópico conclusivo acerca da política industrial dos governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula e, por conseguinte, elucidamos a sua relação com o setor calçadista.

Para isso, voltamos nossa observação para o seguinte questionamento: quais as implicações das políticas econômicas em geral e da industrial em particular para o setor em evidência nesta pesquisa?

Este questionamento está permeado por diversos fatores. Sendo assim, optamos por abordar alguns temas que consideramos relevantes para a nossa reflexão. Neste sentido, iniciamos nossa discussão a partir do seguinte fato: a abertura comercial.

Em se tratando do governo Collor e tudo o que se deflagrou a partir deste momento político, como analisamos anteriormente, observamos que tais empresários não interpretam os acontecimentos listados como tendo sido os responsáveis por diversos acontecimentos que impactaram diretamente a produção do setor. Averiguamos

que em suas manifestações, grande parte dos empresários do setor considera que o período em questão trouxe, inclusive, aspectos positivos para a indústria calçadista, condenando apenas o confisco das poupanças.

O empresário do calçado de Franca, Élcio Jacometti, por exemplo, explicita em sua fala que o único agravante do governo Collor foi “tomar” o dinheiro do empresário, pois assim acabaram ficando sem capital de giro. “[...] A verdade ‘nua e crua’ foi a descapitalização das empresas [...]” (ÉLCIO JACOMETTI, ANEXO VII). Com respeito à abertura de mercado, ele avalia que nenhum outro governo teria a capacidade e a coragem de fazer o que Collor fez, em suas palavras, “quebrar a tranca da porta”.

[...] Abrir as ‘portas’ do Brasil para a competição, quer dizer, acabar com as barreiras tributárias para o país crescer mais. Você precisa ganhar. Se não há barreira tarifária, você pode modernizar a empresa e pode ganhar mercado lá fora. Os outros mercados estão entrando aqui, também os outros produtores, mas em contrapartida, busca tecnologia lá fora para preparar sua empresa para concorrer [...] (ÉLCIO JACOMETTI, ANEXO VII).

Segundo o empresário, o Brasil hoje é um país aberto, com setores protegidos como o calçadista, devido medidas como antidumping, regras como as da TEC - Tarifa Externa Comum, admitida na OMC (Organização Mundial do Comércio), dentre outras. E ainda, com relação à era Collor, Jacometti poderá: “[...] não sei o que seria de um país deste tamanho com a indústria parada no tempo. Éramos obsoletos porque, até então, na década de 1990 nós estávamos trabalhando para equilibrar a exportação, mas ainda tinha muita defasagem no mercado interno, que podia crescer demais, como cresceu [...]” (ÉLCIO JACOMETTI, ANEXO VI).

Da mesma forma se manifesta o empresário Carlos Alberto Mestriner. Em sua perspectiva, “[...] Fernando Collor abriu a economia, foi importante, deu uma ‘chacoalhada’ no empresariado nacional, no sentido de buscar novas alternativas, melhorar a produtividade como um todo. [...] Abriu o mercado, a economia, e fez com que todos se mexessem [...]” (CARLOS ALBERTO MESTRINER, ANEXO XX).

Por outro lado, a crise que se deflagrou após Plano Collor, ainda na primeira metade dos anos 1990, fez com que novas diretrizes fossem direcionadas ao setor industrial, e consequentemente ao setor calçadista. Tal crise veio combinada com a recessão decorrente da política de estabilização, que por sua vez acabaram impondo às empresas severos ajustes, além da desnacionalização destes setores, levando muitas empresas à falência. No setor calçadista este fenômeno ficou evidente com a falência quase generalizada que ocorreu em alguns polos produtores de calçados do país.

Considerando os polos estudados nesta tese, Franca foi o mais afetado, especialmente pelo fato de ser o mais fortemente pautado na exportação.

No caso calçadista, observamos que aspectos citados, como a redução de tarifas de importação, sobrevalorização da moeda, constrangimento do crédito e ausência de mecanismos de proteção contra práticas desleais de comércio internacional, em alguns casos, levaram à substituição da produção local, ou pelo menos a adaptação à nova realidade. No caso de Franca, observamos o potencial surgimento, ainda que tímido, de um pequeno polo produtor de lingerie. Isso se deu pelo fato de que a fabricação de lingerie exige dos seus trabalhadores conhecimentos que são, de certa forma, parecidos com os conhecimentos que os trabalhadores da indústria calçadista detêm, por exemplo: pesponto (no caso do calçado) e costura (no caso da lingerie) e profissionais de design e estilismo.

Com relação a esta fase, utilizamos o depoimento do ex-presidente do sindicato da indústria de Franca e ex-empresário do setor calçadista, Jorge Felix Dinadelli. Ele é um dos exemplos que tomamos como referência, tendo em vista que, em praticamente todas as entrevistas observamos que o posicionamento dos empresários foi consideravelmente coincidente. Sob a avaliação de Donadelli, embora o plano Real tenha sido reconhecidamente “um milagre” muito bom para o Brasil e sua economia, para a indústria calçadista ele não tão foi bom. Donadelli chama a atenção para o detalhe de que no dia em que o plano Real se instalou o cambio já se mostrava consideravelmente desvantajoso para a indústria calçadista: US$ 1 valia R$1.

[...] De repente, quem exportava calçados, naquela época, conheceu o primeiro grande fracasso monetário na indústria de calçados, porque o dólar passou a se desvalorizar para R$ 0,98, R$ 0,97, chegou até a R$ 0,84. O Real valer mais que o dólar foi um grande problema e a gente não pode atribuir isto a ninguém. Reconhece-se sim a virtude do ‘milagre’ que aconteceu no plano Real, mas não se sabe a causa do dólar cair a ponto de ser vendido 14% mais barato [...] (JORGE FELIX DONADELLI, ANEXO VIII).

De acordo com o ex-empresário, isto também foi um prejuízo irreparável para a indústria de calçados. “[...] Foi mais um ‘tropeço’ na vida de quem estava exportando [...]”, explica Donadelli. Em contrapartida, ele chama a atenção para o fato de que para quem estava no mercado interno, as coisas começaram a melhorar, principalmente devido à melhor distribuição da renda.

Neste sentido, é válido que se faça um contraponto entre as políticas econômicas e industriais do governo de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio lula da Silva e o que elas significaram para a indústria calçadista. Neste sentido, colocamos nosso foco

nas políticas macroeconômicas adotadas no início do primeiro governo Lula que mantiveram inalteradas aquelas introduzidas pelo governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) após a crise do Real, em 1999. Indo ao encontro dos posicionamentos de diversos estudiosos explorados nesta pesquisa, tais políticas eram baseadas no paradigma neoliberal e, tipicamente, inspiradas pela abordagem dos mercados eficientes.

Mas, como podemos observar a seguir, há casos em que a luta contra estes diversos entraves pode ser fundamental para a melhoria das condições das empresas produtoras de calçados no país, como é o exemplo de Saulo Pucci Bueno que tinha como lema, quando assumiu a primeira vice-presidência do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), a seguinte frase: “trabalhando pelo progresso do setor”. Em entrevista ao Jornal Exclusivo, realizada por Jussara Vieira, o empresário francano passava, naquele momento, a ser um dos líderes de uma das maiores entidades representativas da indústria brasileira, além de ocupar o cargo de diretor adjunto regional do Ciesp em Franca / SP.

Com isso o empresário passou a ser o interlocutor direto dos industriais da cidade de Franca e em todo o estado paulista, atuando em defesa dos interesses da cadeia produtiva de todos os segmentos. Segundo ele, os projetos para 2006 das entidades que representa teriam a missão de unir e fortalecer o setor calçadista brasileiro.

Além disso, Bueno avaliou o ano de 2005 como um ano “tumultuado”, especialmente para os empresários.

[...] Ao recapitular os acontecimentos no mundo, o que se vê é uma série de fusões, aquisições, reestruturações, falências, entrada e saída de empresas do Brasil, negociações difíceis entre companhias no exterior. Mas, particularmente para o setor calçadista, foi um ano difícil. Perdemos um espaço internacional muito grande e, com baixo poder aquisitivo, estamos perdendo também o mercado interno. Não existe nada mais desagradável do que ver nos noticiários que empresas estão fechando, dispensando inúmeros funcionários e ver o desespero das pessoas que perderam o emprego. A comitiva que esteve recentemente em Brasília foi mostrar essa realidade ao presidente Lula, que começou sua carreira no Sindicato dos Metalúrgicos e sabe muito bem o que significa a estabilidade de uma empresa para o trabalhador [...] (EXCLUSIVO, 18/01/2006, nº 2300, p. 19).

Como vimos em seção anterior, o ex-presidente do SindiFranca, Miguel Bettarello, faz uma significativa crítica em artigo de sua autoria, publicado pelo jornal Exclusivo, acerca do governo de FHC, ou mesmo o processo que antecedeu seu governo. De acordo com as reflexões de Miguel Bettarello, o setor calçadista do Brasil,

que por muitos anos trabalhou incansavelmente para ocupar e ampliar os seus espaços no mercado mundial, viu-se em uma situação muito complicada e decorrente de ações políticas que não levaram em consideração o setor calçadista e as suas necessidades.

Além disso, a política de juros aplicada no país no período em questão também merece um olhar mais cuidadoso quando avaliamos o setor calçadista. Sob a perspectiva do economista Reinaldo Cafeo, de Bauru (SP), o Brasil possui grande potencial de mercado. Em entrevista à Vera Stumm, Cafeo, que também exercia naquele momento a função de professor universitário, além de ser delegado do Conselho Regional de Economia e consultor empresarial, declarou que os juros reais do Brasil (descontada a inflação), poderiam estar, naquele momento, na casa dos 9% ao ano, o que seria suficiente para um controle efetivo da inflação. “ [...] A austeridade fiscal controla a inflação, mas amarra a economia [...] ” (EXCLUSIVO, 5 a 11/12/2005, nº 2292, p. 18), argumenta.

Quando questionado sobre a situação da economia brasileira naquele contexto, se existia um fato de blindagem ou se a crise política já estaria afetando a economia, Cafeo esclareceu que havia um controle mais acentuado ditado pela alta tributação, baixos gastos públicos, elevada taxa de juros e câmbio favorável. “Hoje essa combinação nos protege de fortes oscilações”, explica e resume: “o mercado tem a reação que deseja” (EXCLUSIVO, 5 a 11/12/2005, nº 2292, p. 18).

Em contrapartida, naquele mesmo ano a indústria brasileria assistia a movimentações que poderiam ser uma esperança para as micro e pequenas empresas, o que beneficiaria diretamente o setor calçadista, considerando que consideravel parcela de suas empresas se enquadram nesta categoria. De acordo com matéria do Jornal Exclusivo, havia uma chance concreta de desburocratização e alivio da alta carga tributária das micro e pequenas empresas, responsáveis no Brasil por mais de 15 milhões de negócios, entre formais e informais. Assim estava sendo avaliada a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, cujo anteprojeto foi elaborado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Em 2005, o diretor presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, concedeu entrevista à Luciane Weber, em Brasília DF. Naquela ocasião encontrava-se confiante que, através da mobilização da sociedade, o projeto pudesse ser votado ainda naquele ano pela Câmara Federal.

Okamotto afirma que as micro e pequenas tinham grande potencial para crescer, tanto no mercado interno, quanto externo, e aponta o excesso de burocracia, a alta carga tributária e o despreparo dos empreendedores como as principais barreiras para o

segmento.

[...] Apesar de terem crescido em número, mais de 20% nos últimos cinco anos, chegando a sete mil firmas, a pequena empresa tem uma participação em valor de apenas 2,4% nas exportações. Esses dados demonstram o enorme potencial de crescimento das empresas brasileiras de pequeno porte no mercado internacional. Na Itália, por exemplo, a pequena empresa responde por mais da metade das exportações, participação que é de 40% na Espanha [...] (EXCLUSIVO, 18e 19/08/2005, nº 2270, p. 28).

Segundo ele, os benefícios imediatos que esta lei proporcionaria para as estas empresas seria a grande redução do excesso de burocracia e alívio da alta carga tributária, que estariam na raiz da alta informalidade da economia brasileira, que atingia, naquele momento, 10,3 milhões de negócios.

Para finalizar, o diretor presidente do Sebrae pontua o que os micro e pequenos empresários precisariam para se tornar mais competitivos. Segundo ele, primeiramente, precisariam de um ambiente melhor para trabalhar, que passaria obrigatóriamente por menos impostos e burocracia e mais acesso a crédito e atualização tecnológica. Depois, seria preciso se capacitar, pois é fundamental se preparar para montar e operar o negócio próprio.

Mas o que fica notório quando analisarmos temas como taxas de juros e sua insidencia no setor calçadista é uma instabilidade constante que, por sua vez, desestabiliza de forma generalizada o setor. Dentre muitos exemplos, selecionamos uma reportagem veiculada em maio de 2008 no Jornal Exclusivo, cujo tema era o aumento da selic e o desânimo generalizado do setor produtor de calçados. Nesta matéria, os líderes setoriais criticam a elevação da Selic em meio ponto percentual, levando em consideração que a taxa de juros mantinha-se estável desde maio de 2005. Consequentemente esperava-se uma queda maior da cotação do dólar, afetando diretamente os exportadores desta indústria.

De acordo com o depoimento do então presidente da Assistencal (Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), Luis Amaral, estas ações do governo vinha gradativamente prejudicando o setor calçadista. “[...] Tenho ouvido de muitas empresas que elas não tem mais o que fazer. Todas as ações que foram feitas nos últimos anos, como redução de custos nas empresas, de produtividade, transferência de plantas para outros Estados, entre outras foram feitas na tentativa de se adequar ao cenário econômico, mas agora chegamos ao limite [...]”, frisa (EXCLUSIVO, 05 a 11/05 de 2008, p. 11)

e dirigentes envolvidos com o setor calçadista. Em fevereiro de 2008, o governo propôs uma reforma tributária, cujo objetivo seria estimular a economia. No entanto, a afirmação do então deputado federal, Renato Molling (PP/RS), que presidia a Frente Parlamentar do Setor Coureiro-Calçadista na Câmara Federal, foi de que a reforma tributária era insuficiente. Segundo ele, para a reforma ser eficiente, deveria desonerar os tributos que são cobrados duas vezes do produtor. “[...] Desde a produção, até o produto final, tudo é taxado [...]”, critica (EXCLUSIVO, 10 a 16/02/2008, p. 12). Para o deputado, mesmo com a reforma, esses pontos continuariam iguais. Conforme Molling, outro fator importante que não constava na reforma são as desonerações nas folhas de pagamentos. “[...] A redução da contribuição patronal ainda é muito baixa e lenta [...]”, avalia, referindo-se à diminuição gradual da contribuição de 20% para 14% em seis anos.

“[...] Os tributos de mão de obra representam mais de 40% do imposto pago na produção. Então esta deveria ser a prioridade na reforma tributária [...]”, destaca Molling. O deputado salienta a necessidade de uma real mudança na política fiscal brasileira de reforma que fomente o desenvolvimento, mantendo as empresas no Brasil.

Tal reivindicação só começou a ter um desfecho favorável no governo de Dilma Rousseff, conforme citaram alguns entrevistados. De acordo com o depoimento de Ivânio Batista, a indústria paulista de calçados corria sérios riscos, há alguns anos por conta da guerra fiscal.

[...] Nós temos estados oferecendo benesses que o Estado de São Paulo não pode oferecer. O quê está acontecendo? O Rio Grande do Sul é o maior produtor brasileiro de calçados, não importa o tipo. O Estado de São Paulo sempre foi o segundo maior produtor. Hoje já não é mais. Já tem estado no nordeste que superou. O Ceará já produz mais que o Estado de São Paulo, por quê? Em razão dos benefícios fiscais [...] (IVÂNIO BATISTA, ANEXO XI).

Por conta deste e outros fatores expostos no desenvolvimento do presente trabalho, o potencial da indústria paulista de calçados vem diminuindo gradativamente, assim como vem diminuindo o número de vagas de empregos na indústria, o faturamento e, no caso específico de Franca, perdendo empresas que estão migrando para o Nordeste, conforme alerta o ex-diretor executivo do SindiFranca. “[...] O que o Estado de São Paulo pode fazer? Tem esta guerra de alíquota do ICMS, do custo Brasil que eu diria que hoje é custo São Paulo. Então fica complicado. Franca está perdendo indústrias com isto [...]” (IVÂNIO BATISTA, ANEXO XI).

preocupada com esta questão, trabalhando no sentido de que se haja uma unificação, principalmente no caso do ICMS. Segundo ele, o lógico seria acabar com ICMS e se adotar definitivamente o IVA (Imposto ao Valor Agregado).

[...] Não se pode ter um ICMS com alíquota no Estado de São Paulo diferente de Minas Gerais, outra (alíquota) no Estado do Ceará. Tem estados como e Ceará e outros que oferecem terrenos, muitos já oferecem galpões industriais prontos, em que as empresas podem chegar e se instalar, vinculado a isto, financiamentos de máquinas a ‘perder de vista’. Esta guerra tem de acabar, e hoje, o grande prejudicado com tudo isto é o Estado de São Paulo, o Estado considerado o mais rico da nação. Todos acham que o Estado de São Paulo pode tudo, e com isto, nós estamos perdendo a luta [...] (IVÂNIO BATISTA, ANEXO XI).

Além destas questões, nos capítulos que seguem, veremos o quanto os empresários calçadistas se queixam acerca do privilegiamento de alguns setores, como linha branca, automóveis, dentre outros, que se deu, especialmente no segundo mandato do ex-presidente Lula. No entanto, deve-se levar em consideração o contexto global em que a performance competitiva de um país passa pelo apoio a alguns setores específicos com ênfase para aqueles intensivos em C&T, conforme sugerido pelo autor Barbosa.

Segundo ele, isso é facilmente perceptível quando se analisa a política de desenvolvimento brasileira da última década, conforme exposto nos tópicos anteriores:

- A Política Industrial, Tecnológica, e Comércio Exterior (PITCE)36, lançada em março de 2004 com previsão de recursos na ordem de R$14,5 bilhões, apresentou como opção estratégica quatro setores em especial: semicondutores, software, bens de capital e fármacos e medicamentos; ainda como parte de sue eixo básico, três foram as atividades concebidas como portadoras de futuro em sua linha de ação: biotecnologia, biomassa e energias renováveis.

-A política de desenvolvimento produtivo, lançada em 2008, reiterou o escopo de privilegiar a construção e consolidação da “competitividade em áreas estratégicas de alta densidade tecnológica”37.

- O Plano Brasil Maior38, que contempla o quadriênio 2011-2014, concentra esforços nos mesmos objetivos, embora tendo caráter mais amplo quanto às perspectivas de adensamento de cadeias produtivas, incentivo às empresas nacionais mais competitivas e aumento do Valor da Transformação Industrial (VTI).

Diante desta realidade, o setor calçadista acabou, de certa forma, ficando em

36 Disponível em http://www.desenvolvimento.gov.br (acesso em 06.10.2007). 37

Disponível em http://www.pdp.gov.br/paginas/objetivos.aspx?path=Objetivos (acesso em 05.08.2011). 38

segundo plano, tendo em vista que não possui tais características que priorizariam o seu atendimento. Esta realidade, sem dúvidas, foi sentida pelos empresários do setor, que expuseram de forma clara a sua insatisfação acerca de alguns aspectos do atual governo, assim como o que o antecede.

3 CONSOLIDAÇÃO, ALAVANCAGEM, ABERTURA E REESTRUTURAÇÃO