• Nenhum resultado encontrado

PARTE II – LIMITES À SOBERANIA FISCAL: A HARMONIZAÇÃO

Capítulo 4.º HARMONIZAÇÃO FISCAL POSITIVA DA TRIBUTAÇÃO DAS SOCIEDADES:

3. A Luta contra a fraude, evasão e elisão fiscal: Os vários Planos de Ação e Pacotes Fiscais

3.3. Pacote Transparência Fiscal (2015)

Durante o ano de 2015 a luta contra a fraude e elisão fiscal continuou no topo das prioridades.

Uma das primeiras iniciativas, foi a criação de uma Comissão Especial sobre as Decisões Fiscais Antecipadas e Outras Medidas de Natureza ou Efeitos Similares ("Comissão Especial TAXE 1”)209.

Na sequência dos trabalhos desenvolvidos por esta Comissão, foi publicada a Resolução do Parlamento Europeu, de 25 de novembro de 2015, sobre decisões fiscais antecipadas e outras medidas de natureza ou efeitos similares210, através da qual são apresentadas

várias recomendações à Comissão, designadamente: a criação rápida de uma MCCCIS obrigatória a nível da UE; divulgação, pelas empresas multinacionais, de uma série de informações, incluindo os lucros ou perdas antes de impostos, os impostos sobre lucros ou perdas, e informações básicas sobre decisões fiscais, discriminadas por EM e por país terceiro em que tenham estabelecimentos (apresentação de relatórios por país); criação de uma lista negra de paraísos fiscais e a definição de sanções adequadas para os países que cooperarem com tais territórios.

Saliente-se que, para prosseguir o mandato realizado pela “Comissão TAXE 1”, é criada a Comissão Especial sobre as Decisões Fiscais Antecipadas e Outras Medidas de Natureza ou Efeitos Similares (“TAXE 2”), por Decisão do Parlamento Europeu de 2 de dezembro de 2015. O relatório desta segunda comissão, publicado em 6 de julho de 2016, reitera as conclusões da “Comissão TAXE 1”. Tal documento de 2016 foi publicado posteriormente à divulgação, pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, de elementos sobre a utilização de empresas offshore, conhecidas como “Panama Papers” (Documentos do Panamá). Assim, além do escândalo “LuxLeaks”, os “Panama Papers” vieram reforçar a necessidade da luta contra a evasão e a elisão fiscais e o planeamento fiscal agressivo. Contudo, trouxeram para a ordem do dia uma outra preocupação – a utilização sistemática de empresas de fachada, por empresas e particulares, para ocultar não apenas ativos tributáveis, mas também os proveitos da corrupção e da criminalidade organizada.

209 Decisão do Parlamento Europeu, de 12 de fevereiro de 2015. 210 2015/2066(INI).

68

Em 18 de março de 2015, através da Comunicação sobre a transparência fiscal para combater a evasão e a elisão fiscais211, é introduzido um Pacote de Transparência

Fiscal212.

Esta Comunicação salienta que “são necessárias novas medidas a nível da UE, tendo em conta a amplitude da elisão fiscal, as lacunas persistentes em termos de transparência e cooperação, a complexidade dos sistemas fiscais e a sofisticação das práticas de planeamento fiscal agressivo”213, indicando que se dê particular atenção aos acordos

fiscais prévios, quando ao invés de utilizados para garantir segurança jurídica, visam “oferecer vantagens fiscais seletivas ou transferir artificialmente os lucros para locais com impostos mais baixos ou sem impostos”, falseando a concorrência e reduzindo as matérias coletáveis dos EM.

O Pacote de Transparência Fiscal indica seis medidas para combater a evasão fiscal e a elisão fiscal por parte das empresas da UE, garantir a ligação entre o lugar da tributação e o lugar efetivo da atividade económica e promover a aplicação de normas semelhantes em todo o mundo: i) estabelecer disposições rigorosas em matéria de transparência para os acordos fiscais prévios – alteração à DCA; ii) racionalizar a legislação relativa à troca automática de informações; iii) avaliar a necessidade de novas iniciativas em matéria de transparência; iv) rever o Código de Conduta no domínio da Fiscalidade das Empresas; v) melhorar a quantificação do diferencial de tributação214; vi) promover uma

maior transparência fiscal a nível internacional, continuando a apoiar o projeto BEPS da OCDE e G20.

211 COM (2015) 136 final.

212 Como refere o texto da Comunicação “Ao contrário da evasão fiscal, que é ilegal, a elisão fiscal insere-se

normalmente dentro dos limites da lei. No entanto, muitas formas de elisão fiscal são contrárias ao espírito da lei, alargando a interpretação do que é «legal», tanto quanto possível, a fim de minimizar a contribuição fiscal global da empresa. Utilizando técnicas de planeamento fiscal agressivo, algumas empresas exploram as lacunas jurídicas dos sistemas fiscais e os desajustamentos entre as regras nacionais para evitar o pagamento da sua justa parte de impostos. Além disso, os regimes fiscais em muitos países permitem que as empresas desviem artificialmente os seus lucros para as suas jurisdições, o que incentiva este planeamento fiscal agressivo”.

213 Tal como se refere na referida Comunicação “Existem muitas estimativas e relatórios diferentes sobre a

amplitude da elisão fiscal em geral, e em relação a certas empresas em particular, provenientes de administrações fiscais, ONG, universidades e imprensa. Não existem números conclusivos que permitam quantificar a dimensão da elisão fiscal por parte das empresas, embora segundo o consenso geral deva ser substancial. Uma das estimativas mais elevadas atribui 860 mil milhões de EUR por ano à evasão fiscal e 150 mil milhões de EUR por ano à elisão fiscal.”

214 Como se refere na Comunicação, o diferencial de tributação é a “diferença entre os impostos devidos e os

montantes efetivamente cobrados pelas autoridades nacionais. A evasão e a elisão fiscais não são os únicos fatores do diferencial de tributação — os erros administrativos e as falências também agravam esse diferencial.”

69

É neste contexto que surge a proposta de alteração da DCA 1215, adotada pela Diretiva

(UE) 2015/2376 do Conselho, de 8 de dezembro de 2015 (DAC 3)216, que prevê a troca

automática obrigatória de decisões fiscais prévias transfronteiriças e de acordos prévios sobre preços de transferência.

Deve ainda destacar-se a Diretiva (UE) 2015/849 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de maio de 2015217, relativa à prevenção da utilização do sistema financeiro para

efeitos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo, e o Regulamento (UE) 2015/847 do Parlamento Europeu e do Conselho, relativo às informações que acompanham as transferências de fundos, da mesma data218, com o

propósito de prevenir a utilização do sistema financeiro para atividades de branqueamento de capitais, sendo de realçar que foi introduzida a verificação das identidades dos beneficiários efetivos dos instrumentos financeiros e de participações sociais.