• Nenhum resultado encontrado

2. CARACTERIZAÇÃO E DESEMPENHO RECENTE DA INDÚSTRIA DE

2.1 Padrão concorrencial e dinâmica tecnológica da indústria de transformação de produtos

A indústria de transformação de produtos de material plástico enquadra-se na terceira geração da cadeia petroquímica, antecedida pelas centrais petroquímicas e pelas empresas produtoras de polímeros (resinas), como representado na Figura 1. A primeira geração da

cadeia é a responsável pela transformação do nafta37 ou gás natural em produtos

petroquímicos básicos, também chamados de monômeros, como o eteno, propeno, benzeno, entre outros, através do processo de craqueamento catalítico (quebra de moléculas grandes em moléculas menores com a ação de catalisadores para aceleração do processo). Essa transformação é realizada nas Centrais de Matérias-Primas dos Pólos Petroquímicos que, no Brasil, estão localizados nos estados de São Paulo (Cubatão), Bahia (Camaçari) e Rio Grande do Sul (Triunfo).

Figura 1: Cadeia produtiva da indústria de transformação de produtos de material plástico Fonte: Scheffer, 2004.

As empresas da segunda geração transformam tais bens intermediários em resinas termofíxas e termoplásticas através do processo de polimeração38. No Brasil existem

aproximadamente 20 empresas produtoras de resinas, a maioria delas localizadas próximas aos pólos petroquímicos. Os polímeros termofixos ou termoestáveis são aqueles que não se fundem com o reaquecimento, tais como as resinas fenólicas, epóxi, poliuretanos, etc. Por sua vez, as resinas termoplásticas, que são as mais consumidas pela indústria transformadora, caracterizam-se por não sofrerem alterações de forma a comprometer sua estrutura química

durante o aquecimento e podem ser novamente fundidas após o resfriamento39. As principais

resinas produzidas são: Polietileno de Alta Densidade (PEAD); Polietileno de Baixa Densidade (PEBD); Polietileno de Baixa Densidade Linear (PEBDL); Polipropileno (PP); Poliestireno (PS); Poliestireno Expandido (EPS); Policloreto de Vinila (PVC), Polietileno Tereftalato (PET) e Copolímero de Etileno e Acetato de Vinila (EVA). Suas principais características e aplicações são apontadas no Quadro 3. Para que as resinas desempenhem as funções esperadas, faz-se necessário, ainda, a aditivação por meio de plastificantes, cargas, corantes e pigmentos, estabilizantes, modificadores de impacto ou lubrificantes.

38 A polimerização é um processo químico que faz a união química de monômeros na forma de polímeros

(resinas).

39 Por isso, esses plásticos podem ser reciclados.

Craqueamento

Eteno, Propeno... Polímeros

Ind. Química Ferramentaria Máq. e Equipamentos Nafta e gás natural 1ª Geração

Central de Matéria - prima 2ª GeraçãoIntermediários :

Unidade de Polimeração

3ª Geração

Unidade de Transformação

Consumo intermediário Consumo final Agricultura, Automobilístico, Eletroeletrônica,

Metalmecânica, química, entre outras

Utensílios domésticos,, Brinquedos, entre outros

RESINAS CARACTERÍSTICAS APLICAÇÃO Tereftalato de

polietileno - PET Transparentes, inquebráveis, impermeáveis e leves.

Garrafas de água mineral e refrigerante, embalagens para produtos alimentícios, como óleos e sucos, de limpeza, cosméticos e

farmacêuticos. Também está presente em bandejas para microondas, filmes para áudio e vídeo, fibras têxteis, entre outros

Polietileno de alta densidade - PEAD

Resistente a baixas temperaturas, leve, impermeável, rígido e com resistência química.

Embalagens para alimentos, produtos têxteis, cosméticos e

embalagens descartáveis, fabricação de tampas de refrigerante, potes para freezer e garrafões de água mineral, além de brinquedos e eletrodomésticos, cerdas de vassoura e escovas, sacarias (revestimento e impermeabilização), fitas adesivas, entre outros.

Cloretos de polivinila -

PVC Rigidez, impermeabilidade e resistência à temperatura.

Tubos, conexões, cabos elétricos e materiais de construção como janelas, portas, esquadrias e cabos de energia, fabricação de brinquedos, alguns tipos de tecido, chinelos, cartões de crédito, tubos para máquinas de lavar roupa e caixas de alimentos.

Polietileno de baixa densidade - PEBD e Polietileno de baixa densidade linear - PEBDL

São flexíveis, leves, transparentes e impermeáveis.

PEBD - utilizado na produção de filmes termocontroláveis, como caixas para garrafas de refrigerante, fios e cabos para televisão e telefone, filmes de uso geral, sacaria industrial, tubos de irrigação, mangueiras, embalagens flexíveis, impermeabilização de papel (embalagens tetrapak), entre outros.

PEDBL - produção de embalagens de alimentos, fraldas, absorventes higiênicos e sacaria industrial.

Polipropileno - PP

Conservam o aroma e são resistentes a mudanças de temperatura, brilhantes, rígidos e inquebráveis.

Embalagens para alimentos, produtos têxteis e cosméticos, tampas de refrigerante, potes para freezer e garrafões de água mineral, produtos hospitalares descartáveis, tubos para água quente, autopeças, fibras para tapetes, fraldas, absorventes higiênicos, entre outros.

Poliestireno - PS Impermeabilidade, rigidez, leveza e transparência

Copos descartáveis, eletrodomésticos, produtos para construção civil, autopeças, potes para iogurte, sorvete e doces, frascos, bandejas de supermercados, pratos, tampas, aparelhos de barbear descartáveis, brinquedos etc

Copolímero de etileno e acetato de vinila - EVA

Flexibilidade, leveza, resistência à abrasão, possibilidade de design

diferenciado. Calçados, colas, adesivos, peças técnicas, fios e cabos Poliestireno Expandido

(EPS)*

No Brasil, é mais conhecido como "Isopor®", marca registrada da Knauf Isopor Ltda

Embalagens industriais, artigos de consumo (caixas térmicas, pranchas, porta-gelo etc.), aplicações na agricultura e na construção civil.

Quadro 3: Características e aplicações das principais resinas termoplásticas utilizadas pela indústria de transformação de material plástico

Fonte: ABQUIM - Associação Brasileira da Indústria Química, 2006; * ABRAPEX - Associação Brasileira do Poliestireno Expandido, 2006.

A indústria de transformação de produtos de material plástico, a terceira geração da cadeia, utiliza essas resinas para fabricação de inúmeros produtos, através dos processos de extrusão (chapas, laminados, tubos, etc), sopro (peças ocas como garrafas, frascos, etc), injeção (confecção de utensílios plásticos em geral: armários, tampas, caixas, etc), compressão (pratos, xícaras, assentos, etc), entre outros, alcançando diversos setores, tanto na forma de bens intermediários quanto finais. Os consumidores intermediários englobam os clientes industriais, principalmente, embalagens, peças técnicas e filmes e acessórios, enquanto os bens finais são destinados para os clientes comerciais, tais como supermercados, lojas de departamentos e lojas especializadas. No Brasil, a indústria é subdividida em três

segmentos, segundo a classe CNAE, quais sejam: fabricação de laminados planos e tubulares plásticos, fabricação de embalagem de plástico e fabricação de artefatos diversos de plásticos.

A cadeia produtiva engloba também outros segmentos, que estão direta ou indiretamente vinculados à produção, tais como o setor de máquinas e acessórios para a indústria do plástico, com os segmentos de extrusão, injeção, sopro, corte e solda, impressão, termoformagem, reciclagem e periféricos; o setor de ferramentaria, com o segmento de moldes; a indústria química, que fornece aditivos, assim como empresas que prestem serviços destinados ao abastecimento dessa cadeia.

As duas primeiras gerações da cadeia apresentam características muito diferentes da terceira geração, especialmente quanto aos produtos, ao padrões de concorrência e dinâmicas tecnológicas. Os produtos produzidos na primeira e segunda geração da cadeia petroquímica são padronizados e homogêneos, podendo ser chamados de commodities, bem como possuem grande valor agregado em virtude da complexidade do seu processo produtivo. Em relação ao padrão concorrencial, tem-se uma estrutura concentrada (oligopólio), com um pequeno número de empresas de grande porte, devido a importância das economias de escala e, assim, o setor possui fortes barreiras à entrada (PADILHA e BOMTEMPO, 1999).

No que diz respeito a dinâmica tecnológica, suas firmas são intensivas em capital e suas atividades inovativas envolvem um sistema complexo, com altos investimentos direcionados para inovação, tanto de processo produtivo para aumento de produtividade, quanto em relação ao produto para atingir diferenciação. Assim, os departamentos de engenharia e os laboratórios de P&D são extremamente importantes e enquadram-se nos setores intensivos em escala, segundo classificação de padrão setorial de inovação de Pavitt (1984). Cabe destacar, ainda, que a maioria das empresas da segunda geração localiza-se próximas aos pólos petroquímicos.

Por outro lado, a indústria de materiais plásticos é extremamente heterogênea em função da diversidade dos produtos fabricados, assim como pelo tamanho e capacitação tecnológica das firmas. A indústria transformadora produz uma gama de produtos que, além de diferentes entre si, são destinados para mercados diversos. Segundo Antunes (2005, p.37), “o termo indústria ao ser aplicado à transformação de plásticos justifica-se do ponto de vista tecnológico. Afinal, as mesmas resinas podem ser transformadas pelos mesmos processos e máquinas, mas gerando produtos que se dirigem a mercados diferentes”.

A dinâmica tecnológica da indústria de transformados plásticos é ditada, por um lado, pelos fornecedores de matérias-primas diretos (produtores de resinas) e indiretos (indústria química) e, por outro lado, pelos fornecedores de bens de capital (equipamentos e moldes).

Ademais, sua dinâmica inovativa também está relacionada à demanda e às especificações técnicas dos clientes, sobretudo no caso de clientes industriais. Dessa forma, inclui-se nos setores dominados pelos fornecedores, sendo que as mudanças técnicas ocorrem através de inovações incrementais. Assim, essa indústria é marcada por forte assimetria tecnológica entre as empresas que o compõe, expressando existência de grandes empresas que investem em P&D, junto com empresas de pequeno porte que não praticam atividades inovativas de forma sistemática (PADILHA e BOMTEMPO, 1999).

Justamente em virtude de possibilidade de atuação com baixa capacitação tecnológica e baixa escala produtiva, além da versatilidade de aplicação e a facilidade de produção de artigos de plástico, esse setor é caracterizado por baixas barreiras à entrada. Sendo assim, a indústria de transformação de produtos de material plástico possui uma estrutura de concorrência com baixa concentração devido ao grande número de empresas, muitas destas de micro e pequeno porte. A indústria destaca-se pela sua importância na geração de empregos diretos, pois é intensiva em mão-de-obra, especialmente se comparada com as duas primeiras gerações da cadeia, embora seja cada vez mais evidente o aumento da relação capital/trabalho decorrente da automação do processo produtivo, especialmente nas empresas de maior porte (FLEURY e FLEURY, 2001).

Apesar da heterogeneidade, em alguns segmentos fica claro a liderança das médias e grandes empresas, em virtude da capacitação tecnológica requerida. Nos segmentos que produzem para clientes industriais de peças técnicas (indústria automobilística, eletroeletrônica e telecomunicações) e de tubos e conexões para construção civil, predominam as empresas de maior porte exercendo liderança, ainda que também existam um grande número de pequenas firmas atuando. Por outro lado, os segmentos de utilidades domésticas, de embalagens, de sacos e sacolas e de peças injetadas sob encomenda são marcados por forte heterogeneidade, onde há predominância de um expressivo número de empresas de pequeno porte, muitas delas de administração familiar, atuando na fabricação de itens que não requerem máquinas modernas e em segmentos pouco atrativos para as companhias de maior porte. No entanto, no caso do segmento de embalagens, destacam-se as grandes empresas como fornecedoras para os setores de cosméticos e alimentício, nos quais a capacitação em

design é muito importante, ainda que este seja especificado pelos clientes industriais

2.2 Panorama internacional da indústria de transformação de produtos de material