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2. CARACTERIZAÇÃO E DESEMPENHO RECENTE DA INDÚSTRIA DE

5.4 Políticas para o desenvolvimento da capacidade inovativa e cooperativa do arranjo

5.4.1 Principais obstáculos ao financiamento e demanda por políticas públicas

As dificuldades ou entraves burocráticos para utilizar as fontes de financiamento existentes e a exigência de aval/garantias por parte das instituições de financiamento foram apontados como os principais obstáculos que limitam o acesso da empresa as fontes externas de financiamento pelas micro, pequenas e médias empresas locais. Especialmente no caso das MPEs, os mecanismos de financiamentos existentes não atendem as verdadeiras demandas dessas empresas. Segundo os relatos, essas empresas enfrentam, por um lado, altas taxas de juros para a capitação de crédito privado e, por outro, grandes exigências em termos de

garantias, que inviabilizam o acesso às fontes de financiamento do setor público, cujo valor do empréstimo tem taxas de juros inferiores91.

As empresas também atribuíram aos outros obstáculos relacionados na Tabela 38, tais como a inexistência de linhas de crédito adequadas às necessidades da empresa e os entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento, índices de importância consideráveis (superiores a 0,69), com exceção das médias empresas em relação aos entraves fiscais (0,55). Soma-se a esse quadro, que a maioria das MPEs apontaram enfrentamento de grandes dificuldades no que diz respeito ao registro de patentes junto ao INPI, em função dos altos custos e empecilhos burocráticos.

Tabela 38: Principais obstáculos que limitam o acesso da empresa as fontes externas de financiamento do arranjo produtivo local de materiais transformados de plástico da região Norte do estado de Santa Catarina, 2006

Micro Pequena Média Grande Limitações

Índice* Índice* Índice* Índice* Inexistência de linhas de crédito adequadas às necessidades da empresa 0,69 0,77 0,73 0,87 Dificuldades ou entraves burocráticos para se utilizar as fontes de

financiamento existentes 0,94 0,94 0,90 0,77

Exigência de aval/garantias por parte das instituições de financiamento 0,86 0,89 0,90 1,00 Entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento 0,70 0,69 0,55 0,87

Fonte: Pesquisa de campo, 2006.

Nota: *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Total de Empresas)

Percebe-se que, apesar das políticas creditícias oferecidas pelo governo, as MPEs mantém-se a margem do processo de capitação de crédito no país, trazendo diversas conseqüências negativas para as mesmas. Essas empresas perdem competitividade devido a operação com equipamentos obsoletos, sendo expressivo o número de empresas que iniciam suas atividades a partir da compra de equipamentos usados das empresas de maior porte. O nível de exigência de garantias por parte das instituições financeiras de crédito (sem desconsiderar o mérito da necessidade desses métodos para evitar a inadimplência), somado ao fato de muitas dessas empresas serem jovens e, logo, com ativos escassos para afiançarem, acaba limitando as possibilidades de crescimento das MPEs92.

Nesse sentido, segundo a avaliação das empresas selecionadas, todas as políticas públicas relacionadas na Tabela 39 poderiam vir a corroborar com o aumento da eficiência competitiva do arranjo produtivo. Averiguaram-se índices de importância expressivos,

91 Os problemas enfrentados pelas MPEs quanto ao acesso a recursos financeiros, seja para capital de giro ou

para aquisição de máquinas e equipamentos ou instalações industriais, estão dentre as maiores dificuldades para operação enfrentada por essas empresas, conforme apresentado no capítulo 3 (Tabela 23).

92 Nesse processo, uma alternativa para aquisição de equipamentos tem sido a compra com pagamento a prazos

concedidos pelos próprios fornecedores, a juros mais baixos que os praticados pelas instituições financeiras do setor privado e com menores entraves burocráticos que os enfrentados para captação de crédito nos bancos estatais.

superiores a 0,82, com exceção das políticas de fundo de aval, cujo índice atribuído pelas médias empresas foi de 0,65. Nas microempresas, as políticas para as quais foram atribuídos índices mais significativos foram melhorias na educação básica e maiores incentivos fiscais para a região. As pequenas empresas, por sua vez, consideraram as melhorias na educação básica, a abertura de linhas de crédito e outras formas de financiamento e os incentivos fiscais como as políticas que gerariam maior impacto positivo na competitividade do arranjo. Os programas de capacitação profissional e treinamento técnico, melhorias na educação básica e os incentivos fiscais foram considerados de alta importância pela totalidade das médias e grandes empresas inseridas no arranjo produtivo.

Tabela 39: Políticas públicas que poderiam contribuir para o aumento da eficiência competitiva segundo a avaliação das empresas selecionadas do arranjo produtivo de materiais transformados de plástico da região Norte do estado de Santa Catarina, 2006

Micro Pequena Média Grande Ações de Política

Índice* Índice* Índice* Índice* Programas de capacitação profissional e treinamento técnico 0,89 0,96 1,00 1,00

Melhorias na educação básica 0,97 1,00 1,00 1,00

Programas de apoio a consultoria técnica 0,82 0,85 0,73 0,87

Estímulos à oferta de serviços tecnológicos 0,80 0,93 0,55 1,00

Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, etc) 0,86 0,89 0,80 0,87 Linhas de crédito e outras formas de financiamento 0,89 1,00 1,00 0,87

Incentivos fiscais 0,97 1,00 1,00 1,00

Políticas de fundo de aval 0,84 0,93 0,65 1,00

Programas de estímulo ao investimento (venture capital) 0,93 0,93 0,90 1,00

Fonte: Pesquisa de campo, 2006.

Nota: *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Total de Empresas)

Como enfatizado por Schmitz (1997), o surgimento de aglomerações industriais não resultam de uma ação governamental planejada, mas como parte de um processo endógeno da formação socioeconômica regional. Todavia, parte-se do princípio que o papel do setor público não se restringe às políticas de fomento e de infra-estrutura, mas também de articulador entre os atores envolvidos, incentivando atividades cooperativas que possam alavancar a geração e difusão de conhecimento no local. Como verificado, muito pouco tem sido realizado acerca dessa problemática, uma vez que as atividades cooperativas e os fluxos de informações predominantes têm ocorrido a partir de atuação das próprias empresas, sendo a cooperação multilateral pouco abrangente. É considerando essas reflexões e as especificidades locais, que se traz uma sugestão de intervenção governamental, abordada na seção a seguir.