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2. CARACTERIZAÇÃO E DESEMPENHO RECENTE DA INDÚSTRIA DE

5.2 Vantagens locacionais

A literatura aponta que, mesmo em situações de atividades cooperativas incipientes, pode-se considerar que uma determinada aglomeração produtiva setorial consiste efetivamente num arranjo produtivo local, contanto que os fatores locacionais sejam relevantes para as empresas neste inseridas. Assim, a principal diferença entre uma mera aglomeração de empresas e um arranjo produtivo está relacionada ao seu grau de territorialização, que reflete a impossibilidade das vantagens competitivas serem reproduzidas em outras localidades e, por isso, essas vantagens determinam a capacidade que a região tem para atrair novos investimentos (SANTOS et al., 2004a; 2004b).

Dessa forma, no intuito de avaliar o grau de territorialização do arranjo produtivo de materiais transformados de plástico da região Norte do estado de Santa Catarina, a Tabela 36 traz os índices de importância das vantagens de localização segundo as empresas que fazem parte do mesmo. Nesse sentido, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada foi identificada como a principal vantagem para as empresas por estarem localizadas na região, com índices de importância superiores a 0,74.

As microempresas apontaram, em segundo lugar, as vantagens relacionadas à disponibilidade de serviços técnicos especializados (0,70), seguida da existência de infra- estrutura física (0,67) e da proximidade com clientes e consumidores (0,65). Esta última externalidade positiva reafirma a importância do espaço local para essas empresas, pois, no geral, as mesmas têm esse mercado como principal destino de suas vendas, tanto para consumidores finais, quanto para as empresas subcontratantes, além dos clientes estarem dentre os seus principais parceiros de cooperação.

Tabela 36: Índice de importância das vantagens de localização no arranjo produtivo local de materiais transformados de plástico da região Norte do estado de Santa Catarina, 2006

Micro Pequena Média Grande Externalidades

Índice* Índice* Índice* Índice*

Disponibilidade de mão-de-obra qualificada 0,74 0,89 0,80 0,87

Proximidade com os fornecedores de insumos e matéria prima 0,51 0,47 0,06 0,10

Proximidade com os clientes/consumidores 0,65 0,53 0,06 0,30

Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicações) 0,67 0,75 0,66 0,53

Proximidade com produtores de equipamentos 0,29 0,45 0,24 0,30

Disponibilidade de serviços técnicos especializados 0,70 0,73 0,38 0,77

Existência de programas de apoio e promoção 0,32 0,35 0,18 0,10

Proximidade com universidades e centros de pesquisa 0,40 0,46 0,44 0,50

Fonte: Pesquisa de campo, 2006.

Nota: *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Total de Empresas)

As pequenas empresas, por sua vez, atribuíram índices superiores a 0,7 para a disponibilidade de serviços técnicos especializados e para infra-estrutura física da região. O índice médio de 0,53 em relação às vantagens de proximidade com clientes e consumidores deve-se, por um lado, à baixa importância atribuída pelas empresas que destinam suas vendas para outros estados do Brasil, contrapondo-se a alta importância atribuída por aquelas que são subcontratadas por empresas locais, revelando que essas empresas são menos dependentes do arranjo, em comparação as micro, no que diz respeito ao escoamento da sua produção, como apontado no capítulo 3. No que tange as médias e grandes empresas, a infra-estrutura física regional, a proximidade com universidades e centros de pesquisa e a disponibilidade de serviços técnicos estão dentre as principais vantagens locacionais, embora atribuam ordem de classificação diferente para esses itens.

Apesar dos baixos índices de importância no que se refere ao papel das universidade e centros de pesquisa como parceiras de ações conjuntas ou como fontes de informação para geração de inovações, os valores indicados pelas empresas selecionadas na Tabela 36 (entre 0,4 e 0,5) revelam que as firmas são beneficiadas pela infra-estrutura de ensino e tecnologia presente no local. Um outro aspecto a ser destacado é que a existência de apoio e promoção tem importância particular para MPEs, que atribuíram índices iguais a 0,32 e 0,35 que, embora baixos, são bem superiores aos da médias e grandes empresas (0,18 e 0,10, respectivamente), tendo o SEBRRAE como principal órgão responsável pela efetivação de programas de apoio a essas empresas.

No que diz respeito à contribuição de sindicatos, associações e cooperativas locais para o desenvolvimento do arranjo produtivo, a Tabela 37 aponta baixos índices de

importância para essas entidades, segundo a avaliação das empresas selecionadas. Os índices

referentes às microempresas foram consideravelmente inferiores aos atribuídos pelas demais, cujo maior valor foi atribuído para a entidade responsável pela representação de

reivindicações comuns (0,27), referindo-se, basicamente, a AJORPEME, que realiza essa função através do Núcleo Setorial de Plásticos. Por sua vez, as pequenas empresas destacaram a contribuição das mesmas para a organização de eventos técnicos e comerciais (0,65), para a criação de fóruns e ambientes para discussão (0,44) e para o estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local (0,42).

As médias empresas atribuíram índices de importância baixos, em torno de 0,33, para as seguintes contribuições: identificação de fontes e formas de financiamento, promoção de ações cooperativas, apresentação de reivindicações comuns, criação de fóruns e ambientes para discussão e organização de eventos técnicos e comerciais. Finalmente, as grandes empresas consideram que essas organizações têm média importância no auxilio da definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo, no estímulo da percepção de visões de futuro para ação estratégica e na apresentação de reivindicações comuns.

As vantagens apontadas pelas empresas por encontrarem-se instaladas na região permite a avaliação do grau de territorialidade do arranjo produtivo local em estudo. Nesse aspecto, as principais externalidades positivas apontadas foram: (i) disponibilidade de mão- de-obra qualificada; (ii) infra-estrutura física, destacando-se a proximidade com a BR 101 (facilidade de escoamento da produção para outras localidades, bem como do acesso aos dois principais pólos petroquímicos e de equipamentos para indústria do plástico); (iii) disponibilidade de serviços técnicos especializados; (iv) proximidade com clientes e consumidores, no caso das MPEs, e (v) proximidade com universidades e centros de pesquisa. Além disso, cabe destacar que a especialização produtiva no local vem acompanhada da existência de uma intensa divisão de trabalho inter e intra-setorial, que consiste em ganhos de externalidades multi-setoriais, provenientes da estrutura produtiva diversificada e da atmosfera industrial da região Norte do estado catarinense. Nesse aspecto, destacam-se a facilidade para aquisição de bens de capitais e insumos, seja via fornecedores diretos ou

distribuidores84, além de uma alta complementaridade produtiva mediante a gama de produtos

ofertados de material plástico pelas empresas do setor.

84 Vale relembrar que à proximidade com os fornecedores de insumos e matéria prima refere-se, exclusivamente,

a disponibilidade de distribuidores no local e a facilidade de escoamento desses insumos até região, através da BR 101, tendo em vista que o estado catarinense localiza-se entre os dois principais pólos petroquímicos do país. A afirmação é válida para o caso da proximidade com produtores de equipamentos, pois São Paulo e Rio Grande do Sul também são líderes nacionais na produção de máquinas e equipamentos para indústria de plástico. A exceção, nesse caso, cabe ao fornecimento de moldes, pois, conforme já explicitado, o arranjo conta com uma aglomeração de produtores de moldes que se destaca em nível nacional.

Tabela 37: Contribuição de sindicatos, associações e cooperativas locais segundo as empresas do arranjo produtivo de materiais transformados de plástico da região Norte do estado de Santa Catarina, 2006

Micro Pequena Média Grande Tipo de Contribuição

Índice* Índice* Índice* Índice* Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo 0,11 0,31 0,24 0,53 Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica 0,11 0,08 0,24 0,53 Disponibilização de informações sobre matérias-primas, equipamento, assistência

técnica, consultoria, etc 0,23 0,37 0,12 0,43

Identificação de fontes e formas de financiamento 0,15 0,23 0,32 0,33

Promoção de ações cooperativas 0,18 0,32 0,32 0,30

Apresentação de reivindicações comuns 0,27 0,29 0,32 0,50

Criação de fóruns e ambientes para discussão 0,09 0,44 0,38 0,43

Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica de empresas 0,23 0,37 0,18 0,43 Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local 0,14 0,42 0,24 0,43

Organização de eventos técnicos e comerciais 0,13 0,65 0,32 0,43

Fonte: Pesquisa de campo, 2006.

Nota: *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Total de Empresas)

O contexto apresentado permitiu duas constatações para avaliação da dinâmica interativa do arranjo produtivo. Primeiramente, os índices superiores revelaram que as MPEs são mais dependentes das relações que possuem no local. Segundo Santos (2004b, p.163), muitas dessas empresas “não possuem capital suficiente para obter certas escalas mínimas necessárias para se suprir de determinados serviços e externalidades que encontram em condições facilitadas e seguras no local atual e podem não encontrar em outros locais”. Por outro lado, as médias e grandes empresas são menos dependentes de relações cooperativas extracontratuais, pois, quando necessitam desenvolver tecnologia, podem contratar pessoal capacitado ou adquiri-la externamente.

Em segundo lugar, averiguou-se que as empresas de todos os portes empresariais beneficiam-se mais de externalidades econômicas passivas, tais como oferta de serviços tecnológicos e insumos; baixos custos de transporte; proximidade com consumidores, clientes e empresas subcontratadas; existência de pessoal especializado e infra-estrutura física, de ensino, de tecnologia e de representação. Esse aspecto reafirma os resultados constatados a partir das características dos processos cooperativos, explanando a necessidade dos agentes em direcionarem suas estratégias para construção de vantagens competitivas dinâmicas para, assim, alcançarem a eficiência coletiva.

Por outro lado, observou-se que o conhecimento tácito incorporado nos recursos humanos está dentre os fatores básicos que promovem o alto grau de territorialização do arranjo produtivo em estudo. Embora os conhecimentos necessários para produção e inovação sejam gerados, em grande monta, a partir de externalidades positivas acidentais, essas são as principais vantagens locacionais constatadas, específicas ao setor produtivo e que não podem

reproduzidas em outras localidades, contrapondo-se as externalidades positivas multi- setoriais, como serviços tecnológicos e infra-estrutura, que favorecem todos os setores localizados na região. Esses aspectos reafirmam a importância do local na capacitação tecnológica das MPEs inseridas no arranjo, através de mecanismos de aprendizagem informais, que facilitam a imitação de produtos e tecnologia.