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Desde 1983, há registros de avaliações aplicadas em larga escala pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), as quais, em um primeiro momento, estavam direcionadas ao ensino superior. Os exames realizados naquele tempo até a atualidade, embora

com nomes diferentes, contam com similitudes estruturais, como a coleta de dados a respeito do corpo docente, do projeto pedagógico e da infraestrutura das instituições de ensino. Vianna (2003) chama a atenção, no entanto, para a polêmica que coexiste à execução dessas provas, no que tange à recusa de muitos alunos e professores em participar de suas edições. As críticas pautam-se principalmente ao peso dado às notas dos alunos, em detrimento do conhecimento científico, programas de pesquisa e extensão desenvolvidos pelas universidades. Além disso, o autor aponta também a utilização comercial dos escores obtidos nas redes privadas de educação superior.

Ao mesmo tempo, de acordo com Luckesi (2013), a educação básica também passou por diferentes fases de avaliações sistêmicas. Nessa esfera, o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (SAEB), criado em 1988 e ainda hoje em vigor no primeiro e segundo segmentos do Ensino Fundamental, é uma das principais ferramentas governamentais para coletar dados acerca dessa etapa da escolaridade de crianças e adolescentes. A partir de 2005, o SAEB ganha dois de seus instrumentos mais relevantes, a prova Brasil e a “provinha” Brasil, organizadas por meio de questões nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, além de questionários socioeconômicos, direcionados a turmas do quinto e do nono anos.

Em convergência à proposta de avaliação em larga escala da educação básica, também o Ensino Médio passou a ser avaliado, a partir de 1998, com a criação do chamado ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. Dez anos mais tarde, o exame ganharia status de processo seletivo, configurando o único meio de ingresso na maior parte das universidades públicas federais do país.

Todas as provas mencionadas até o momento têm o Governo Federal, junto a educadores especialistas, como elaboradores das matrizes de referência e das questões dos exames. De igual modo, é responsabilidade do Governo Federal a logística, tabulação e análise dos resultados. Porém, vale ressaltar que outros programas avaliativos também foram postos em prática por governos estaduais e prefeituras municipais, seguindo parâmetros estruturadores das provas de nível nacional, a fim de reunir informações acerca de sistemas educativos regionais.

Na esfera do município do Rio de Janeiro, por exemplo, a prefeitura conta desde 2009 com a chamada Prova Rio, a qual avalia alunos do 3º e do 7º anos, por meio de questões de Português e Matemática. A partir do desempenho dos estudantes, é gerado um índice de desenvolvimento da escola, chamado de IDE-RIO, pautado nos mesmos princípios norteadores da Prova Brasil. Assim, os exames em larga escala municipais são também uma forma de avaliação preliminar para os alunos que farão as provas do Saeb nos anos subsequentes.

Associado aos exames anuais, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro também desenvolveu provas únicas bimestrais, as quais devem figurar como principal instrumento avaliativo usado pelos professores, conforme consta da Resolução SME n.º 1123, de 24 de janeiro de 2011:

Art. 10 A Secretaria Municipal de Educação realizará, anualmente, avaliação de rede, visando monitorar e replanejar, sempre que necessário, as suas ações. Parágrafo único O nível central da Secretaria Municipal de Educação enviará às escolas, bimestralmente, provas para serem aplicadas a todos os alunos, visando ao acompanhamento de seu processo de aprendizagem.

De igual modo, a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro avaliou anualmente seus alunos de 2008 a 2016, por meio do SAERJ – Sistema de avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro. Assim como os demais exemplos citados, a avaliação estadual era aplicada uma vez ao ano e concentrava-se nas áreas de Português e Matemática. Voltava-se, no entanto, a todas as séries atendidas pela SEEDUC/RJ, tendo por base a matriz de referência do próprio SAEB, conforme consta na Resolução SEEDUC/RJ nº 4.437, de 29 de março de 2010:

Art. 1º - Fica instituído o Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro - SAERJ, que avaliará anualmente o desempenho dos alunos da rede de ensino desta Secretaria de Estado com o objetivo de produzir um diagnóstico apurado da realidade educacional, com consequentes desdobramentos regionais e por unidades escolares, que permita ao governo estadual a formulação, monitoramento e reformulação das políticas educacionais.

Art. 2º - Os alunos serão avaliados nas disciplinas de Português e Matemática, por meio de prova padrão a ser aplicada a todos os alunos de um mesmo ano/série, assegurando-se a todos igualdade de condições no processo avaliativo.

Ao longo de sua aplicação, o SAERJ foi acrescido de avaliações externas bimestrais que ficaram conhecidas como “SAERJINHO”, estruturadas a partir do currículo mínimo do estado. As provas aplicadas nas escolas estaduais tinham por objetivo gerar o Índice Anual de Desenvolvimento da Educação Básica do Rio de Janeiro – IDERJ, e o Índice Bimestral de Desenvolvimento da Educação Básica do Rio de Janeiro - IDERJINHO.

A mesma prática de exames em larga escala – que abrangem o rendimento dos alunos, questionários socioeconômicos e dados sobre a gestão e infraestrutura escolar – pode ser observada em outros estados brasileiros. Em pesquisa realizada por Perboni (2016), até o ano de 2014, dentre os 27 entes da federação formados pelos estados e o Distrito Federal, 21 deles dispunham de avaliações externas, demandadas por seus respectivos governos. Nota-se, pois, a recorrência desse tipo de avaliação em todo o território nacional.

No que diz respeito à configuração, é válido ressaltar que provas estaduais e municipais baseiam-se na mesma estrutura do SAEB, desenvolvida pelo MEC. Este sistema torna-se, assim, uma das principais ferramentas geradoras de estatísticas para conhecimento da educação brasileira, uma vez que a média dos resultados alcançados pelos estudantes e os dados do censo escolar entram na composição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado em 2007. O índice escalona instituições públicas de ensino, atribuindo-lhes um escore que varia de zero a dez. De acordo com o portal do Governo Federal1:

O índice também é importante condutor de política pública em prol da qualidade da educação. É a ferramenta para acompanhamento das metas de qualidade para a educação básica, que tem estabelecido, como meta para 2022, alcançar média 6 – valor que corresponde a um sistema educacional de qualidade comparável ao dos países desenvolvidos.

1 Disponível no portal do Inep para apresentação dos índices e programas avaliativos, consultado em http:// portal.inep.gov.br/ideb, em 20 de abril de 2020.

Ampliando o espectro alcançado por esse modelo de exame, há ainda provas aplicadas em nível internacional, a fim de comparar sistemas educacionais de diferentes lugares do mundo, utilizando-se de um instrumento único. Observa-se por característica central não serem idealizadas ou desenvolvidas por Estados e seus respectivos órgãos responsáveis pela educação, mas por entidades supranacionais, cujos objetivos podem se distanciar das áreas educacionais. Um desses casos é o exame Pisa - Programme for

International Student Assessment, desenvolvido pela Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Trienalmente, o Pisa é aplicado a alunos na faixa dos 15 anos de idade que estejam matriculados a partir do 7º ano de escolaridade. O exame tem caráter amostral, isto é, não abarca a totalidade de alunos enquadrados nesse perfil em todos os locais onde ocorre sua aplicação. São selecionados escolas e estudantes para participar do programa internacional, a fim de obter dados a respeito de três “campos do saber” – leitura, matemática e ciências.

Na última edição do referido exame internacional, ocorrida em 2018, participaram 79 economias mundiais, dentre elas o Brasil. A adesão a este teste é voluntária e demanda recursos federais para a participação e aplicação nas escolas brasileiras. Fica a cargo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) a responsabilidade de pôr em prática este processo avaliativo no país e tabular seus resultados na forma de relatórios institucionais. No entanto, o órgão público brasileiro não atua como produtor de questões para estes testes, também chamadas de itens, as quais são produzidas por um consórcio internacional. O instituto também não tem influência na seleção de conteúdos que constituem as matrizes de referência, estabelecida internacionalmente.

Trata-se, portanto, de um modelo importado de avaliação educacional produzido por uma entidade transnacional, cujas ações são voltadas majoritariamente para o crescimento econômico de seus países-membro. A respeito dessa relação entre economia e educação, expõe Ferreira (2011, p.83) que as preocupações da OCDE com as diferenças nos sistemas educacionais sejam materializadas no Pisa ou em outras ações similares,

“sustentam a ideia de que a educação tem papel fundamental no desenvolvimento econômico e social de um país e enfatizam a importância do “professor eficaz”, na garantia da qualidade do ensino”.

Não obstante, o contato entre economia, sistemas educacionais e provas em larga escala deve ser melhor examinado, com o propósito de se entender os mecanismos que estabelecem essa relação. Assim, observaremos a forma como alguns dos exemplares deste painel de exames nacionais e internacionais atuam como norteadores de políticas públicas, configurando as ações do Estado nos modos como a educação se organiza em seu território.

AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA COMO ORIENTAÇÃO