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3.4 Geração REE

3.4.1 Panorama Mundial

A partir da Revolução Industrial, surge a chamada abordagem ”linear” para o sistema econômico, na qual os produtos são produzidos, a partir de matérias primas, vendidos, utilizados e posteriormente descartados, sem considerar alternativas de reuso e reciclagem (CNI, 2014; GHISELLINI; CIALANI; ULGIATI, 2015). Para suprir as necessidades desse modelo econômico, impulsionado pela produção industrial, consumo em massa e aumento populacional, os sistemas produtivos passaram a consumir uma diversa gama de recursos naturais, sendo que muitos são recursos não renováveis, como os combustíveis fósseis e minérios (MIGUEZ, 2012).

Substância/Elemento Concentração máxima (%)

Chumbo 0,1

Mercúrio 0,1

Cádmio 0,01

Cromo hexavalente 0,1

Éteres difenilocos polibromados (PBDE) 0,1 Ftalato de bis(2-etil-hexilo) (DEHP) 0,1 Ftalato de benzilo e butilo (BBP) 0,1

Ftalato de dibutilo (DBP) 0,1

O modelo econômico linear, associado ao rápido crescimento populacional, está diretamente relacionado à geração desenfreada de resíduos e vem se mostrando insustentável. Segundo a OECD (2018), mesmo com o aumento populacional tendendo a desacelerar, até 2060 3 bilhões de pessoas devem ser acrescentadas aos 7 bilhões de 2011. A Figura 7 mostra o aumento da população mundial de acordo com os continentes desde 1950 com projeção até 2100.

Figura 7 - Projeção de crescimento populacional mundial

Fonte: UNEP​ – United Nations Environment Programme​ (2015).

Com o amplo desenvolvimento econômico mundial, o consumo de EEE tornou-se indispensável na sociedade. A constante inovação e redução nos custos deram um maior acesso à tecnologia e aos equipamentos eletroeletrônicos, trazendo inúmeros benefícios. No entanto, o aumento crescente no uso destes produtos tem como consequência uma geração exacerbada de resíduos eletroeletrônicos que, em sua maioria, acabam tendo uma destinação final inadequada, de acordo com o relatório PACE (2019).

É difícil contabilizar a produção anual de EEE, mas levando em conta apenas os que estão conectados à internet, o número é bem maior que o de humanos, projetado para ser entre 25-50 bilhões em 2020 (LAUREN ; PENNINGTON , 2018). Grande parte desse crescimento vem das economias emergentes que estão com taxas anuais de consumo de EEE cada vez maiores, como mostra a Tabela 5 (BALDÉ et al., 2017).

Tabela 5 - Taxa média de crescimento anual de consumo de EEE por grupo de países, por Paridade de Poder de Compra (PPC)

Fonte: Adaptado de Baldé C. T. et al., 2017.

Atualmente, o resíduo eletroeletrônico é o fluxo de resíduos de crescimento mais rápido do mundo (UNU, 2017). Conhecido pela ONU como tsunami do resíduo eletrônico, este fluxo foi estimado em 50 milhões de toneladas em 2018 (BALDÉ et al., 2017) e espera-se que esse valor dobre se não houver mudanças na forma como os EEE são produzidos e consumidos (BALDÉ et al., 2020). A Figura 8 traz algumas estimativas sobre o futuro dos REE no mundo.

Figura 8 - Projeção mundial dos resíduos eletroeletrônicos

Fonte: Adaptado de PACE, 2019.

Estima-se que o volume total de REE gerado ultrapasse 52 Mt em 2021 (BALDÉ et al., 2017); que as emissões de carbono provenientes da produção e uso dos EEE cheguem a 14% das emissões totais em 2040 (BELKHIR.; ELMELIGI, 2018); que o volume de REE pode

chegar a 120 Mt anuais em 2050 (PACE, 2019); e que o consumo mundial de matérias-primas deve dobrar em 2060 (OECD, 2018).

Baldé et al. (2020), aponta que o consumo global de EEE aumenta, em média, 2,5 Mt por ano, excluindo os painéis fotovoltaicos, alimentado pela obsolescência programada e poucas opções de reparo. Em 2019 foram geradas 53,6 Mt de REE no mundo, representando 7,3 kg per capita. Desse montante, apenas 9,3 Mt foram formalmente documentadas e recicladas, representando 17,4% do total gerado (BALDÉ. et al., 2020).

A Tabela 6 reúne os dados de geração de REE no mundo, em Mt e kg/hab., a quantidade destes que foi formalmente documentada para ser coletada e reciclada e a porcentagem de coleta, para os anos de 2014, 2015 e 2016, a partir dos dados de Baldé et al. (2015; 2017; 2020).

Tabela 6 - Geração mundial de REE, em Mt e kg/hab., quantidade de REE formalmente documentada para ser coletada e reciclada, em Mt, e a taxa de coleta, em %, para os anos de

2014, 2016 e 2019.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Nota-se que o montante de REE documentado para ser coletado e reciclado aumentou em 2,8 Mt desde 2014, representando um crescimento anual de 0,56 Mt., enquanto a geração de REE no mundo aumentou em 11,8 Mt., em média 2,36 Mt por ano. Ou seja, o crescimento global de REE tem superado o aumento das atividades de reciclagem e superou, em 2019, o valor de 52 Mt que havia sido estimado para 2021. A previsão para 2030 é serem geradas 74,7 Mt de REE no mundo, quase dobrando em 16 anos (BALDÉ et al., 2020).

Das 53,6 Mt geradas em 2019, a maior parte corresponde aos equipamentos de pequenas dimensões (17,4 Mt), equipamentos de grandes dimensões (13,1 Mt) e os de regulação da temperatura (10,8 Mt). As telas e monitores representaram 6,7 Mt do total gerado, enquanto os pequenos equipamentos informáticos e de telecomunicações e as lâmpadas representaram 4,7 Mt e 0,9 Mt cada, de acordo com a classificação da Diretiva WEEE (BALDÉ et al., 2020).

Em 2019 a Ásia e as Américas foram responsáveis por mais de 70% da geração mundial de REE, 24,9 Mt e 13,1 Mt, respectivamente. Em terceiro lugar está o continente Europeu com 12 Mt geradas, seguido da África (2,9 Mt) e Oceania (0,7 Mt). Com relação a geração per capita, a Europa está em primeiro lugar com 16,2 kg/hab., seguida da Oceania (16,1 kg/hab.), Américas (13,3 kg/hab.), Ásia (5,6 kg/hab.) e África com apenas 2,5 kg/hab.. A Figura 9 resume os dados de geração e coleta de REE por continente, em 2019 (BALDÉ et al., 2020).

Figura 9 - Geração e coleta de REE por continente em 2019

Fonte: Adaptado de Baldé C. T. et al., 2020.

3.4.2 Brasil

A América é, atualmente, o segundo continente que mais produz REE no mundo, atrás apenas da Ásia, tendo gerado 13,1 Mt no ano de 2019, o equivalente a 13,3 kg/hab.. Deste montante, apenas 1,2 Mt foi documentada para ser coletada e devidamente reciclada, representando 9,4% do total gerado. Por ser um continente muito extenso e com uma enorme disparidade social entre os países, a distribuição geográfica e as características de gerenciamento dos REE são bem diversas através do mesmo, contando com uma maior produção per capita nas áreas mais ricas, como o EUA e Canadá, que geraram ambos mais de 20 kg/hab. em 2019. A Figura 10 mostra essa grande diferença de geração per capita na

extensão do continente americano, além de mostrar a geração absoluta e a taxa de coleta por sub-região e os países mais geradores paro o ano de 2019 (BALDÉ et al., 2020).

Figura 10 - Geração per capita de REE entre as sub-regiões da América para o ano de 2019.

Fonte: Adaptado de Baldé et al. ​(​2020).

Dos 34 países do continente americano analisados, apenas 10 possuem legislação, política ou regulamento específico sobre os REE, sem contar o Brasil que teve o acordo setorial para implementação de sistemas de logística reversa de REE assinado no fim de 2019. No ranking de produção de resíduos eletroeletrônicos da América, em 2019, encontra-se os EUA em primeiro lugar, com 6,918 Mt, seguido do Brasil, com 2,143 Mt, e do México, com 1,220 Mt. Apenas na América do Sul, estimou-se 3,9 Mt de REE gerados, representando 9,1 kg/hab., com uma taxa de coleta de 0,7% (0,03 Mt). O principal gerador desta sub-região é o Brasil (2,143 Mt), seguido da Argentina com 0,465 Mt e Colômbia com 0,318 Mt. Com relação a geração per capita, a Venezuela está em primeiro lugar da América do Sul em 2019, tendo gerado 10,7 kg/hab., em segundo encontra-se o Uruguai, com 10,5 kg/hab., seguido da

Argentina, 10,3 kg/hab. O Brasil está em quarto lugar, com uma geração de 10,2 kg/hab. (BALDÉ et al., 2020).

O Brasil é o quinto maior produtor de resíduo eletrônico do mundo, atrás da China, em primeiro lugar, EUA, Índia e Japão. A partir dos dados de Baldé et al. (2015, 2017, 2020) e de Magaline et al. (2015) foi possível comparar a geração mundial de REE com a do Brasil e a de toda América Latina. Os dados encontrados são para os anos de 2014, 2016 e 2019.

Segundo Baldé C. T. et al. (2017), previa-se um crescimento anual de 3 a 4% na geração de REE no mundo, a partir dos dados de 2016. Já para a América Latina e Brasil os autores Magaline, Kuher e Baldé (2015) estimaram um aumento de 6% e 5% por ano, respectivamente. Com os dados atualizados de Baldé et al. (2019) observou-se que todas as taxas de crescimento previstas foram superadas em 2019. As Tabelas 7 e 8 resumem os dados encontrados em quantidades absolutas (Mt) e relativas (kg/hab).

Tabela 7 - Montante de REE gerado no mundo, América Latina e Brasil para os anos de 2014, 2016 e 2019.

Fonte: Adaptado de ​Baldé et al. (2015, 2017, 2020) e de Magaline et al. (2015).

Tabela 8 - Montante per capita de REE gerado no mundo, América Latina e Brasil para os anos de 2014, 2016 e 2019.

A partir das Tabelas 7 e 8, observa-se que o Brasil é responsável por, aproximadamente, 4% e 39% da geração de REE mundial e da América Latina, respectivamente, sendo que esta gera 10,3% da produção do mundo. Apenas 17,4% do montante gerado no mundo tem uma destinação correta (BALDÉ. et al., 2020), no Brasil esse número é estimado em 2% (SENADO FEDERAL, 2019). Ou seja, das 44,3 Mt de REE que foram descartadas incorretamente no mundo em 2019, 2 Mt foram de responsabilidade do Brasil.

Com relação a geração anual per capita, nota-se que a média mundial é menor que a da América Latina e do Brasil. Esta, no entanto, é uma variável bem desigual no mundo e está muito relacionada ao grau de desenvolvimento de cada país, chegando a uma média de 20 kg/hab em países mais ricos e a menos de 1kg/hab em países mais pobres. Assim, em um ano, um Estado pode ter uma elevada geração per capita, mas uma baixa geração absoluta de REE e vice-versa. Estima-se que, em 2019, cada brasileiro produziu em torno de 10,2 kg de REE (BALDÉ et al., 2020).

A obtenção de informações a respeito do volume de REE gerado em um país é um requisito básico para implementar um sistema de logística reversa adequado. No entanto, conseguir esses dados é algo complexo, já que muitos países sofrem com a falta de um sistema bem estruturado para registros e controle desse tipo de resíduo, como é o caso do Brasil. Por mais que já existam, há alguns anos, legislações específicas sobre o tema, estaduais e municipais, além da PNRS, o país ainda tem um grande caminho a percorrer (ABDI, 2013). No entanto, com a assinatura do acordo setorial para implantação da logística reversa de produtos eletroeletrônicos, em outubro de 2019, esperam-se grandes melhorias na gestão desses resíduos no Brasil. Por enquanto, os dados encontrados são estimativas.

Em 2013, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) publicou um estudo que utilizou da metodologia “Suprimento de Mercado” para estimar os valores anuais de geração de REE no Brasil. Os fatores considerados nos cálculos são: volume de venda de um determinado produto (kg/ano), importações, exportações e percentual do Mercado Cinza por ano. Para tanto, obtém-se o volume de vendas em unidades e multiplica-se pelo peso médio (kg), enquanto as importações e exportações já são obtidas em quilogramas (ABDI, 2013). A Figura 11 mostra o método de cálculo utilizado.

Figura 11 - Cálculo do volume de REE gerado, em toneladas, a partir do método “Suprimento do Mercado”

Fonte: Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI, 2013.

As estimativas foram realizadas dividindo os REE em dois grupos maiores com base na classificação em diferentes linhas, já explicitada no presente trabalho (Figura 2):

- Resíduos de grande porte: grupo composto pelos resíduos da provenientes da linha branca;

- Resíduos de pequeno porte: grupo composto pelos resíduos da linha verde marrom e azul.

Os dados necessários foram obtidos a partir da ​Análise Inventta ​e ABINEE e, assim, obteve-se estimativas para a geração de REE no Brasil de 2011 a 2020. A Figura 12 mostra os resultados.

Figura 12 - Estimativas da geração de REE de grande e pequeno porte no Brasil, em milhares de toneladas, de 2011 a 2020.

Fonte: ​Análise Inventta​ apud ABDI (2013).

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