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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO. Marina Espinha Rafael Costa Di Prinzio

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO

Marina Espinha

Rafael Costa Di Prinzio

Um panorama geral sobre os resíduos eletroeletrônicos: principais aspectos

e comparativo entre Brasil e União Europeia

São Carlos

2020

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Marina Espinha

Rafael Costa Di Prinzio

Um panorama geral sobre os resíduos eletroeletrônicos: principais aspectos

e comparativo entre Brasil e União Europeia

Trabalho de Conclusão de Curso da Engenharia Ambiental apresentado à Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo.

Orientador: Profº Dr. Valdir Schalch

VERSÃO CORRIGIDA São Carlos

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AGRADECIMENTOS

Às nossas famílias, pelo que nos ensinaram, pelo apoio, amor e por terem acreditado em nós, devemos a eles tudo que conquistamos até hoje.

Ao nosso orientador pela atenção, dedicação e empenho, obrigada por contribuir com nosso crescimento pessoal e profissional.

Aos nossos companheiros e aos nossos amigos da vida, graduação e república, por estarem sempre conosco em nossa jornada.

Aos professores e membros das bancas, obrigada pelas importantes contribuições nesse trabalho.

A todos os funcionários e docentes da USP São Carlos pelo suporte, ensinamentos e oportunidades oferecidas.

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RESUMO

ESPINHA, M.; PRINZIO, R. C. ​Um panorama geral sobre os resíduos eletroeletrônicos: principais aspectos e comparativo entre Brasil e União Europeia. ​2020. 100 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Ambiental) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2020.

A acelerada demanda por equipamentos eletroeletrônicos (EEE) associada ao modelo econômico linear vigente, ao crescimento populacional e aos padrões de produção e consumo trazem um cenário preocupante quanto aos resíduos destes equipamentos. Os resíduos eletroeletrônicos (REE) contêm componentes perigosos e de alto valor agregado, não são biodegradáveis, podem ser tóxicos e se acumulam no solo, no ar, na água e nos seres vivos. O presente trabalho buscou contextualizar um panorama geral destes resíduos sob diferentes aspectos, trazendo um comparativo entre o cenário brasileiro e o da União Europeia (UE). Para tanto, realizou-se uma revisão de literatura, abordando a geração dos REE, legislações e normas existentes no Brasil e na União Europeia, bem como modelos de gestão, gerenciamento e tecnologias de tratamentos para os respectivos resíduos. O Brasil, como quinto maior país gerador de REE está em grande atraso, se comparado a UE, quando se trata de iniciativas e legislações específicas sobre o tema, mas a caminho de melhorias. Atualmente são geradas 53,6 Mt de REE por ano no mundo e apenas 17,4% desse montante tem destinação final correta. É preciso sair da abordagem linear vigente em busca dos princípios da economia circular. Para tanto, a coleta de informações a respeito do volume de REE gerado em um país é essencial. No Brasil a disponibilidade de dados é baixa enquanto a UE conta com a coleta de informações mais harmonizada do mundo. Nota-se, assim, a importância de padronizar um sistema metodológico para os REE em nível mundial. Para retornarem ao ciclo, os REE podem passar por alternativas de reuso ou reciclagem. Nesse contexto, é importante a utilização de instrumentos de gestão como a logística reversa e a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), para criar um sistema regenerativo e restaurativo e avaliar os processos reversos. Observou-se que a remanufatura tem se mostrado a alternativa mais viável nesse sentido. Ficou claro a abrangência e complexidade de todos aspectos da cadeia dos REE, integrando as esferas econômica, social e ambiental, e a urgência em se criar um sistema circular para estes resíduos.

Palavras-chave: gestão de resíduos sólidos, resíduos de equipamentos eletroeletrônicos,

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ABSTRACT

ESPINHA, M.; PRINZIO, R. C. 2020. An overview of electrical and electronic waste: main aspects and comparison between Brazil and European Union. 2020. 100 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Ambiental) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2020.

The accelerated demand for electrical and electronic equipment (EEE)associated with the current linear economic model, population growth and production and consumption patterns bring a worrying scenario regarding the waste of these equipment. The waste electrical and electronic equipment (WEEE) contain dangerous components and with high added value, they are not biodegradable, they can be toxic and they accumulate in the soil, air, water and living beings. The present work sought to contextualize a general overview of these waste under different aspects, bringing a comparative between the Brazilian scenario and that of the European Union. To this end, a literature review was carried out addressing the generation of WEEE, laws and standards existing in Brazil and the European Union (EU), as well as management models, administration and treatment technologies for these respective waste. Brazil, as the fifth largest country generating WEEE, is lagging behind the EU when it comes to specific initiatives and legislation on the subject, but on the way to improvement. Currently, 53,6 Mt of WEEE are generated per year in the world and only 17.4% of this amount has the correct final destination. It is necessary to leave the current linear approach in search of the principles of circular economy. For this, collecting information about the volume of WEEE generated in a country is essential. In Brazil, data availability is low while the EU counts on the most harmonized information collection in the world. Thus, it is noted the importance of standardizing a methodological system for WEEE worldwide. To return to the cycle, WEEE can go through reuse or recycling alternatives. In this context, it is important to use management tools such as reverse logistics and Life Cycle Assessment (LCA), to create a regenerative and restorative system and evaluate reverse processes. It was observed that remanufacturing has proved to be the most viable alternative in this regard. It became clear the scope and complexity of all aspects of the WEEE chain, integrating the economic, social and environmental spheres, and the urgency to create a circular system for this waste.

Keywords: ​solid waste management, waste electrical and electronic equipment, reverse

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Classificação dos resíduos sólidos de acordo com a PNRS. 2​0 Figura 2 - Classificação de resíduos eletroeletrônicos de acordo com a ABINEE. 2​3

Figura 3 - Exemplos de resíduos eletroeletrônicos 23

Figura 4 - Elementos químicos presentes nos REE 2​6

Figura 5 - Composição dos resíduos eletroeletrônicos, em porcentagem de peso 2​7 Figura 6 - Simbologias adotadas para pilhas e baterias 3​5 Figura 7 - Projeção de crescimento populacional mundial 4​4 Figura 8 - Projeção mundial dos resíduos eletroeletrônicos 4​5 Figura 9 - Geração e coleta de REE por continente em 2019 47 Figura 10 - Geração per capita de REE entre as sub-regiões da América para o ano de 2019 48 Figura 11 - Cálculo do volume de REE gerado, em toneladas, a partir do método “Suprimento

do Mercado” 5​1

Figura 12 - Estimativas da geração de REE de grande e pequeno porte no Brasil, em milhares

de toneladas, de 2011 a 2020 5​2

Figura 13 - Geração de REE por habitante no continente europeu 5​3 Figura 14 - Total de equipamentos eletroeletrônicos colocados no mercado e total de REE coletados e tratados na União Europeia de 2010 a 2017 5​6 Figura 15 - Diagrama do sistema fundamental da economia circular 59

Figura 16 - Ciclo de vida genérico 6​2

Figura 17 - Fluxograma do ciclo de vida genérico de um EEE 6​4

Figura 18 - Modelo de processo da Logística Reversa 6​6

Figura 19 - Fluxograma geral dos processos propostos pelo acordo setorial de implementação

de logística reversa dos REE 68

Figura 20 - Matriz de modelos de logística reversa 7​2

Figura 21 - Mapeamento da dispersão dos modelos de logística reversa de REE para referências internacionais e outros setores nacionais e internacionais 7​3

Figura 22 - Diagrama metodológico 79

Figura 23 - Linha do tempo comparativa das legislações no Brasil e na UE 81 Figura 24 - Dados de geração, em Mt, para o mundo, Europa, América Latina, União

Europeia e Brasil, nos anos de 2014, 2016 e 2019 83

Figura 25 - Dados de geração, em kg/hab, para o mundo, Europa, América Latina, União

Europeia e Brasil, nos anos de 2014, 2016 e 2019 84

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Iniciativas internacionais relacionadas com os REE 29

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação dos resíduos sólidos segundo sua origem. 2​1 Tabela 2 - Classificação dos resíduos sólidos segundo sua periculosidade 2​2 Tabela 3 - Classificação dos resíduos eletroeletrônicos de acordo com a WEEE. 2​5 Tabela 4 - Substâncias tóxicas mais comuns presentes nos REE, suas aplicações e riscos à

saúde humana 28

Tabela 5 - Taxa média de crescimento anual de consumo de EEE por grupo de países, por

Paridade de Poder de Compra (PPC) 45

Tabela 6 - Geração mundial de REE, em Mt e kg/hab., quantidade de REE formalmente documentada para ser coletada e reciclada, em Mt, e a taxa de coleta, em %, para os anos de

2014, 2016 e 2019 46

Tabela 7 - Montante de REE gerado no mundo, América Latina e Brasil para os anos de 2014,

2016 e 2019 49

Tabela 8 - Montante per capita de REE gerado no mundo, América Latina e Brasil para os

anos de 2014, 2016 e 2019 49

Tabela 9 - Montante de REE gerado no mundo, Europa e União Europeia para os anos de

2014, 2016 e 2019 54

Tabela 10 - Montante per capita de REE gerado no mundo, Europa e União Europeia para os

anos de 2014, 2016 e 2019 54

Tabela 11 - Geração de REE por país membro da União Europeia 57

T​abela 12 - Comparativo entre os processos de reuso 76

Tabela 13 - Composição da geração mundial de REE, em 2019, por categorias da Diretiva

WEEE 82

Tabela 14 - Dados de geração, em Mt e kg/hab., para o mundo, Europa, América Latina, União Europeia e Brasil, nos anos de 2014, 2016 e 2019 83 Tabela 15 - Aspectos comparativos entre o acordo setorial brasileiro e a Diretiva WEEE da

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ABNT - Associação Brasileiras de Normas Técnicas ACV - Avaliação do Ciclo de Vida

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente EEE - Equipamentos eletroeletrônicos

GAP - Grupo de Acompanhamento de Performance kt - Quilotonelada

LCA- Life Cycle Assessment LR- Logística reversa

MDIC- Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior MMA- Ministério do Meio Ambiente

Mt -Toneladas

OCDE- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico PACE - Plataforma de Aceleração da Economia Circular

PNRS- Política Nacional de Resíduos Sólidos REE-Resíduos eletroeletrônicos

RoHS- Restriction of the use of Hazardous Substances SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente SNVS- Sistema Nacional de Vigilância Sanitária SST - Segurança e saúde no trabalho

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SUASA - Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária UE -União Europeia

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 15 2. OBJETIVO GERAL 18 2.1 Objetivos específicos 18 3. REVISÃO DE LITERATURA 19 3.1 Conceitos e Definições 19

3.1.1 Resíduos eletroeletrônicos no Brasil 22

3.1.2 Resíduos eletroeletrônicos na União Europeia 24 3.2 Composição e impactos dos resíduos eletroeletrônicos 25

3.3 Iniciativas e legislações 29

3.3.1 Situação no Brasil 30

3.3.1.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos 30

3.3.1.2 Conselho Nacional do Meio Ambiente 34

3.3.1.3 Normas ABNT 37 3.3.2 União Europeia 38 3.3.2.1 Diretiva WEEE 38 3.3.2.2 Rohs 2 42 3.4 Geração REE 43 3.4.1 Panorama Mundial 43 3.4.2 Brasil 47 3.4.2 União Europeia 52 3.5 Economia circular 58 3.6 Gestão e gerenciamento 60 3.6.1 Definições e hierarquização 60

3.6.2 Avaliação do ciclo de vida (ACV) 61

3.6.3 Logística Reversa 64

3.6.3.1 Brasil 66

3.6.3.2 União Europeia 69

3.6.3.3 Modelos de logística reversa 71

3.7 Alternativas e Tecnologias 73 3.7.1 Processos de Reuso 74 3.7.2 Processos de Reciclagem 76 4. MATERIAL E MÉTODOS 78 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 80 6. CONCLUSÕES 91 REFERÊNCIAS 94

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1. INTRODUÇÃO

A implementação de abordagens mais sustentáveis na sociedade, que conciliem o desenvolvimento da economia com o respeito ao meio ambiente, é cada vez mais urgente e imprescindível. Com o modelo econômico linear vigente associado ao crescimento populacional constante e aos padrões instaurados de produção e consumo em massa, a geração exacerbada de resíduos sólidos se tornou uma problemática global e deve ser tratada com cautela.

Dentre os diversos tipos de resíduos gerados no mundo, um grupo específico tem chamado bastante atenção: os resíduos eletroeletrônicos (REE). Nos últimos anos, a civilização passou por inúmeras revoluções tecnológicas e os equipamentos eletroeletrônicos (EEE) tornaram-se indispensáveis, melhorando os padrões de vida da população. No entanto, o aumento acelerado na demanda por estes dispositivos associado à ausência de normas reguladoras e ao modo como eles são produzidos, consumidos e descartados, acarretam em perdas de energia, recursos e valor incorporados aos EEE, além da geração de grandes quantidades de resíduos no processo. Todo equipamento eletroeletrônico e seus componentes que são descartados sem a intenção de reutilização compõem os chamados resíduos eletroeletrônicos (STEP INITIATIVE, 2014).

Atualmente são geradas 53,6 milhões de toneladas (Mt) de REE por ano no mundo. Muitos destes equipamentos permanecem armazenados nas casas dos usuários e, quando não, são incinerados ou dispostos em aterros sanitários, ou são exportados para serem separados ou queimados nos países mais pobres, gerando riscos ambientais e à saúde humana. Em 2019, apenas 17,4% da geração mundial de REE foi formalmente documentada para ser coletada e reciclada (BALDÉ et al., 2020).

Os REE contêm componentes perigosos, que não são biodegradáveis, podem ser tóxicos e se acumulam no solo, no ar, na água e nos seres vivos, além de possuírem impactos adversos na saúde de quem o manipula. Entretanto, estes equipamentos são quase completamente recicláveis e possuem componentes valiosos que devem ser valorizados e reutilizados. O modelo econômico linear está se mostrando insustentável e há grandes oportunidades de se construir um sistema mais circular para os eletroeletrônicos, em que os recursos não sejam apenas extraídos, usados e descartados (FUNDAÇÃO ELLEN MACARTHUR, 2018).

Para haver mudanças significativas na forma como o mundo trata seus REE, a implementação de políticas públicas e legislações nacionais sobre o tema são essenciais, pois estabelecem os padrões e controles necessários para as partes interessadas. A União Europeia

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(UE) é conhecida por seus avanços na gestão de resíduos sólidos e possui diretivas que estabelecem recomendações a respeito dos resíduos eletroeletrônicos desde 2003 (BALDÉ et al., 2020).

No cenário brasileiro, em 2010 ocorreu a aprovação da Lei Nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A PNRS trouxe uma nova visão a respeito dos resíduos sólidos, representando um marco na gestão ambiental do país. Esta lei estabelece a obrigatoriedade da logística reversa (LR) dos dispositivos eletroeletrônicos com a aplicação do conceito de “responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto”. Em outubro de 2019, quase dez anos depois da determinação feita pela política nacional, foi assinado o acordo setorial¹ para implementação de sistemas de logística reversa dos REE no Brasil, prometendo mudanças na abordagem do país com relação aos seus REE (MMA, 2019).

Outro ponto importante para um manejo eficiente é a coleta regular e harmonizada de dados e estatísticas sobre os REE. Na União Europeia existe o sistema mais estruturado para registros e controle destes resíduos do mundo, já no Brasil os dados encontrados são estimativas feitas com base em alguns fatores como volume de venda, importações e exportações. Em 2019, os países membros da UE foram responsáveis pela geração de 7,9 Mt de REE ou 16,4 kg per capita. Já o Brasil, no mesmo ano, gerou 2,14 Mt ou 10,2 kg per capita, sendo o 5º maior produtor do mundo (BALDÉ et al., 2020).

Com a obsolescência programada² e a falta de opções de reparo alimentando ainda mais o consumo exacerbado de dispositivos eletroeletrônicos, estes números tendem a aumentar. A previsão é chegar a 74,7 Mt de REE produzidas em 2030 (BALDÉ et al., 2020). Os valores são exorbitantes e a necessidade de um sistema funcional para os EEE é urgente. Portanto, faz-se necessário a criação de um modelo de gestão cíclico, regenerativo e restaurativo, buscando o uso sustentável dos resíduos, a partir de uma análise ampla de todo o ciclo de vida dos equipamentos (FUNDAÇÃO ELLEN MACARTHUR, 2018). Para tanto, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) tem se mostrado uma ferramenta eficiente, pois traz uma visão sistêmica de todas as etapas pelas quais passa um produto, desde a extração da matéria prima até o destino final. Uma de suas principais aplicações é avaliar a implementação de sistemas de logística reversa, já que a ACV dimensiona os fluxos ambientais, além das vantagens e desvantagens do processo (PORTO DIGITAL; ITGREEN, 2011).

________________________

¹ Segundo a PNRS, a logística reversa pode ser implementada por atos de natureza contratual firmados entre os responsáveis pelo ciclo de vida do produto e o Poder Público, conhecidos como acordos setoriais (BRASIL, 2010).

² Técnica utilizada por fabricantes que consiste em produzir produtos com fim de vida útil já estabelecidos, forçando a compra de novos produtos (​eCycle​, 2020).

(17)

A logística reversa é o instrumento mais utilizado para o manejo adequado dos REE no mundo. No entanto, o modo como ela é implementada varia dependendo de cada lugar. Visando o recolhimento de produtos pós-consumo ou pós-venda, a triagem dos mesmos e o retorno aos fabricantes, a LR abrange todo o planejamento, operação e controle dos canais de distribuição reversos (LEITE, 2003). Os sistemas de logística reversa propõem a implementação de alternativas que reintegram os REE ao ciclo produtivo. Com isso, o reuso e a reciclagem dos materiais apresentam-se como importantes estratégias reversas, que visam mitigar os impactos ambientais e à saúde humana, bem como a recuperação do valor econômico agregado aos REE.

Tendo em vista a problemática global relacionada à geração exacerbada de resíduos sólidos e as constantes revoluções tecnológicas, o presente trabalho buscou contextualizar o panorama mundial dos resíduos eletroeletrônicos nos dias de hoje. Para tanto, realizou-se uma revisão de literatura abordando diferentes aspectos dos REE, comparando o cenário brasileiro com o da União Europeia. Abordou-se as classificações, políticas públicas vigentes, dados de geração e sistemas de logística de reversa associados aos REE, em ambos os países.

A pesquisa trouxe também alguns aspectos gerais da gestão e gerenciamento destes resíduos, além de algumas tecnologias e alternativas de reuso e reciclagem dos mesmos. A revisão de literatura foi feita através da pesquisa em bancos de dados entre os pares, buscando preencher lacunas e trazer respostas para a questão dos resíduos eletroeletrônicos.

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2. OBJETIVO GERAL

Contextualizar o panorama geral dos resíduos eletroeletrônicos, sob diferentes aspectos, com ênfase no Brasil e União Europeia.

2.1 Objetivos específicos

● Abordar e comparar os conceitos e os instrumentos regulatórios sobre os REE existentes no Brasil e na União Europeia.

● Analisar e comparar os dados de geração destes resíduos nas áreas em questão e os instrumentos de gestão e gerenciamento utilizados para o manejo dos REE, com foco no Brasil e na União Europeia.

● Apresentar as principais alternativas e tecnologias de reuso e reciclagem existentes para a reintegração dos REE ao ciclo produtivo.

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3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Conceitos e Definições

No Brasil, o conceito de resíduos sólidos foi regulamentado a partir da criação da Lei Federal 12305/2010. Após ser regulamentada pelo Decreto-Lei 7404/10, instituiu-se a Política Nacional dos Resíduos Sólidos - PNRS (BRASIL, 2010). A PNRS atua em diferentes âmbitos para uma gestão sustentável dos resíduos sólidos no país. Dessa forma, as definições e classificações brasileiras dos resíduos sólidos apresentadas a seguir foram extraídas desta lei.

A Lei 12305/10 artigo 3, define:

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010)​.

Existe outra definição na PNRS a respeito dos rejeitos. Estes se enquadram em um caso específico de resíduos sólidos quando são esgotadas as possibilidades de tratamentos tecnológicos, restando apenas a destinação final adequada dos mesmos (BRASIL, 2010).

Na Figura 1, tem-se uma esquematização da classificação geral dos resíduos sólidos de acordo com a PNRS.

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Figura 1 - Classificação dos resíduos sólidos de acordo com a PNRS.

Fonte: SCHALCH, CASTRO e CÓRDOBA, 2014

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, classificam-se os mesmos em duas categorias: segundo a sua origem, como mostra a Tabela 1 e segundo a sua periculosidade, como mostra a Tabela 2.

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Tabela 1 - Classificação dos resíduos sólidos segundo sua origem

Fonte: Adaptado de (BRASIL, 2010).

Classificação Descrição

Resíduos domiciliares Oriundo de atividades domésticas em residências urbanas.

Resíduos de limpeza urbana Oriundos da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas, bem como outros serviços de limpeza urbana.

Resíduos sólidos urbanos Engloba os resíduos domiciliares e de limpeza urbana.

Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços

Gerados e enquadrados nas classificações descritas: resíduos de limpeza urbana, de serviços públicos de saneamento básico, de serviços de saúde, da construção civil e de serviços de transportes. Resíduos dos serviços públicos

de saneamento básico Gerados e enquadrados nas classificações descritas:resíduos sólidos Urbanos. Resíduos industriais Gerados nos processos produtivos e instalações

industriais.

Resíduos de serviço de Saúde Oriundos dos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente e do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Resíduos da construção Civil Oriundos das construções, reformas, reparos e

demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras.

Resíduos Agrossilvopastoris Originários das atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades.

Resíduos de serviços de

transportes Originários de portos, aeroportos, terminaisalfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira.

Resíduos de mineração Oriundos da atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios.

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Tabela 2 - Classificação dos resíduos sólidos segundo sua periculosidade

Fonte: Adaptado de (BRASIL, 2010).

3.1.1 Resíduos eletroeletrônicos no Brasil

Dentre a grande variedade de resíduos gerada no mundo, os resíduos eletroeletrônicos (REE) vem chamando bastante atenção e ganhando maior visibilidade ao longo dos anos devido a sua constante e crescente produção.

A ABNT NBR 16156:2013, apresenta as seguintes definições para os equipamentos eletroeletrônicos (EEE), resíduos eletroeletrônicos e resíduo eletroeletrônico perigoso.

3.12 - equipamentos eletroeletrônicos

equipamentos, partes e peças cujo funcionamento adequado depende de correntes elétricas ou campos eletromagnéticos, bem como os equipamentos para geração, transmissão, transformação e medição dessas correntes e campos, podendo ser de uso doméstico, industrial, comercial e de serviço.

3.29 - resíduos eletroeletrônicos

equipamentos eletroeletrônicos, partes e peças que chegaram ao final da sua vida útil ou o uso foi descontinuado.

3.30 - resíduo eletroeletrônico perigoso

resíduo eletroeletrônico cuja composição é desconhecida ou que, em função de suas propriedades físicas ou químicas, pode apresentar:

a) risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices;

b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada

(ABNT, 2013).

Ressalta-se que a PNRS não traz definições específicas a respeito dos resíduos eletroeletrônicos, apenas um conteúdo abrangente em conjunto com outros resíduos.

Referente à classificação dos REE no Brasil, pode-se destacar a categorização realizada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE). A ABINEE divide os equipamentos eletroeletrônicos em diferentes linhas, especificando de forma macro sua composição e tempo útil de vida, de acordo com a Figura 2.

Classificação Descrição

Resíduos perigosos Em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica.

Resíduos não perigosos Referentes aos resíduos não enquadrados como resíduos perigosos.

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Figura 2 - Classificação de resíduos eletroeletrônicos de acordo com a ABINEE

Fonte: Relatório ABINEE 2017.

A Figura 3 demonstra exemplos dos resíduos eletroeletrônicos de acordo com a classificação da ABINEE.

Figura 3 - Exemplos de resíduos eletroeletrônicos

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3.1.2 Resíduos eletroeletrônicos na União Europeia

Nos países da União Europeia, a definição de EEE segue a Diretiva WEEE ( ​Waste Eletrical and Eletronic Equipmen​t), que os define como:

equipamentos dependentes de correntes elétricas ou campos eletromagnéticos para funcionar adequadamente, bem como os equipamentos para a geração, transferência e medida de tais correntes e campos, projetados para uso com uma voltagem que não exceda 1000 volts para corrente alternada e 1500 volts para corrente contínua​ (UNIÃO EUROPEIA, 2012).

Além disso, a diretiva WEEE da Comunidade Europeia, atualizada em 2012, classifica os REE segundo as categorias representadas na Tabela 3.

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Tabela 3 - Classificação dos resíduos eletroeletrônicos de acordo com a WEEE.

Fonte: Adaptado de (Diretiva WEEE, 2012)

Segundo Baldé et al. (2015), o resíduo eletroeletrônico ou ​e-waste​refere-se a gama de todas as partes de equipamentos eletroeletrônicos que são descartadas sem a intenção de serem reutilizadas ou recicladas. Assim, existe uma quantidade abrangente de equipamentos que pode se encaixar como esse tipo de resíduo, sendo qualquer equipamento comercial e residencial que apresente um circuito eletrônico, ou componentes elétricos ligados a energia ou bateria.

3.2 Composição e impactos dos resíduos eletroeletrônicos

Os EEE contêm mais de 1000 substâncias diferentes, compreendendo plásticos, vidros, metais ferrosos e não ferrosos, metais pesados e outras substâncias tóxicas (PUCKETT; SMITH, 2002). Tais materiais são fixados por meio de solda ou cola e suas concentrações nos equipamentos são bem variadas. Portanto, quando chegam ao fim de sua vida útil, os REE devem passar por processos diferenciados de extração e reciclagem, considerados bem mais

Categoria Exemplos de equipamentos

1.Equipamentos de regulação da

temperatura Frigoríficos, congeladores, equipamentos de arcondicionado, desumidificadores, bombas de calor. 2.Telas, monitores e equipamentos

com telas de superfície superior a 100 cm²

Telas, aparelhos de televisão, molduras fotográficas LCD, monitores, ​laptops​, ​notebooks.

3.Lâmpadas Lâmpadas fluorescentes, lâmpadas de descarga de alta intensidade, lâmpadas de sódio de baixa pressão, LED.

4.Equipamentos de grandes dimensões (com qualquer dimensão externa superior a 50 cm)

Máquinas de lavar roupa e louça, secadores de roupa, fogões, fornos elétricos, aparelhos de iluminação, equipamento para reproduzir sons ou imagens, macro computadores. Não se incluem nesta categoria os equipamentos abrangidos pelas categorias 1 a 3. 5.Equipamentos de pequenas

dimensões (com nenhuma dimensão externa superior a 50 cm)

Aspiradores, aparelhos de costura, microondas, ferros de engomar, torradeiras, relógios, máquinas de barbear, rádios. Não se incluem nesta categoria os equipamentos abrangidos pelas categorias 1 a 3 e 6. 6.Equipamentos informáticos e de

telecomunicações de pequenas dimensões (com nenhuma dimensão externa superior a 50 cm)

Celulares, GPS, calculadoras de bolso, ​routers​, computadores pessoais, impressoras, telefones.

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complexos, caros e impactantes do que aqueles aplicados comumente às latas de alumínio e garrafas de vidros, por exemplo (ABDI, 2013).

De acordo com os dados apresentados no relatório PACE 2019, Plataforma de Aceleração da Economia Circular, os REE podem representar apenas 2% dos resíduos sólidos gerados no mundo, mas representam 70% das substâncias perigosas que acabam em aterros. É possível encontrar até 69 elementos da tabela periódica nos equipamentos eletroeletrônicos e muitos deles são tecnicamente recuperáveis (PACE, 2019). A Figura 4 mostra os elementos químicos que podem ser encontrados no EEE.

Figura 4 - Elementos químicos presentes nos REE

Fonte: Adaptado do relatório​ The Global E-Waste Monitor ​(2020)

Devido a essa enorme gama de substâncias presentes nos equipamentos eletroeletrônicos, é difícil fornecer uma composição geral de materiais para todo o fluxo de resíduos gerados. Com isso, a maioria dos estudos se embasam em cinco macros categorias: metais ferrosos, metais não ferrosos, vidro, plástico e “outros”. A Figura 5 mostra uma possível composição genérica dos REE, em porcentagem de peso (WIDMER et al., 2005).

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Figura 5 - Composição dos resíduos eletroeletrônicos, em porcentagem de peso

Fonte: Adaptado de WIDMER et al., 2005.

De acordo com a Figura 5, ferro e aço são os materiais mais encontrados nos EEE, representando quase 50% do peso total do resíduo, seguido do plástico, com aproximadamente 21% de representação. Os metais não ferrosos, incluindo os metais preciosos, representam em torno de 13%, sendo o cobre estimado em 7% do peso total do REE (WIDMER et al., 2005).

Dentre as substâncias potencialmente tóxicas utilizadas na manufatura dos EEE, estão o mercúrio, chumbo, arsênio, cádmio, selênio, cromo hexavalente, além de retardadores de chama que emitem dioxinas quando queimados (WIDMER, 2005). A presença destes componentes nos REE pode causar riscos ao meio ambiente e às pessoas que os manipulam. Com relação aos danos ambientais, mesmo em aterros sanitários, pode haver contaminação do lençol freático e dos seres vivos, além de contaminação imediata do chorume por qualquer contato dos metais pesados com a água, levando a um completo desequilíbrio ambiental. Quando se trata dos riscos à saúde humana, desde o consumidor que mantém equipamentos antigos em casa até os responsáveis pelos processos de coleta, triagem e reciclagem dos REE estão expostos à contaminação por substâncias tóxicas (ABDI, 2013).

Observa-se, assim, a importância de tratar os EEE com cautela ao final da vida útil, evitando que seus componentes sejam manipulados sem o devido cuidado ou que sejam descartados de forma inadequada. Para diminuir os riscos de contaminação, devem ser usados equipamentos de proteção pessoal em todos os processos que envolvem manipulação dos REE, além de nunca dispor esses resíduos diretamente no meio ambiente. Os processos de

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logística reversa devem analisar todos os possíveis impactos e evitá-los na implementação do sistema. A Tabela 4 mostra algumas dessas substâncias, suas aplicações na indústria eletroeletrônica e seus impactos à saúde humana (MENDES et al., 2016).

Tabela 4 - Substâncias tóxicas mais comuns presentes nos REE, suas aplicações e riscos à saúde humana

Fonte: Adaptado de ​Gestão da Logística Reversa de Eletroeletrônicos: Conceitos, Princípios e Desafios (MENDES et. al., 2016).

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3.3 Iniciativas e legislações

Ao longo dos anos foram criadas diversas iniciativas para regulamentar as questões sobre os resíduos eletroeletrônicos no mundo, como o movimento transfronteiriço entre países. Entre as diversas iniciativas empregadas, a principal foi a Convenção de Basiléia, a qual é oficialmente conhecida como “Convenção de Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito”, criada em 22 de março de 1989, entrando em vigor em 5 de maio de 1992. A importância da Convenção de Basiléia se deve, entre outros fatores, à ratificação realizada por 159 países. Os Estados Unidos não se encontram neste grupo de países, mesmo sendo um dos maiores produtores de REE do mundo (KIDDEE; NAIDU; WONG, 2013).

Os países participantes da Convenção de Basiléia e produtores de resíduos perigosos são responsáveis por realizar a destinação adequada e ambientalmente segura dos mesmos. Além de se comprometerem a não exportar esses resíduos para países em desenvolvimento. (STHIANNOPKAO; WONG, 2013).

No Quadro 1 apresenta-se um breve resumo desta e de outras políticas internacionais que não serão abordadas com maior detalhamento no presente trabalho, mas também visam a regulamentação dos REE, mostrando a relevância do assunto no contexto internacional.

Quadro 1 - Iniciativas internacionais relacionadas com os REE

Iniciativas Descrição

Basel Convention Promulgada em 1992 com o objetivo de regulamentar o tráfegotransfronteiriços e a disposição final dos resíduos gerados pelos países. Conta com 172 nações signatárias, mas não foi ratificado pelos EUA. Não especifica sanções.

Bamako Convention Entrou em vigor no ano de 1998 nos países da União Africana aespecificando limitações na importação de resíduos perigosos, tendo uma regulamentação mais criteriosa do que a Convenção de Basiléia e também definindo penalidades prevista no acordo.

Solving the E-waste Problem (StEP)

Instaurado formalmente em 2007 por agências das Nações Unidas, o StEP realiza associações com entidades renomadas de educação e organizações governamentais (por exemplo, MIT,USEPA) com o objetivo de promover a reutilização de materiais reciclados e monitoramento de contaminantes dos REE.

Reduce, Reuse, Recycle (3Rs)

Impulsionado pelo Japão, tem como objetivo mitigar a criação de resíduos, e possibilitar a cooperação na área da reciclagem com países em desenvolvimento. Essa iniciativa permite a exportação de resíduos eletroeletrônicos para remanufatura.

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Fonte: Adaptado Sthiannopkao & Wong (2013)

3.3.1 Situação no Brasil

3.3.1.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos

A questão dos resíduos sólidos, por muito tempo, não foi tratada com o devido cuidado e cautela. Atualmente, a geração exacerbada de resíduos e seu manejo inadequado tem sido uma pauta muito discutida e fonte de grandes preocupações. Em resposta a esta situação, criou-se, no Brasil, a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, regulamentada pelo Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (BRASIL, 2010).

Os resíduos eletroeletrônicos (REE), que são o foco deste trabalho, vêm ganhando grande visibilidade devido à produção exacerbada e crescente descartabilidade destes produtos, além da carência de normas reguladoras sobre os processos de recuperação e descarte destes resíduos e a falta de informações ao consumidor a respeito da importância do manejo adequado destes produtos. Historicamente, existia um Projeto de Lei 2061/2007 tratando acerca da coleta, reciclagem e destinação dos resíduos eletroeletrônicos, que eram conceituados como “aparelhos eletrodomésticos e eletrônicos inservíveis”, no entanto, com o surgimento da PNRS, este se tornou ultrapassado (BRASIL, 2007).

Encontra-se maior ligação da política nacional com os REE quando a lei estabelece a responsabilidade da gestão dos resíduos entre seus segmentos, envolvendo seus geradores (importadores, distribuidores, comerciantes, fabricantes), poder público e consumidores finais, contribuindo para um gerenciamento ambientalmente adequado dos mesmos. Esta é chamada responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto e abrange todas as etapas de seu desenvolvimento, desde a obtenção de insumos e matérias-primas, todo o processo produtivo, até o consumo e disposição final destes (BRASIL, 2010). A PNRS estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos como um de seus princípios e a define como o:

conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para

Iniciativas Descrição

US State laws and the Responsible Electronic

Recycling Act

(HR2284)

Nos Estados Unidos, 25 estados apresentam leis para a regulamentação da coleta de REE. A HR2284 é uma proposta de lei nacional que visa fiscalizar a exportação de do resíduo eletrônico e certificar os equipamentos eletrônicos que são destinados para exportação.

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minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos (BRASIL, 2010).

Segundo o Art. 30 da Seção II da PNRS, os objetivos da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos são:

I – compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis;

II – promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas;

III – reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais;

IV – incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade;

V – estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis;

VI – propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade; VII – incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental. (BRASIL, 2010)

Dessa forma, nota-se que o compartilhamento das responsabilidades entre as etapas de desenvolvimento de um produto visa um gerenciamento mais sustentável do ciclo de vida do mesmo, promovendo a redução da geração de resíduos e o reaproveitamento destes pela sua própria cadeia produtiva, por outras cadeias ou por meio da reciclagem, promovendo, assim, um ciclo fechado e uma redução no uso de recursos naturais (CASTRO, 2014).

A implementação do princípio de responsabilidade compartilhada é feita a partir de instrumentos como o ecodesign, a coleta seletiva e sistemas de logística reversa. Segundo Guelere Filho et al. (2008), o ecodesign é um método de projetar novos produtos a partir de uma visão ecologicamente correta e sustentável, avaliando todas as etapas do ciclo de vida do produto em questão, visando evitar ou diminuir os impactos que este pode causar ao meio ambiente, sem comprometer outros aspectos como desempenho, funcionalidade, estética, qualidade e custo. Por mais que não seja tratado diretamente no texto da Lei 12305/10, o ecodesign tem sido uma ferramenta de gestão ambiental muito utilizada por atividades empresariais.

A coleta seletiva é considerada um dos instrumentos da PNRS e foi definida, segundo o Art. 3º da Lei 12305/10, como a “coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição”. Ou seja, para atender ao princípio de responsabilidade compartilhada dentro do âmbito dos REE, a coleta seletiva destes resíduos

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só pode ser realizada após prévia segregação destes segundo a sua composição ou de quais equipamentos eles se originaram.(BRASIL, 2010)

Assim como a coleta seletiva, a logística reversa (LR) também é um instrumento da PNRS, no entanto sua definição é mais ampla e seu conceito ainda está em evolução. Rogers, Tibben-lembke (1998), por exemplo, definem logística reversa como: “o processo de planejamento, implantação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias primas, estoque em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem, com o propósito de recapturar o valor ou destiná-lo à sua apropriada disposição ” (ROGERS, TIBBEN-LEMBKE, 1998).

Segundo Leite (2003), o conceito de logística reversa abrange o planejamento, operação e controle de dois canais de distribuição reversos, o de pós-venda e o de pós-consumo, que agregam aos bens valores de diferentes naturezas (ambiental, legal, econômica, entre outros). O primeiro diz respeito aos ​“bens de pós-venda” que retornam ao ciclo produtivo sem ser utilizados pelo consumidor, por razões como problema de qualidade, arrependimento ou erro na escolha, entre outros motivos. O segundo trata dos ​“bens de pós-consumo”​, ou seja, bens que foram utilizados pelo consumidor e retornam para o ciclo produtivo por sua vida útil ter chegado ao fim ou por serem considerados inservíveis pelo proprietário original, mas ainda podem ser utilizados (LEITE, 2003).

Já a Lei 12305/10, em seu Art. 3º, define logística reversa como:

XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada; (BRASIL, 2010)

Observa-se, portanto, que, na abordagem da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a logística reversa aplica-se aos “​bens de pós-consumo”​. Segundo o Art. 33 da Lei 12305/10, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de alguns desses “ ​bens de pós-consumo​” são obrigados a aplicar sistemas de logística reversa, independente do serviço público de manejo de resíduos sólidos e de limpeza urbana, são eles:

I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;

II - pilhas e baterias; III - pneus;

IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes. (BRASIL, 2010)

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Ou seja, os responsáveis pela cadeia produtiva dos produtos eletroeletrônicos devem criar um sistema de retorno para os mesmos, incluindo coleta, mediante a devolução pelo consumidor, armazenamento, transporte e disposição final adequada. A PNRS ressalta que todos os envolvidos no sistema de retorno, com exceção dos consumidores, devem manter registros e informações completas disponíveis, a respeito da realização de atividades de sua responsabilidade, e, também, prevê a divisão da responsabilidade pelo ciclo de vida do produto, na abordagem da logística reversa (BRASIL, 2010):

- Consumidores​: responsáveis pela devolução dos produtos pós-consumo aos comerciantes ou distribuidores;

- Comerciantes e distribuidores ​: responsáveis pela devolução dos produtos aos fabricantes ou importadores;

- Fabricantes e importadores ​: responsáveis por dar uma destinação ambientalmente adequada aos produtos recebidos, sendo os rejeitos encaminhados para uma disposição final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).

A Lei 12305/10 estabelece que a implantação da logística reversa pode ser feita a partir de três instrumentos:

- Regulamento expedido pelo poder público: LR poderá ser implantada por regulamento, veiculado por decreto do Poder Executivo, mediante avaliação de viabilidade pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), e precedidos de consulta pública.

- Acordos setoriais​: LR poderá ser implantada por atos de natureza contratual firmados entre os responsáveis pelo ciclo de vida do produto e o Poder Público, sendo que o processo pode ser iniciado por ambos os lados.

- Termos de compromisso: quando não houver acordo setorial ou regulamento específico em uma mesma área de abrangência, ou quando for necessário estabelecer compromissos e metas mais exigentes do que as já existentes em um acordo setorial ou regulamento, a LR poderá ser implantada por termos de compromisso entre o Poder Público e os responsáveis pelo ciclo de vida do produto (BRASIL, 2010).

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3.3.1.2 Conselho Nacional do Meio Ambiente

O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente-SISNAMA e foi implementado em 1981 pela lei 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo ​Decreto 99.274/90​. A composição representativa do conselho é formada por cinco setores: órgãos federais, estaduais, municipais, setor empresarial e sociedade civil. Dessa forma, o CONAMA tem como responsabilidade atribuída estabelecer normas, critérios, deliberações e padrões relativos ao controle e manutenção da qualidade do meio ambiente. As deliberações realizadas pelo CONAMA visam a efetivação dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente (CONAMA 2020).

As resoluções do CONAMA que atualmente norteiam e se aplicam aos resíduos eletroeletrônicos são:

​Resolução 401, de 04 de novembro de 2008

A Resolução 401 foi efetuada levando em consideração diversos aspectos sobre pilhas e baterias, tais como: a necessidade de minimização de impactos causados ao meio ambiente, o gerenciamento de materiais que contenham em sua composição chumbo, cádmio, mercúrio e respectivos compostos tóxicos, além da necessidade de diminuir a geração destes resíduos com coleta, reciclagem, tratamento e/ou disposição final adequada. Outro aspecto relevante trata da necessidade de conscientizar os produtores, para se atentarem às tecnologias de produção menos poluentes, e os consumidores sobre o risco destes resíduos à saúde (CONAMA, 2008).

Na resolução são estabelecidos limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio e os critérios e padrões para o gerenciamento ambientalmente adequado de pilhas e baterias, de acordo com suas respectivas finalidade e composição. Os produtores nacionais e importadores devem se manter regularizados nos órgãos competentes, exibir anualmente um laudo físico-químico ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA e apresentar um plano de gerenciamento de pilhas e baterias que contemplem uma destinação adequada desses resíduos. Para os estabelecimentos que comercializam estes produtos e assistências técnicas, cabe manter um sistema de recolhimento de pilhas e baterias dos usuários para repasse aos fabricantes e importadores (CONAMA, 2008).

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A resolução também estabelece normas para a comercialização de embalagens e materiais de publicidade, que devem apresentar os símbolos adequados para destinação correta bem como as advertências com relação aos riscos ao meio ambiente e à saúde humana. No corpo das pilhas e baterias deve constar a identificação do fabricante e, caso o produto seja importado, a identificação correspondente do importador e do fabricante, além dos riscos à saúde humana e ao meio ambiente e a indicação da necessidade de devolução ao fim do uso para uma rede de assistência técnica autorizada ou um revendedor autorizado (CONAMA, 2008). Na Figura 6 observa-se as simbologias de uso obrigatório citadas.

Figura 6 - Simbologias adotadas para pilhas e baterias

Fonte: Resolução 401, CONAMA 2008.

Outro ponto importante da resolução é o estabelecimento de locais inadequados de descarte dos resíduos, de forma que não é permitida a disposição de pilhas e baterias da seguinte forma:

I - lançamento a céu aberto, tanto em áreas urbanas como rurais, ou em aterro não licenciado;

II - queima a céu aberto ou incineração em instalações e equipamentos não licenciados;

III - lançamento em corpos d’água, praias, manguezais, pântanos, terrenos baldios, poços ou cacimbas, cavidades subterrâneas, redes de drenagem de águas pluviais, esgotos, ou redes de eletricidade ou telefone, mesmo que abandonadas, ou em áreas sujeitas à inundação (CONAMA, 2008)

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Ademais, a Resolução 401 foi alterada pela Resolução número 424 de 2010, revogando apenas o inciso 16, que trata das normas de importação de baterias chumbo-ácido, níquel-cádmio e óxido de mercúrio. Todas as demais diretrizes e normas da resolução 401 foram mantidas (CONAMA, 2010).

● Resolução 452, de 02 de julho de 2012

A Resolução 452 dispõe sobre a importação de resíduos perigosos e seu depósito, sistematizando procedimentos de controle conforme as normas existentes na Convenção da Basiléia e a lei 12305/2010 (CONAMA, 2012).

A resolução discorre sobre as proibições e procedimentos de controle no capítulo II, e também são apresentadas diversas exigências para importação de resíduos não perigoso, tais como:

I - regularidade perante o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais (CTF), gerenciado pelo IBAMA;

II - apresentação de licença ambiental do Destinador de Resíduos, expedida pelo órgão ambiental competente;

III - laudo técnico atestando a classificação da carga de resíduos que esteja sendo importada, exceto nos casos onde houver dispensa fundamentada do IBAMA;

IV - atendimento às normas nacionais e internacionais de acondicionamento e transporte, bem como observância dos cuidados especiais de manuseio em trânsito, inclusive interno, além da previsão de ações de emergência para cada tipo de resíduo;

V - cumprimento das condições estabelecidas pela legislação federal, estadual e municipal de controle ambiental pertinente quanto à armazenagem, manipulação, utilização e reprocessamento do resíduo importado, bem como de eventuais resíduos gerados nesta operação, inclusive quanto à sua disposição final (CONAMA 2012).

É válido salientar que essa resolução dispõe sobre os resíduos sólidos de uma forma geral, tendo uma grande abrangência, e não especificamente sobre os resíduos eletroeletrônicos, ou parte deles. Esta, no entanto, discorre sobre alguns compostos presentes nos REE em sua classificação dos resíduos perigosos classe I, como mostra o exemplo abaixo:

Resíduos que tenham como elementos constitutivos: Y19 Carbonilos metálicos

Y20 Berílio; composto de berílio Y21 Compostos de cromo hexavalentes Y22 Compostos de cobre

Y23 Compostos de zinco

Y24 Arsênico; compostos de arsênico Y25 Selênio; compostos de selênio Y26 Cádmio; compostos de cádmio Y27 Antimônio; compostos de antimônio Y28 Telúrio; compostos de telúrio

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3.3.1.3 Normas ABNT

A Associação Brasileiras de Normas Técnicas (ABNT) foi fundada em 28 de setembro de 1940 e, desde então, é reconhecida pela sociedade brasileira como o Foro Nacional de Normalização. É uma entidade sem fins lucrativos, responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (ABNT NBR), além de avaliar a conformidade e dispor de programas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental (ABNT, 2014).

Na temática dos resíduos eletroeletrônicos, a ABNT promoveu um grande avanço ao lançar, em 19 de março de 2013, a norma NBR 16156:2013, elaborada pela Comissão de Estudo de Normalização Ambiental para Produtos e Sistemas Elétricos e Eletrônicos (CE-03:111.01) do Comitê Brasileiro de Eletricidade (ABNT/CB-03). A norma está em consonância com a PNRS e se aplica a organizações que atuam com a manufatura reversa de resíduos eletroeletrônicos (REE), estabelecendo requisitos para um sistema de gestão voltado à proteção do meio ambiente e ao controle dos riscos de segurança e saúde dos trabalhadores envolvidos nos processos de reciclagem destes resíduos. Além disso, discorre sobre requisitos específicos relacionados à responsabilidade por substâncias perigosas, a rastreabilidade dos resíduos recebidos e o balanço de massa até a disposição (ABNT, 2013).

A manufatura reversa é o principal processo do sistema logística reversa dos REE e consiste na descaracterização dos equipamentos, separando seus componentes, com o objetivo de reciclar suas matérias primas e dar uma destinação final adequada aos componentes não recicláveis. Dessa forma, o procedimento permite a reutilização de partes dos produtos e a inserção destas em novos ciclos produtivos, contribuindo para o reuso de outros aparelhos. Segundo os termos e definições descritos no item 3. da NBR 16156:2013:

3.7. descaracterização: processo que visa proteger a marca e as informações da empresa ou usuário contratante que possam estar contidas nos resíduos eletroeletrônicos, como selos de patrimônio, logotipos e dados eletrônicos;

3.15. manufatura reversa: etapas da atividade de reciclagem que compreendem os processos de transformação dos resíduos eletroeletrônicos em partes e peças, insumos ou matérias-primas, sem a obtenção de novos produtos (ABNT, 2013).

A estrutura normativa da NBR 16156:2013 foi baseada na ABNT NBR ISO 14001:2004 (ABNT, 2004), um documento de origem internacional que especifica as normas de um Sistema de Gestão Ambiental e permite que organizações planejem, monitorem e melhorem seu desempenho ambiental. No entanto, a norma de 2013 possui várias inserções específicas relacionadas à proteção do meio ambiente e à segurança e saúde no trabalho (SST) (EWALD; MOREIRA DE MORAES, 2016).

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Segundo o item 4.1. da NBR 16156:2013, é de responsabilidade da organização estabelecer, documentar, implementar, manter e continuamente melhorar um sistema de gestão para REE, além de definir e documentar o escopo de seu sistema (ABNT, 2013).

3.3.2 União Europeia 3.3.2.1 Diretiva WEEE

As Diretivas da Comunidade Europeia são documentos que fixam recomendações e objetivos quanto a um determinado assunto e são elaboradas em consenso de um ou mais países membros. No entanto, após entrar em vigor, cabe a cada país participante elaborar a sua própria legislação, adaptando a abordagem do documento e determinando os próprios meios com base nas instâncias nacionais. Tal processo recebe o nome de ​transposição e deve ser realizado dentro do prazo pré-determinado pela própria diretiva (UNIÃO EUROPEIA, 2011).

Desde a década de 70, com a Diretiva 75/442/CEE relativa aos resíduos, já se adotavam medidas para promover a prevenção, reciclagem e transformação de resíduos nas Comunidades Europeias (FARIA, M., 2014). Dentro da temática de gestão de resíduos eletroeletrônicos, duas Diretivas foram estabelecidas pela União Europeia, a WEEE ( ​Waste Eletrical and Eletronic Equipment​) e a RoHS (​Restriction of the use of Hazardous Substances​). A Diretiva WEEE ou Diretiva dos Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos foi inicialmente publicada em 27 de janeiro de 2003, sob o código 2002/96/EC, regulamentando o gerenciamento de REE nos países da União Europeia. Alguns países membros, entretanto, já debatiam o assunto desde 1991, quando declararam o fluxo destes resíduos como um debate prioritário (MENDES et. al., 2016). Em dezembro de 2008, foi proposta uma revisão da Diretiva 2002/96/EC, resultando na publicação de uma nova versão, em 4 de julho de 2012, sob o código 2012/19/EU.

A WEEE complementa a legislação geral da Comunidade Europeia a respeito da gestão dos resíduos, a chamada Diretiva 2008/98/EC, entre outras legislações sobre o tema, e visa impedir ou reduzir os efeitos negativos, ambientais e à saúde humana, resultantes da geração e gestão de REE e do uso de recursos, contribuindo para uma melhor eficiência do uso dos mesmos e para um desenvolvimento sustentável. Ela tem como base o conceito de Responsabilidade Estendida do Produtor (REP), que será abordado com mais clareza em outro momento deste texto, e seus principais objetivos são:

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- Aplicar formas de valoração aos REE, como reutilização e reciclagem, a fim de diminuir a quantidade destes que se deve eliminar, aumentando a eficiência no uso dos recursos;

- Melhorar o desempenho ambiental do ciclo de vida dos REE, incluindo todos os seus atores e processos; (UNIÃO EUROPEIA, 2012).

A WEEE atual passou por algumas fases de implementação: 1) 13/08/2012:​ entrou em vigor;

2) 14/08/2014: prazo de transposição para o direito nacional, revogando, assim, a anterior; revogação da antiga 2002/96/EC;

3) 13/08/2012 - 14/08/2018: período de transição, no qual o escopo da Diretiva atual é idêntico ao da primeira (dez categorias de equipamentos eletroeletrônicos (EEE) mais os painéis fotovoltaicos, adicionados à diretiva com aplicação imediata). As categorias abrangidas nesse momento são:

1. Grandes eletrodomésticos 2. Pequenos eletrodomésticos

3. Equipamentos informáticos e de telecomunicações 4. Equipamentos de consumo e painéis fotovoltaicos 5. Equipamentos de iluminação

6. Ferramentas elétricas e eletrônicas (com exceção de ferramentas industriais fixas de grandes dimensões)

7. Brinquedos e equipamento de desporto e lazer

8. Aparelhos médicos (com exceção de todos os produtos implantados e infectados) 9. Instrumentos de monitorização e controle

10. Distribuidores automáticos (UNIÃO EUROPEIA, 2012).

4) A partir de 15/08/2018: o escopo da Diretiva passa a abranger todos os EEE, “escopo aberto”, e classificá-los em seis categorias, além de excluir alguns do âmbito aplicação, como, por exemplo, equipamentos feitos para serem enviados para o espaço. As categorias em questão são:

1. Equipamentos de regulação da temperatura

2. Telas, monitores e equipamentos com telas de superfície superior a 100 cm2 3. Lâmpadas

4. Equipamentos de grandes dimensões (com qualquer dimensão externa superior a 50 cm)

5. Equipamentos de pequenas dimensões (com nenhuma dimensão externa superior a 50 cm)

6. Equipamentos informáticos e de telecomunicações de pequenas dimensões (com nenhuma dimensão externa superior a 50 cm) (UNIÃO EUROPEIA, 2012).

Há, também, as exceções de EEE, aos quais a Diretiva em questão não se aplica em nenhuma das fases de implementação, são eles:

- Armas, munições ou qualquer equipamento destinado a proteção e segurança dos países membros;

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- Equipamentos que fazem parte e/ou só funcionam integrados com outros EEEs não abrangidos pela Diretiva em questão;

- Lâmpadas incandescentes (UNIÃO EUROPEIA, 2012).

Dentre as inúmeras diretrizes abordadas pela WEEE, segue alguns aspectos que se destacaram:

- Design ou concepção dos produtos: incentiva-se a produção de EEE visando facilitar os meios para a reutilização, desmontagem, valorização e tratamento dos mesmos. Para tanto, a cooperação entre produtores e operadores de reciclagem é de grande importância e deve ser encorajada.

- Coleta seletiva: sabendo-se que a separação e recolha seletiva dos EEE é pré-requisito para reutilização, reciclagem e tratamento correto destes, providências devem ser tomadas para atingir um alto índice de coleta, garantindo proteção à saúde da população e ao meio ambiente. Para tanto, deve-se assegurar que: as instalações de coleta e reciclagem estejam disponíveis e acessíveis para que os consumidores e distribuidores possam entregar seus resíduos, sem encargos; que os distribuidores se responsabilizem pelo recebimento, sem encargos, de cada novo produto fornecido; que os produtores sejam autorizados a criar e aplicar sistemas de devolução, e que financiem, ao menos, a recolha, tratamento, valorização e eliminação em condições ambientais adequadas; entre outras medidas.

Com relação ao transporte e disposição final dos REEs recolhidos, deve-se proibir a eliminação dos equipamentos e seus componentes sem tratamento prévio. Deve-se assegurar que a coleta, o transporte e o tratamento destes resíduos sejam feitos nas condições necessárias para garantir os processos de reutilização, reciclagem e confinamento dos mesmos. Um tratamento adequado deve contar, também, com a remoção de todos os fluidos e de substâncias perigosas.

- Taxa de coleta: é de responsabilidade do produtor atingir uma taxa de coleta mínima anual, calculada na forma de porcentagem, com base no peso total de REE recolhidos em um determinado Estado, em um ano, e no peso médio de EEE colocados no mercado, nesse mesmo Estado, nos três anos anteriores.

● Até dezembro de 2015: 4 kg/hab de REE ou a quantidade média de REE que foi coletada no Estado nos três anos anteriores, conforme o maior destes valores.

● De 2016 a 2019: 45% do peso total de REE recolhidos em um determinado Estado, em um ano.

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- 65% do peso médio dos EEE colocados no mercado nos três anos anteriores no Estado-Membro em questão.

- Ou 85% dos REE gerados no território desse Estado-Membro, em peso. Cabe ao Estado decidir como prefere medir a taxa anual.

- Objetivos mínimos de recuperação: desde 15 de agosto de 2018, as metas de recuperação em vigor mostram, em porcentagem, os REE que devem ser valorizados e os que devem ser preparados para reuso ou reciclagem, e foram estabelecidas com relação às seis categorias de REEs já comentadas acima:

a) Categoria 1 ou 4 (equipamentos de regulação da temperatura ou de grandes dimensões): 85% e 80%, respectivamente;

b) Categoria 2 (telas e monitores): 80% e 70%, respectivamente;

c) Categoria 5 ou 6 (equipamentos de pequenas dimensões, incluindo os de informática e de telecomunicação): 75% e 55%, respectivamente;

d) Categoria 3 (lâmpadas): não há meta de valorização e 80% devem ser reciclados. Tais porcentagens são calculadas levando em consideração o peso dos REE, por categoria, recebidos nas instalações de valorização ou de reciclagem e reutilização, após tratamento adequado, e o peso, também por categoria, de todos o REEs proveniente da coleta seletiva.

- Financiamento: cada produtor deve arcar com os custos de operações relacionadas aos resíduos gerados pelos seus produtos, podendo atender a essa obrigação de forma individual ou com sistemas coletivos. Os produtores devem financiar no mínimo a coleta, tratamento, valorização e a disposição final adequada dos REE domésticos depositados nos pontos de coleta. Os estados-membro podem estimular que os produtores financiem a coleta em toda cadeia, ou seja, os custos de coleta domiciliar e de envio dos REE aos pontos de recolha, podendo, assim, transferir o pagamento da recolha para o consumidor no momento da compra.

- Informação: cabe aos produtores disponibilizar as informações necessárias aos consumidores a respeito da importância e necessidade da coleta seletiva, discorrendo sobre os sistemas de valorização, reuso e reciclagem de REEs existentes e os custos envolvidos nos processos, comunicando, também, o importante papel do consumidor nestes sistemas. Os produtores devem, também, disponibilizar informações referentes à reutilização, reciclagem e tratamento de cada produto, no prazo de um ano após este ser colocado no mercado, atendendo às necessidades dos centros que realizam esses processos.

Referências

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