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3.3 Iniciativas e legislações

3.3.1 Situação no Brasil

3.3.1.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos

A questão dos resíduos sólidos, por muito tempo, não foi tratada com o devido cuidado e cautela. Atualmente, a geração exacerbada de resíduos e seu manejo inadequado tem sido uma pauta muito discutida e fonte de grandes preocupações. Em resposta a esta situação, criou-se, no Brasil, a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, regulamentada pelo Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (BRASIL, 2010).

Os resíduos eletroeletrônicos (REE), que são o foco deste trabalho, vêm ganhando grande visibilidade devido à produção exacerbada e crescente descartabilidade destes produtos, além da carência de normas reguladoras sobre os processos de recuperação e descarte destes resíduos e a falta de informações ao consumidor a respeito da importância do manejo adequado destes produtos. Historicamente, existia um Projeto de Lei 2061/2007 tratando acerca da coleta, reciclagem e destinação dos resíduos eletroeletrônicos, que eram conceituados como “aparelhos eletrodomésticos e eletrônicos inservíveis”, no entanto, com o surgimento da PNRS, este se tornou ultrapassado (BRASIL, 2007).

Encontra-se maior ligação da política nacional com os REE quando a lei estabelece a responsabilidade da gestão dos resíduos entre seus segmentos, envolvendo seus geradores (importadores, distribuidores, comerciantes, fabricantes), poder público e consumidores finais, contribuindo para um gerenciamento ambientalmente adequado dos mesmos. Esta é chamada responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto e abrange todas as etapas de seu desenvolvimento, desde a obtenção de insumos e matérias-primas, todo o processo produtivo, até o consumo e disposição final destes (BRASIL, 2010). A PNRS estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos como um de seus princípios e a define como o:

conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para

Iniciativas Descrição

US State laws and the Responsible Electronic

Recycling Act

(HR2284)

Nos Estados Unidos, 25 estados apresentam leis para a regulamentação da coleta de REE. A HR2284 é uma proposta de lei nacional que visa fiscalizar a exportação de do resíduo eletrônico e certificar os equipamentos eletrônicos que são destinados para exportação.

minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos (BRASIL, 2010).

Segundo o Art. 30 da Seção II da PNRS, os objetivos da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos são:

I – compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis;

II – promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas;

III – reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais;

IV – incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade;

V – estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis;

VI – propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade; VII – incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental. (BRASIL, 2010)

Dessa forma, nota-se que o compartilhamento das responsabilidades entre as etapas de desenvolvimento de um produto visa um gerenciamento mais sustentável do ciclo de vida do mesmo, promovendo a redução da geração de resíduos e o reaproveitamento destes pela sua própria cadeia produtiva, por outras cadeias ou por meio da reciclagem, promovendo, assim, um ciclo fechado e uma redução no uso de recursos naturais (CASTRO, 2014).

A implementação do princípio de responsabilidade compartilhada é feita a partir de instrumentos como o ecodesign, a coleta seletiva e sistemas de logística reversa. Segundo Guelere Filho et al. (2008), o ecodesign é um método de projetar novos produtos a partir de uma visão ecologicamente correta e sustentável, avaliando todas as etapas do ciclo de vida do produto em questão, visando evitar ou diminuir os impactos que este pode causar ao meio ambiente, sem comprometer outros aspectos como desempenho, funcionalidade, estética, qualidade e custo. Por mais que não seja tratado diretamente no texto da Lei 12305/10, o ecodesign tem sido uma ferramenta de gestão ambiental muito utilizada por atividades empresariais.

A coleta seletiva é considerada um dos instrumentos da PNRS e foi definida, segundo o Art. 3º da Lei 12305/10, como a “coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição”. Ou seja, para atender ao princípio de responsabilidade compartilhada dentro do âmbito dos REE, a coleta seletiva destes resíduos

só pode ser realizada após prévia segregação destes segundo a sua composição ou de quais equipamentos eles se originaram.(BRASIL, 2010)

Assim como a coleta seletiva, a logística reversa (LR) também é um instrumento da PNRS, no entanto sua definição é mais ampla e seu conceito ainda está em evolução. Rogers, Tibben-lembke (1998), por exemplo, definem logística reversa como: “o processo de planejamento, implantação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias primas, estoque em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem, com o propósito de recapturar o valor ou destiná-lo à sua apropriada disposição ” (ROGERS, TIBBEN-LEMBKE, 1998).

Segundo Leite (2003), o conceito de logística reversa abrange o planejamento, operação e controle de dois canais de distribuição reversos, o de pós-venda e o de pós-consumo, que agregam aos bens valores de diferentes naturezas (ambiental, legal, econômica, entre outros). O primeiro diz respeito aos ​“bens de pós-venda” que retornam ao ciclo produtivo sem ser utilizados pelo consumidor, por razões como problema de qualidade, arrependimento ou erro na escolha, entre outros motivos. O segundo trata dos ​“bens de pós-consumo”​, ou seja, bens que foram utilizados pelo consumidor e retornam para o ciclo produtivo por sua vida útil ter chegado ao fim ou por serem considerados inservíveis pelo proprietário original, mas ainda podem ser utilizados (LEITE, 2003).

Já a Lei 12305/10, em seu Art. 3º, define logística reversa como:

XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada; (BRASIL, 2010)

Observa-se, portanto, que, na abordagem da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a logística reversa aplica-se aos “​bens de pós-consumo”​. Segundo o Art. 33 da Lei 12305/10, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de alguns desses “ ​bens de pós-consumo​” são obrigados a aplicar sistemas de logística reversa, independente do serviço público de manejo de resíduos sólidos e de limpeza urbana, são eles:

I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;

II - pilhas e baterias; III - pneus;

IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes. (BRASIL, 2010)

Ou seja, os responsáveis pela cadeia produtiva dos produtos eletroeletrônicos devem criar um sistema de retorno para os mesmos, incluindo coleta, mediante a devolução pelo consumidor, armazenamento, transporte e disposição final adequada. A PNRS ressalta que todos os envolvidos no sistema de retorno, com exceção dos consumidores, devem manter registros e informações completas disponíveis, a respeito da realização de atividades de sua responsabilidade, e, também, prevê a divisão da responsabilidade pelo ciclo de vida do produto, na abordagem da logística reversa (BRASIL, 2010):

- Consumidores​: responsáveis pela devolução dos produtos pós-consumo aos comerciantes ou distribuidores;

- Comerciantes e distribuidores ​: responsáveis pela devolução dos produtos aos fabricantes ou importadores;

- Fabricantes e importadores ​: responsáveis por dar uma destinação ambientalmente adequada aos produtos recebidos, sendo os rejeitos encaminhados para uma disposição final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).

A Lei 12305/10 estabelece que a implantação da logística reversa pode ser feita a partir de três instrumentos:

- Regulamento expedido pelo poder público: LR poderá ser implantada por regulamento, veiculado por decreto do Poder Executivo, mediante avaliação de viabilidade pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), e precedidos de consulta pública.

- Acordos setoriais​: LR poderá ser implantada por atos de natureza contratual firmados entre os responsáveis pelo ciclo de vida do produto e o Poder Público, sendo que o processo pode ser iniciado por ambos os lados.

- Termos de compromisso: quando não houver acordo setorial ou regulamento específico em uma mesma área de abrangência, ou quando for necessário estabelecer compromissos e metas mais exigentes do que as já existentes em um acordo setorial ou regulamento, a LR poderá ser implantada por termos de compromisso entre o Poder Público e os responsáveis pelo ciclo de vida do produto (BRASIL, 2010).

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