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1.6 – O Papel dos Bancos na Sociedade

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A lucratividade dos bancos contrasta com a imagem negativa que parte da opinião pública em relação aos bancos. Segundo estudo da publicitária Vera Aldrigui, “Somos Todos Iguais” (2004), numa hipotética escala de credibilidade, os banqueiros estão à frente somente dos políticos.

Certamente, o fato de lidar com dinheiro de terceiros e lucrar com isso pode passar a falsa impressão de que “os bancos estão lucrando em cima do meu dinheiro”. Outra suposição seria de que as pessoas pagam altas taxas e tarifas para os bancos e podem não estar enxergando valor nos serviços prestados. Ao menos na mesma proporção que esses serviços são cobrados.

Talvez essa imagem negativa e a própria vocação histórica dos bancos para o mecenato explique a atuação dessas instituições em causas sociais. É lógico que existem incentivos fiscais, mas por trás de suas Fundações, Centros Culturais e patrocínios está uma estratégia de humanizar a imagem dos bancos e reverter a percepção negativa da opinião pública, com demonstrações de responsabilidade social.

Conforme artigo disponível no site da Febraban - Federação Brasileira de Bancos – em que são sumarizadas informações sobre o Seminário sobre Responsabilidade Social e Ambiental dos Bancos (FEBRABAN, [ca.2005] data aproximada), vários fatores contribuem para entender a importância do papel dos bancos na sociedade, descritos na seqüência desse item.

A relação dos bancos com a sociedade já apresenta números representativos, segundo Antonio Jacinto Matias, vice-presidente do Banco Itaú: “são 74 milhões de correntistas, 68 milhões de poupadores e 30 bilhões de transações por ano. E os canais

de atendimento somam mais de 99 mil pontos de atendimento e 141 mil caixas eletrônicos” (apud FEBRABAN, [ca.2005] data aproximada).

Se por um lado os números apontam, atualmente, um sis tema financeiro eficiente, com instituições que têm investido permanentemente em tecnologia, a contrapartida também é grande: perante a sociedade, os bancos se comprometem a oferecer expansão do crédito e conseqüentemente promover o desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural, entre outros fatores.

Esse tipo de preocupação motivou a criação dos sistemas de ouvidoria, considerados dos mais eficientes entre os setores da economia brasileira. Exemplo dessa preocupação por parte dos bancos foi a divulgação, em campanha publicitária realizada em 2005, por parte do Banco Itaú, que coloca um canal de atendimento direto ao público, com o discurso: “O Itaú quer ouvir você”.

Segundo mensagem do diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do Banco Central, Sérgio Darcy, “o conceito de empresa socialmente responsável é amplo e envolve todos os agentes que, de alguma forma, sejam relacionados com as instituições financeiras. São eles: acionistas, colaboradores, fornecedores, consumidores, governo e meio-ambiente” (apud FEBRABAN, [ca.2005] data aproximada).

Além disso, esse tipo de conduta pode ser mais do que uma estratégia para posicionar a imagem das instituições junto aos públicos de seu relacionamento, também pode ser uma estratégia de negócios. É possível comparar essa linha de atuação dos bancos com exemplos em outros setores da economia, como investir na preservação da natureza e obter lucro a partir dessa iniciativa. Em artigo publicado no site WM Mulher, seção Trabalho & Companhia, conforme relatório da Parceria Pobreza-Meio Ambiente, que foi patrocinado pela ONU e divulgado em setembro de 2005, cada US$ 1 investido no combate à degradação da terra e à desertificação, com obras para conter a erosão, pode gerar ao menos US$ 3 em benefícios. Ou ainda, cada US$ 1 destinado para proteção dos recifes de corais pode representar US$ 5 gerados pelas atividades de turismo de mergulho e assegurar a renovação dos estoques de peixes para pesca (PASCHOAL, 2006).

Iniciativas como a do o ex-vice-presidente dos Estados Unidos no governo de Bill Clinton, Al Gore, ganham visibilidade, pois tem conseguido cativar platéias pelo mundo em palestras sobre aquecimento global e conquistado o apoio de vários empresários. Al Gore criou um fundo de investimentos para apoiar novas empresas que

apresentem políticas ecologicamente sustentáveis. Há ainda casos com outros líderes de grandes corporações mundiais:

O CEO do banco Goldman Sachs, Hank Paulson, dirige uma das maiores ONGS ambientalistas dos Estados Unidos. E decidiu que uma área de 680.000 acres na Patagônia chilena, recebida pelo banco em troca de empréstimos não saldados, fosse transformada em área de preservação. O CEO da gigante British Petroleum, Lord John Browne, vai investir US$ 8 bilhões em pesquisas de tecnologia de energias renováveis, como a solar, eólica e hidrogênio. Browne está no conselho de outra ONG ambientalista. Só uma forte onda verde poderia transformar um chefão de uma companhia petrolífera em líder ambientalista (LORES, 2006).

São vários os exe mplos que ilustram que ser socialmente ou ambientalmente responsável pode render mais que uma causa social: pode ser uma questão de sobrevivência no futuro e uma oportunidade de repensar a estrutura atual dos negócios.

No caso dos bancos, ações de empréstimos com base em critérios socioambientais, por exemplo, podem levar em conta na avaliação se empresas, cuja área de atuação apresente potencial de ocorrência de desastres ecológicos que acarretem pesadas multas, tenham capacidade de honrar seus compromissos juntos às instituições financeiras. Há cinco tipos de riscos nos financiamentos a empresas potencialmente geradoras de passivos ambientais: risco legal, operacional, de mercado, de crédito e risco reputacional (FEBRABAN, [ca.2005] data aproximada) - um dos casos mais notórios de prejuízo para uma marca em decorrência de problemas socioambientais é o da Nike, que foi acusada de utilizar trabalho escravo na Ásia.

Os princípios do Equador, um conjunto de regras de conduta social e ambiental estabelecidas pela International Finance Corporation – IFC, já têm 34 bancos como signatários em todo o mundo, sendo quatro bancos nacionais e 10 instituições com filiais no Brasil (FEBRABAN, [ca.2005] data aproximada). O interessante é que são bancos privados que aderiram aos princípios espontaneamente.

A preocupação com questões socioambientais pode render aos bancos expressivos ganhos de imagem corporativa perante a sociedade, reduzindo seus riscos. Esse tipo de estratégia sustenta ações do tipo decoração de Natal com destaque para o BankBoston, o Banco Real e o Santander Banespa, em São Paulo, e o HSBC, em Curitiba.

Outro indicador da importância do papel dos bancos na sociedade foi demonstrado no seminário da Febraban, evento que por si só já demonstra o interesse crescente dos bancos pelo tema. O resultado da pesquisa Institucionalização da Responsabilidade

Social nos Bancos, apresentada pela analista Elvira Cruvinel Ferreira Ventura, do Departamento de Organização do Sistema Financeiro do Banco Central, indicou que, em geral, as ações direcionadas à responsabilidade “vêm ganhando força nas instituições financeiras que atuam no país. O estudo foi realizado com um total de 29 bancos mais a Febraban. Das 30 instituições pesquisadas, metade (15) já apresentam balanços sociais” (FEBRABAN, [ca.2005] data aproximada).

Os volumes de recursos destinados pelos bancos a ações voltadas à sociedade traduzem a importância que essas instituições passaram a dar a esse assunto:

Em 2004, os bancos investiram R$ 244,7 milhões em educação, R$ 298,9 milhões em cultura e preservação do patrimônio histórico e R$ 63,5 milhões em ações com o apoio da lei Rouanet e outros R$ 201,3 milhões em outras áreas - como esporte, saúde e terceira idade - totalizando R$ 826 milhões em investimentos sociais (FEBRABAN, [ca.2005] data aproximada).

Os investimentos em educação abrangeram alfabetização, educação profissionalizante, apoio a bibliotecas, ao esporte, com investimento em infra-estrutura e patrocínios, como a presença do Banco do Brasil apoiando o vôlei nacional.

Os grandes bancos no Brasil mantêm várias atividades de responsabilidade socioambientais, inclusive através de suas fundações. Até pouco tempo as ações eram pouco divulgadas, pois temiam parecer mercantilistas. Esta discussão sempre foi muito forte no terceiro setor, mas a partir do momento em que a sociedade começou a valorizar cada vez mais este aspecto, o puritanismo foi vencido pelos homens de marketing e, dia-a-dia, vemos cada vez mais os bancos divulgando suas ações através dos meios de massa, a ponto de virar, por exemplo, o posicionamento mercadológico do ABN Amro Bank (Banco Real).

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