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Durante o processo de desenvolvimento profissional ao quais os aprendentes licenciandos estão submetidos ao ingressarem em uma IES com o proposito de serem futuros professores e profissionais de educação, existe a necessidade constante de reflexão a respeito das práticas aos quais estão sendo conduzidos sob o jugo de professores formadores, estes que anteriormente já se configuraram como aprendentes em algum momento de sua trajetória traz para a sua prática profissional aquilo que de maior significância o confluiu para que chegasse a tal estado.

A exigência para tornar formador de formadores requer além da base conceitual, também uma sólida experiência para atuar na docência universitária. Para Maria da Graça

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Mizukami (2005) ao refletir sobre a formação de formadores, tece as seguintes considerações sobre esta categoria.

Pode-se dizer que, de maneira geral, não há preparação formal para o formador; que em muitas áreas do conhecimento os processos seletivos relacionados à contratação docente em Instituições de Ensino Superior priorizam a linha de pesquisa e não a docência e que as iniciativas visando propiciar processos de desenvolvimento profissional, durante o desempenho das atividades profissionais, têm ‘traduções’ idiossincráticas, ficando na dependência de como cada instituição, em particular, concebe a formação do formador e como tal formação está contemplada nos respectivos planos de desenvolvimento institucional. Via de regra não se encontra explicitação formal de um currículo direcionado à formação do formador que contemple quem a IES considera como formador e o que esse formador deve saber e fazer de forma a ir ao encontro do professor que se pretende formar direcionado para tipos de modelos educativos explicitados (MIZUKAMI, 2005, p.8).

Tal situação revelada pela pesquisadora supracitada traz considerações sobre a predominância de alguns aspectos para contratação de formadores em detrimento de outros na comunidade e ambiente educacionais das IES, especialmente quando se promovem concurso para formar o quadro de formadores de professores nas licenciaturas. Portanto a preponderância teórica do professor formador estará atrelada ao modelo teórico adotado ao longo da sua qualificação, modelo que estará aderente as suas pesquisas.

Destarte, os licenciandos/pibid destacam que durante a seu processo de formação a percepção da presença de uma teoria crítica como a PHC, em suas aulas na licenciatura dependia da aderência e do conhecimento do professor formador sobre esta teoria conforme pontuam os pibidianos P1, P3 e P5

P1 [...] acho que isso deve muito dos professores que estão ministrando as disciplinas e as correspondências filosóficas que eles adotam então o professor e o ensino de química não foi a B e não foi o C e tenho certeza, acredito que, se eles estivessem nessa disciplina teriam focado mais.

P3 [...] tem matérias que o professor trabalha com outras questões, então depende dos professores como B, H ou E o que estão voltados mais para esta causa tem a questão do professor levar esta causa com eles, se o professor trabalha com a questão da PHC ele vai levar isso para sua sala de aula.

P5 [...] Na verdade, às vezes o professor não diz que está adotando a PHC, mas pelo decorrer da sua aula pela sua criticidade pela sua crítica ao sistema imposto.

O curso de licenciatura em Química da UFBA apresenta em seu quadro de professores formadores (ANUNCIAÇÂO, 2011; MORADILO et. al., 2014; GONZALEZ; CUNHA, 2016) que publicam pesquisas e trabalhos que tomam como referência a emancipação humana, incorporando a PHC para que possam promover além dos conhecimentos específicos da área de química, novos conhecimentos relacionados à visão do ser social no contexto sócio-hitórico, em busca da construção de uma nova perspectiva para a formação de profissionais de educação.

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De acordo com Newton Duarte (2015, p.5) a “concepção de mundo, ou visão de mundo, é constituída por conhecimentos e posicionamentos valorativos acerca da vida, da sociedade, da natureza, das pessoas (incluindo-se a autoimagem) e das relações entre todos esses aspectos”. Conforme expressa o aluno P3

P3 [...] eu consegui ver uma visão diferente do que é ser professor, que é justamente não só passar o conteúdo para os alunos, mas de formar cidadãos, deles formarem mais criticamente, de ter uma visão mais ampla não só da química, tipo, eu vou ensinar química mais não é só a química, é formar cidadãos que eles sejam mais amplamente, que eles vejam a sociedade do jeito como é atualmente.

P5 [...] a gente vê as diversas pedagogias mais até mesmo pela preferência da professora, no caso a professora D, a gente vê um pouco mais da PHC ela fica mais aprofundada não que as outras fiquem deficientes, mas a gente dá o foco nela. Nestes termos o formador (professor) carrega a sua visão de mundo para prática profissional que está exercendo, influenciando e sendo influenciado por diferentes correntes de pensamentos e vicissitudes que se materializaram também em seu percurso formativo, carregando consigo um modelo pedagógico pré-estabelecido, subjetivo e próprio já antecipadamente enraizado que irá emergir como referência em suas representações tácitas de ensinar. Segundo Gramsci (2001)

todo grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e político. (GRAMSCI, 2001, p.15 apud GIMENES, 2016, p. 38).

Segundo Duarte (2015) esta concepção de mundo é simultaneamente individual e coletiva, possui características peculiares que correspondem às particularidades da vida de cada indivíduo, porém nunca deixa de ser criada coletivamente nos conteúdos ou em suas formas. Sendo que este coletivo no qual a concepção de mundo assegura existir pode variar em sua amplitude e chegar até o limite da universalidade do gênero humano.

O grau de individualização da concepção de mundo poderá variar, a depender das possibilidades socialmente existentes de desenvolvimento da individualidade. Quanto mais uma pessoa se desenvolva como uma individualidade para si (DUARTE, 2013), mais individualizada será sua concepção de mundo e, ao mesmo tempo, mais ela será representativa da universalidade do gênero humano.

Na concepção dos licenciandos pibidianos, a construção desta visão de mundo está atrelada ao exercício profissional destes educadores formadores, que ao ministrar suas aulas demonstram suas representações pedagógicas implícitas. Conforme se expressa nas falas de P1, P3 e P5

P3[...] Depende do professor que esteja ministrando a disciplina, pois tem professores que não trabalham com esta questão, tem matérias que o professor

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trabalha com outras questões, então depende dos professores como A, B ou C, que estão voltados mais para esta causa, tem a questão do professor levar esta causa com eles se o professor trabalha com a questão da PHC ele vai levar isso para sua sala de aula.

P1[...] eu fiz algumas disciplinas da dimensão prática em 2013[...] eu não tive a oportunidade de ser aluno da prof. B ou C e tenho certeza, acredito que se eles estivessem nessa disciplina teriam focado mais,[...] Eu acho que isso deve muito dos professores que estão ministrando as disciplinas e as correspondências filosóficas que eles adotam.

P5[...] Para mim o professor deve conhecer todas as pedagogias e todas as ferramentas que ele pode utilizar a pedagogia que ele ira adotar tem muito a ver com sua visão de mundo, e a PHC tem uma base marxista e pela base filosófica tem o materialismo histórico dialético, então o professor pode assumir a PHC simplesmente por ele ter esta visão de mundo [...] o professor que tem essa visão de mundo que está associada à PHC, no meu entender, vai trabalhar melhor com a PHC do que aquele que não tem.

De fato as relações sociais que vivemos historicamente nos impregnam a ponto de nos tornamos seres reprodutores de diversas práticas em nossas vidas que sucedem inconscientemente ou até mesmo com a consciência de que tais ações e atitudes podem estar desconexas dos habitus sociais vigentes. Em relação à consciência que criamos no desenvolver de nossas vidas Duarte (2013) salienta que todos nós iniciamos nossa vida como indivíduos em si, onde nossa formação se dá espontaneamente no cotidiano. Para este autor, o ser humano precisa superar essa condição de ser em si para alcançar a condição de ser livre racional e universal. Mas para que isso ocorra, é preciso que o indivíduo tome a si próprio, à sua atividade, à sua inserção nas relações sociais, à sociedade na qual ele vive, como objeto de reflexão crítica, como objeto de apropriação crítica e de transformação. Portanto esta formação da individualidade para si “é um processo de transformação, uma transformação que não é solitária e sim solidária, que se realiza por meio da educação, por meio do outro, de maneira deliberada, intencional. É um processo de transformação consciente” (DUARTE, 2013, p.71).