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4.3. O PIBID E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE.

4.3.1. O PIBID como formação complementar

Em publicação recente apresentada por Cleomar Locatelli (2018) sobre o PIBID e a política nacional de formação de professores, o autor discorre sobre o mérito que do programa

84 O projeto PIBID/UFBA 2014-2018 traz a necessidade de atuação nas escolas com baixos índices educacionais

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PIBID e toda a extensa rede que ele alcançou, mas faz um chamado de alerta, para o fato de que este programa não deixa de guardar importante relação com os mesmos pressupostos de qualidade do mercado, que pouco se preocupa com o preparo intelectual do professor, “que se torna elemento de menor importância onde o saber fazer, nos extremos, se desvincula do domínio teórico e científico” (LOCATELLI, 2018, p.311).

Como aprendentes de uma profissão, os estudantes de licenciatura devem estar inseridos em processos formativos que devem coadunar teoria e prática, de forma conectada com as necessidades da sociedade, requisição estabelecida pelos decretos federais que definem as Diretrizes Curriculares Nacionais para educação no país (RESOLUÇÕES CNE/CP nº 1/2002; 2/2002; 2/2015; 2/2017)85. Nestes, as orientações são claras quanto à formação de estudantes das licenciaturas plenas nas diferentes IES, existe um movimento de articulação para a superação das dicotomias expressas nos modelos de formação docente, que se fundamentaram na racionalidade técnica86 enquanto resquícios dos currículos de formação a partir da década de 70.

Reservada as devidas competências para a formação de professor em diferentes áreas a o programa PIBID, veio se apresentar como proposta de incentivo ao ingresso e a permanência de alunos em formação, pois funciona como um locus que possibilitem experienciar esta formação, através de ações bem conduzidas por professores das graduações e professores em serviço (supervisores) que buscam coadunar os objetivos da formação básica aos objetivos dispostos nos projetos políticos pedagógicos das escolas participantes (BRASIL, 2010).

Segundo o plano de ação do subprojeto PIBID/Química, as ações realizadas nas escolas são combinadas entre os diversos participantes do projeto no início de cada semestre letivo, o planejamento das ações busca atender às demandas dos professores das escolas participantes, e promove o dialogo dos referenciais teóricos discutidos em cada componente curricular da dimensão prática, o que conduz à elevação da qualidade da formação inicial de professores, articula teoria e prática e mobiliza os professores do ensino médio como co- formadores dos licenciandos, ampliando a sua prática pedagógica e contribuindo para a formação continuada.

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A tese de Tais Andrade dos Santos (2018) traz um quadro cronológico sobre os documentos oficias que regulam as licenciaturas em nosso país, intitulada Diretrizes Reestruturadoras das Licenciaturas no Brasil: Reflexões sobre um Currículo de Transição do Curso de Licenciatura em Física.

86 Os modelos mais difundidos de formação de professores são aqueles relacionados ao modelo da racionalidade

técnica. De acordo com esse modelo, também conhecido como a epistemologia positivista da prática, “a atividade profissional consiste na solução instrumental de um problema feita pela rigorosa aplicação de uma teoria científica ou uma técnica”. (SCHÖN 1983, p. 21, apud DINIZ-PEREIRA, 2014).

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Ressaltamos que, sobre o currículo da licenciatura em Química da UFBA, a PHC não norteia o currículo da licenciatura, apenas aparece transversalmente (PINHEIRO, 2016) conforme constata os licenciandos P6, P4, P2 e P1, ao serem questionados sobre a presença desta teoria em seu curso

P6: [...] eu ouvi falar do PHC no PIBID, quando eu entrei no PIBID eu só ouvia todo mundo falar de PHC e CTS, eu me perguntava o que é CTS e PHC, por que eu não sabia, e até o momento as matérias que eu havia pegado da dimensão prática do curso de licenciatura não havia falado sobre isso, e eu não sabia o que era eu vim saber, o que significava no PIBID, através do PIBID.

P4: [...] Vi muito de forma estanque, pontual, tipo algum professor comentar ou algum artigo que você lê da disciplina, ele comentar alguma coisa, falar, mas nas discussões do PIBID sim.

P2: [...] Às vezes, eu acho que até a formação aqui é um pouco deficitária, por que a gente vê pouco à parte da PHC [...] a PHC eu tive conhecimento realmente apenas com B., em termos de PIBID e acompanhar trabalhos [...] para mim o conhecimento desta pedagogia só teve através do PIBID, por que geralmente tinha palestras, que eram apresentados alguns referenciais teóricos e tudo, cursos de formação, daí eu tive mais contato.

P1: [...] Ela não esteve presente mais por aproximação mesmo, teve o esforço do professor E. [...] teve um curso sobre formação crítica dialética, no PIBID que foi aberto.

Os ingressantes no PIBID perfazem o caminho curricular acadêmico da licenciatura em Química assim como todos os demais alunos do curso, porém, encontra-se em tempo- espaço diferentes deste curso e podem ser do curso noturno como diurno; conforme delimitamos em nossa pesquisa, estes licenciandos optaram por trabalhar com PHC no primeiro semestre de 2017.1. Através dos discursos dos licenciandos é possível perceber que enquanto teoria pedagógica com viés materialista, crítico e dialético, a PHC não foi especificamente aprofundada enquanto uma teoria crítica de ensino-aprendizagem nas diferentes disciplinas cursadas por licenciandos em diferentes estágios do percurso acadêmico.

Percebemos que o papel do PIBID/Química não se restringe apenas a aplicação “dos referenciais teóricos discutidos em cada componente curricular da dimensão prática”, mas consegue funcionar como uma complementação curricular, pois apresenta novos conteúdos teóricos através de processos formativos como palestras, seminários e cursos, que servem para instrumentalizar os licenciandos em conteúdos que não fizeram parte dos componentes curriculares para a formação do licenciando em química. A partir do momento que o licenciando passa a ter contato no PIBID, com cursos de formação e outras atividades como seminários e apresentações de trabalhos, ele passa a compreender sua formação como “deficitária”, pois constrói uma visão mais crítica sobre a sua formação.

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Para o estudante P5, essa teoria pedagógica esteve presente na licenciatura

P5: [...] Além do PIBID, o estágio, pois são 4 estágios e eu fiz em dois anos, e a gente vê as diversas pedagogias, mais até mesmo pela preferencia da professora F, a gente vê um pouco mais da PHC, ela fica mais aprofundada não que as outras fiquem deficientes, mas a gente da o foco nela.

Evidencia-se novamente a complementação dada pelo PIBID na formação do licenciando, quanto à inserção de uma teoria pedagógica crítica e ao mesmo tempo ressalta a condução dada por determinado professor formador estar relacionada à sua preferencia teórica. Consideramos que nesta fala, evidencia-se que o professor formador que coadune com os fundamentos teóricos da PHC, pretende contribuir na formação de um indivíduo emancipado humanamente, “que não sirva só para saber os seus direitos e cumprir os seus deveres, mas que seja crítico o suficiente para romper com eles quando estes forem injustos e aprisionadores” (PINHEIRO, 2016, p. 106).