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8 FORMAS DE INTERAÇÃO ENTRE O TERCEIRO SETOR E O PODER

8.2 PARCERIAS

Parceria é um acordo de vontades, um ajuste, firmado entre o poder público e as entidades privadas qualificadas como OSCIP, que se concretiza por intermédio do termo, no qual são registrados os direitos e as obrigações das partes, visando ao fomento e à execução das atividades de interesse público descritas na Lei nº 9.790/99 (Lei das OSCIPs).

Através da parceria, o Estado incentiva a iniciativa privada a se interessar por atividades consideradas de interesse social, bem como viabiliza ou divide o risco de um grande investimento em obra pública.

Para Sílvio Luís Ferreira da Rocha parceria, no seu sentido amplo enquanto forma de colaboração entre o poder público e o particular, é definida como instrumento destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes para o fomento e a execução das atividades de interesse público, a ser firmado entre o poder público e as OSCIPs.217

Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro parceria designa “todas as formas de sociedades que, sem formar uma nova pessoa jurídica, são organizadas entre os setores público e privado, para a consecução de fins de interesse público. Nela existe a colaboração entre o Poder Público e a iniciativa privada nos âmbitos social e econômico, para satisfação de interesses públicos, ainda que do lado do particular se objetive o lucro. Todavia, a natureza econômica da atividade não é essencial

216 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração Pública, 5ª edição, São Paulo: Atlas, 2006, p.

251. Thompson

217

ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Coleção Temas de Direito Administrativo – Terceiro Setor. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 51.

para caracterizar a parceria, como também não o é a idéia de lucro, já que a parceria pode dar-se com entidades privadas sem fins lucrativos que atuam essencialmente na área social e não econômica.”218

Maria Nazaré Lins Barbosa afirma que a expressão termo de parceria designa, de modo mais específico, a relação que se estabelece entre o poder público e as entidades sem fins lucrativos qualificadas como OSCIPs (organizações da sociedade civil de interesse público). De fato, a Lei nº 9.790/99 e o Decreto nº 3.100/99 que a regulamentou, utilizam a expressão termo de parceria para designar o acordo ou ajuste estabelecido entre ambos. O Decreto nº 3.100/99 estabelece que a escolha da entidade parceira pode ser feita mediante concurso entre as entidades interessadas e qualificadas como OSCIPs.219

A parceria é um instrumento que pode proporcionar ao ente público atingir vários objetivos, podendo ser formalizada de diferentes maneiras. Pode ser utilizada como forma de delegação da execução de serviços públicos aos particulares por intermédio da concessão e permissão; constitui uma forma de cooperação do particular na execução de atividades próprias da Administração Pública por intermédio da terceirização; é introdução da iniciativa privada nos assuntos de interesse público, efetivada por meio de convênios ou contratos de gestão e como instrumento de desburocratização e instalação da administração pública gerencial realizada através de contratos de gestão.

A Parceria Público-Privada está regulamentada em nosso Ordenamento Jurídico na Lei nº 11.079, de 31 de dezembro de 2004, responsável por instituir as normas gerais para licitação e contratação sob este modelo, concebido para atrair o investimento privado em setores onde este não demonstra interesse em arcar sozinho com os custos, os riscos ou ainda a demora do retorno do capital investido.

218 Apud ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Coleção Temas de Direito Administrativo – Terceiro Setor. São Paulo:

Malheiros Editores, 2003, p. 52/51.

219

BARBOSA, Maria Nazaré Lins/ Carolina Felippe de Oliveira. Manual de ONGs – Guia prático de orientação jurídica. Rio de Janeiro: Editora: Fundação Getúlio Vargas. 5ª edição, 2004, p. 130.

Fato é que ao investir pesadas somas na infra-estrutura e no desenvolvimento da Nação, o capital privado continua perseguindo sua missão precípua que é a de gerar lucro ao investidor. Deste modo, alguns setores de atividade não se mostram tão atraentes face aos riscos envolvidos na remuneração do capital investido, sendo em alguns casos até mesmo duvidoso esse retorno, afastando a iniciativa privada em arcar com tal mister.220

Para amenizar os efeitos da falta de interesse do capital privado em investir em determinados setores econômicos, as PPPs surgem como uma alternativa para que o poder público não necessite efetuar sozinho todo o desembolso necessário para realizar determinados investimentos, dividindo os riscos e amenizando o vultoso dispêndio de recursos.

Apenas a título de ilustração sobre o montante dos valores envolvidos nesse tipo de atuação conjunta, destaca-se que a Lei proíbe a Parceria Público- Privada para contrato inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais), período de prestação do serviço inferior a 5 (cinco) anos (§ 4º do art. 1º) e superior a 35 anos (art. 5º, § I) e que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução de obra pública (§ 4º do art. 1º).

Ora, pelos valores envolvidos nos empreendimentos suscetíveis de serem objeto dessas parcerias ficam claras as vantagens em se dividir os riscos e o desembolso entre capital público e privado, haja vista que o primeiro sem a ajuda do segundo é obrigado a procrastinar diversas obras em função do eterno problema de falta de recursos disponíveis e o segundo se esquiva de arriscar tamanha quantia de recursos sem uma garantia de retorno mais palpável.

220

CAGGIANO, Monica Herman Salem; LEMBO, Cláudio (coordenadores). Direito Constitucional econômico: uma releitura da constituição econômica brasileira de 1988. Barueri: Minha Editora, 2007. Série Culturalismo Jurídico.

Interessante considerar que a Lei institui a criação, em seu Artigo 16, de um fundo garantidor destinado a prestar garantia de pagamento de obrigações assumidas pelos parceiros. De natureza privada e patrimônio próprio, separado do patrimônio dos cotistas, tal fundo é sujeito a direitos e obrigações próprios, sendo criado, administrado, gerido e representado judicialmente e extrajudicialmente por instituições financeiras, cujo controle é realizado direta ou indiretamente pela União.

Por serem neófitas em nosso Ordenamento, essas parcerias ainda não podem ser corretamente avaliadas, especialmente ante a complexidade das obrigações atinentes aos atores envolvidos em sua maturação. Entretanto, embora recente em nosso arcabouço jurídico, cabe ressaltar que esse instituto não é novo em outros ordenamentos, vez que países como Inglaterra e Estados Unidos, para citar alguns, vêm paulatinamente implementando esse sistema com relativo sucesso.

Deve-se levar em conta que a natureza das PPPs é o compartilhamento de riscos, sendo que com a adoção do sistema o que se espera é a efetivação do princípio da eficiência previsto no artigo 37 da Constituição Federal, uma vez que a empresa privada arca com o investimento e, concluída a obra, o Governo realiza o desembolso conforme a quantidade e a qualidade dos serviços colocados à disposição dos cidadãos, possibilitando ao Estado priorizar serviços essenciais como a saúde e a educação.