2.3 As creches participantes da pesquisa
3. Participantes da Pesquisa
em vista que a formação era realizada, até então, pela própria gestora que apesar da formação superior em Assistência Social, possui ampla experiência nesse setor devido ao trabalho desenvolvido em creches ao longo do período em que atuou na Secretaria de Assistência Social de São Paulo, como técnica e supervisora de creches, cargo esse trocado pela gestão das creches.
No fim de 2005, com o término da assessoria, realizei uma entrevista com as coordenadoras e, a partir desse momento, minha atuação passou a ser apenas de pesquisadora. De março a outubro de 2006 realizei a coleta dos dados nos encontros mensais de formação.
3. Participantes da Pesquisa
Nesta seção apresento os participantes da pesquisa. São considerados participantes desta pesquisa: 1) 1 pesquisadora; 2) 1 gestora; 3) 29 professoras; 4) 2 coordenadoras e 2 diretoras e 5) 18 pessoas da equipe de apoio (limpeza, cozinha, zelador). À primeira vista essa quantidade excessiva de participantes pode parecer inviável para uma pesquisa de mestrado com tempo tão reduzido, no entanto, esse fato se justifica pelo corpus não ter sido coletado de forma isolada ou individual, e sim nos encontros de formação. Não destaquei nenhum sujeito focal (Gil, 2002), como é de praxe nesse tipo de coleta, foquei minha análise na transcrição dos encontros, considerando o grupo como um todo; tendo em vista que o trabalho se desenvolveu com a participação coletiva, as falas são representativas e expressam o desenrolar da pesquisa. Descrevo, a seguir, brevemente, o papel desempenhado nas creches e o posicionamento dos colaboradores com relação à pesquisa.
3.1 Participantes
Pesquisadora. Como já apresentado na introdução deste trabalho, minha inquietação com o tema Currículo de Educação Infantil não é recente, é uma busca que acompanha minha prática há algum tempo.
Mesmo tendo atuado com formação de professores em diversas creches no período em que era diretora, minha atuação principal sempre se deu em escola
particular, com um contexto absolutamente diverso do vivenciado nos CEIs, principalmente nos localizados em bairros periféricos da cidade de São Paulo, que apresentam graves problemas como falta de recursos financeiros das famílias, falta de informação, maus tratos de crianças em alguns casos (da falta de higiene à violência), condições de vida precária (famílias que residem na favela Vila União, onde o CEI 2 se localiza, convivem com a falta de água que não sobe o morro).
Interessei‐me muito em desenvolver a pesquisa em um contexto tão cheio de dificuldades, em primeiro lugar, como um desafio e como uma possibilidade de verificar até que ponto o trabalho poderia ser realizado nessas condições; e em segundo lugar pela própria disponibilidade dos CEIs que estavam realmente interessados em novas soluções e propostas de trabalho viáveis, desse modo, os CEIs se mostraram um terreno fértil para minhas aspirações de pesquisadora.
Nesse contexto, também observei a escolaridade dos professores que atuam
com crianças, assim, com a possibilidade de re‐construção coletiva, surgiram questões como: “De que maneira desenvolver um trabalho realmente engajado com o grupo?” “Que mudanças seremos capazes de realizar?”, entre tantas outras questões.
Gestora. Responsável pela gestão da Associação, atua nas unidades dando suporte às diretoras e coordenadoras, principalmente. É responsável pela administração, pela coordenação e planejamento de todos os aspectos que envolvem uma entidade como: gestão do serviço, de pessoas, de recursos, da comunidade/sociedade e do conselho diretor56. Possui formação superior em
Assistência Social e pós‐graduação latu sensu em Gestão em Terceiro Setor. Minha empatia e envolvimento com a gestora foi praticamente imediata, acredito que isso se deveu ao fato de termos muitas coisas em comum como ideais e opiniões. Entre nós, logo se desenvolveu uma relação de mútua amizade, envolvimento e comprometimento, sua atuação e importância dentro desta pesquisa foi fundamental e credito a ela grande parte dos resultados obtidos durante o processo. Desde a sugestão da re‐elaboração coletiva do currículo até a última coleta, sua participação foi total. Ela participou discutindo e preparando os
encontros de formação, bem como, durante os encontros de formação, dividiu tarefas e responsabilidades.
Diretoras e Coordenadoras. A diretora do CEI 1 possui formação superior em Assistência Social e está cursando Pedagogia; a diretora do CEI 2 possui formação superior em Pedagogia. As duas coordenadoras possuem formação superior em Pedagogia. Todas as quatro exercem suas funções há mais de um ano na Associação, são comprometidas com o trabalho e com o cargo que ocupam.
Devido à posição mais voltada para questões administrativas, e com o andamento geral do CEI, as diretoras tiveram uma participação mais periférica durante o processo, pois as responsabilidades atribuídas às diretoras dentro do CEI se voltam mais para a gestão da unidade do que para o envolvimento com as questões pedagógicas. Mas mesmo assim, ambas participaram dos encontros de formação e das discussões de preparação dos encontros.
As coordenadoras tiveram papel importante em todo o processo; além da gestora, foram minhas grandes interlocutoras e responsáveis pelo aprofundamento das questões teóricas discutidas nos encontros de formação. Coube também às coordenadoras o suporte diário às professoras e equipe de apoio. Em minhas visitas periódicas às unidades discutíamos questões que surgiam no dia‐a‐dia, trocávamos textos, enfim, buscávamos juntas soluções paras as questões que foram aparecendo ao longo do processo.
Professores e Equipe de Apoio. O envolvimento da equipe de apoio nos encontros de formação foi fundamental, pois a atuação dessa equipe relaciona‐se diretamente com as questões curriculares que foram discutidas. É importante que as propostas sejam integradas para que todos os envolvidos com a criança tomem as mesmas atitudes e, principalmente, tenham as mesmas posturas. As cozinheiras, que mantém contato direto com as crianças nos horários das refeições, devem estar cientes de como se desenvolve o trabalho de autonomia, por exemplo, para serem capazes de manter a mesma postura com as crianças, permitindo que elas exerçam essa autonomia para escolher que alimentos desejam comer. Do mesmo modo, a organização espaço‐tempo perpassa por diversos setores, assim, dentro da rotina diária das crianças deve se prever, por exemplo, o momento da limpeza da sala de
modo que as faxineiras tenham tempo de realizar seu trabalho com qualidade e em momentos que as crianças não ocupam esse ambiente.
Os professores das duas unidades, na grande maioria, trabalham na associação há mais de três anos, o grupo é engajado e interessado. Os professores realizam o trabalho apoiados de perto pelas coordenadoras, são estimuladas e recebem um pequeno abono da Associação pelas tarefas extraclasse como: elaboração do planejamento mensal das atividades, caderno de observação, relatórios das crianças, entre outras atividades. Como reflexo da situação global da educação infantil, menos da metade delas não possui habilitação específica para atuar com crianças, ou seja, de 29 professores 13 não possuem formação mínima, e cinco estão cursando o ensino superior, como mostra o quadro a seguir:
Quadro 16. Formação dos Professores do CEI 1 e CEI 2.
Formação CEI ‐ 1 CEI‐2 Total
1º grau completo 6 1 7 2º grau completo 2 4 6 Magistério 4 5 9 Graduação – cursando 3 2 5 Graduação – completo 0 2 2 29
4. As perguntas de Pesquisa
Como toda pesquisa, esta também passou por diversas modificações. O objetivo inicial era somente realizar um mapeamento dos currículos de educação infantil por meio do levantamento dos textos prescritos que regulamentam o trabalho e os planejamentos realizados nas duas creches. Como já discutido, iniciei a coleta de dados com uma entrevista com as coordenadoras das duas creches, que mostrou como o currículo utilizado fora idealizado pela direção da creche e por uma das coordenadoras (a outra ingressara há pouco tempo). As professoras não haviam participado e a utilidade desse currículo era exclusivamente a de um documento oficial, não embasava o trabalho desenvolvido, questão essa extremamente comum nas escolas.
Frente às mudanças ocorridas, o foco se modificou de modo que, o objetivo desta pesquisa é examinar e comparar diferentes versões de Currículos de Educação Infantil por meio da análise das representações que se configuram sobre a criança, o professor, a concepção de ensino aprendizagem e os conteúdos nos seguintes documentos: 1) prescrição do MEC ‐ Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI); 2) Currículo‐I elaborado em 2005 nos CEIs e 3)transcrição dos Encontros de Formação que tiveram o objetivo de elaborar colaborativamente um Currículo‐II. As perguntas, a seguir, orientam a discussão: 1. Quais as representações que se configuram no material prescrito pelo MEC (RCNEI) sobre a criança, o professor, a concepção de ensino‐aprendizagem e os conteúdos? 2. Quais são as representações que se configuram no Currículo‐I, das creches, sobre a criança, o professor, a concepção de ensino‐aprendizagem e os conteúdos? Em que diferem, ou não, daquelas apontadas nos textos prescritos analisados anteriormente?
3. Quais são as representações construídas pelos participantes da pesquisa em uma interação desenvolvida no processo de elaboração do Currículo‐II sobre a criança, o professor, a concepção de ensino‐aprendizagem e os conteúdos?
5. Procedimentos de Coleta
Esta seção objetiva discutir os instrumentos utilizados como fonte para coleta de dados. Foram utilizados os seguintes instrumentos: uma entrevista com cada coordenadora; o material prescrito pelo MEC ‐ o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil; o Currículo idealizado pelas Creches, e Encontros de Formação com toda a equipe da creche. Dada a quantidade de dados, foi necessário, além da delimitação do corpus, a sua divisão em duas categorias, dados principais e dados secundários, sendo que os primeiros foram analisados e os segundos serviram apenas de suporte. A seguir, mostro essa divisão.