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2.3 As creches participantes da pesquisa

5. Procedimentos de Coleta

desta  pesquisa  é  examinar  e  comparar  diferentes  versões  de  Currículos  de  Educação Infantil por meio da análise das representações que se configuram sobre  a  criança,  o  professor,  a  concepção  de  ensino  aprendizagem  e  os  conteúdos  nos  seguintes  documentos:  1)  prescrição  do  MEC  ‐  Referencial  Curricular  Nacional  para  a  Educação  Infantil  (RCNEI);  2)  Currículo‐I  elaborado  em  2005  nos  CEIs  e  3)transcrição  dos  Encontros  de  Formação  que  tiveram  o  objetivo  de  elaborar  colaborativamente um Currículo‐II. As perguntas, a seguir, orientam a discussão:    1. Quais as representações que se configuram no material prescrito pelo MEC  (RCNEI) sobre a criança, o professor, a concepção de ensino‐aprendizagem  e os conteúdos?    2. Quais são as representações que se configuram no Currículo‐I, das creches,  sobre  a  criança,  o  professor,  a  concepção  de  ensino‐aprendizagem  e  os  conteúdos?  Em  que  diferem,  ou  não,  daquelas  apontadas  nos  textos  prescritos analisados anteriormente? 

 

3. Quais são as representações construídas pelos participantes da pesquisa em  uma  interação  desenvolvida  no  processo  de  elaboração  do  Currículo‐II  sobre  a  criança,  o  professor,  a  concepção  de  ensino‐aprendizagem  e  os  conteúdos? 

 

5. Procedimentos de Coleta

 

Esta  seção  objetiva  discutir  os  instrumentos  utilizados  como  fonte  para  coleta de dados. Foram utilizados os seguintes instrumentos: uma entrevista com  cada  coordenadora;  o  material  prescrito  pelo  MEC  ‐  o  Referencial  Curricular  Nacional  para  a  Educação  Infantil;  o  Currículo  idealizado  pelas  Creches,  e  Encontros de Formação com toda a equipe da creche. Dada a quantidade de dados,  foi  necessário,  além  da  delimitação  do  corpus,  a  sua  divisão  em  duas  categorias,  dados principais e dados secundários, sendo que os primeiros foram analisados e  os segundos serviram apenas de suporte. A seguir, mostro essa divisão.  

5.1 A entrevista

 

A entrevista, como parte dos dados secundários, não foi analisada, somente  utilizada para demonstrar a posição inicial e a mudança de direção da pesquisa. A  entrevista pode ser definida como uma “audiência entre duas pessoas, em local e hora 

previamente  combinados”  (Dicionário  Aurélio,  verbete  entrevista).  A  partir  dessa 

definição, fica claro que a interação estabelecida em uma entrevista não acontece  de  forma  espontânea e  casual.  No  entanto,  a  entrevista  é um  instrumento  muito  utilizado  em  trabalhos  científicos  devido  a  seu  papel  de  “facilitador  da  revelação 

daquilo  que  o  informante  sabe  e  que  o  entrevistador  precisa  saber”  (Rocha;  Daher  & 

Sant’Anna, 2004), ou seja, é uma conversa com propósitos definidos anteriormente. 

  As  entrevistas  foram  realizadas  com  as  coordenadoras,  separadamente.  O 

objetivo inicial era realizar um levantamento da situação e organização geral das  creches, apresentar um panorama sobre a equipe, como o trabalho pedagógico se  desenvolvia e como o currículo havia sido idealizado. No entanto, essas entrevistas  acabaram  por  desencadear  a  mudança  de  orientação  da  pesquisa.  Os  excertos  a  seguir mostram: a coordenadora do CEI‐1 afirmando ter participado, mas não se  recorda exatamente como foi a elaboração do currículo, e a coordenadora do CEI‐2  que ainda não trabalhava na unidade quando foi elaborado:    Quadro 18. Entrevista com as Coordenadoras CEI 1 e CEI 2.  P= pesquisadora; C1= coordenadora do CEI 1     P= (...) Hum...Como que foi elaborado o Projeto Político Pedagógico?  C1= O Pro...O Projeto Político Pedagógico foi eu... foi elaborado por nós mesmas ... as diretoras das  unidades  P= Hum   C1= (...) né... nós... no começo do ano nós fizemos:: e colocamos ... elas (professoras) não tiveram  participação, nem da comunidade e nem do grupo de funcionárias  P= É eu ia perguntar quem elaborou... Mas então foram... as ... as diretoras e você  C1= (...) diretoras e coordenadoras  P= Ah! Vocês fizeram ... você fez da sua unidade  e a outra fez da outra unidade ou foi ... foram ...   C1= Olha eu acho que foi mais ou menos ... foi unificado... foi uma coisa meio global...    P= pesquisadora; C2= coordenadora do CEI 2    P= Como que foi ... existe por exemplo um ... no Projeto Político Pedagógico ... existe alguma coisa  que regulamenta esse trabalho com a seqüência:: com a ... síntese, não? Isso não está no projeto, né? 

Foi passado pra você do jeito que estava ...  C2= ((negando com a cabeça))  P= Você sabe quem... acho que não ... Quem elaborou? Você sabe quem foi ... quem  elaborou?  C2= Ah:: se eu não me engano... foi a:: diretora ... com a:: antiga coordenadora   P= Ah ...ta... Então foram as diretoras e as coordenadoras  C2= Isso   

5.2 O Material prescrito: o Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil - RCNEI

 

Para  iniciar  a  pesquisa,  busquei  na  prescrição  do  MEC  o  Referencial  Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI, daqui para frente), formulado  em 1998, o contraponto inicial. Apesar de outros documentos mais atuais que se  seguirem  a  este,  percebo  a  força  do  Referencial  dentro  das  instituições  de  atendimento à criança, por esse motivo, esse documento foi escolhido como parte  do corpus a ser analisado. 

No ano em que foi entregue o Referencial, também, foi instituído o Parecer  22 que estabeleceu que as propostas contidas no Referencial Curricular Nacional  para  a  Educação  Infantil  (RCNEI),  assim  como  os  esforços  dos  Estados  e  Municípios no sentido de qualificar os programas de educação infantil, não tinham  caráter mandatório, mesmo considerando suas contribuições para o trabalho dos professores 

de  educação  infantil.  Esse  parecer,  muito  provavelmente,  se  apresentou  como 

resposta às críticas ao Referencial. 

Com isso, acreditava‐se que a autonomia das instituições seria garantida de  modo que cada instituição pudesse escolher a proposta pedagógica que desejasse,  desde que norteados pelos princípios das Diretrizes Curriculares Nacionais57. Na 

discussão  dos  resultados,  aprofundo  a  questão  relativa  ao  caráter  mandatário  do  RCNEI (Cf. Cerisara, 2002; Kuhlmann Jr., 2000).  

Cerisara (2002) alerta para essa pseudoliberdade, reforçando a possibilidade  de descolamento do RCNEI: 

 

Dentro  desse  contexto  o  RCNEI  deve  ser  lido  como  um  material  entre  tantos  outros  que  podem  servir  para  as  professoras  refletirem  sobre  o  trabalho  a  ser  realizado  com  as  crianças  de  0  a  6  anos  em  instituições 

coletivas de educação e cuidado públicos. Além disso, vale reforçar que  ele  não  é  obrigatório  ou  mandatório.  Ou  seja,  nenhuma  instituição  ou  sistema de ensino deve se subordinar ao RCNEI a não ser que opte por  fazê‐lo.  Como  orientação  nacional  a  área  dispõe  das  ʺDiretrizes  Curriculares  Nacionaisʺ  que  de  forma  clara  apresentam  as  diretrizes  obrigatórias  a  serem  seguidas  por  todas  as  instituições  de  educação  infantil.  Essas  diretrizes  definem  os  fundamentos  norteadores  que  as  Propostas  Pedagógicas  das  Instituições  de  Educação  Infantil  devem  respeitar (Cerisara, 2002:10‐11) [grifos meus]. 

 

 

5.3 Os Encontros de Formação

 

Os  Encontros de  Formação  realizaram‐se mensalmente com a participação  de  todo  o  grupo  dos  dois  CEIs.  Isso  foi  possível,  pois  a  Coordenadoria  de  Educação de São Paulo determina que mensalmente as creches devem realizar o  que  se  convencionou  chamar  de  “Parada  Mensal”;  essas  paradas  são  realizadas  com  a  suspensão  do  atendimento  à  criança,  sendo  considerado  dia  normal  de  trabalho  para  toda  a  equipe,  que  deve  utilizar  o  dia  para  formação.  Assim,  os  encontros de formação foram realizados nesses dias.  

Como a proposta de trabalho coletivo era a mesma para as duas creches, os  encontros  foram  realizados  com  as  duas  equipes  juntas, alojadas  alternadamente  em  uma  das  unidades.  Quando  as  questões  eram  mais  pontuais  e  relacionadas  diretamente ao contexto específico de cada creche, o grupo era dividido.  

Os encontros eram planejados mensalmente por mim, pela gestora e pelas   as coordenadoras e diretoras dos CEIs. Ao final de cada encontro, eu transcrevia as  fitas, e o material coletado (trabalhos em grupo, avaliações, e outros materiais) e  preparava  o  relatório  dos  encontros.  Com  todo  esse  material,  eu  a  gestora  discutíamos os avanços e pensávamos nos próximos passos. Nossas experiências se  complementavam: eu com o conhecimento pedagógico e ela com o conhecimento  do grupo, assim, os encontros eram pensados de forma a se adequar ao interesse  do grupo e de acordo com os avanços obtidos no encontro anterior.  

Depois  que  as  discussões  eram  realizadas  com  a  gestora,  eu  levava  nossa  proposta para as creches, normalmente realizava uma ou duas visitas mensais em  cada unidade. Na semana que antecedia o encontro de formação, discutia com a  diretora,  e  a  coordenadora  de  cada  unidade,  a  proposta  de  trabalho  para  o  encontro; elas davam suas contribuições e assim os encontros eram idealizados. 

A dinâmica utilizada favorecia as discussões em grupo, e criava espaço para  que  todos  se  colocassem,  algumas  vezes  individualmente,  mas  na  maioria  das  vezes em pequenos grupos.  

   

5.4. Delimitação do Corpus

 

Devido  à  grande  quantidade  de  material  coletado  nos  Encontros  de  Formação  realizados  de  março  a  dezembro  de  2006,  ao  tamanho  do  material  prescrito  ‐  RCNEI,  e  ao  currículo‐1  para  analisar,  foi  necessário  realizar  uma  delimitação  desse  corpus,  ou  seja,  parte  do  material  foi  selecionada  para  ser  analisado  e  fazer  parte  desta  dissertação.  O  corpus,  então,  foi  dividido  em  dados 

primários, e parte do material não analisada e utilizada somente como apoio; dados 

secundários.