CAPÍTULO I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.4. Currículo e as Teorias de Ensino-Aprendizagem
2.4.1 Pressupostos Teóricos do Ambientalismo ou Behaviorismo
Nesta seção discuto o currículo orientado pelos princípios do ambientalismo ou comportamentalismo, seus autores e a orientação desse modelo de currículo.
Esse paradigma, derivado do empirismo de Locke, Berkeley e Hume (Fidalgo, 2002), veio contrapor‐se ao paradigma introspectivo da psicologia. Destaca‐se, nessa corrente, Burrhus Frederic Skinner (1904/1990) que foi inspirado pelas pesquisas de Edward Lee Thorndike (1874/1949). John Watson (1878/1958)13,
psicólogo americano, foi o fundador do behaviorismo e estudou, em seu doutorado, as pesquisas de Ivan Pavlov (1949/1936).
A etimologia da palavra contribui para a sua definição – ambientalismo corresponde ao estudo do meio ambiente, desse modo, é possível compreender que essa concepção afirma que o ambiente é o responsável direto pelo desenvolvimento do homem, o que equivaleria a dizer que o homem, assim como os animais, desenvolve suas características em função dos estímulos recebidos do meio ambiente (Davis & Oliveira, 1994).
Por esse motivo, as pesquisas realizadas por Watson incluíam animais, homens e bebês. As pesquisas realizadas com bebês comprovavam a eficácia dos sons, das imagens e das palavras como operadores do comportamento. Experimentos verificavam determinadas reações nos bebês, de acordo com diferentes estímulos, como por exemplo: sons fortes produziam medo; obstáculos aos movimentos corporais provocavam ira; e palmadinhas, cócegas ou carícias (contato físico) provocavam alegria. Com isso, o pesquisador sustentava que toda atividade humana é condicionada e condicionável, argumentando que não existia consciência, buscando‐se assim o controle do comportamento. Hoje em dia, suas idéias poderiam ser consideradas um tanto radicais, como demonstra o segmento abaixo:
Um dos livros mais lidos de Watson sobre a educação dos filhos contém o seguinte conselho: “Nunca as abrace ou beije (as crianças), nunca as deixe sentar‐se em seu colo. Se preciso, beije‐as uma vez na testa quando dizem boa noite. Dê‐lhes um aperto de mão” (Watson, 1928b, pp.81‐82)14
(Fadiman & Frager, 1986:191).
13 Datas e bibliografias disponíveis em: http://pt.wikipedia.org. Acesso em: 06/11/06
Por sua vez, Thorndike desenvolveu a “Lei dos efeitos” que foi a base dos trabalhos desenvolvidos por Skinner. A lei estabelecia que: 1) a situação é associada ao ato quando este produz satisfação, e quando a situação é reproduzida, a possibilidade de repetição do ato é maior do que antes; 2) a punição não se compara em absoluto ao efeito positivo da recompensa a uma determinada resposta; 3) o efeito de prazer fixa o acerto (resposta) acidental; 4) o agradável é o sucesso do ensaio realizado pelo sujeito e o desagradável é o fracasso decorrente de obstáculos.
Do mesmo modo, Thorndike estabeleceu mais duas leis: 1) “Lei da prontidão”, que consiste na afirmação de que uma série de respostas podem ser unidas para satisfazer alguma meta, se bloqueada resulta em aborrecimento, 2) “Lei do Exercício”, que estabelece que as conexões se fortalecem com a prática e se enfraquecem quando a prática é descontinuada (Thorndike,1932).
Seguindo essa linha de pesquisa, Skinner e Pavlov, herdeiros intelectuais de Watson e Thorndike, desenvolveram diversas pesquisas com animais. Skinner utilizou ratinhos em seus experimentos. Para obter água o rato deveria utilizar um pedal na gaiola, com isso o pesquisador constatou a possibilidade de condicionar o comportamento animal, bem como extingui‐lo por meio da punição. No caso, o ratinho passou a receber choques quando tocava o botão, assim seu comportamento se modificou até não recorrer mais ao pedal. Pavlov estudou os reflexos condicionados e as reações físicas a estes, seu experimento mais famoso foi desenvolvido com cães que recebiam comida juntamente com a emissão de um sinal luminoso. O pesquisador constatou que depois de um tempo o sinal luminoso era capaz de provocar salivação nos cães (reação corporal ao estímulo), mesmo sem a comida (Fadiman & Frager, 1986).
Portanto, observa‐se que as pesquisas desenvolvidas pelos psicólogos comportamentais tinham o objetivo de explicar os comportamentos observáveis do homem, mas não se preocupavam com outros aspectos do desenvolvimento humano como raciocínio, desejos, imaginação, por exemplo. Para Skinner, o papel do ambiente era mais importante do que a maturação biológica; esse pesquisador afirmava que o comportamento recebe reforço quando o resultado é positivo, levando a um aumento na freqüência com que o comportamento aparece, e
quando as conseqüências são negativas recebe a punição; a tendência, nesse caso, é a diminuição ou extinção do comportamento (Davis & Oliveira, 1994).
Com isso, pode‐se dizer que a aprendizagem, segundo esse paradigma, acontece pelo ensaio e erro, ou como discute Fidalgo (2002) pela experiência, o que para Mizukami (1986), evidencia a origem empirista dessa corrente. Segundo Cunha (1998), os psicólogos comportamentalistas afirmavam que qualquer organismo pode ser conduzido a agir mediante condicionamento, portanto, a educação é tida como um arranjo de estímulos ambientais corretamente organizados para reforçar respostas adequadas.
O Comportamentalismo ensina como instalar respostas novas e modificar padrões de respostas já existentes, o que o torna, em suma, um paradigma facilmente aplicável à educação. A tal ponto que o próprio Skinner, em seu livro Tecnologia do Ensino (Skinner, 1972) elaborou propostas bem delineadas para o ambiente escolar, como o ʺensino programadoʺ e o emprego de ʺmáquinas de ensinar (Cunha, 1998:10).
No entanto, Davis & Oliveira (1994) destacam que cabe a esse paradigma o mérito de levar os professores à compreensão da importância dos planejamentos, o que significa que os professores deveriam ter clareza nos objetivos a serem alcançados para que a organização da aprendizagem pudesse ser realizada. Ainda de acordo com as autoras, a maior crítica a esses psicólogos corresponde à disseminação de uma visão de educação como tecnologia, e total abandono da reflexão sobre a prática pedagógica, além de ser uma educação que desconsidera totalmente a individualidade das crianças. Como também discute Rego (2003): Os postulados do ambientalismo podem servir para legitimar e justificar diferentes (e muitas vezes antagônicas) práticas pedagógicas que variam entre o assistencialismo, o conservadorismo, o diretivismo, o tecnicismo e até o espontaneísmo. O impacto da abordagem ambientalista na educação pode ser verificado nos programas educacionais elaborados com o objetivo de estimular e intervir no desenvolvimento das crianças provenientes das camadas populares ou compensar, de forma assistencialista, as “carências sociais” dos indivíduos. Nesses casos o que está subjacente é a idéias de que a escola tem não somente o poder de formar e transformar o indivíduo como também a incumbência de corrigir os problemas sociais (Rego 2003:88).
Por esse motivo, a educação deveria transmitir conhecimentos e comportamentos éticos, práticas sociais e habilidades necessárias para controlar o meio ambiente (Mizukami, 1986). Assim, são utilizados reforços para os comportamentos desejados dos alunos, como elogio, notas, prêmios e outros, seguidos pelos reforços de uma outra categoria como aprovação no curso, diploma, possibilidade de ascensão social, entre outros. A metodologia utilizada se pauta no desenvolvimento de tecnologia capaz de, em primeiro lugar, favorecer o comportamento do aluno voltado para o estudo, e, em segundo lugar, ser eficiente na produção de novos comportamentos, em uma só palavra essa corrente preocupa‐se com a programação do aluno.
2.4.2. Currículo Baseado no Treinamento
O currículo construindo a partir dos fundamentos da psicologia ambientalista pode ser definido como um Currículo Baseado no Treinamento. Esse tipo de currículo conduziria os alunos a uma série de exercícios repetitivos, que, acreditava‐se, levariam à aprendizagem. Os professores, como detentores do saber e das técnicas, conduziriam os alunos para os conteúdos socialmente aceitos, como elucida Mizukami (1986:28): “O comportamento é moldado a partir da estimulação externa, portanto, o indivíduo não participa das decisões curriculares que são tomadas por um grupo do qual ele não faz parte”.
Desse modo, segundo Mizukami (1986), o conteúdo transmitido visaria a objetivos e habilidades que levassem à(s) competência(s). O ensino seria composto por padrões de comportamento que poderiam ser mudados por meio do treinamento, que, por sua vez, teria como objetivo atingir as categorias de comportamento ou de habilidades que se desejaria desenvolver na pessoa.
Discutido o tema, Case (1996) afirma que o objetivo da instrução programada, defendida pelos behavioristas, segue os seguintes procedimentos: 1)os objetivos de aprendizagem estabelecidos no currículo deveriam se submeter a uma detalhada análise comportamental; 2) os comportamentos iniciais dos alunos deveriam ser avaliados com rigorosos testes; 3) uma seqüência de etapas bem elaboradas deveria conduzir os alunos ‐ do comportamento inicial aos comportamentos desejados.