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A partilha do sensível para uma nova individuação colectiva No contexto comunicacional actual, em rápida transformação,

Comunicação global e nichos culturais: uma abordagem à estética das mensagens

7) A partilha do sensível para uma nova individuação colectiva No contexto comunicacional actual, em rápida transformação,

deparamos com conteúdos/mensagens não rentáveis, porque densas (ou demasiado próximas da intelectualidade), que devem transformar-se, esteticamente, até terem um «aspecto» apelativo e convincente, ou seja, comercial/comercializável. Se o conteúdo for demasiado denso, deixa de ser lúdico. Sendo o desafio tor- ná-lo lúdico, nem que seja necessário amordaçar-lhe a alma. A liberdade de expressão está muito condicionada e é pouco demo- crático o processo de comunicação que abdica de liberdades individuais e de convicções. A bem do bem-estar, do conforto, da ideia de belo e de «juventude» estabelecidos (Jacques Attali, 1999, pág. 105 e Karl Popper/John Condry, 1995, pág. 55-56). É bem-pensante, é de bom-tom e política, social e esteticamente correcto falar de certa maneira e de determinados assuntos, ou simplesmente evitar pronunciar-se sobre eles.

A comunicação global revela-se um processo de transição para uma consciência social-outra. Flutua vagamente ao sabor das necessidades criadas no cidadão/público global e nos diversos nichos culturais, de consumo, por parte da economia/política e das eternas elites pensantes, integradas na rede e/ou marginais – as elites que se manifestam a favor e contra a rede de comuni- cação global. É, então, uma densa malha de rede comunicacional em autogestão e auto-reprodução. Resta conservar um espaço para um «novo contrato social de âmbito mundial» (Luís Moita, 1999, pág. 10) ou para um novo senso comum, nesta transição paradigmática tal como propõe Boaventura de Sousa Santos no livro a publicar este ano em Portugal, A Crítica da Razão Indolen- te - Contra o desperdício da experiência. Um novo paradigma de liberdade cultural através da comunicação.

A rede cria uma unificação de todas as telecomunicações. Assim sendo, cria espaço para comunicações mais directas e próximas, mais locais e interpessoais. A rede revela-se um não-lugar exclusivo e exclusivista por onde passe «toda» a comunicação e informação do planeta. A rede é, porém, constituída por muitas intersecções/nós, por vezes muito amplos, e pode aspirar-se viver nas suas malhas. Numa simples mas paralela rede alternativa. Numa espécie de «twi- light zone», uma quinta-dimensão comunicativa, contrastante com

a comunicação quinta-essência global. Onde é possível comunicar, sentir e pensar ao mesmo tempo. Seria uma quinta-dimensão onde é, livremente, possível participar influenciando, partilhando e, quiçá, acreditando. Onde todos possam ter instrumentos de acesso a essa «dimensão comunicativa» (Pierre Bourdieu, 1996, pág. 77), numa espécie de novo lugar que poderíamos apelidar, com Jacques Rancière, regime estético, no qual o espectador emancipado expres- sa a sua vida na comum partilha do sensível.

Bibliografia

Bibliografia de referência (por data):

Mondzain, Marie-José (2015): Homo Spectator, trad. Luís Lima, ed. Orfeu Negro (Bayard, 2007), Lisboa;

Rancière, Jacques (2014): A Fábula Cinematográfica, trad. Luís Lima, ed. Orfeu Negro (Seuil, 2001), Lisboa;

Rancière, Jacques (2011): O Destino das Imagens, trad. Luís Lima, ed. Orfeu Negro (La Fabrique 2003);

Stiegler, Bernard (2010): «Do Design como Escultura Social», trad. Luís Lima, in RCL – Revista de Comunicação e Linguagens, N.º 41, Design, org. José Bártolo, ed. Relógio d’Água, Lisboa; Gil, José (2010): O Devir-Eu de Fernando Pessoa, ed. Relógio d’Água, Lisboa;

Stiegler, Bernard (2009): «Anamnese e Hipomnese, Platão primeiro pensador do proletariado», trad. Luís Lima, in RCL – Revista de Comu- nicação e Linguagens, N.º 40, Escrita, Memória, Arquivo, org. Maria Augusta Babo e José Augusto Mourão, ed. Relógio d’Água, Lisboa; Klossowski, Pierre (2008): A Moeda Viva, trad. Luís Lima, ed. Antígona, Lisboa;

Gil, José (2005): Portugal, Hoje – O Medo de Existir, ed. Relógio d’Água, Lisboa;

Mattelart, Armand (1999): A Mundialização da Comunicação, ed. Instituto Piaget, Lisboa, ed. original (1996) La Mondialisation de

la Communication, ed. Presses Universitaires de France, Paris; Attali, Jacques (1999): Dicionário do Século XXI, Editorial Notí- cias, Lisboa, ed. original (1998) Dictionnaire du XXIème Siècle, Librairie Arthème Fayard, Paris;

Ramonet, Ignacio (1999): A Tirania da Comunicação, ed. Campo das Letras, Porto, ed. original (1999) La Tyrannie de la Communi- cation, Editions Galilée, Paris;

Deleuze, Gilles e Guattari, Félix (1997): Capitalisme et Schizophré- nie 2 - Mille Plateaux, ed. Les Éditions de Minuit (orig. 1980, ed. Minuit), Lonrai.

Bibliografia específica (por ordem alfabética):

A.A.V.V. (1994): Signo, Enciclopédia Einaudi, Vol. 31, ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa;

A.A.V.V. (1999): O Fim dos Tempos, Conversas com Stephen Jay Gould, Jean Delumeau, Jean-Claude Carrière, Umberto Eco, ed. Terramar, Lisboa, ed. original (1998) Entretiens sur la Fin des Temps, Librairie Arthème Fayard, Paris;

Aristóteles: Poética, ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Estu- dos Gerais - Série Universitária, Clássicos da Filosofia, Lisboa; Bourdieu, Pierre (1996): Sur la Télévison – suivi de L’ Emprise du Journalisme, LIBER éditions, Paris;

Carmelo, Luís (1999): Anjos e Meteoros - Ensaio sobre a Instanta- neidade, ed. Editorial Notícias, Lisboa;

Condry, John e Popper, Karl (1995): Televisão: Um Perigo para a Democracia, ed. Gradiva, Lisboa;

Fortuna, Carlos (1997): Cidade Cultura e Globalização - Ensaios de Sociologia, Capítulo 4 – Culturas Globais e Culturas Locais, ed. Celta Editora, Oeiras;

Huisman, Denis (1997): A Estética, ed. Edições 70, Lisboa, ed. ori- ginal (1994), L’Esthétique, ed. Presses Universitaires de France, Paris;

Castells, Manuel e Ipola, Emílio (1982): Prática Epistemológica e Ciências Sociais, ed. Afrontamento, Porto, ed. original (1973) Pratique Épistemologique et Sciences Sociales, ed. Théorie et Poli- tique I;

Lipovetsky, Gilles (1989): A Era do Vazio, ed. Relógio d’ Água, Lis- boa, ed. original (1983) L´ Ere du Vide, ed. Gallimard, Paris; Mattelart, Armand (1997): A Comunicação-Mundo, ed. Instituto Piaget, Lisboa, ed. original (1991) La Communication-Monde – Histoire des Idées et des Stratégies, Éditions La Découverte, Paris; Mattelart, Armand (1999): A Mundialização da Comunicação, ed. Instituto Piaget, Lisboa, ed. original (1996) La Mondialisation de la Communication, ed. Presses Universitaires de France, Paris; Mello, Alexandre (1995): Velocidades Contemporâneas, ed. Assírio & Alvim, Lisboa;

Moita, Luís (1999): «Universalismo e Globalismo, discurso de sapiência», Conferência na UAL, 13 de Dezembro de 1999, Lisboa; Nogueira, Mário Marcelo (1993): Panorâmica das Artes Gráficas – Vol. I, ed. Plátano Edições Técnicas, Lisboa;

Ramonet, Ignacio (1999): A Tirania da Comunicação, ed. Campo das Letras, Porto, ed. original (1999), La Tyrannie de la Communi- cation, Editions Galilée, Paris;

Castells, Manuel (1998): «La société en réseaux, L’ère de l’infor- mation», in Le Monde Diplomatique, p. 18, edição de Agosto; Martin, Hans-Peter e Schumann, Harald (1998): A Armadilha da Globalização – O Assalto à Democracia e ao Bem-Estar Social, Ed. Terramar, Lisboa, ed. original (1996) Die Globalisierungsfalle, ed. Rowohlt Verlag, Hamburgo;

Vindt, Gérard (1999): 500 Anos de Capitalismo – A Mundializa- ção de Vasco da Gama a Bill Gates, ed. Temas e Debates, Lisboa, ed. original (1998) 500 Ans de Capitalisme: La Mondialisation de Vasco de Gama à Bill Gates, Editions Mille et une Nuits, Paris.

Publicações periódicas

JANUS 98 – Anuário de Relações Exteriores, ed. Público e Univer- sidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Novembro de 1997;

JANUS 99-2000 – Anuário de Relações Exteriores, «Poder da infor- mação, crise da informação», por João Maria Mendes, pág. 214- 215, ed. Público e Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Setembro de 1999;

Le Monde en 2000, ed. Courrier International & The Economist, hors-série, n.º 18, Paris, Dezembro de 1999 – Fevereiro 2000; «Vers une société universelle de consommateurs. Culture Mcworld contre Démocratie», por Benjamin R. Barber, Le Monde Diplomatique, pág. 14 e 15, Agosto de 1998;

Le Figaro – «Ce siècle de progrès sans précédant s’achève sur un sentiment diffus de mal-être», pág. 7 - Dossier Économie, n.º 17, 221, 24 de Dezembro de 1999;

Financial Times – «Quest for the artist’s gene», pág. 1 - FT Global Arts, 8/9, January 2000;

El País – «Cosmopolitas», 5 de Janeiro de 2000;

Diário de Notícias – «As revoluções silenciosas», 29 de Março de 2000.

Publicações online:

Courrier International – www.courrierinternational.com Le Monde Diplomatique – www.monde-diplomatique.fr Congressos

De Gutenberg ao Terceiro Milénio – Congresso Internacional de Comunicação, organizado pela UAL e decorrido na Fundação Calouste Gulbenkian, nos dias 6, 7 e 8 de Abril de 2000, Lisboa.

IV

Nómadas Globais: uma visão