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A EQUIPE E O ATENDIMENTO

2.2 ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DA MSE-MA

2.2.5 PASSEIOS E OFICINAS

Além dos atendimentos individuais, das orientações e encaminhamentos e das atividades que envolvem diretamente a família dos atendidos, o núcleo da Dom Bosco organiza dois outros tipos de atividades aos meninos: os passeios e as oficinas. Os passeios são atividades esporádicas que envolvem um controle dos técnicos em relação aos meninos que deverão ser convidados. A cada mês, há no máximo um passeio agendado. Cabe à dupla de técnicos organizadores das atividades do mês sugerirem à equipe e principalmente à coordenadora alguma atividade, levando em conta a necessidade de que o passeio seja educativo. Essas atividades devem estar presentes nos planejamentos mensais, que são encaminhados para a Obra e para a CAS-Leste. Enquanto estive nas medidas, participei de dois passeios com os meninos e os técnicos. A quantidade de adolescentes que aderem aos passeios é pequena. Dos quase 120 que são atendidos pelas medidas, somente três foram ao primeiro passeio e cinco, divididos em dois grupos, ao segundo. No primeiro, fomos de metrô ao Projeto Catavento, no Palácio das Indústrias em São Paulo69. No segundo, ao

Centro Profissionalizante da Obra. Nos últimos dias de meu trabalho de campo, a equipe estava organizando um passeio ao Playcenter e uma visita às obras do Estádio “Itaquerão”. Nesses dois últimos, a adesão dos meninos foi consideravelmente maior.

68 Descrição retirada de um relatório na pasta de um adolescente, mas que poderia ser

encontrada em quase todas as outras.

69 Sobre o projeto, conferir o site http://www.cataventocultural.org.br/vis_esp (acessado em 23

Nesses passeios, há uma valorização dos técnicos e da coordenadora do uso do transporte público pelos meninos. Consideram ser importante para eles conhecer lugares que não conheceriam sozinhos, e saberem que são capazes de se comportar em sociedade como qualquer outro adolescente. Para que haja sucesso nesse tipo de encontro, os técnicos precisam selecionar de suas listas aqueles meninos que julgam ser mais comportados, ou ainda que acreditem que seriam muito beneficiados com uma atividade como esta. Participei alguns desses momentos na sala dos educadores, em que os técnicos refletiam sobre quais meninos deveriam ser convidados. É preciso negociar os números, os comportamentos, os preços. É preciso escolher os perfis. É ainda preciso não regular demasiadamente os convites para que o passeio tenha o mínimo de adesão.

Há um equilíbrio tênue na quantidade ideal de meninos que podem e devem participar dos passeios. Nem todos são convidados. Os técnicos selecionam dentre os seus atendidos aqueles mais indicados para cada tipo de passeio. São levados em conta a disciplina do menino, sua frequência nas atividades do núcleo, sua idade etc. Já me disseram também, por exemplo, que os meninos de determinada comunidade não podiam ser convidados, porque “eles chamam todo mundo. Você chama um e aparecem todos aqui”. Por outro lado, dentre os que são chamados, nem todos concordam em ir.

No caso das oficinas, o processo é mais ou menos o mesmo. Teoricamente, elas são abertas e todos os atendidos são convidados. Mas o técnico (sozinho ou depois de discussões com a coordenadora e com os colegas) tem o poder de exigir a presença de alguns meninos. Os educadores agendam os atendimentos nos horários das oficinas, e não liberam os meninos antes do final da aula, sob pena de não receberem o registro de frequência no dia. Além disso, a distribuição dos passes só é feita ao final das aulas (vide supra, 2.1).

As oficinas são organizadas por um esquema de parcerias. A coordenadora costuma ser a responsável por contatar e contratar oficineiros para desenvolverem

seus trabalhos por alguns meses no núcleo. Em muitos casos os contatos são feitos através de conversas com responsáveis por outros núcleos de medidas socioeducativas. Durante meu período de campo, a Dom Bosco contava com uma oficina de artesanato e outra de grafite. Na de artesanato, que acontecia duas vezes por semana, os meninos confeccionavam cadernos artesanais para o Dia das Mães, quadros de times de futebol, caixas de madeira, pipas etc. Na de grafite, cujo responsável era o renomado grafiteiro “Tota”, todos os meninos das medidas foram convidados, mas ao final do período da oficina, a maioria dos participantes era de adolescentes das redondezas ou que frequentavam o CFC70. A equipe encontra uma

“grande resistência” em boa parte dos atendidos para que participem dessas atividades. Relacionam esse fato com a mentalidade mantida pelos meninos de que cumprir LA é o mesmo que assinar a medida. Cada atividade que escape às conversas individuais e semanais com o técnico é considerada excessiva para muitos adolescentes.

A discussão sobre os métodos utilizados de convencimento para que os meninos participem das atividades propostas é intensa dentro da própria equipe. Um dos técnicos, por exemplo, afirmou certa vez que o problema que é “a gente obriga os meninos a virem na oficina, mas o que deveríamos fazer é tentar convencer”. Convencer sem ameaçar registrar a falta no atendimento em caso de não participação nas oficinas ou passeios não é uma tarefa fácil. “Eles não querem nada com nada”, disse-me a coordenadora ao explicar o porquê sente que “está dando murro em ponta de faca”. É claro que alguns participam, frequentam o núcleo periodicamente, estão ali por uma bobeada (vide infra, 4.1.1). Mas a maioria dos casos exige uma constante reflexão da equipe sobre estratégias de convencimento válidas e eficientes, que frequentemente oscilam entre as ameaças judiciais e o incentivo à descoberta de novas possibilidades de conduta de suas vidas.

70 Antonio Duque de Souza Neto. Em http://www.acaoeducativa.org.br/index.php/cultura/43-

ponto-de-cultura/10004336-tota-artista-cidadao-guerreiro-de-fe (acessado em 26 de março de 2013).